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4.2 MÉTODOS INTERPRETATIVOS

4.2.5 Método teleológico

Este método tem por escopo levar o intérprete a determinar qual é, de fato, a finalidade da norma jurídica dentro de uma sociedade; é dizer, em outras palavras, o que o texto de lei visou a garantir dentro de um contexto real vivido pela sociedade como um todo.

Herkenhoff assim se pronuncia a respeito do método teleológico:

A lei não explicita os interesses que defende, nem as valorizações que a fundamentam. Cabe ao hermeneuta pesquisá-los, com vistas a descobrir o fim da lei, o resultado que a mesma precisa atingir em sua atuação prática, assegurando a tutela do interesse, para qual foi estabelecida, ou de outro que deva substituí-la. A interpretação teleológica visa, em princípio, à descoberta dos valores a que a lei tenciona servir. 45

Guimarães, por sua vez, esclarece, com profundidade, a importância da aplicação do método ora analisado, uma vez que é possível ocorrer,

[...] que uma norma jurídica não alcance sua finalidade, mas um outro resultado. Isso ocorre quando se verifica mudanças nas necessidades sociais. Nesse momento torna- se de grande importância a sensibilidade e experiência do intérprete que, atento ao bem comum, realizará o processo interpretativo tendo em vista os propósitos da norma e a circunstância atual quando da aplicação da lei.46

Arrematando o conceito do método teleológico, visto a sua importância na moderna hermenêutica, haja vista que muitas das vezes o texto legal escrito traz nas entrelinhas um conceito diverso do qual foi proposto, transcreve-se o que Nader entende. Veja-se:

Na moderna hermenêutica o elemento teleológico assume papel de primeira grandeza. Tudo o que o homem faz e elabora é em função de um fim a ser atingido. A lei é obra humana e assim contém uma idéia de fim a ser alcançada. Na fixação do conceito e alcance da lei, sobreleva de importância o estudo teleológico, isto é, o estudo dos fins colimados pela lei. Enquanto que a occasio legis ocupa-se dos fatos

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HERKENHOFF, 1999, p. 21. 45 Ibid., p. 24.

históricos que projetaram a lei, o fator teleológico investiga os fins que a lei visa a atingir. 47

E continua, ao passo que:

Quando o legislador elabora uma lei, parte da idéia do fim a ser alcançado. Os interesses sociais que pretende proteger inspiram a formação dos documentos legislativos. Assim, é natural que no ato da interpretação se procure avivar os fins que motivaram a criação da lei, pois nessa descoberta estará a revelação da mens

legis. Como se revela o elemento teleológico? Os fins da lei se revelam através dos diferentes elementos de interpretação.48 (grifo nosso).

Por fim, arremata argumentando:

A idéia do fim não é mutável. O fim é aquele pensado pelo legislador, é o fim que está implícito na mensagem da lei. Como esta deve acompanhar as necessidades sociais, cumpre ao intérprete revelar os novos fins que a lei tem por missão garantir. Esta evolução de finalidade não significa ação discricionária do intérprete. Este, no afã de compatibilizar o texto com as exigências atuais, apenas atualiza o que está implícito nos princípios legais. O intérprete não age contra legem, nem

subjetivamente. De um lado tem as coordenadas da lei e, de outro, o novo quadro social e o seu trabalho se desenvolve no sentido de harmonizar os velhos princípios aos novos fatos.49 (grifo nosso).

Assim, diante das exposições ora vistas, é perfeitamente cabível ao caso da negativa do condutor embriagado, em se recusando a submissão aos exames convencionais para a aferição da ebriedade, ser denunciado pela prática do crime de trânsito previsto no artigo 306, da Lei nº 9.503/97, pois não foi outra a intenção do legislador, senão a proteção à vida da coletividade.

A exposição de motivos para a aprovação da lei que modificou o CTB deixa transparente esta proteção, eis que assim foi redigida:

[...]

2. A Organização Mundial de Saúde - OMS estima em aproximadamente 2 bilhões o número de consumidores de bebidas alcoólicas no mundo. Do ponto de vista da Saúde Pública, 76,3 milhões de pessoas apresentam problemas diagnosticáveis associados ao consumo de bebidas alcoólicas. O álcool causa anualmente 1,8 milhão de mortes, 3,2% do total, e é responsável por 4% dos „anos perdidos de vida útil‟ no mundo. Entre as décadas de 70 e 90 o consumo de álcool cresceu mais de 70% entre os brasileiros.

3. A Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD, realizou em parceria com a Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, pesquisa sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira. Este estudo de abrangência nacional detectou que 52% dos brasileiros acima de 18 anos consome bebida alcoólica pelo

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NADER, 1999, p. 324-325. 48 Ibid., p. 325.

menos uma vez ao ano. O estudo apontou também que dois terços dos motoristas já dirigiu depois de ter ingerido bebidas alcoólicas em quantidade superior ao limite legal permitido[...]

[...]

5. Vale frisar que os problemas relacionados ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas não se limitam às populações vulneráveis e indicam associação com os índices de morbidade e mortalidade da população geral. Em 2004, 35.674 pessoas morreram em decorrência de acidentes de trânsitos no Brasil (Ministério da Saúde, 2006).

6. Outro ponto importante é a Pesquisa realizada em 1998, por iniciativa da Associação Brasileira de Departamentos de Trânsito - Abdetran em quatro capitais brasileiras - Salvador, Recife, Brasília e Curitiba - a qual apontou que entre as 865 vítimas de acidentes, quase um terço (27,2%), apresentou taxa de alcoolemia superior a de 0,6 g/l, índice limite definido pelo Código de Trânsito Brasileiro. [...]

9. A urgência desse projeto se dá em razão do alto índice de consumo do álcool,

que causa anualmente 1,8 milhão de mortes no mundo. Além disso, os gastos em procedimentos hospitalares de internações relacionadas ao uso de álcool e outras drogas, bem como de acidentes automobilísticos decorrentes do uso de álcool, vêm aumentando sobremaneira, trazendo graves conseqüências para elaboração e implantação de políticas públicas nessa área.50 (grifo nosso)

Nesta esteira, não resta dúvida que caberá, então, ao intérprete, fazer a subsunção da lei ao caso concreto com fundamento na hermenêutica jurídica, utilizando-se, dentre outros, do método teleológico.

Isto para que se possa dar efetividade ao preceito legal, e, da mesma forma, se estabeleça a vontade do legislador que, repita-se, teve por meta a proteção da vida e da incolumidade da coletividade ante o acentuado índice de motoristas que dirigem depois de ingerirem substâncias etílicas.

Doravante, discorrer-se-á, não tão profundamente, acerca dos direitos fundamentais, suas funções, características, no sentido de demonstrar que um condutor de veículo em estado de embriaguez alcoólica, mesmo não fazendo os exames legais para aferição do estado etílico, pode ser denunciado pela prática do crime previsto no artigo 306, da Lei nº 9.503/97.

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