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3 ABORDAGEM METODOLÓGICA

4.1 Hemorio: sua história, filosofia e missão

O embrião do que é hoje o Hemorio, nasceu no ano de 1944, num prédio situado à Rua Teixeira de Freitas, na Lapa. Foi o estabelecimento indicado para servir de sede ao primeiro Banco de Sangue do Brasil, criado através do Decreto 6.769, sancionado pelo então presidente Getúlio Vargas, com o nome de Banco de Sangue do Distrito Federal. Desde sua criação, o Banco de Sangue da Lapa já apresentava características de hemocentro, por distribuir sangue para os hospitais de emergência. A partir de sua iniciativa, foi promulgada em 1950 a lei nº 1075, de 27 de março de 1950, que tratava sobre a Doação Voluntária de Sangue. Doze anos depois, em 1956, com a implantação de um serviço de Hematologia ligado ao Banco de Sangue, originou-se o Instituto de Hematologia, que mais tarde recebeu o nome do médico Arthur de Siqueira Cavalcanti. Há de se destacar que à época no Brasil, as doações de sangue poderiam ser remuneradas o que comprometeu a qualidade do sangue doado, deixando sequelas que são sentidas até a atualidade. Aliado a esta problemática, a falta de fiscalização adequada favoreceu a comercialização de sangue sem critério técnico, favorecendo a proliferação de doenças transmissíveis (HEMORIO, 2010; HEMORIO, 2011).

Em 1965, foi formada uma Comissão Nacional de Hemoterapia pelo Ministério da Saúde. Esta Comissão estabeleceu as bases da doação voluntária de sangue, a necessidade de medidas de proteção a doadores e receptores, determinou a obrigatoriedade dos testes sorológicos necessários a segurança transfusional e implantou o registro oficial dos bancos de sangue públicos e privados. Faz-se relevante registrar que o Instituto de Hematologia já se fazia presente no cenário de decisões nacionais, haja vista ter sido esta Comissão presidida

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pela Drª Maria Brasília Leme Lopes, auxiliar do diretor médico do Banco de Sangue da Lapa à época de sua criação (HEMORIO, 2010; HEMORIO, 2011).

Em 29 de setembro de 1969, foi inaugurada na Rua Frei Caneca, a atual sede do Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti, que viria a se chamar, 17 anos depois de Hemorio, órgão da Administração Pública Estadual – Poder Executivo, subordinado à Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil (Sesdec). A conclusão da obra forneceu ao Rio de Janeiro a prioridade de possuir um estabelecimento que representaria o que de mais moderno existia na especialidade, constituindo um centro de pesquisas e de formação de técnicos possibilitando o incremento da coleta de sangue, a estocagem e o preparo do plasma e derivados, para que pudesse atender a demanda cada vez maior (HEMORIO, 2010; HEMORIO, 2011).

Entre os anos de 1964 a 1979, apesar da Hemoterapia no Brasil ter legislação e normatização adequadas, faltava uma rígida fiscalização das atividades hemoterápicas e uma política de sangue consistente. O número de doadores impróprios crescia a cada dia devido à doação remunerada, uma forma que centenas de pessoas buscavam para aumentar a renda (HEMORIO, 2010).

Durante a década de 1980, em meio à falta de fiscalização do mercado paralelo de sangue surgiu a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Um marco na história da hemoterapia, por despertar o pensamento de profissionais de saúde sobre a qualidade do sangue e alertar à população quanto aos riscos inerentes à doação remunerada. Contribuiu para mudanças decisivas neste serviço. À época no Brasil, cerca de 2% dos casos de AIDS eram transmitidos por transfusão e mais de 50% dos hemofílicos apresentavam-se infectados pelo vírus HIV. Destaca-se ainda nesta década, à criação pelo governo da hemorrede pública, originando a primeira Política Nacional de Sangue, sem o vínculo mercantil da doação; os Programas de captação de doadores voluntários de sangue; Fracionamento adequado dos componentes do sangue, a transfusão seletiva e a obrigatoriedade na realização de testes sorológicos (HEMORIO, 2010).

A partir da década de 1990, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e elaboração da Lei Orgânica de Saúde, estabeleceu-se uma rígida fiscalização na formulação e execução da Política de Sangue. Em face desta política, o Hemorio recebeu a incumbência de coordenar tecnicamente a Rede Estadual Pública de Órgãos Executores de Atividades Hemoterápicas do Estado do Rio de Janeiro, a Hemorrede RJ, alcançando o posto de Hemocentro Coordenador de Estado do Rio de Janeiro. Esta década foi decisiva para a reconstrução de uma imagem positiva para a hemoterapia (HEMORIO, 2010).

