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Gradientes naturais de temperatura no tronco: influência nas medições Tal como sugerido em Ferreira e Zitscher (1996) utilizaram-se, durante períodos

Figura III.3 − Fotografia

IV.3. Evaporação do solo

IV.4.1. Gradientes naturais de temperatura no tronco: influência nas medições Tal como sugerido em Ferreira e Zitscher (1996) utilizaram-se, durante períodos

definidos, sensores sem aquecimento com o objectivo de determinar uma correcção para obviar o efeito dos gradientes térmicos naturais nas medições. Optou-se por desligar pontualmente o aquecimento de cada uma das sondas utilizadas para as medições de fluxo de seiva, em vez de utilizar sondas especificamente para este fim. A razão para este procedimento prende-se com o facto de se ter verificado que, neste caso particular, o padrão

encontrado para cada árvore apresentava diferenças marcadas (Figura IV.38). Estas diferenças relacionaram-se com a orientação das sondas e com a altura a que se encontravam posicionadas no tronco em relação ao solo. É, por exemplo, possível associar o comportamento distinto da sonda identificada na Figura IV.38 com o número 9, à sua posição, muito próxima de um gotejador. O tubo com gotejadores acompanhava a direcção das linhas, próxima da direcção norte-sul (13º NNE), encontrando-se esta sonda colocada na direcção sul (vd. Tabela III.6). Todas as outras sondas identificadas na Figura IV.38 se encontravam colocadas em direcções distintas da direcção norte ou da direcção sul e, portanto, mais afastadas dos gotejadores. A sonda número 7, a única colocada no lado oeste da linha, do conjunto considerado na Figura IV.38, encontrava-se assim no lado da linha exposto à radiação durante a tarde, mas sombreado durante a manhã. Durante a manhã, verificava-se um menor fluxo de calor para o solo no lado oeste da linha (vd. IV.2.2) do que durante a tarde e o consequente menor aquecimento do solo durante a manhã no lado oeste poderá ter originado o gradiente de temperatura encontrado. A sonda Granier número 8 (Figura IV.38) encontrava-

se bastante perto do solo (o sensor inferior encontrava-se a cerca de 3.6 cm do solo), o que terá influenciado o aparecimento, durante a manhã, de um gradiente natural de temperatura mais acentuado, em relação às outras sondas.

-3 -2 -1 0 1 2 217 218 219 220 dia do anoT C) 2 3 1 5 4 226 227 228 dia do ano 10 9 8 7 6

Figura IV.38 – Exemplo de alguns padrões das curvas de ∆T obtidas sem aquecimento; os números da legenda referem a identificação das árvores, 1999.

Verificou-se que a ausência ou presença de rega influenciava fortemente a variação do gradiente térmico natural, tal como exemplificado na Figura IV.39 e na Figura IV.40, embora este efeito não se generalizasse a todas as árvores observadas. Nas Figuras IV.39 e IV.40 pode observar-se a evolução da diferença de temperatura entre sondas, sem aquecimento da sonda superior, durante sete dias consecutivos, ou muito próximos, para uma determinada árvore. Nos dias em que não ocorreu rega (Figura IV.39) os padrões de variação encontrados oscilam entre cerca de -1.5 e 0.5ºC repetindo-se, neste conjunto de dias, com uma forma muito

semelhante. Nos dias em que ocorreu rega (Figura IV.40) verifica-se um aumento da amplitude térmica encontrada (a temperatura varia aproximadamente entre -1.5 e 2ºC durante um período diário) existindo uma nítida alteração relativamente ao padrão analisado na situação anterior (Figura IV.39), a partir do momento em que se inicia a rega. A rega decorreu a partir das 20.00 h e até cerca da 1.00 h (0.83 e 0.04 na escala da figura, respectivamente) o que coincide com uma alteração marcada do gradiente de temperatura, que no dia 229 chega a atingir cerca de 2 ºC. Estes gradientes são superiores aos normalmente observados e diferem ainda do padrão habitual nestes casos, dada a proximidade dos sensores em relação ao solo e dado o coberto ser bastante aberto, devido à realização da rega diária sobre a linha e à existência do cômoro. -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.5 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 hora (h/24)T (º C ) 220 221 222 223 224

