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HEREDITARIEDADE E PROGRESSO, CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS DE HERBERT SPENCER

A teoria darwiniana da pangênese proporcionou, com a idéia da existência de unidades materiais, que se estabelecesse um ponto de partida para os indivíduos que viessem a se preocupar com o fenômeno da transmissão de características entre as gerações. Portanto, em um solo epistemológico formado pela regularidade observacional e por processos mecânicos, uma teoria sobre a herança deveria descrever e indicar não apenas o funcionamento, como também a natureza do elemento material responsável por transmitir e desenvolver as características gerais da espécie e as características diferenciadoras individuais presentes em um novo organismo. Unificar estes elementos em uma ampla teoria evolucionária foi o

propósito que marcou a obra e a vida de Herbert Spencer (1820-1903).121

A obra de Spencer é um esforço considerável de reunir em um sistema filosófico o conhecimento disponível em todas as possíveis áreas em sua época. Uma tarefa hercúlea que poucos na história tiveram coragem e competência reunidas para chamar para si tamanha responsabilidade. Em seu sistema de filosofia sintética, Spencer procurou muito mais do que regularidades científicas em áreas como sociologia, moral e biologia, para citar somente algumas. Seus propósitos foram de reunir todo conhecimento possível em uma única lei do universo. Lei esta que unificaria e daria sentido à existência; desde os elementos mais diretos e sensíveis da

matéria, até a fluidez e os desdobramentos dos valores morais e da capacidade mental humana. Tudo no universo, como planetas, sociedades, organismos e pensamentos, estariam sujeitos, por inevitável necessidade, ao funcionamento de forças naturais mecânicas, que descreveriam um movimento de surgimento, diferenciação, equilíbrio e dissolução: a evolução. Para Brian Homes:

“L’originalité de Spencer réside dans la manière dont il formula les lois de l’évolution et dont il les appliqua à l’étude scientifique de la psychologie, de la sociologie, de la biologie, de l’éducation et de l’éthique. Dans The Philosophical Work of Herbert Spencer (Men and

Events, 1929) [L’oeuvre philosophique de Herbert Spencer], John Dewey

rappelle que la théorie de l’évolution a une longue histoire dans la philosophie européenne. Sa reformulation au XIXe siècle a provoqué d’énormes controverses, car elle allait complètement à l’encontre de la conception chrétienne de l’histoire de la création. C’est à Charles Darwin, scientifique du XIXe siècle, que l’on attribue la redécouverte de l’évolution. On the Origin of Species [De l’origine des espèces] fut publié en 1859. Spencer fit très modestement remarquer que sa version de la théorie de l’évolution avait été publiée quelques années avant l’ouvrage de Darwin. Ce qui est certain c’est qu’elle était déjà pleinement élaborée dans General Principles [Principes généraux] publié en 1862. Il est clair, toutefois, pour reprendre les mots de Darwin lui-même que, dans Origin

of species, il limite l’application de la théorie aux changements

biologiques, ce que Spencer ne fit pas. Lorsqu’il analyse l’idée de changement dans First Principles [Premiers principes], Spencer subordonne les lois de l’évolution aux changements intervenant dans le système solaire, la structure et le climat de la terre, les végétaux et les animaux, les individus et la société. Le changement, conformément à ces lois universelles, comprenait des processus d’intégration et de différenciation.”122

O conceito de evolução spenceriano é profundamente diferente do conceito darwiniano. Pois, o processo de evolução para Spencer não teria as características exigidas pelos conceitos biológicos, sendo, muito mais, de acordo com E. Mayr, um

conceito metafísico.123 Desta forma, o pensamento de Spencer seria uma tentativa de

descrever as condições de existência de toda realidade. Sua proposta não parece ser estritamente como se daria o processo de diferenciação dos organismos, mas sim um esforço em descrever toda a existência, material e imaterial.

