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O Papel do Professor na Aprendizagem Cooperativa

CAPÍTULO III FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.3. A Aprendizagem Cooperativa

3.3.4. O Papel do Professor na Aprendizagem Cooperativa

A Aprendizagem Cooperativa pressupõe uma alteração significativa no papel do professor dentro da sala de aula, deixando de ser apenas a figura central da aula para se tornar num precioso auxiliar das aprendizagens dos alunos que passam a ter um papel mais ativo e mais central no decorrer da aula e são responsabilizados pela sua aprendizagem ou pelo trabalho que apresentam como destaca Kagan (1994) ao referir que

“In general during cooperative learning the teacher delegates authority to groups while holding them accountable for their learning or product. This means less direct instruction and a new role for the teacher as a consultant to groups.” (p. 1:3) As energias de ambas

as partes são canalizadas e as interações que os alunos estabelecem na sala de aula quer sejam com o professor ou com os outros colegas são mais frequentes e produtivas.

Para que a Aprendizagem Cooperativa ocorra de forma enriquecedora é necessário que as competências sociais dos alunos estejam bem desenvolvidas e que o professor domine de forma plena os diferentes métodos de modo a adequá-los consoante as necessidades dos seus alunos. Trabalhar cooperativamente como referem Bessa e Fontaine (2002) vai para além de juntar os alunos em grupo. Como refere Kagan (1994)

(…) simply giving a task to a group with no structuring or roles is Group Work, not Cooperative Learning. Group work does not hold each individual accountable for his or her contribution (it lacks individual accountability) and group work almost always results in some students doing most or all of the work while others do little or none (it lacks equal participation. (p.4:5)

É necessário estruturar o trabalho de acordo com as especificidades dos membros do grupo, de acordo com um conjunto de pressupostos e regras que norteiam a Aprendizagem Cooperativa para que cada aluno contribua para a concretização coletiva dos objetivos. Slavin (1996) afirma que a estruturação cuidadosa das interações dos alunos entre si também pode contribuir de forma eficaz para o desempenho dos alunos aquando do trabalho de grupo. Stahl (1994) refere que, independentemente do que o professor pretenda desenvolver nos alunos (melhoria dos resultados escolares, desenvolvimento cognitivo ou desenvolvimento de competências) deve planear e especificar muito bem o que os alunos devem aprender e ser claro aquando dessa exposição de conceitos aos alunos.

Antes de começar a trabalhar com os métodos da Aprendizagem Cooperativa, o professor deve obter formação teórico-prática para que se sinta à vontade na implementação destas estratégias e detenha os conhecimentos científicos e metodológicos imprescindíveis. Como esclarece Sanches (1994)

o uso da aprendizagem cooperativa na sala de aula põe em relevo o professor nos seguintes aspectos: (a) a adesão e preferência por este modelo de aprendizagem; (b) a sua preparação para a por em prática; e (c) o seu papel tanto no planeamento das actividades como na monitorização dos grupos. (p. 36)

Antes de optar por aplicar qualquer método de Aprendizagem Cooperativa, é necessário que o professor verifique se está reunido um conjunto de condições necessárias, como explica Smith (1996) ao referir-se ao tempo necessário para a atividade, à capacidade e ao treino dos alunos para trabalharem cooperativamente, à adequação da complexidade da tarefa ao trabalho de grupo e à adequação dos objetivos à metodologia de trabalho de grupo. Como defendem ainda Johnson, Johnson e Smith (1998)

o entendimento de como implementar os cinco elementos essenciais capacita o instrutor: a) a estruturar qualquer lição, de qualquer disciplina, de modo cooperativo; b) a adaptar a aprendizagem cooperativa às suas circunstâncias e necessidades específicas bem como aos alunos, e c) a intervir no sentido de melhorar a eficiência de qualquer grupo que não esteja funcionando bem. (p. 96)

É necessário que o professor tenha sensibilidade e abertura mental para mudar ou transformar a sua visão, de forma positiva, a respeito de como estar com os alunos na sala de aula e abraçar esta filosofia de trabalho, aproximando-se do conceito de educação

transformadora de Paulo Freire. Esta mudança de atitude será tanto mais fácil quanto maior for o apoio que o professor encontrar nos seus pares e até mesmo nos responsáveis pela instituição escolar.

Na Aprendizagem Cooperativa o papel do professor transforma-se, à medida que o trabalho dos alunos decorre, ou seja, consoante as fases de implementação do trabalho cooperativo. Assim, e numa primeira fase, na fase de pré-implementação, o professor especifica os critérios de implementação e os objetivos de ensino, disponibiliza ao grupo os critérios e instrumentos de avaliação; determina o tamanho dos grupos e distribui os alunos pelas equipas, atribuindo-lhes diferentes papéis; distribui as tarefas especificando os comportamentos desejáveis; estrutura a interdependência positiva e a responsabilidade tanto individual como a do grupo; planifica os materiais criando interdependência entre os alunos através de diferentes materiais; altera a disposição da sala para que os alunos trabalhem frente a frente. Em suma, o professor, nesta fase, desenvolve uma série de procedimentos para que os alunos, em grupo, possam rentabilizar o trabalho realizado garantindo, de acordo com a tarefa a realizar, o cumprimento das características essenciais que definem a Aprendizagem Cooperativa.

Numa segunda fase, a fase de implementação, o papel do professor resume-se, sobretudo, ao de orientador enquanto os alunos têm um papel mais ativo. Deste modo, o professor verifica se existe intercâmbio de ideias entre os membros do grupo, garante a participação ativa dos elementos mais fracos e controla a rotatividade dos papéis; presta ajuda quando os alunos não conseguem solucionar as questões ou ver as suas dúvidas respondidas dentro dos grupos; elogia e controla o comportamento; estimula o raciocínio dos alunos; incita-os a fornecer explicações e justificações aos colegas que estejam relacionadas com a realização das tarefas; observa o funcionamento dos grupos e controla o tempo que o grupo leva na realização das tarefas.

Numa terceira e última fase, a fase de pós-implementação, o professor dá por concluído o trabalho; avalia as aprendizagens e reflete sobre o processo de trabalho dos alunos, sem esquecer de estimular nos alunos a reflexão individual e proporcionar momentos para a auto e heteroavaliação da tarefa.

Em suma, o professor na Aprendizagem Cooperativa tem o papel de orientador e facilitador de aprendizagens enquanto os alunos assumem o papel principal no seu desenvolvimento e na construção dos seus conhecimentos e descobertas.