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Um breve histórico da Pedagogia da Alternância: França, Itália e Brasil

Mapa 3 Mapa representando o número de cursos superiores oferecidos (1998-

3.8 O caminho da formação de professores para a Educação do Campo

3.8.1 Um breve histórico da Pedagogia da Alternância: França, Itália e Brasil

A Pedagogia da Alternância baseia-se nas experiências das “Maisons Familiale Rurales” francesas que se expandiram após a segunda Guerra Mundial pela França e, posteriormente, para outros países, como a Itália. A denominação “Maisons Familiale Rurales” tinha o objetivo de aproximar a convivência da família com o ambiente escolar, de forma que os pais assumiam conjuntamente com a escola o compromisso de instruir os filhos (CALIARI, 2013).

9 Recursos de custeio (correntes) são aqueles aplicados nas despesas com contratos de prestação de serviços,

O seu surgimento pode ser visto a partir da inquietação de um sacerdote ao compreender que a pobreza de uma comunidade rural estava diretamente ligada à formação educacional. O padre Granereau chegou à conclusão de que “o problema agrícola nada mais era que um problema de educação, isto é, de uma formação capaz de preparar chefes de pequenas empresas rurais.” (NOSELLA, 2014, p. 47)

Em 1930, o padre Granereau deixou sua paróquia urbana e se instalou em uma pequena paróquia rural Sérignac-Péboudou. Em 1935, quatro alunos se apresentaram à casa paroquial e, ao serem apresentados às condições precárias em que se encontravam as dependências da Igreja, foram levados pelo padre Granereau a refletirem sobre o aspecto de ruína que tinha aquele lugar, afirmando que esse era o símbolo do mundo rural. Porém, caso quisessem, ele estava disposto a iniciar uma mudança. Nascia naquele dia a primeira “Maison Familiale” ou Escola Família Agrícola(NOSELLA, 2014).

Apesar de querer formar os jovens, o padre Granereau precisava encontrar uma forma de reunir a juventude, portanto, esbarrava no trabalho que os jovens desenvolviam em suas propriedades com suas famílias. A partir de uma conversa com os agricultores, chegaram à possibilidade de que os jovens permanecessem na escola durante alguns dias do mês, em período integral, e depois retornariam para suas propriedades. Diante da possível fórmula,

O padre logo organizou os jovens em pequenos grupos de forma a atingir, em rodízio, um bom número da juventude de sua paróquia. A escola em alternância tinha nascido e esta fórmula foi chamada, por muito tempo, a “fórmula de Lauzun”, por ter sido em Lauzun a primeira Escola-Família, suficientemente estruturada, após outra experiência, ainda por demais informe, de Sérignac-Péboudou (NOSELLA, 2014, p.47).

A formação em alternância que ocorreu na escola Lauzun deixou clara a estrita relação com a experiência, com o trabalho, com o mundo da produção e com a vida escolar. Para Gimonet (1998, p.4), “ela convida então a considerar a experiência no mesmo tempo como suporte de formação, caixa de saberes, funil educativo e como ponto de partida do processo para aprender.”

Para se concretizar a proposta pedagógica das “Maisons Familiales” foram empregados alguns princípios balizadores que consistiam em:

a) uma Associação de Pais responsáveis em todos os pontos de vista pela MFR;

b) a Alternância de etapas entre a ‘Maison Familiale’ e a propriedade; sendo o ritmo da alternância o das regiões;

c) a distribuição dos jovens em pequenos grupos; sendo todavia necessário um mínimo de doze para que a fórmula pudesse ser viável;

d) as famílias poderiam recorrer ao padre ou ao pastor para a formação religiosa dos jovens 190 católicos ou protestantes onde os pais expressassem o desejo de que eles recebessem essa formação. Em nenhum caso, o eclesiástico poderia ser o diretor da ‘Maison Familiale’ e nela residir (CHARTIER, 1986, p. 144 apud CALIARI, 2013, p. 144).