Por seu caráter especulativo, a teoria evolucionista de Spencer tem sido considerada sem muita importância para a biologia. Para Ernst Mayr, por exemplo, a contribuição de Spencer foi tão pouca que poderia ser deixada de lado em uma

abordagem do desenvolvimento histórico das idéias biológicas.124 Contudo, mesmo

considerando que Spencer tenha cometido uma série de enganos quando editou o segundo e o terceiro volumes da “filosofia sintética”, intitulados “Princípios de Biologia” (1872), as polêmicas que se seguiram, principalmente por seu debate com August Weismann, e as contraposições que se formaram dando origem à alinhamentos em torno de abordagens neo-darwiniana e neo-lamarckiana, por si sós já justificariam avaliarmos as suas contribuições teóricas.125 Além do que, as idéias spencerianas sobre evolução e progresso contribuíram para o desenvolvimento posterior tanto de uma abordagem de inspiração darwiniana das relações sociais, denominada de darwinismo social, quanto de práticas científicas com o propósito de

123 Mayr, E.: “O desenvolvimento do pensamento biológico”, p. 431. 124 Idem, ibidem, p. 432.

125 Ver, por exemplo, a avaliação de L. H. Bailey, em 1894, sobre o debate envolvendo as posições

controle da reprodução humana, denominada por Francis Galton (1822-1911) de eugenia.

Compreender a filosofia de Spencer como desdobramento da teoria darwiniana para além do campo biológico tem sido, como salienta E. Mayr, principalmente entre os cientistas sociais, uma interpretação corrente.126 Derek Freeman, por exemplo, em seu artigo “The Evolutionary Theory of Charles Darwin and Herbert Spencer” (1974), procurou chamar a atenção para o que poderia ser descrito como um modelo padrão de interpretação corrente nas ciências sociais em relação à trajetória conceitual do termo evolução como conseqüência direta da ideologia capitalista. Em suas palavras:

“Let me begin with the ‘externalist’ interpretation of Darwin´s discovery of the mechanism of natural selection – an interpretation in which Darwin is linked with Spencer as one of the ideologists of ‘early industrial capitalism’.”127

Para Spencer o progresso se constituiria em uma lei interna a governar os fenômenos, pois em seu pensamento evolução seria um movimento regido por leis naturais que descreveriam o desenvolvimento progressivo de todos os elementos do universo –matéria, planetas, sociedades, organismos, pessoas e conhecimento–, de um estágio de homogeneidade, caracterizado por um estado de simplicidade, progressivamente para um estágio de heterogeneidade, caracterizado por um estado

126 Mayr, E.: “O desenvolvimento do pensamento biológico”, p. 432.

de complexidade. Semelhante desenvolvimento obedece a uma lei básica, que Spencer descreve da seguinte forma:

“Assim, propomo-nos demonstrar, em primeiro lugar, que esta lei do progresso orgânico é a lei de todo o progresso; quer se trate das transformações da terra, do desenvolvimento da vida à superfície ou do desenvolvimento das instituições políticas, da indústria, do comércio, da língua, da literatura, da ciência, da arte, dá-se a mesma evolução do simples para o complexo, mediante sucessivas diferenciações. Desde as mais remotas transformações cósmicas de que ainda existem sinais, até aos mais recentes resultados da civilização, vê-se que o progresso consiste essencialmente na passagem do homogêneo para o heterogêneo.”128

Assim, para Spencer, tudo no universo, em algum momento, apresentou-se de modo homogêneo, significando com isso algo como um todo único e indiferenciado. Contudo, Spencer postula que existiria certa instabilidade em tudo que se manifesta de forma homogênea, como se houvesse uma pressão mecânica a forçar a homogeneidade a se diferenciar. As diversas partes que resultariam de um momento inicial de diferenciação foram levadas, com o passar do tempo, a se separarem em diferentes aspectos, produzindo mais de um efeito.129 Este dispositivo mecânico, interno ao desenvolvimento progressivo, teria como resultado uma série de produtos

dissimilares, garantindo assim a variabilidade evolutiva.130 Um único movimento de

