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As pinturas analisadas na pesquisa foram produzidas na segunda metade do século XIX. Este período foi marcado por uma recuperação de narrativas coloniais, principalmente focando em uma forte religiosidade que teria sido propulsora dos valores que os norte- americanos reconhecem como seus. Isto porque os Estados Unidos passaram por uma série de mudanças políticas, sociais e econômicas. Dentre elas, a Guerra Civil (1861-1865) foi, sem dúvida, um marco na história do país. Muito além do número gigantesco de mortes, de destruição e gastos, o episódio marcou a historiografia, a política, as produções artísticas e literárias, e acirrou uma série de batalhas pela memória do passado, que já existiam, mas que foram se intensificando ainda mais. Além disto, a partir deste momento, ocorrem tentativas sistemáticas de criar uma memória nacional, que conseguisse fazer aquilo que a Guerra de

139 BERCOVITCH, Sacvan (org). American Puritan Imagination: Essays in Revaluation. London: Cambridge

University Press, 1974. Pág. 136.

140 CATROGA, Fernando. Nação, mito e rito. Fortaleza: Edições NUDOC/Museu do Ceará, 2005. Pág. 31-32. 141APPLEBY, Joyce. Inheriting the Revolution: The First Generation of Americans. Massachusetts: Harvard

Independência não tinha sido bem-sucedida: criar uma nação que possuísse um passado em comum que a justificasse.

Os acontecimentos, as batalhas e a historiografia da Guerra Civil não são o objeto desta pesquisa, mas, sim, o papel que ela teve na valorização do passado colonial puritano e sua influência na política e nas produções culturais aqui trabalhadas.

Os Estados Unidos de 1860 eram uma potência em formação142. O território americano já havia dobrado de tamanho com as anexações de territórios nos anos anteriores (entre 1789 e 1860 o território passou de 2 milhões para quase 8 milhões de quilômetros quadrados143), o que possibilitou a produção de uma série de novos produtos advindos de terras férteis. Junto a isto, o aumento populacional devido à chegada de um grande número de imigrantes vindos especialmente da Europa e Ásia e o desenvolvimento tecnológico (barcos a vapor, linhas férreas e canais de navegação) fez com que a economia florescesse.

Uma série de antagonismos, no entanto, se intensificou desde a Independência, principalmente entre os estados do Sul e do Norte. A ameaça separatista se tornou, então, uma realidade. Entre as questões principais para a secessão estavam os modelos econômicos divergentes. Enquanto no Norte prevalecia o modelo industrial (por conta, também, da escassez de terras próprias para prática agrícola e de uma temperatura mais fria, que impossibilitava uma variedade de plantios), o Sul era marcado por uma sociedade patriarcal e agrária, baseada em um modelo escravocrata, além de todas as diferenças políticas e culturais. A escravidão se tornou, portanto, um dos principais pontos de divergência nos Estados Unidos144. Somou-se, ainda, o fato de que os americanos se identificavam mais com suas cidades, condados ou estados do que com a União. O sentimento nacional era ainda, segundo Ameur, embrionário145.

As discussões sobre os novos estados aderirem ou não ao sistema escravista se intensificaram após a aquisição dos territórios do Sudoeste em 1848 (Califórnia, Texas, Utah

142 AMEUR, Farid. A Guerra de Secessão (1861-1865). Lisboa: Edições 70, 2004. Pág. 11. 143 Idem. Ibidem. Pág. 12.

144 A questão sobre as causas da Guerra Civil e o papel da escravidão no conflito é um debate infindável para a

historiografia norte-americana, mas, entre os principais representantes destas discussões, estão: James Rhodes, industrial do Meio-Oeste que defende que a escravidão é a única causa da Guerra Civil; Charles e Mary Beard acreditavam que a guerra foi causada por um choque econômico entre dois modelos distintos (industrial e agrário); David Potter credita a guerra a escravidão e nega que havia choques econômicos estruturais.

e Novo México) 146. Além disto, os próprios partidos políticos se fragmentaram devido a estas questões, abandonando o bipartidarismo herdado da tradição inglesa, dando origem ao Partido Republicano e fortalecendo o Democrata, criado por Thomas Jefferson.

