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Etapa III – Analisar as implicações da atual fase

4. CAPÍTULO II – A ORGANIZAÇÃO DOS AGROECOSSISTEMAS DOS CAMPONESES AGROEXTRATIVISTAS E OS DESAFIOS POLÍTICOS DE

4.1. A HETEROGENEIDADE INTERNA DO NSGA

Da organização interna do NSGA derivam três tipos de extensão das operações técnico-econômicas dos camponeses na paisagem que implica em diferentes níveis de relacionalidade entre estas operações.

O tipo I envolve os camponeses que realizam operações técnico-econômicas com baixa relacionalidade. Os camponeses deste tipo dedicam seu trabalho principalmente para a produção de açaí na várzea, e mobilizam com pouca frequência recursos de uso comum. Entre este grupo de camponeses estão principalmente os descendentes dos colonos do período colonial e possuem a maior extensão das áreas de várzea. Tal grupo pertence à categoria dos estabelecidos (establishment). Neste tipo estão aqueles que possuem maior grau de direito sobre base de recursos em função da várzea ser um espaço de uso exclusivo. Entre o total de camponeses entrevistados (n=27), oito famílias (29,6%) pertencem a este tipo. Neste tipo, a renda bruta gerada pelo trabalho responde por valores acima de 70% nas áreas de acesso exclusivo e por valores abaixo de 30% nas áreas de uso compartilhado. Os grupos domésticos pertencentes a este tipo têm menor relacionalidade de suas operações técnico- econômicas com outros camponeses da comunidade, já que dependem menos de recursos compartilhados.

No tipo II estão os camponeses agroextrativistas que realizam operações técnico- econômicas com média relacionalidade. Envolve os camponeses que articulam o trabalho em áreas de várzea (acesso exclusivo) e em um conjunto de bens comuns e de livre acesso do subsistema extrativista como os igarapés, as baías, a reserva ecológica, rios, campinas e o furo. Neste tipo estão os camponeses tanto pertencentes à categoria dos estabelecidos (establishment) quanto à categoria dos forasteiros (outsiders). Estes camponeses possuem um menor grau de direito sobre o conjunto de sua base de recursos quando comparados com os agroecossistemas do tipo I. Entre o total de camponeses entrevistados (n=27), 13 famílias (48,15%) pertencem a este tipo. Neste

uma faixa maior que 30% e menor que 70%. Nas áreas onde o uso compartilhado ocorre, a renda bruta situa-se dentro desta mesma faixa. Desta forma, os camponeses pertencentes a este tipo possuem maior relacionalidade de suas operações técnico- econômicas com outros camponeses quando comparado com o tipo I, pois são mais dependentes de recursos compartilhados.

O tipo III envolve os camponeses agroextrativistas que realizam operações técnico-econômicas com alta relacionalidade. Estão neste tipo os camponeses que não possuem área de várzea (ou que possuem extensões irrelevantes) e dedicam-se a um conjunto de outras atividades econômicas imersas no subsistema extrativista. Estes camponeses concentram suas operações técnico-econômicas em espaços de uso comum e de livre acesso como os igarapés, as baías, a reserva ecológica, os rios, as campinas e o furo. São os camponeses que possuem o menor grau de direito sobre a base de recursos entre os camponeses da comunidade. É um tipo composto apenas por forasteiros (outsiders). Entre o total de camponeses entrevistados (n=27) seis famílias (22,22%) pertencem a este tipo.Neste tipo, a renda bruta gerada pelo trabalho nas áreas de acesso exclusivo responde por valores abaixo de 30% e por valores acima de 70% nas áreas de uso compartilhado. Os camponeses pertencentes a este tipo possuem maior relacionalidade de suas operações técnico-econômicas quando comparado com os tipos I e II, visto que apresentam maior dependência ou até dependem exclusivamente de recursos compartilhados.

A tipologia evidencia um gradiente de diferenciação entre os camponeses que vai desde aqueles com operações técnico-econômicas concentrados principalmente em áreas de acesso exclusivo na várzea (Tipo I) até aqueles preponderantemente dependentes de uma base de recursos compartilhados (Tipo III). Dentro deste intervalo existe uma ampla variação de camponeses com diferentes amplitudes de suas operações técnico-econômicas no interior da paisagem, entre elas, uma situação intermediária (Tipo II) onde ocorre a mobilização de recursos de acesso exclusivo e compartilhados. Desta forma, os tipos possuem níveis diferentes de relacionalidade de suas operações técnico-econômicas.

Os tipos revelam a existência de diferentes situações de equilíbrio entre os camponeses em relação ao seu envolvimento no manejo comunitário. De acordo com

um equilíbrio que resulta de um cálculo subjetivo entre a organização individual familiar e a comunidade. Os diferentes níveis de relacionalidade das operações técnico- econômicas existentes entre os três tipos deixam evidente as diferentes situações de equilíbrio entre as famílias e a comunidade na Ilha do Capim. Isso mostra a existência de famílias que operam de forma mais isolada do conjunto da comunidade (Tipo I) até outras que realizam suas atividades produtivas completamente imersas em relações comunitárias (Tipo III).

Os agroecossistemas possuem um estilo econômico ecológico “relativamente autônomo e historicamente garantido” (PLOEG, 2008 p. 62). Um aspecto importante deste estilo é a endogeneidade identificada no gráfico 5. Mesmo com o aumento da relação com os mercados experimentada a partir da década de 1980, a maioria dos agroextrativistas (de AG01 à AG27) possui alto grau de endogeneidade. O índice de endogeneidade do agroecossistema é obtido pela razão entre o Valor Agregado (VA) e a Renda Bruta (RB) onde IE=VA/RB (PETERSEN et al., 2017).

Gráfico 5 - O índice de endogeneidade das operações técnico-econômicas das famílias (n=27) entrevistadas.

Fonte: Organizado pelo autor (2017).

Esse fenômeno implica em um elevado percentual de produção da riqueza através da mobilização de recursos locais no processo de trabalho. Porém, o mesmo não ocorre na parte intangível destas operações, visto que na organização política do manejo os camponeses enfrentam dificuldades de desenvolver experiências locais autônomas. Como demonstro a seguir, em cada zona da paisagem, a organização política do manejo

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 AG0 1 AG0 2 AG0 3 AG0 4 AG0 5 AG0 6 AG0 7 AG0 8 AG0 9 AG1 0 AG1 1 AG1 2 AG1 3 AG1 4 AG1 5 AG1 6 AG1 7 AG1 8 AG1 9 AG2 0 AG2 1 AG2 2 AG2 3 AG2 4 AG2 5 AG2 6 AG2 7

tradicionais e as transformações do sistema agrário.