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CAPÍTULO III FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.3. A Aprendizagem Cooperativa

3.3.3. Grupos Cooperativos

Apresenta-se de seguida uma breve explanação sobre os termos grupo e equipa, no sentido de perceber se comportam alguma relação de sinonímia ou se são distintos.

Grupo e equipa, de facto, são palavras usadas para caracterizar um conjunto de pessoas que estão ou trabalham juntas, mas uma cuidadosa análise remete-nos para conceitos um pouco diferentes. Kagan (1994) diferencia grupo de equipa referindo que um grupo pode ter um número indistinto de pessoas, não tem uma identidade própria nem necessita de perdurar no tempo enquanto uma equipa é idealmente constituída por quatro elementos, demonstra uma identidade própria, os membros conhecem-se e criam entre si relações de apoio mútuo ao longo do tempo. Para o autor, por um grupo de pessoas a trabalhar juntas não é o mesmo que estruturar o trabalho de uma equipa, através da

distribuição de tarefas e de papéis, para que cada membro contribua para o sucesso do grupo.

A distinção entre grupo e equipa é estabelecida através da imagem de “equipa de futebol” versus “grupo de futebol” usada por Guedes et al (2007) ao referirem que uma equipa é muito mais do que um conjunto de pessoas destacando a importância da concretização de objetivos comuns através dos esforços de todos os elementos. Os autores (idem, 2007) referem, ainda, que “se estiver devidamente estruturada, uma equipa acaba por ter uma valia muito maior do que a soma das valias de cada um dos elementos que a constitui.” (p. 62)

3.3.3.1. Tipos de Grupo na Aprendizagem Cooperativa

A formação dos grupos na Aprendizagem Cooperativa deve ser bem ponderada e baseada num conjunto de critérios que o professor deverá ter em mente. Stahl (1994) relembra que os grupos devem ser heterogéneos na sua composição em termos de habilidades académicas, de etnias, raças e género. O autor (idem, 1994) salienta as vantagens da heterogeneidade na formação dos grupos da seguinte forma:

When groups are maximally heterogeneous and the other essential elements are met, students tend to interact and achieve in ways and at levels that are rarely found in other instructional strategies. They also tend to become tolerant of diverse viewpoints, to consider others’ thoughts and feelings in depth, and seek more support and clarification of others’ positions. (pp. 3-4)

Quando se pretende implementar o trabalho cooperativo na sala de aula podemos ter em mente que a Aprendizagem Cooperativa permite, de acordo com Smith (1996) e Johnson e Johnson e Smith (1998), a formação de três tipos de grupos: os informais, os formais e os permanentes de acordo com a atividade planeada.

Os grupos formais podem trabalhar durante uma aula, várias semanas ou até mesmo permanecer juntos durante o ano letivo. Os membros deste tipo de grupo têm um objetivo ou tarefa comum específica e envolvem-se na organização e análise dos materiais de modo a realizar a tarefa em questão. A exploração destes materiais e a sua explicação a outras pessoas permitirá a interiorização mais profunda de conceitos por parte dos alunos. De acordo com Johnson, Johnson e Smith (1998) “A aprendizagem cooperativa formal é aquela em que os alunos trabalham juntos, durante um período de várias

semanas, para atingir alvos compartilhados de aprendizagem, visando completar, em conjunto, tarefas e trabalhos específicos.” (p. 99)

Os grupos informais são grupos criados com uma certa finalidade e a sua duração pode variar entre poucos minutos ou durar uma aula inteira. São, segundo Fontes e Freixo (2004) “utilizados essencialmente para a prática do ensino directo, cujo objectivo principal é prender a atenção dos alunos sobre aquilo que se está a fazer, criando um clima favorável para a aprendizagem, evitando-se a dispersão.” (p. 43) Este tipo de grupo pode ser formado em qualquer momento da aula.

Os grupos permanentes ou de base são de longa duração, ou seja, podem trabalhar juntos, sempre com a mesma composição em termos de membros cujo objetivo primordial é permitir que os alunos se ajudem uns aos outros ao longo da realização da tarefa. Os alunos atuam como incentivo ao desempenho do grupo na realização das tarefas estabelecendo, desta forma, sinergias e relações mais sólidas e de longa duração.