Em 1994, no início da gestão da Entrevistada 10 como Diretora Geral do Hemorio, foi iniciado um pioneiro trabalho de implementação da gestão pela qualidade e segurança dos procedimentos (HEMORIO, 2010).

Quando foi em 1994, que fui para a Direção Geral, a primeira coisa que eu fiz foi fazer um planejamento e neste planejamento colocar a idéia da qualidade. Então saiu como uma idéia coletiva e a Instituição comprou a idéia. (Entrevistado 10 – médica)

Aliado a execução da Política de Sangue e busca pela qualidade e segurança do seu serviço de Hemoterapia, o Hemorio buscou a acreditação deste serviço pela Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB), tendo a conquistado no ano de 2000.

Na verdade uma das metas mobilizadoras nacionais era 100% do processo de sangue com qualidade. 100% de qualidade para fazer o processo do sangue com qualidade [...] Tem toda uma necessidade maior de trabalhar com qualidade, você é o hemocentro coordenador, então quer dizer, tem esse aspecto, a instituição tem que estar voltada principalmente pela responsabilidade que tem em relação a rede pública. (Entrevistada 1 – Administrador)

Nós começamos a frequentar os Congressos da AABB e a encontrar os serviços de Hemoterapia que eram acreditados nos Estados Unidos, então [...] o diretor técnico do New York Blood Center (uma instituição americana acreditada) era um brasileiro [...]e ele trocava muita informação comigo e eu fui visitar o New York Blood Center e achei que era importante. Entrei em contato com a AABB, [...]e começamos a fazer a acreditação direto com os Estados Unidos, tanto que a primeira acreditação internacional que a gente teve foi na hemoterapia e direto com os Estados Unidos, não tinha nenhuma instituição acreditadora no Brasil ainda. (Entrevistado 10 – Médica)

Atualmente, o Hemorio é o coordenador da rede pública de sangue do Estado do Rio de Janeiro, responsável pela coleta, processamento e distribuição de bolsas de sangue para mais de 120 serviços de saúde que compõe o SUS do Estado do Rio de Janeiro. É Centro de Referência em Hematologia e Hemoterapia do Estado e dentro da rede hierarquizada do SUS é uma unidade terciária especializada no tratamento de doenças hematológicas primárias de alta complexidade. Atende pacientes com doenças hematológicas primárias (doença falciforme, hemofilia e Oncohematologia), com mais de 10 mil pacientes ativos, em regime ambulatorial e de internação.

Como hemocentro coordenador, qualifica e capacita profissionais técnicos na área de hematologia e hemoterapia, além de estimular e realizar pesquisa científica nestas áreas. Sua área de atuação abrange todo o Estado do Rio de Janeiro e pacientes oriundos de outros Estados, devido à exclusividade dos serviços oferecidos. Recebe uma média de 350 doadores voluntários de sangue por dia.

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Suas atividades são desenvolvidas em dois prédios, com área total construída de 12.184 m². O prédio de 8 andares (Sede) congrega em sua área: 80 leitos para internação masculina, feminina, pediátrica e quimioterápica; atendimento de emergência com 18 leitos; ambulatórios de Quimioterapia e de Transfusão; Farmácia Hospitalar; Esterilização; Serviços de Laboratórios (exames diagnósticos, complementares de rotina e especializados) e de Hemoterapia (atendimento aos doadores de sangue, processamento e armazenamento de sangue e derivados, exames de histocompatibilidade (para transplantes de órgãos e tecidos); Centro de Estudos, Comitê de Ética em Pesquisa; Documentação Médica) e setores administrativos. No prédio de 2 andares (Anexo), estão instalados: 22 consultórios para atendimento em diversas especialidades médicas e , odontologia, fisioterapia, setor de imagens (Eletrocardiograma, Tomografia, Raio X, Endoscopia Digestiva, Broncoscopia) coleta de exames laboratoriais de pacientes e farmácia de dispensação para pacientes externos. (HEMORIO, 2010).