O Partido Republicano, relativamente recente na época (fundado em 1854), conseguiu eleger seu primeiro candidato, Abraham Lincoln, como presidente nas eleições de 1860, derrotando o Partido Democrata, dividido e fragilizado entre ultraconservadores escravocratas e os mais moderados147

. O debate em torno da escravidão e da União dominou as discussões naquela eleição.

Visto como abolicionista, a eleição do “republicano negro” Lincoln foi o estopim para que a Carolina do Sul revogasse, no dia 20 de dezembro de 1860, sua ratificação da Constituição Federal, seguida por outros estados: Mississipi, Flórida, Geórgia, Alabama, Luisiana e Texas148

, que se organizaram como Estados Confederados da América e escolheram Jefferson Davis como presidente. Em 1861, Davis afirmou oficialmente que a separação dos Estados Confederados estava concluída, provocando reações mais enérgicas da União, já que, para eles, não se tratava mais de discutir a escravidão, mas, sim, a perenidade da nação americana, seus ideais de prosperidade, felicidade e liberdade149.

O início dos conflitos militares ocorreu em Charleston, na Carolina do Sul, onde se localizava um forte das tropas da União, que foi evacuado antes que Lincoln pudesse enviar reforços. O presidente reagiu enviando 80 mil soldados em abril de 1861, e a guerra foi declarada150. Os conflitos ao longo da Guerra Civil podem genericamente ser divididos em quatro grupos: as primeiras campanhas no Leste (com sucessivas vitórias dos confederados) até 1863; os bloqueios navais no Golfo do México; as campanhas no vale do Mississipi e as contra-ofensivas da União151

.

“Graças aos escravos e abolicionistas, um combate, que se iniciara em nome da recuperação da unidade territorial do país, transformou-se numa luta pelo fim da escravidão

146 Idem. Ibidem. Pág. 29.

147 TOTA, Antonio P. Os americanos. São Paulo: Ed. Contexto, 2009. Pág. 78.

148 SELLERS, Charles; MAY, Henry; McMILLEN, Neil. Uma Reavaliação da História dos Estados Unidos.

Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1990. Pág. 186.

149 AMEUR, Farid. A Guerra de Secessão (1861-1865). Lisboa: Edições 70, 2004. Pág. 44.

150 FERNANDES, Luiz E.; KARNAL, Leandro; MORAIS, Marcus V.; PURDY, Sean. História dos Estados

Unidos- das origens ao século XXI. São Paulo: Ed. Contexto, 2011. Pág. 132.

[...]” 152

. No dia 1 de janeiro de 1863, Lincoln proclamou a Lei da Emancipação dos escravos. Nas áreas longe do alcance da União, os escravos tornavam-se livres na medida em que as tropas do norte venciam153. Apenas em 1865, quando a Décima Terceira Emenda proibiu a escravidão em todo o país, é que a medida tornou-se parte da Constituição154. Em 1865, com a derrota dos confederados, a guerra acabou, com um saldo de 260 mil mortes dos confederados e 360 mil da União, milhares de mutilados e um gasto de 5,2 bilhões de dólares155

. Com o fim da guerra, foi necessário que o país se reconstruísse materialmente, mas também que se criasse (ou recriasse) como nação e isto implicava a criação de um passado e de uma memória reconciliadores.

Embora a União tivesse sido mantida e os escravos libertos, o período de reconstrução se tornou ainda mais difícil com o assassinato de Lincoln. “[...] Nos dois lados, os rancores e as paixões não se desvanecem facilmente [...]” 156.

O Sul, que saiu devastado, desmoralizado e submetido à lei imposta pelos vencedores da guerra, passou a ser visto como a “(...) terra escravista, racista e reacionária, era apontada como o antípoda dos valores americanos (...)” 157. Com o fim das batalhas militares, iniciaram-se as batalhas pela memória do passado.

