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BRASIL

4. ANÁLISE DO PARQUE ESTADUAL DO LAJEADO: CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL

4.1.8. Avaliação Ecológica da Fauna do Parque Estadual do Lajeado (PEL)

4.1.8.1. HERPETOFAUNA

A Herpetologia (estudo da fauna de anfíbios e de répteis) do cerrado ainda é uma área carente de material descritivo. Soma-se a isso a dificuldade natural de se trabalhar esta fauna à alta criticidade, principalmente dos anfíbios e serpentes. Entretanto, trabalhos recentes da UHE Luís Eduardo Magalhães (Brandão e Júnior, 2001) e da UHE do rio Manso (Strussmann apud Alho, 2000) vieram somar contribuições aos trabalhos anteriores, disponíveis no Brasil, como: Serra do Japi (Hadad e Sazima, apud Morelato, 1992.) e Répteis da Caatinga (Vanzolini, 1980.). É de grande valia, também, a Ecologia da Comunidade de Serpente da Reserva de Jataí e Região (Damolin, 2000), por se tratar de uma área com diversas fisionomias ambientais.

Os anfíbios são reconhecidamente considerados excelentes e importantes bioindicadores, em função da estreita relação com microambientes, dependência de ambientes úmidos e elevada sensibilidade a distúrbios ambientais. Daí, a importância de estudos e monitoramento dessa fauna local para a manutenção e conservação de Unidades de Conservação, como parques e reservas.

Dentre os diversos fatores causadores do declínio das populações de répteis e anfíbios apontados em vários trabalhos, destacam-se:

a) perda de hábitat natural e absorção de agrotóxicos (Sazima e Manzani, 1995;

Sazima e Hadad apud Morellato, 1992; Dalmolin, 2000);

b) especificidades de sítios reprodutivos e repertórios de acasalamento (Michael, Merïin e Lucinda, 1981); e

c) predação (Sazima, 1992; Jesus, 1998).

Esses fatores justificam ações preservacionistas incontinentes na área, em especial a caça e as queimadas, comuns na área do parque.

É importante ressaltar, também, que o mosaico ambiental no qual está inserida a área, torna-a de grande valor transacional entre os grandes biomas brasileiros: amazônico, caatinga, cerrado e pantanal.

Metodologia

Foi feito um levantamento de campo entre os dias 10 e 24 de outubro de 2002, com busca ativa dos animais nas trilhas da mata e do cerrado e nas margens do rio Lajeado, lagoas e ambientes úmidos. A busca ativa foi realizada através de reviramento de troncos, pedras e procura direta em tocas e buracos. Foram realizadas observações noturnas auxiliadas por lanternas e farol de milha também. Entrevistas com moradores e mateiros conhecedores da fauna local foram de grande utilidade. A coleta se limitou a pelotas (fezes e regurgitos), carcaças e animais atropelados nas estradas.

A identificação seguiu Vanzolini (1980), Marques, et al (2001), Hadad e Sazima (apud Morellato, 1992) e a lista de espécies foi complementada com Strüssmamm (2000), Brandão e Júnior (2001) e Colli (2002). Algumas espécies de anuros são de difícil identificação, à precariedade de material descritivo e intenso polimorfismo característico desse grupo.

Para este trabalho, foi utilizada a nomenclatura específica binominal, salvo alguns casos necessários subespecíficos (Boa constrictor constrictor e B. c. amarali; Mastigodryas bifossatus bifossatus e M. b. trisseriatus; Imantodes cenchoa cenchoa e Epicrates cenchria crassus).

Resultados e Discussão

Durante o levantamento realizado na área de influência do Parque Estadual do Lajeado, foram registradas 39 espécies da herpetofauna (Listagem no Anexo 1), que, somadas com as espécies registradas por Brandão (2001) durante os levantamentos da Usina Hidrelétrica Luis Eduardo Magalhães - UHE Lajeado, elevam para 159 entre espécies e subespécies registradas para a área. Considera-se esta listagem uma das mais completas para a herpetofauna neotropical, graças às diferentes metodologias utilizadas, aos esforços de captura e a uma adequada e metódica estratégia de resgate utilizada em todo o decorrer do enchimento do reservatório da UHE Lajeado.

A distribuição da anurofauna do PEL (Figura 57), apresenta-se muito semelhante àquela encontrada em Manso (Strüssman apud Alho, 2000) com 38% de hilídeos, 41% de leptodactylídeos, 7% bufonídeos, 7% microhilídeos, 5% dendrobatídeos e 2% de centrolinídeo (ausente no Parque).

Figura 57: Distribuição das famílias de anfíbios

listados na área de influência do PEL (2002).

Dentre os anfíbios, 27 espécies foram encontrados em formações florestais, 21, em cerrado senso restrito e 30, em lagos. Destes, 11 espécies foram registrados somente em formações florestais e 6 em cerrado senso restrito (Figura 58).

Figura 58: Número de espécies e número de espécies exclusivas de anfíbios em alguns ambientes no PEL. (2002)

A herpetofauna da área (Figuras 59, 60 e 61) de influência do Parque Estadual do Lajeado fica assim distribuída por família:

a) 55 anfíbios: BUFONIDAE (4), DENDROBATIDAE (3), HILIDAE (22), LEPTODACTYLIDAE (21), MICROHILIIDAE (4), PSEUDIDAE (1);

b) 2 jacarés: ALLIGATORIDAE (2);

c) 6 quelônios: CHELIDAE (3), PELOMEDUSIDAE (2), TESTUNIDAE (1);

d) 24 lagartos: HOPLOCERCIDAE (1), POLYCHROTIDAE (3), GEKKONIDAE (4), IGUANIDAE (1), TROPIDURIDAE (2), GYMNOPHTHALMIDAE (4), TEIIDAE (6), SCINCIDAE (2), ANGUIDAE (1);

e) 67 serpentes: ANILIIDAE (1), ANOMALEPIDIDAE (1), LEPTOTYPHLOPIDAE (1), TYPHLOPIDAE (1), COLUBRIDAE (53), BOIDAE (5), VIPERIDAE (3), ELAPIDAE (2) e 5 anfisbenas.