A gestão do Hemorio está formalmente sob a responsabilidade da Diretoria de Assistência e da Direção Geral, sendo as decisões compartilhadas com as gerências das coordenações, assessorias, serviços, seções e setores e, reforçada por 06 fóruns de discussões e decisões (Reuniões de café da manhã, Reuniões das Diretorias com suas equipes, reuniões do Comitê Gestor, Reuniões do Conselho Técnico Administrativo, Planejamento Estratégico e Comitê Financeiro). Todos os processos são submetidos aos métodos de gerenciamento das legislações vigentes da área de hematologia e hemoterapia, aos padrões de trabalhos institucionais estabelecidos em políticas, normas e procedimento operacionais padrões (POP) e os critérios de excelência dos órgãos de acreditação.

O controle dos processos é realizado principalmente através das auditorias internas periódicas, que tem como base de verificação os POPS e os padrões de acreditação dos órgãos de certificação (AABB e CBA). A gestão dos processos de apoio está sob a responsabilidade da Diretoria de Administração e Recursos Humanos (DAH) e as decisões são compartilhadas com as gerências dos serviços, seções e setores.

O quadro gerencial é constituído por 01 Diretoria Geral (DG) e 02 Diretorias: 01 de Assistência (DAS) e 01 DAH, 06 coordenações, 08 serviços, 04 Assessorias, 22 seções, 42 setores e 16 Unidades Funcionais. O quadro de pessoal é composto de 1.607 funcionários, sendo compreendidos entre empregados estatutários, empregados celetistas, cooperativados, oriundos de processo seletivo temporário, terceirizados, residentes e estagiários. Como práticas da horizontalização da gestão fazem parte da cultura organizacional o acompanhamento e refinamento dos processos de trabalho através da formação de times

multidisciplinares: grupos, comitês, comissões e conselhos. Estes times facilitam o reconhecimento das interfaces de trabalho e proporcionam a interação dos profissionais no acompanhamento, na iniciativa para a busca de soluções de problemas e nas ações de melhorias dos processos.

Outra prática sistemática eficaz para catalisar a iniciativa, a criatividade e a inovação dos colaboradores é o Programa Setorial de Idéias, realizado anualmente e onde os profissionais inscrevem projetos visando melhorias na sua área de trabalho. O Conselho Funcional, prática estabelecida em 2001, tem caráter multi-setorial, é formado por representantes dos setores indicados por seus pares, que se reúnem mensalmente com a DG. Estabelece-se assim uma forma direta de comunicação, de identificação de problemas e de apresentação de sugestões pela força de trabalho para a melhoria do desempenho pela força de trabalho (HEMORIO, 2010).

O Hemorio tem como Missão: Prestar assistência de qualidade em hematologia e hemoterapia à população e coordenar a hemorrede do Estado; Visão: Ser um Centro de Excelência em Hematologia e Hemoterapia e, Valores: Os valores estão definidos de acordo com os princípios da Ética. Na busca pela credibilidade, a Instituição valoriza a organização, reconhece os resultados da equipe e adota posturas relevantes para a sociedade (HEMORIO, 2010).

O Instituto Estadual possui alguns programas específicos, a saber: o Programa Jovens Salva-Vidas, trabalho realizado por profissionais do instituto junto a educadores e educandos para desenvolver a cultura da doação voluntária de sangue na nossa sociedade; Classe Hospitalar, através de convênio firmado entre a Secretaria Municipal de Educação e a SESDEC, as crianças internadas têm acompanhamento escolar diário com professores da rede municipal garantindo assim a continuidade do aprendizado e, Círculo de Amigos do Menino Patrulheiro, participa desde 1990 da Obra Social do Programa "O Menino Patrulheiro", oferecendo campo de treinamento a adolescentes inscritos no programa. Alguns funcionários começaram suas atividades como patrulheiros (HEMORIO, 2010).

O Hemorio através da cultura institucional de busca pela excelência através da melhoria contínua vem a cada ano conquistando Premiações e Acreditações no decorrer de sua história. Destacam-se:

• 1994 - Realizado o primeiro Seminário de Integração Organizacional, dando subsídios para a implantação de um Programa de Qualidade;

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• 1995 - Iniciada uma consultoria prestada pelo Instituto Brasileiro de Qualidade Nuclear (IBQN), com o objetivo de implantar o Programa de Gestão pela Qualidade Total (PGQT);

• 1996 - Ocorreu o II Simpósio de Gestão pela Qualidade Total em Hematologia e Hemoterapia, o concurso para a escolha do “Jingle da Qualidade”, o lançamento do Coral HEMORIO e a criação da Cia. Hemoarte, apresentando uma peça teatral utilizada como instrumento de sensibilização para a Gestão da Qualidade e para o entendimento dos seus conceitos;

• 1997 - Realizado o I Encontro HEMORIO de Qualidade e a Instituição concorreu pela primeira vez a um prêmio de qualidade em Gestão, obtendo o seu primeiro reconhecimento na área, através do Diploma Categoria Prata do Projeto Qualidade Rio “Gestão Rumo a Excelência”;

• 1998 - Criação do Núcleo de Ações da Qualidade, incorporado à estrutura organizacional.