A ligação entre memória política e religiosa, chamada de religião civil, já existia, como já mencionamos, nos Estados Unidos. No entanto, ela ganhou novos significados durante e após a Guerra Civil. Desta guerra, que seria o terceiro evento fundador norte- americano, surgiu, como afirma Joutard, uma memória religiosa complementar158. A memória religiosa da chegada dos peregrinos, o primeiro momento fundador, fundamentou-se no Velho Testamento, com a Guerra Civil, não se saiu da lógica bíblica, apenas se acrescentou o Novo Testamento ao Velho159

.

152 FERNANDES, Luiz E.; KARNAL, Leandro; MORAIS, Marcus V.; PURDY, Sean. História dos Estados

Unidos- das origens ao século XXI. São Paulo: Ed. Contexto, 2011. Pág. 134.

153 Idem, Ibidem. Pág. 134.

154 SELLERS, Charles; MAY, Henry; McMILLEN, Neil. Uma Reavaliação da História dos Estados Unidos.

Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 1990. Pág. 197.

155 Idem, Ibidem. Pág. 199.

156 AMEUR, Farid. A Guerra de Secessão (1861-1865). Lisboa: Edições 70, 2004. Pág. 105.

157 SCHILLING, Voltaire. América: A história e as contradições do império. Porto Alegre: L&PM, 2004. Pág.

98.

158 JOUTARD, Philippe. “Memória e identidade nacional” (p. 59-78). In: AZEVEDO, Cecília; BICALHO,

Maria F.; KNAUSS, Paulo (Org.). Cultura política, memória e historiografia. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2009. Pág. 73.

“[...] O próprio Lincoln, no discurso inaugural de seu segundo mandato, via na provação da guerra civil “o justo castigo daqueles para quem o castigo chega”; em outras palavras, a ira de Deus contra seu povo infiel. É ainda o Israel antigo. No entanto, por ocasião do discurso de Gettysburg em homenagem à memória das vítimas da guerra civil, ele invoca uma memória cristã: “os que aqui deram sua vida para que esta nação pudesse viver”. Em breve sua morte trágica evocaria a imagem do Cristo [...] ”160.

Ainda durante a Guerra Civil, Lincoln oficializou o Thanksgiving como feriado nacional em 1863, quase 250 anos depois do que teria sido o primeiro dia de Ação de Graças dos peregrinos. Sua ação, com forte intencionalidade política, tinha o objetivo de promover a pacificação e reafirmar a união de um país dividido pela guerra, de retomar um passado do qual, em teoria, todos seriam herdeiros.

“Eu convido meus companheiros, cidadãos de todas as partes dos Estados Unidos e também aqueles que estão no mar ou morando em terras estrangeiras, que dediquem a última quinta-feira de novembro ao louvor e agradecimento ao nosso Pai que está no céu” 161

.

Esta tentativa, no entanto, não foi bem aceita pelo Sul. Em 1889, um monumento dedicado aos peregrinos em Plymouth reacendeu, mais uma vez, o ressentimento do Sul, que reclamava que a precedência cronológica do assentamento de Jamestown, na Virgínia, teria sido apagada em favor de Plymouth e da tradição puritana da Nova Inglaterra. Este ressentimento perdurou até as comemorações do terceiro centenário da chegada dos peregrinos, em 1923, quando vários sulistas ainda repetiam que haviam sido conquistados depois da Guerra Civil e, como consequência, sua história teria sido roubada162

. Apenas a partir de 1907 foram produzidos eventos nacionais que celebrassem a colônia de Jamestown, como a “Jamestown Tercentenary Exposition” 163. Em 1957, o então presidente Eisenhower proclamou o Jamestown Day (que não obteve ampla aceitação nem em sua região), comemorado em 13 de maio164, enquanto o Thanksgiving já era um feriado oficial desde 1863.

O período da Guerra Civil foi para o Sul, como para o Norte, um período de forte efervescência cultural. Foi produzido, neste período, um número considerável de romances,

160 Idem, Ibidem. Pág. 73.

161 LINCOLN, A. Disponível em: https://www.abrahamlincolnonline.org/lincoln/speeches/. Acesso em:

23/03/2017.

