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O enfoque sistêmico aplicado ao estudo da transição agroecológica de agroecossistemas em uma perspectiva política na Amazônia

Etapa III – Analisar as implicações da atual fase

2.4. OS APORTES DA AGROECOLOGIA POLÍTICA PARA A PROBLEMATIZAÇÃO, DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS AGROECOSSISTEMAS

2.4.1. O enfoque sistêmico aplicado ao estudo da transição agroecológica de agroecossistemas em uma perspectiva política na Amazônia

Para compreender o manejo dos agroecossistemas, é necessário adotar uma abordagem sistêmica para dar conta da complexidade deste processo. Pinheiro (2000) também faz essa observação ao defender que “a crescente complexidade dos sistemas organizados e manejados pelo homem e a emergência do conceito de sustentabilidade tem tornado esta abordagem cada vez mais necessária”.

Para efeito de análise, neste estudo, “um sistema é definido como um conjunto de componentes interrelacionados e organizados dentro de uma estrutura autônoma, operando de acordo com objetivos determinados” (PINHEIRO, 2000 p. 28). O conceito de sistema implica em um conjunto de princípios definidos por Capra (1996) apud Pinheiro (2000) como descrito no quadro 04.

Quadro 4 - Princípios da abordagem sistêmica. Princípios Descrição

Visão do todo A abordagem sistêmica visa o estudo do desempenho total de sistemas, ao invés de se concentrar isoladamente nas partes Interação e

autonomia

Sistemas são sensíveis ao meio ambiente com o qual eles interagem, o qual é geralmente variável, dinâmico e imprevisível.

Fronteira A fronteira do sistema estabelece os limites da autonomia interna, a interação entre os componentes do sistema e deste com o ambiente. Organização e

objetivos

Em um sistema imperfeitamente organizado, mesmo que cada parte opere o melhor possível em relação aos seus objetivos específicos, os objetivos do sistema como um todo dificilmente serão satisfeitos.

Complexidade

Este enfoque parte do princípio de que, devido as interações entre os componentes e entre o meio ambiente e o sistema como um todo, este é bem mais complexo e mais compreensivo do que a soma das partes individuais

Níveis Um sistema em determinado nível pode ser entendido como um subsistema de outro nível.

Fonte: Organizado pelo autor (2016) baseado em Capra (1996) apud Pinheiro (2000).

Esta abordagem permite compreender o agroecossistema de forma integradora. Por ser produto de uma construção histórica, será aqui utilizado o conceito de sistema agrário, a saber: “um instrumento intelectual que permite apreender a complexidade de cada forma de agricultura e de perceber, em grandes linhas, as transformações históricas e a diferenciação geográfica da agricultura” (MAZOYER; ROUDART, 2008 p. 45). A partir dessa análise, procura-se reconstituir os principais processos de diferenciação e as trajetórias de evolução que determinaram a estrutura, a organização e o funcionamento dos agroecossistemas. O conceito de sistema agrário é, geralmente, aplicado em grandes escalas, diferente do presente trabalho, no qual passou por uma adaptação. Desse modo, o recorte espacial do sistema agrário será os limites do território da Ilha do Capim em Abaetetuba, Pará.

Este recurso teórico-analítico dos sistemas agrários foi tratado em diálogo com os aportes da agroecologia política. Tal diálogo é possível em função das transformações históricas dos agroecossistemas poderem também ser influenciadas pela evolução das estruturas institucionais (PETERSEN, 2013). Desta forma, será analisada a influência das instituições a partir das formas de acesso fundiário ao longo da diferenciação dos sistemas agrários.

Assim como na análise de sistemas agrários, a ecologia política utiliza o conceito de paisagem que, para Little (2006), possui muita utilidade, já que incorpora dimensões humanas

e biofísicas. Neste trabalho a análise de paisagem será realizada a partir de zoneamento de acordo as instruções da Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários (ADSA) de Garcia Filho (1999). A elaboração da ADSA exige um conjunto de procedimentos.

Na análise dos sistemas agrários é realizada uma decomposição de seu objeto de estudo em dois subsistemas principais: o ecossistema cultivado e o sistema social produtivo (MAZOYER; ROUDART, 2008). O conceito de ecossistema cultivado pode ser definido como “a forma que se organizam os constituintes físicos, químicos e biológicos de um sistema agrário” e possui vários subsistemas complementares como o sistema de cultivo e o sistema de criação. Já o sistema social produtivo “é composto pela família do agricultor (força de trabalho, conhecimento e saber-fazer), meios inertes (instrumentos e equipamentos) e de matéria viva (plantas cultivadas e animais domésticos)” (SILVA NETO; BASSO, 2005 apud SILVA; MIGUEL, 2004 p. 4).

A análise da dinâmica dos sistemas agrários permite identificar o processo de diferenciação que culminou na situação que os agricultores vivem no presente, podendo ser entendida como uma “teoria da evolução e da diferenciação dos sistemas agrários” (MAZOYER; ROUDART, 2008 p. 75). Esta análise do processo de evolução e diferenciação do sistema agrário permite caracterizar, em uma perspectiva histórica, a trajetória evolutiva dos agroecossistemas e os fatores estruturais que determinaram sua morfogênese.

No contexto dos agroecossistemas tradicionais, o uso da abordagem sistêmica é fundamental para caracterizá-los e contextualizá-los adequadamente. Geralmente, estes agroecossistemas são interpretados de forma parcelária a partir do manejo realizado em subparcelas de um subsistema como, por exemplo, os lagos, as florestas, a propriedade particular, entre outros. Essa visão fragmentada dificulta a compreensão de seu manejo já que envolvem áreas amplas e com interconexões, observado por autores como Silva e Miguel (2004) em situações de sobreposição.

Para Silva e Miguel (2004) outros conceitos de abrangência em menor escala são utilizados no diagnóstico agrário, como: (a) o sistema de produção; (b) o sistema de cultivo; e (c) o sistema de criação. Os autores revelam que há ausência de estudos sobre o extrativismo na produção científica francesa e consideram que, com a adaptação do conceito de sistema de produção para áreas onde ocorre extração de recursos como os florestais, emergiu a necessidade de incluir nas reflexões o (d) sistema extrativista.

Este referencial teórico-metodológico permitiu-me analisar os processos de evolução e diferenciação que implicaram na morfogênese dos agroecossistemas. Além disso, foi possível compreender a situação atual do manejo e construir tipologias que permitam compreender sua heterogeneidade. Com isso, foi possível analisar o processo de transição agroecológica de