A experiência francesa chegou até a Itália, onde foi chamada de Scuola della Famiglia

Rurale ou scuola-famiglia. As primeiras escolas surgiram nos anos de 1961-1962 em Soligo

(Treviso), e nos anos de 1963-1964 em Ripes (Ancona). O momento pós-guerra que influenciou o contexto socioeconômico italiano pode levar à compreensão da implantação das Escolas Família Agrícola na Itália.

A metodologia italiana era semelhante à francesa, porém, ao contrário da experiência francesa, na Itália havia sido uma iniciativa política, com um estreito relacionamento com os poderes públicos, o que lhe dava mais facilidades em lidar com as questões burocráticas e financeiras. Em contrapartida, pelo fato de os docentes italianos serem funcionários do Estado, observava-se que eram menos motivados que os franceses. O apoio da Igreja partiu das relações políticas, inverso da iniciativa francesa (NOSELLA, 2014).

A experiência Francesa foi pioneira na Pedagogia da Alternância e traz uma forte característica de um movimento orgânico, portanto, a proposta italiana, nascida de uma iniciativa política, irá apoiar a vinda da Escola Família Agrícola (EFA) para o Brasil (NOSELLA, 2014).

No Brasil, as Maisons familiares iniciam-se com a experiência italiana de Venêto, no Espírito Santo, por meio do Padre Jesuíta Humberto Pietrogrande. Teve início um diálogo com camponeses e lideranças locais sobre a importância da formação por alternância, que rompia com o modelo formativo das escolas tradicionais, pois tinha como princípio a valorização da experiência dos sujeitos no trabalho cotidiano da economia camponesa, como formação do conhecimento do aluno (QUEIROZ, 2004).

As pequenas unidades familiares do Espírito Santo no início dos anos de 1960 viviam um momento de empobrecimento e êxodo rural, impulsionado por ações do governo que visavam o melhoramento das lavouras cafeeiras sem oferecerem alternativas aos pequenos produtores. Desta forma, as famílias, sem outras possibilidades, começam a migrar para as cidades, causando um esvaziamento do campo, principalmente a juventude que via na cidade a oportunidade de estudos. (CALIARI, 2013)

Mesmo com o cerceamento da liberdade de expressão imposto pelo regime militar a partir de 1964, enfrentando os riscos de uma atuação da Igreja em projetos populares, três

religiosos estiveram envolvidos com a implantação da Pedagogia da Alternância e a criação das EFAs no estado do Espírito Santo. Foram eles: Pe. Aldo Luccheta, pároco de Jaguaré; Dom Aldo Gerna, bispo de São Mateus; e Pe. Humberto Pietogrande na província jesuítica do sul do Estado.

A Pedagogia da Alternância ganhou espaço junto aos debates sobre a garantia de educação no campo, haja vista que essa metodologia tem contribuído com a formação dos trabalhadores do campo. Em 2006 foi apresentado o Parecer 1/2006, que tratava dos dias letivos para a aplicação da Pedagogia de Alternância. O parecer partiu da demanda apresentada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, do Ministério da Educação (SECAD/MEC), na condição de representante da Educação do Campo. O parecer apresentado para apreciação do Conselho Nacional de Educação tratava das dificuldades enfrentadas pelos Centros Familiares de Formação por Alternância(CEEFA) para a certificação de seus alunos.

O parecer que teve como relator Murílio de Avellar Hingel afirma que a Pedagogia da Alternância se apresenta como a melhor alternativa para atender à segunda etapa do Ensino Fundamental, ao Ensino Médio e à Educação Profissional e Técnica no meio rural (BRASIL, 2006).

A educação em Regime de Alternância se tornará um importante instrumento metodológico não somente para a Educação Básica, como afirma o Parecer 01/2006, mas será um instrumento fundamental para a garantia do ensino superior a esses sujeitos.

Para tanto, alguns programas importantes vão subsidiar o desenvolvimento da educação dos povos do campo, dentre eles, o PRONERA e o PROCAMPO.