162AZEVEDO, Cecília. “Culturas políticas e lugares de memória: batalhas identitárias nos EUA” (p. 465-492).

In: AZEVEDO, Cecília; BICALHO, Maria F.; KNAUSS, Paulo (Org.). Cultura política, memória e historiografia. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2009. Pág. 471.

163 GARDELLA, Peter. American Civil Religion: What Americans Hold Sacred. New York, Oxford University

Press, 2014. Pág. 21.

poemas, pinturas165. Estavam em jogo, naquele momento, além das batalhas militares, as memórias em disputa. Ao fim da Guerra, o Sul criou movimentos que procuravam evocar a nostalgia de uma grandeza que havia sido perdida. Além das perdas econômicas, eles reivindicavam a decorrocada de sua história e cultura, subtraída pelos vencedores que teriam imposto sua memória como nacional, enquanto tudo que fosse ligado ao Sul teria se tornado regional.

Interpretações como a da Lost Cause166 ganharam força com o fim do conflito armado. Ela trata de uma interpretação dos confederados da Guerra Civil, geralmente defendida por brancos do Sul, principalmente ligados às Forças Armadas. Análises como esta só puderam ser possíveis pelo lugar que a história ocupa “no ethos do Sul” 167, de acordo com o historiador John Franklin, que defende que se escreva sobre o Sul em sua totalidade:

“[...] tempo e lugar foram ingredientes geminados que abasteceram a imaginação do Sul e proporcionaram o cenário para que os brancos da região, orgulhosamente, chamaram de civilização do Sul. Eles escreveram sua própria história para explicar e justificar as idiossincrasias de suas instituições e de suas políticas. [...]” 168

Até a primeira metade do século XIX, a escrita de “uma história nacional” tinha, em geral, ficado mais restrita a historiadores (profissionais ou amadores) do Norte, em sua maioria da região da Nova Inglaterra169, ainda que obras como as dos sulistas David Ramsay ou George Tucker tenham se destacado. Durante este período, as obras regionais, como a história dos estados, tinham maior importância entre os escritores sulistas do que uma história da nação ou mesmo no Sul como um todo. Esta concepção, no entanto, começou a mudar nos anos que antecederam a Guerra Civil.

O sistema econômico baseado na escravidão passou a ser cada vez mais condenado no mundo ocidental, assim, os brancos do Sul começaram a pensar neles não mais como estados com diferenças entre si, mas como portadores de valores, problemas e culturas em comum, que os diferenciava dos demais americanos: “[...] chegaram a acreditar que tinham uma história compartilhada e característica.” 170. Esta unidade era indispensável, fosse

165 EATON, Clement. The Growth of Southern Civilization (1790-1860). New York: Harper & Row, 1961. Pág.

14.

166 O termo foi usado pela primeira vez, em 1866, no título do livro The Lost Cause: A New Southerm History of

the War of the Confederates, do historiador Edward Pollard.

167FRANKLIN, John Hope. Raça e História: Ensaios selecionados (1938-1988). Rio de Janeiro: Rocco, 1989.

Pág. 14.

168 Idem. Ibidem. Pág. 14. 169 Idem. Ibidem. Pág. 80. 170 Idem. Ibidem. Pág. 81.

para manter sua posição dentro da União, fosse para preparar o caminho da separação171, ainda que para isto as diferenças religiosas, étnicas e culturais fossem ignoradas.

A Guerra Civil havia sido ainda mais devastadora no Sul: as batalhas acabaram com seu exército, suas terras e sua infraestrutura econômica172. Tendo sido derrotados nas batalhas, restava aos sulistas se voltarem para sua própria história e para o passado que consideravam glorioso e, para isto, os historiadores sulistas tiveram papel fundamental: “os historiadores do Sul serviram à causa do nacionalismo sulista com resultados mais duradouros do que fizeram os exércitos [...]”173. “Os sulistas tiveram de conquistar com a pena, o que tinham deixado de vencer com a espada” 174.