128 Spencer, H: “Do progresso: sua lei e sua causa”, p. 5. 129 Idem, ibidem, p. 59.

130 Ernst Mayr comenta o seguinte sobre a ênfase de Spencer em relação a uma interpretação mecanicista do

universo: “O acento na matéria, movimento e forças, (...) é um exemplo típico de uma interpretação fisicalista imprópria das causas últimas, nos sistemas biológicos, e nada tem haver coma biologia real.” In: Mayr, E.: “O desenvolvimento do pensamento biológico”, p. 431.

segregação, em algo relativamente homogêneo, produziria uma variedade de efeitos, promovendo com isso a progressiva complexidade dos elementos. Para Spencer:

“Sendo a causa determinante do progresso, em todas as ordens, – astronômica, geológica, orgânica, etnológica, social, econômica, artística, etc. – deve conter algum atributo fundamental, comum a todas elas, e pode exprimir-se em função deste atributo. O único caráter patente pelo qual são semelhantes todos os gêneros de progresso, é o de consistir, sem exceção, numa série de transformações; e portanto a solução desejada deve encontrar-se em algum caráter comum que tenham as modificações em geral. Há motivos para crer a priori que a transformação universal do homogêneo para o heterogêneo assenta em alguma lei da transformação.

Fixadas estas premissas, passemos a enunciar a lei que é a seguinte: ‘Toda força ativa produz mais de uma transformação: toda

causa produz mais de um efeito’.”131

O processo de diferenciação, após algum tempo, gradativamente entraria em um estágio de equilíbrio, e o movimento inicial finalmente chegaria ao fim. O ritmo das transformações perderia a sua amplitude e a evolução, ao atingir o equilíbrio, diminuiria a sua força, iniciando com isso um estágio de dissolução em que a evolução chegaria a seu fim, dissolvendo-se no incognoscível e completando, desta

forma, um ciclo que seria novamente retomado indefinidamente.132

Nesse sentido, o pensamento spenceriano procura descrever a modificação e a variedade existente na natureza em termos de dispositivos ou leis a que tudo no universo estaria condicionado. A evolução nesse sentido seria muito mais do que um mecanismo de especiação, ela representaria o movimento de forças universais que

131 Spencer, H: “Do progresso: sua lei e sua causa”, p. 19.

unificariam todos os elementos em uma única direção: o progresso. De acordo com Taguieff:

“Rien n´est plus étranger à une philosophie de la liberté que l´idée d´une loi du progrès, qui inscrirait dans la nature, et opérerait l´histoire dans la nature, et opérerait la dissolution de la liberté dans le règne de la nécessité. Ce sera, au milieu du XIXe siècle, la thèse soutenue par Herbert Spencer, affirmant que le progrès de la civilisation est « une partie de la nature », et qu´en conséquence le progrès n´est « pas un accident mais une necessité ».”133

A lei do progresso universal, que para Spencer promoveria um movimento em que todas as coisas, com o passar do tempo, ganhariam necessariamente complexidade –um princípio teleológico-, foi extraída, como demonstra Ernst Mayr, de uma “analogia com o desenvolvimento ontogenético –o crescimento do organismo individual. Desses fenômenos teleonômicos, ele transferiu para um princípio teleológico, relacionado com os princípios de progresso, adotados por Condorcet e outros filósofos do iluminismo.”134

Spencer aplicou seu conceito de evolução a uma gama variada de assuntos, procurando com isso unificar em torno de uma lei geral todos os elementos do mundo inorgânico e do mundo orgânico. No mundo orgânico a vida, para ele, seria o resultado de relações internas e de relações externas promovidas por uma contínua adaptação dos organismos. Nesse sentido, as espécies existentes seriam o resultado