Figura IV.39 – Diferença de temperatura entre sondas de um sensor Granier, numa árvore individual (árvore 9, em 1999, que se encontrava junto de um gotejador) em dias em que não ocorreu rega nem aquecimento da sonda superior. -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.5 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 hora (h/24)T (º C ) 226 229

Figura IV.40 – Diferença de temperatura entre sondas de um sensor Granier, na mesma árvore da figura anterior (árvore 9, em 1999, que se encontrava junto de um gotejador), em dias em que ocorreu rega e na ausência de aquecimento da sonda superior; a seta assinala o início da rega. dia do ano

Além da perturbação causada pela rega, existia naturalmente uma influência das

condições ambientais, responsável por alterações no padrão de variação do ∆T sem

aquecimento, ao longo do tempo. Para ter em conta esta situação, foram utilizadas, sempre que possível, correcções representativas de períodos de mais do que um dia e de momentos diferentes no decorrer dos períodos experimentais. O facto de a zona de colocação das sondas se situar bastante próxima do solo terá, certamente, contribuído para o aparecimento de gradientes elevados. O aparecimento de gradientes naturais tão elevados, a par com a impossibilidade de determinar simultaneamente o padrão diário dos gradientes naturais e a densidade do fluxo de seiva, poderá ter introduzido alguma imprecisão nos resultados. No caso da determinação de ∆Tmax (vd. II.4.2.3), dado que este ocorre, geralmente, ao fim da

noite e dado que, nesse momento, o gradiente de temperatura na ausência de aquecimento revela frequentemente um afastamento pronunciado do valor nulo, poderá ter ocorrido um erro de estimativa do fluxo, em dias em que a correcção não anulou completamente o efeito dos gradientes naturais.

IV.4.2. Estimativa de Tmax

O gradiente máximo de temperatura entre a sonda aquecida e a não aquecida, de um sensor de Granier, ocorre preferencialmente ao fim da noite, em condições de humidade do ar

próximas da saturação (Granier, 1985). No entanto, verifica-se por vezes transpiração nocturna se as condições ambientais se mostrarem favoráveis (Granier, 1987b). Num pomar de pessegueiros, em Águas de Moura, observou-se transpiração nocturna, proporcional ao

VPD (Ferreira, comunicação pessoal). Com efeito, verificou-se experimentalmente que Tmax

tendeu a ser mais elevado em noites com humidade relativa do ar próxima de 100% e o oposto quando esta se reduz (Figura IV.41). Para ultrapassar as dificuldades de estimativa de

Tmax consideram-se, por vezes, períodos de cerca de 10 dias, utilizando uma regressão linear

dos valores máximos de ∆T verificados (Granier, 1987a) ou utiliza-se a envolvente superior

dos mesmos valores (Granier, 1987b) (vd. III.5.2). No âmbito deste estudo, utilizou-se a envolvente superior da sucessão de valores de ∆Tmax. A Figura IV.42 apresenta um exemplo

do cálculo de ∆Tmax, mostrando os máximos gradientes de temperatura medidos para uma das

árvores amostradas em 1998, os mesmos gradientes depois de efectuada a correcção para obviar os efeitos dos gradientes naturais de temperatura e a linha utilizada para estimar ∆Tmax

(na presença de transpiração nocturna). Neste caso, é possível verificar que o conjunto de procedimentos adoptado provocou alterações no ∆Tmax que rondaram, por vezes, os 2ºC.

Geralmente o ∆Tmax apresenta uma maior estabilidade mas, em situações mais críticas, como a

presente, é necessário realizar uma apreciação cuidada em relação com as variáveis meteorológicas, o que torna difícil uma automatização do processo.

4 6 8 10 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 dia do anoT (ºC) 0 20 40 60 80 100 HR (%)

Figura IV.41 – Evolução conjunta do ∆T, já corrigido para os efeitos dos gradientes naturais (linha a cheio) e da humidade relativa (linha tracejada); exemplo para a árvore 1, em 1998.

7 7.5 8 8.5 9 9.5 10 170 180 190 200 210 220 230 240 250 dia do anoT C ) com correcção sem correcção

Figura IV.42 – Evolução diária do ∆T máximo, não corrigido e corrigido para o efeito dos gradientes naturais de temperatura; exemplo para a árvore 1 em 1998; a linha cinzenta representa os valores finais utilizados (envolvente).

IV.4.3. Análise de parâmetros para o estudo da transpiração do coberto vegetal