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Os Sete Princípios da Liderança Sustentável de Hargreaves e Fink

CAPÍTULO III FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.2. A Liderança

3.2.1. Estilos de Liderança

3.2.1.4. Os Sete Princípios da Liderança Sustentável de Hargreaves e Fink

O termo sustentabilidade remete para a noção de preservação de um bem comum que se pretende conservar no tempo para benefício coletivo de todos. Hargreaves e Fink (2007), relacionando a liderança com o campo educacional em alusão a um outro seu trabalho, Hargreaves e Fink (2003), referem que

A liderança e a melhoria educativa sustentável preservam e desenvolvem a aprendizagem profunda de todos, uma aprendizagem que se dissemina e que perdura sem provocar qualquer dano àqueles que nos rodeiam, trazendo-lhes, pelo contrário, benefícios positivos, agora e no futuro. (p. 30)

Os autores identificaram sete princípios para uma liderança sustentável nas organizações escolares, promotora de mudanças profundas e douradoras. São eles a profundidade, a durabilidade, a amplitude, a justiça, a diversidade, a disponibilidade de recursos e a conservação.

1. Profundidade

Este princípio preconiza a importância e a profundidade de uma aprendizagem acessível a todos em detrimento de uma aprendizagem transitória e da apresentação de resultados rápidos obtidos em função de metas estabelecidas a curto prazo. A liderança sustentável defende uma aprendizagem douradora de acordo com objetivos sérios e de longo prazo dando primazia à qualidade em vez de à quantidade. Esta liderança permite que as pessoas se envolvam e se empenhem em estabelecer relações sólidas mantidas

através de um cuidado permanente. Como refere Fullan (2001), o relacionamento saudável entre pessoas é impulsionador da mudança, da resolução de problemas e deverá constituir uma preocupação dos líderes eficazes.

2. Durabilidade

Este princípio consiste na preservação, ao longo do tempo, dos aspetos importantes que conduzem ao sucesso da organizaçao e na preparação e sucessão das pessoas que a lideram para que as iniciativas que encetam não sejam frustradas com a sua saída da instituição. A liderança sustentável possibilita o desenvolvimento das pessoas para que assumam as funções do líder quando necessário. Como referem Hargreaves e Fink (2007) “A sucessão dos líderes e a capacidade de liderar ao longo do tempo independentemente de quem sejam os dirigentes, constituem um desafio central da sustentabilidade da liderança e da mudança no mundo educativo.”(p. 33).

3. Amplitude

Uma liderança distribuída e partilhada é essencial na Liderança Sustentável. O líder deve adotar uma postura de partilha do conhecimento e fomentar a liderança dos outros, dotando-os de ferramentas importantes e necessárias ao exercício de uma liderança partilhada. Este princípio reclama para todos a possibilidade de partilharem a liderança nas instituições como forma de uma participação ativa e moralmente responsável. Goleman et al (2002) partilham da mesma opinião quando referem que a liderança encontra-se repartida por todas as pessoas e não é apenas exercida pelo líder formal.

4. Justiça

Este princípio salienta que a liderança sustentável cuida do ambiente das organizações que não podem florescer à custa do sucesso de outras instituições, mas que partilham, antes, as suas boas práticas, o seu conhecimento e até mesmo os recursos com as outras instituições do meio circundante. Como advogam Hargreaves e Fink (2007) “Tal liderança não provoca danos nas organizações adjacentes nem na comunidade local e encontra activamente formas de partilhar conhecimento e recursos com elas. A liderança sustentável não autocentrada: é, pelo contrário, socialmente justa.” (pp 33, 34) Sergiovanni (2004b) alerta para a necessidade das escolas não funcionarem como um negócio e apela aos líderes escolares para se distanciarem dessa visão.

5. Diversidade

A liderança sustentável não favorece a padronização e valoriza a diversidade que enriquece a organização com pessoas que diferem nos seus conhecimentos e atitudes e, como tal, são uma mais-valia na construção de uma organização viva e coesa. Hargreaves e Fink (2007) defendem que “a liderança sustentável promove a diversidade no ensino e na aprendizagem, aprende com ela e consegue progresso estabelecendo redes coesas entre a riqueza dos seus variados componentes.” (p 34) A liderança sustentável renega a formatação de políticas educativas, da avaliação dos alunos, da formação docente, do currículo e das práticas educativas.

6. Disponibilidade de recursos

Como referem Hargreaves e Fink (2007), a liderança sustentável preocupa-se com os recursos da organização quer sejam humanos ou materiais. As pessoas são reconhecidas pelo seu trabalho e pelas atitudes de liderança ao longo do tempo de permanência na instituição. Esta liderança “zela pelos líderes, assegurando-se de que cuidam de si próprios. Tal liderança renova a energia das pessoas: não esgota os líderes, através da sobrecarga de inovações e de prazos irrealistas para concretizar a mudança.” (p 34)

7. Conservação

Este princípio defende a aprendizagem através das vivências importantes passadas com o objetivo de preparar e propiciar um futuro melhor. Para Hargreaves e Fink, (2007) “A Liderança sustentável revisita e revive as memórias organizacionais e honra o saber dos que transportam essa lembrança.” (p 35). O líder tem consciência das contribuições passadas e aproveita os ensinamentos que retirou delas para fazer a organização prosperar.

A liderança sustentável é encarada como uma forma viável de melhorar a qualidade do ensino pois é uma liderança que faz perdurar no tempo os efeitos positivos na gestão da aprendizagem dos alunos e da própria organização que enriqueceu com a diversidade e com a partilha de boas práticas que se revelaram profícuas no passado. Esta liderança sustentável tem no centro da sua ação as pessoas, sem discriminação e reconhece os seus feitos impelindo-as a tornarem-se líderes. A liderança sustentável tal como é percecionada por Hargreaves e Fink (2007)

pode levar-nos a um mundo onde se consiga concretizar com autenticidade a melhoria e o sucesso de todas as crianças naquilo que importa, que perdura e que vale a pena disseminar. Na liderança sustentável, age-se com sentido de urgência, aprende-se com o passado e com a diversidade, mostra-se resiliência face à pressão, espera-se pacientemente pelos resultados e não se conduz as pessoas ao esgotamento. Trata-se de um tipo de liderança justa e moral que nos beneficia a todos, agora e no futuro. (p. 35)

A liderança sustentável é orientada para a aprendizagem profunda dos alunos e mantem-se na sua rota, independentemente das dificuldades. É uma liderança que promove relações profundas entre as pessoas e as desenvolve para serem igualmente líderes. Como refere Fullan (2001), as instituições bem-sucedidas estão repletas de líderes a vários níveis para além do líder formal que se preocupam e facilitam o desenvolvimento organizacional. Acrescenta o autor (idem, 2001) que “(…) o melhor contributo da liderança é desenvolver líderes dentro da organização que a façam crescer para além da sua própria saída.” (p. 135) A liderança sustentável provoca alterações cujos efeitos positivos perduram no tempo.