• Neste ano, a instituição aderiu formalmente ao Programa de Qualidade do Serviço Público (PQSP) e ganhou o Prêmio Destaque PROCON/RJ;

• 2000 - Participação no Prêmio Qualidade Rio, sendo reconhecida com o Diploma Categoria Bronze do Prêmio Qualidade Rio. O PQSP agraciou o HEMORIO com o certificado de reconhecimento da Gestão Nível 2. Obtenção do Diploma do Dia Mundial da Saúde da Organização Mundial de Saúde, pelos serviços prestados e Honra ao Mérito do Ministério da Saúde pela melhoria da Qualidade do Sangue no Estado do Rio de Janeiro;

• 2001 - Primeira instituição pública da América Latina a ser acreditada na área de Hemoterapia, pela AABB. Na área de Hematologia foi certificada pela JCI, cuja avaliação no Brasil é realizada pelo CBA;

• 2001 – Obtenção no ciclo 2001 da premiação do Prêmio Qualidade Rio e Prêmio Qualidade do Governo Federal (PQGF) - recebendo o reconhecimento nos dois processos: Diploma Categoria Prata do Prêmio Qualidade Rio e Faixa Bronze do PQGF – Categoria Especial Saúde;

• 2002 - Recebeu o reconhecimento Diploma Categoria Ouro do Prêmio Qualidade Rio e Faixa Prata do Prêmio Qualidade do Governo Federal - Categoria Especial Saúde, obtendo do Programa de Qualidade no Serviço Público o certificado de reconhecimento da Gestão Nível 4;

• 2003 - Recertificação pela AABB e pelo CBA/JCI. Recebeu também, pelo segundo ano consecutivo, o Diploma Categoria Ouro do Prêmio Qualidade Rio e o certificado de reconhecimento da Gestão Nível 5 do PQSP;

• 2004 - Recebeu o Certificado Prêmio Qualidade Rio Categoria Ouro e Medalha, sendo este o maior nível de premiação do Programa. Mais uma vez, recebeu o certificado de reconhecimento da Gestão Nível 5 do atual Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (GESPÚBLICA);

• 2005 - Foram recebidos neste ano os seguintes reconhecimentos: Prêmio “Destaque em Administração” do Conselho Regional de Administração (CRA), na categoria honorífica, pelos serviços prestados à sociedade; Faixa Prata do Prêmio Nacional de Gestão Pública, Categoria Especial Saúde e Troféu Beija Flor 2005, Categoria Instituição - entregue anualmente pelo Rio Voluntário, em reconhecimento ao esforço da Instituição em estimular a cultura do trabalho voluntário;

• 2006 - Recertificação pela AABB e CBA/JCI, consolidando o reconhecimento internacional da excelência dos produtos e serviços oferecidos na área de Hemoterapia e Hematologia. Aconteceu a II SIQUAL, na qual se destacou a apresentação de palestras de Benchmarking e Gestão do Conhecimento. Na área de gestão, a Instituição recebeu a Faixa Prata do Prêmio Nacional de Gestão Pública;

• 2007 - Recertificação pela AABB e obteve-se a premiação máxima do Prêmio Nacional de Gestão Pública – Troféu, sendo a primeira instituição pública de saúde a receber este reconhecimento;

• 2008 - Recebemos o Prêmio Benchmarking Ambiental Brasileiro, com o case do Programa Hemocicle, no decorrer de 6 anos de prêmio, foi a primeira instituição de saúde a concorrer ao prêmio;

• 2009 - Recertificação pela AABB;

• 2010 - Prêmio Nacional de Gestão Pública – Troféu, pela 2ª vez.

[...] Eu não me acho excelente, eu acho que eu busco a excelência, que eu controlo o meu processo e uso todas as possibilidades para fazer isto. (Entrevistado 12 – Médico)

A cultural busca do Hemorio por premiações e acreditações denota a sua preocupação em se manter em processo de melhora contínua rumo a excelência.

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