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Hermenêutica, na sua acepção mais geral, nada mais é do que a explicação ou a interpretação de texto, de uma obra, etc., enfim, dos sentidos das palavras.

Já a hermenêutica jurídica, segundo Herkenhoff, consiste em:

[...] apreender ou compreender os sentidos implícitos nas normas jurídicas. É indagar a vontade atual na norma e determinar seu campo de incidência. É expressar seu sentido recorrendo a signos diferentes dos usados na formulação original. A interpretação é tarefa prévia, indispensável à aplicação do Direito.”12

Uma lei posta no ordenamento jurídico decorre da mão do homem, logo, passível de falhas. Assim, necessário é fazer-se a interpretação, mesmo estando ela, a Lei, com seu sentido claro, pois, à primeira vista, este sentido pode não se revelar, ou seja, o texto legal pode estar denotando ser taxativo, mas o seu escopo pode, de imediato, não ser atendido.13

10GOMES, Luiz Flávio. Princípio da não auto-incriminação: significado, conteúdo, base jurídica e âmbito de incidência. Disponível em: <http://www.lfg.com.br>. Acesso em: 8 out. 2010.

11 ABREU FILHO, 2010, p. 889. 12

HERKENHOFF, João Baptista. Como aplicar o direito: (à luz de uma perspectiva axiológica,

fenomenológica e sociológico-política). 5. ed., rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 9. 13 ACQUAVIVA, 2008, p. 470.

Na atualidade, não mais prevalece o brocardo in claris cessat interpretatio, isto é, “a clareza da lei dispensa a interpretação.”14

Guimarães muito bem esclarece que o brocardo in claris cessat interpretativo não pode ser tido como um dogma, haja vista que:

Por mais óbvio que pareça o significado de uma norma jurídica, sempre estaremos interpretando, buscando seu verdadeiro sentido. A leitura do texto de lei é o ponto de partida e limite último para toda e qualquer interpretação, mas normalmente não é suficiente para o intérprete obter a melhor solução.15

O direito positivo é entendido “como sendo um conjunto de normas válidas num determinado país que objetivam regular as condutas humanas.”16 Para tanto, é usada uma linguagem que indica o que fazer ou não fazer com o escopo de direcionar o comportamento da sociedade como um todo e, também, retratar os valores presentes naquela sociedade.17

Entretanto, não raras vezes, o legislador, que representa segmentos diferentes da sociedade, quando da elaboração das normas jurídicas, utiliza-se tanto de uma linguagem do cotidiano quanto de um vocabulário científico, dando azo a normas jurídicas portadoras de um sentido técnico entendível somente por quem tem alguma intimidade com o Direito.18

Por esses motivos, “o estudo da interpretação do Direito é essencial tanto para a teoria jurídica como para a prática do direito, de modo que sem interpretação não há que se falar em ordenamento jurídico.”19

Neste sentido, preleciona Perelman, uma vez que assim se posiciona:

Disseram e repetiram muitas vezes que a interpretação cessa quando o texto é claro:

interpretatio cessat in claris. Mas quando se poderá dizer que um texto é claro?

Quando é claro o sentido que o legislador antigo lhe deu? Quando o sentido que se lhe dá atualmente é claro para o juiz? Quando os dois sentidos claros coincidem? De fato, isto não basta de modo algum, pois uma regra de direito é necessariamente interpretada dentro do contexto de um sistema jurídico, e este pode obrigar-nos a introduzir na leitura do texto cláusulas gerais que lhe restringem, mas que não estão explicitadas.20

14 ACQUAVIVA, 2008, p. 470.

15 GUIMARÃES, Ariana Stagni. A importância dos princípios jurídicos no processo de interpretação

constitucional. São Paulo: LTr, 2003. p. 56.

16 GUIMARÃES, loc. cit. 17 GUIMARÃES, loc. cit. 18 GUIMARÃES, loc. cit. 19

Ibid., p. 58.

20 PERELMAN, Chain. Ética e direito. Trad. Maria Emantina Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 622.

Na mesma esteira, esclarece com maior proficiência, de modo que assim continua Perelman a relatar:

Toda vez que o sentido claro de um texto contradiz a finalidade da instituição, à qual se supõe que ele serve, ou colide com a equidade, ou conduz a consequências

socialmente inadmissíveis, procurar-se-á interpretá-lo; o texto deixará de ser claro, pois que, conforme o valor privilegiado (a segurança, a equidade ou o

bem comum), esta ou aquela interpretação prevalecerá definitivamente.21 (grifo

nosso).

Observa-se, então, que nem sempre o que está escrito, positivado no texto legal, será efetivamente encaixado ao caso concreto, uma vez que poderá, se assim não for, deixar desprotegido o bem tutelado que o legislador previu estar sendo protegido.

Assim, analogicamente, se uma vez alguém foi visto dirigindo veículo automotor, em via pública, totalmente embriagado e se negou a realizar os exames previstos, por que o pretenso condutor não foi denunciado pelo crime tipificado no artigo 306, do CTB, uma vez que a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, foi criada para que se protegesse mais a vida, que é o bem maior a ser tutelado?

Seria somente porque o legislador, quando editou da Lei nº 11.705/2008, estabeleceu um limite, ou seja, fez um artigo fechado, para que houvesse oportunidade para quem tenha algum conhecimento dirigisse quando embriagado?

Nader conceitua a interpretação do Direito, quanto ao resultado, de três formas: a interpretação declarativa; a restritiva; e a extensiva. Vejam-se cada uma delas:

Interpretação Declarativa: nem sempre o legislador bem se utiliza dos vocábulos,

ao compor os atos legislativos. Muitas vezes se expressa mal, utilizando com impropriedade os termos. Quando dosa as palavras com adequação aos significados que deseja imprimir na lei, falamos que a interpretação é declarativa. O intérprete chega à constatação de que as palavras expressam, com medida exata, o espírito da lei.

Interpretação Restritiva: quando ocorre, porém, que o legislador é infeliz ao redigir

o ato normativo, dizendo mais do que queria dizer, a interpretação é restritiva, pois o intérprete elimina a amplitude das palavras. Exemplo: a lei diz descendente, quando na realidade queria dizer filho.

Interpretação Extensiva: é a hipótese contrária à anterior. O intérprete constata que

o legislador utilizou-se com impropriedade dos termos, dizendo menos do queria

afirmar. Ocorrendo tal hipótese, o intérprete alargará o campo de incidência da

norma, em relação aos seus termos.22

Observa-se, então, que cabe ao operador do Direito fazer a interpretação extensiva do texto legal, e, por conseguinte, a subsunção da Lei ao caso concreto.

21 PERELMAN, 1996, p. 623.

Isto porque “por meio da interpretação do Direito o jurista alcança a justiça desejada, e desse modo deverá se empenhar com o máximo de rigor nesta busca, seja ele um juiz, um promotor ou um advogado, pois lutar pela justiça é obrigação de todos e mais ainda do profissional do Direito.”23

Na sequência, discorrer-se-á acerca dos métodos interpretativos, dentre outros, serão analisados: o literal-gramatical; o histórico evolutivo; o método da livre indagação e o do Direito Livre; o sistemático; e, por derradeiro, o teleológico.

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