Qualquer que seja o tipo de formação do grupo, há a acrescentar que conforme Johnson, Johnson e Smith (1998) “Os grupos são “todos dinâmicos” nos quais uma mudança na condição de algum membro ou de algum subgrupo muda a condição dos outros membros ou de outros subgrupos.” (p. 93)

3.3.3.2. Características dos Grupos Cooperativos

Os grupos cooperativos diferem dos grupos de cariz tradicional na sua formação, mas sobretudo na forma como trabalham e estabelecem relações de sinergia entre os membros.

Os elementos dos grupos cooperativos sabem que o resultado final do trabalho é da sua responsabilidade, mas também depende do empenho e do esforço dos outros membros. Assim, todos estão bem conscientes da interdependência que se desenvolve entre todos na obtenção do sucesso do grupo. Como referem Fontes e Freixo (2004) “o grupo tem como objectivo principal maximizar a aprendizagem de todos os elementos independentemente das suas capacidades, de tal forma que o resultado final supere a capacidade individual de cada elemento.” (p. 40)

A tabela 8 apresenta as diferenças entre estes dois tipos de grupos, retirado de Valadares e Moreira (2009, p. 101) referindo-se ao trabalho de Johnson e Johnson (1989).

Grupos de Trabalho Cooperativo Grupos de Trabalho Tradicionais

Interdependência positiva Não há interdependência ou há uma interdependência negativa

Responsabilidade individual Não há responsabilidade individual Procura da heterogeneidade Procura da homogeneidade

Liderança partilhada Sem liderança ou com um líder designado Responsabilidade mútua partilhada Não há responsabilidade partilhada Preocupação com a aprendizagem dos outros

elementos do grupo

Ausência de preocupação com a aprendizagem dos outros elementos do grupo Ênfase na tarefa e também na sua

sustentabilidade

Ênfase na tarefa

Ensino direto das habilidades sociais É assumida a existência das habilidades sociais pelo que se ignora o seu ensino O professor observa e intervém O professor ignora o funcionamento do grupo O grupo monitoriza a sua produtividade O grupo não monitoriza a sua atividade

Tabela 8 – Diferenças entre os grupos cooperativos e os grupos tradicionais de trabalho

Num grupo cooperativo, para além da interdependência positiva, a responsabilidade individual e a do grupo são essenciais para o sucesso do grupo. Neste tipo de grupo, a liderança é partilhada por todos, pois a rotatividade de papéis assim o permite. A observação do trabalho dos alunos e a opinião fundamentada do professor acerca das tarefas realizadas é fundamental na reflexão que, mais tarde, os elementos do grupo farão do processo de trabalho, analisando os aspetos positivos e propondo objetivos para melhorar o funcionamento do grupo.

Nos grupos tradicionais, os alunos não têm desenvolvida a noção de interdependência positiva e as tarefas a realizar não estão estruturadas de forma a desenvolver as características da Aprendizagem Cooperativa. A liderança não é partilhada pelos membros, sendo que um deles surge tendencialmente como o líder. Muitas vezes, os alunos cumpridores e mais dedicados têm a noção de que o seu trabalho está a ser aproveitado por outros que se empenham menos na tarefa. O trabalho a realizar é, normalmente, realizado fora da sala de aula, impossibilitando o professor de monitorizar o funcionamento do grupo e a qualidade do trabalho que está a ser desenvolvido.

Para trabalhar em grupo é necessário que os alunos tenham desenvolvido uma série de competências sociais que de acordo com Stahl (1994) não surgem simplesmente porque os alunos estão a trabalhar em grupo. Para que os alunos desenvolvam competências de liderança, de confiança, de negociação, de encorajamento e de

compromisso e serem capazes de criticar construtivamente os demais colegas é necessário que o professor as especifique, as demonstre e distribua pelos alunos papéis em que eles as possam, conscientemente, desenvolver. Kagan (1994) esclarece que aprender sobre competências sociais não é o mesmo que as adquirir e as desenvolver; a Aprendizagem Cooperativa permite que os alunos as adquiram através da experimentação e da interação com os colegas. Para o autor, os alunos, aquando da sua interação com outros, “(…)

become skilful in listening, paraphrasing, taking the role of the other, managing the group processes, and dealing with the dominant, shy, hostile, and withdrawn group members. They acquire skills, not just learn about skills.” (idem, 1994, p.14:1)