Figura 59: Composição da herpetofauna registrada na área de influência do PEL (2002).

Figura 60: Distribuição das famílias de serpentes da área de influência do PEL (2002)

Figura 61: Distribuição das famílias de lagartos da área de influência do

PEL (2002)

Vale destacar que lagartos e serpentes ocupam, preferencialmente, áreas abertas e florestadas (Figuras 62 e 63); contudo 40% das espécies de lagartos e 54% das serpentes freqüentam ambos os ambientes, ou seja, são ubiqüitárias.

Considerando-se os vários ambientes do PEL, os répteis tiveram distribuição similar nas formações florestais (66) e no cerrado senso restrito (61). As formações florestais apresentaram maior número de espécies detectadas somente nesse tipo de ambiente (13), enquanto que, no cerrado senso restrito, esse número foi igual a 7 (Figura 64).

Espécies como Iguana iguana, Tupinambis quadrilineatus, Ophiodes striatus, Chironius oxoletus, Dipsas indica e Hidrodynastes gigas dependem essencialmente das matas ciliares, o que revela a importância da preservação destes ambientes para a sobrevivência dessas espécies. Por outro lado, Tropidurus oreadicus, T. torquatus, Crotalus durissus e Oxyrhopus guibei são de áreas abertas e usualmente freqüentam áreas antrópicas, tornando-se vulneráveis ao abatimento pelo homem, principalmente as serpentes.

A maioria das serpentes é generalista quanto ao uso dos ambientes amostrados, onde 54%

das espécies registradas vivem ubiqüitariamente, evidenciando a importância da manutenção da heterogeneidade ambiental.

Figura 62: Distribuição de serpentes em fisionomias abertas e

florestadas do PEL (2002).

Figura 63: Distribuição de lagartos em fisionomias abertas e florestadas do

PEL (2002).

Figura 64: Número de espécies e número de espécies exclusivas em florestas e cerrados no PEL

O domínio dos colubrídios na ofidiofauna, 79%, é fato comum. Entretanto dois aspectos são destaque: 5 boideos, entre espécies e subespécies, e a constatação das famílias ANILIIDAE, ANOMALEPIDIDAE, TYPHLOPIDAE, LEPTOTYPHLOPIDAE, espécies incomuns devido seus hábitos fossórios e cripticidade. Portanto, a ofidiofauna encontra-se muito bem representada pela riqueza de famílias para a América do Sul.

Quanto aos lagartos, há uma distribuição familiar menos discrepante. A família TEIIDAE lidera com 25% das espécies registradas, GEKKONIDAE e GIMNOPHTHALMIDAE, com 17% cada; TROPIDURIDAE e SCINCIDAE, com 8% cada; IGUANIDAE, HOPLOCERCIDAE e ANGUIDAE, com 4% cada família, igualando-se à distribuição de Manso com grande semelhança para as demais famílias.

História Natural: das 24 espécies de lagarto e das 67 espécies de serpentes registradas na área, constata-se a predominância de atividades diurnas, 83% e 69%, respectivamente. As atividades dos répteis estão diretamente associadas à temperatura. Em especial, serpentes alteram seus hábitos conforme temperatura, chegando algumas a apresentar sazonalidade de atividades (Secor, 1995). No entanto, considerou-se para cada espécie, sua atividade mais comumente característica.

De igual forma, muitas espécies podem ocupar mais de um estrato, e o considerado é aquele no qual a espécie mais forrageia (Marques et. al., 2001). Assim sendo, lagartos e serpentes são preferencialmente terrícolas, com 67% e 54%, respectivamente, e diurnos, com 83% e 69%, respectivamente (Figuras 65 e 66).

As espécies ameaçadas registradas na área de influência do Parque Estadual do Lajeado são: as serpentes da família BOIDAE, o teiú T. merianae, os anuros da família DENDROBATIDAE, os jabotis do gênero Geochelone e o jacaré Paleosuchus palpebrosus.

A principal causa da extinção de espécies é a destruição de seu hábitat natural e a caça predatória. Em especial, os teiús, os jabotis e os jacarés sofrem grande pressão, tanto da caça de subsistência quanto da esportiva que ocorrem tradicionalmente, mesmo na área restrita do Parque. Geochelone denticulata, espécie mais sensível a essas pressões, não foi encontrada na área, podendo ser um caso de extinção local, ou, simplesmente, de não terem sido registrados até o momento ou de não ocorrerem na região. Historicamente, a utilização e o manejo do solo na região, através da cultura da coivara como resultado da expansão das fronteiras agrícolas, têm como conseqüência a perda de ambientes naturais.

Figura 65: Atividade e uso de estratos pelas 67

espécies de serpentes registradas na área de influência do PEL (2002).

Figura 66: Atividade e uso de estratos das

25 espécies de lagartos da área de

influência do PEL (2002)

No documento Plano de Manejo do Parque Estadual do Lajeado (páginas 166-172)