Neste contexto, floresceram interpretações em que o Sul e a causa confederada eram protagonistas. Criou-se, assim, uma memória pública romantizada do Sul que focava em seu passado, seu esforço e sacrifício na Guerra, sua honrosa derrota, destacando a sociedade antibélica no período anterior e minimizando a escravidão (que para eles não foi a causa da guerra, mas, sim, as diferenças culturais e econômicas, além do conflito entre uma sociedade industrial e outra agrícola175), reforçando a constitucionalidade da secessão176 e criando um culto aos seus heróis, sendo o maior deles o general Robert E. Lee. Essa interpretação ficou conhecida como Lost Cause, sendo tratada, por boa parte da historiografia, como um mito, que foi produzido em um contexto de diversos embates pelo controle da memória e do passado de um país.

O historiador Charles Wilson se apropria do conceito de religião civil de Bellah ao dizer que a Lost Cause e as interpretações sulistas como um todo construíram sua própria religião civil, separada da nacional, com suas próprias lógicas, práticas ritualísticas, estruturas de organização que procuraram produzir seu próprio significado da nação177. Uma série de monumentos, sociedades patrióticas, canções, versos, celebrações, obras de artes e

171 Idem. Ibidem. Pág. 81.

172 GALLAGHER, Gary W.; NOLAN, Alan T. The Myth of the Lost Cause and Civil War History. Indianapolis:

Indiana University Press, 2000. Pág. 1.

173 FRANKLIN, John Hope. Raça e História: Ensaios selecionados (1938-1988). Rio de Janeiro: Rocco, 1989.

Pág. 83.

174 Idem. Ibidem. Pág. 84.

175 GALLAGHER, Gary W., NOLAN, Alan T. The Myth of the Lost Cause and Civil War History. Indianapolis:

Indiana University Press, 2000. Pág. 15.

176 Idem. Ibidem. Pág. 12.

177 WILSON, Charles R. Baptized in Blood: The Religion of the Lost Cause, 1865-1920. Athens: University of

reminiscências informais foram produzidas como forma de reafirmar o passado glorioso e justificar seus atos à posteridade178, em paralelo às interpretações históricas e literárias.

Alguns historiadores acreditam que a Lost Cause foi uma ferramenta útil para a conciliação entre o Norte e Sul. Para o historiador David W. Blight:

“The Lost Cause became an integral part of national reconciliation by dint of sheer sentimentalism, by political argument, and by recurrent celebrations and rituals. For most white Southerners, the Lost Cause evolved into a language of vindication and renewal, as well as an array of practices and public monuments through which they could solidify both their Southern pride and their Americanness. In the 1890s, Confederate memories no longer dwelled as much on mourning or explaining defeat; they offered a set of conservative traditions by which the entire country could gird itself against racial, political, and industrial disorder. And by the sheer virtue of losing heroically the Confederate soldier provided a model of masculine devotion and courage in an age of gender anxieties and ruthless material striving [...]”179

Para Alan Nolan, a Lost Cause também foi uma facilitadora da reunificação, no entanto, foi conduzida por homens brancos de ambos os lados, que, para isto, promoveram o sacrifício dos negros180. Negros, então, foram representados em diversas obras artísticas e literárias partidárias, ora como culpados ou causadores da Guerra Civil, como no filme “The Birth of a Nation”, de 1915, ora como parte da sociedade hierarquizada, em que eram vistos como parte da “família”, em um sistema que os agradava e no qual eram bem tratados, no qual os negros eram escravos fiéis e leais, como em “Gone with the Wind”, de 1939181.

A Lost Cause é um exemplo de memória pública, em que a nostalgia de um passado idealizado é trazida à tona, e demonstra que apesar de não receber apoio acadêmico, continua sendo parte importante da cultura sulista e lembrada de forma geral pela cultura popular americana. Além disto, ela também é importante para demonstrar toda a disputa que existia na segunda metade do século XIX, pela memória nacional e pelo controle do passado que seria usado em sua construção.

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