133 Taguieff, Pierre-André: “Du progrés”, p. 79.

da capacidade de adaptação dos organismos às variadas condições ambientais. A luta pela sobrevivência é que garantiria, em termos reprodutivos, que os mais aptos produzissem descendência. E esta, por sua vez, diferenciar-se-ia de outros indivíduos. Neste ponto, Spencer se próxima da tradição lamarckiana, pois sua teoria evolucionária estabelece que o ambiente provocaria reações de forças internas dos organismos no sentido de modificarem determinadas características e, com isso,

promoverem adaptações às exigências do meio externo.135

A sobrevivência do mais apto, que pode ser tomada como uma idéia circular, ou melhor, tautológica, o que representaria nada mais do que a afirmação de que os sobreviventes são os mais adaptados, e são mais adaptados porque sobreviveram. Na estrutura do pensamento de Spencer, contudo, a sobrevivência do mais apto não parece ser derivada da simples constatação tautológica da própria sobrevivência; a sobrevivência do mais apto é uma idéia que está associada à sua teoria da herança particularizada em unidades fisiológicas, responsáveis por um processo de transmissão e modificação de características para se responder às exigências do meio externo, garantindo a formação de descendência, e, consequentemente, a sobrevivência da espécie.136

Sua teoria da herança tem sido frequentemente desprezada, principalmente suas idéias sobre a herança de caracteres adquiridos.137 Contudo, a descrição que faz –a partir da correspondência adaptativa de relações internas a relações externas– das

135 Lílian Al-Chueyr Pereira Martins: “Herbert Spencer e o neolamarckismo: um estudo de caso”, p. 283. 136 Herbert Spencer, “The Principles of Biology, p. 318.

137 Castañeda, L. A.: “As idéias pré-darwinianas de herança e sua influência na teoria da evolução de

unidades como responsáveis pela transmissão das características específicas e pela unidade estrutural do organismo, é de crucial importância para compreendermos sua concepção evolucionária em termos de um desenvolvimento contínuo em função do ganho de maior complexidade, por um lado, e para aquilatarmos sua influência com relação às propostas teóricas que procuraram aplicar as idéias evolucionistas na análise de problemas sociais, por outro.138

As posições de Spencer sobre herança e a descrição que faz dos elementos responsáveis por ela – as unidades fisiológicas –, encontram-se no segundo e terceiro volumes da “Filosofia Sintética” e foram editados em 1872 sob o título “Princípios de Biologia”. À época, Spencer estava preocupado em compreender o fenômeno que alguns organismos apresentavam de regenerarem partes perdidas, um assunto que também ocupou a Darwin, como por exemplo, o caso de a lagartixa

desenvolver uma nova cauda.139 A regeneração sugeria a Spencer que os organismos

deveriam ter uma tendência inata que garantiria certa unidade estrutural, descrita como a capacidade orgânica de auto-organização. Para Spencer, a auto-organização dos organismos seria proporcionada pela existência de um determinado elemento que portaria a potencialidade de produzir cada parte constitutiva do organismo: as unidades fisiológicas. Para Spencer:

“(...) For if the assumption of a special arrangement of parts by

an organism, is due to the proclivity of its physiological units towards that arrangement; then the assumption of an arrangement of parts slightly

138 James Elwick, “Herbert Spencer and the Disunity of the Social Organism”, p. 58. 139 Mayr, E.: “O desenvolvimento do pensamento biológico”, p. 745.

different from that of the species, implies physiological units slightly unlike those of the species; and theses slightly-unlike physiological units, communicated through the medium of sperm-cell or germ-cell, will tend, in the offspring, to build themselves into a structure similarly diverging from the average of the species.”140

A estruturação das unidades fisiológicas na forma de um organismo decorreria da própria tendência evolutiva do avanço progressivo em direção a maior complexidade estrutural a que todos os organismos estariam submetidos. O conjunto de unidades fisiológicas que comporiam a unidade estrutural do organismo, por pressões de forças internas, estabeleceria relações sistêmicas que garantiriam a auto- organização.141

Não se tem em Spencer uma definição muito clara do que seriam as unidades fisiológicas, para ele elas seriam algo intermediário entre as células e as moléculas orgânicas simples.142 Elas derivariam de um composição altamente complexa das unidades químicas, mas não se reduziriam a elas, tendo, portanto, duas finalidades bem distintas: a de serem responsáveis pela regeneração e a de serem responsáveis pela transmissão dos caracteres às novas gerações. Ademais, por estarem associadas ao arranjo estrutural do organismo, também estariam presentes em todas as células.143

140 Herbert Spencer, “Principles of biology”, p. 318.

141 Castañeda, L. A.: “As idéias pré-darwinianas de herança e sua influência na teoria da evolução de

Darwin”, p. 155.

142 Mayr, E.: “O desenvolvimento do pensamento biológico”, p. 745.

143 Castañeda, L. A.: “As idéias pré-darwinianas de herança e sua influência na teoria da evolução de

A realidade das unidades fisiológicas de Spencer parece ser um exercício fortemente especulativo.144 Não se sabe claramente em que elas se constituem e como elas se diferenciariam. Pois, para Spencer as unidades fisiológicas seriam o resultado de sua composição ou dos arranjos de seus componentes, o que não esclarece muito.145 Contudo, este fato, por exemplo para Castañeda, sugeriria que Spencer parece antecipar, pelo menos de modo análogo, o que é suposto para o DNA, isto é, “as partes que compõem o DNA são iguais para todos os indivíduos, só que o modo como elas se estruturam é diferente”146.

O ponto mais decisivo para a teoria da herança spenceriana, e o que interessa para os propósitos do nosso trabalho, é a sua sustentação de que as unidades fisiológicas seriam responsáveis pela hereditariedade. Haveria, portanto, algo distinto nos organismos –as unidades fisiológicas– que conservariam a constância estrutural da espécie e, também, quando submetido a alterações variadas, seriam responsáveis por transformações internas que, quando ajustadas às exigências adaptativas do meio externo, transmitiriam os novos arranjos, com as respectivas mudanças, à próxima geração. Para Spencer, as unidades fisiológicas não se fundiriam quando houvesse a concepção; elas manteriam suas características individuais e se manifestariam em função do agregado de unidades que cada progenitor conseguisse transmitir. Em suas palavras:

144 Ernst Mayr vai mais longe e classifica a teoria spenceriana de puramente dedutiva: Mayr, E. “O

desenvolvimento do pensamento biológico”, p. 745.

145 Castañeda L. A.: “As idéias pré-darwinianas de herança e sua influência na teoria da evolução de Darwin”,

p. 160.

“(...) In the fertilized germ we have two groups of physiological units, slightly different in their structures. These slightly-different units severally multiply at the expense of the nutriment supplied to the unfolding germ – each kind moulding this nutriment into units of its own type. Throughout the process of development the two kinds of units, mainly agreeing in their proclivities and in the form which they tend to build themselves into, but having minor differences, work in unison to produce an organism to the species from which they were derived, but work in antagonism to produce copies of their respective parent- organism. And hence ultimately results and organism in which traits of the one are mixed with traits of then other; and in which, according to the predominance of one or other group of units, one or other sex with all its concomitants is produced.”147

Por transmitirem para o novo ser a potencialidade de desenvolvimento das partes donde foram geradas, para garantir a unidade da espécie, as unidades fisiológicas deveriam ser auto-replicativas, específicas da espécie e idênticas entre si.148 Isso garantiria a semelhança existente entre a prole e os progenitores, mantendo assim a constância da espécie. Contudo, algumas questões importantes poderiam ficar sem respostas, por exemplo, como é que existiriam variações em um universo de replicações idênticas? Isso sugeriria que as unidades fisiológicas não poderiam manter uma constituição totalmente rígida, devendo permitir, portanto, algum grau de diferenciação, que as tornariam semelhantes, mas em alguns casos, ligeiramente diferentes. Esta questão se torna crucial visto que a teoria evolutiva de Spencer postula a existência de um movimento necessário do estágio homogêneo

147 Herbert Spencer, “Principles of biology”, p. 315.

para o heterogêneo, determinado pela lei de que “toda força ativa produz mais de

uma transformação: toda causa produz mais de um efeito”149, o que permite que os

organismos se diferenciem e ganhem complexidade estrutural.150

Assim, as condições ambientais externas, como tudo no universo, estariam sujeitas às mesmas regras gerais que regem a evolução no sentido do desenvolvimento da complexidade progressiva. A natureza, como tudo o mais, estaria em constante processo evolutivo, diferenciando-se em um conjunto de