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2. O CONTEXTO E AS DIRETRIZES PARA O ENSINO BRASILEIRO NO

3.5 HIGIENIZAÇÃO: DA HISTÓRIA À PRÁTICA

As preocupações voltadas à higiene parecem ter iniciado durante o Brasil Império, principalmente através das ideias importadas do exterior. Naquele momento, as relações com a limpeza e saúde não faziam parte do contexto, a mentalidade se voltava ao fato de que “[...] diante da sujeira, arrumava-se meios para manter o corpo protegido e seguro”, pois o “[...] banho representava um risco à vida, porque desprotegia, podendo a água fragilizar as defesas

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Criada a partir do decreto-lei nº 1.212 de 17 de abril de 1939. Disponível para consulta em: Disponível para consulta em: http://www2.camara.gov.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-1212-17-abril-1939-349332- norma-pe.html . Acesso em: 25 set. 2012.

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físicas e espirituais” (Sant’anna, 2011, p. 289). Além disso, os banhos na época se relacionavam somente a “[...] lavagem dos pés, do rosto e das mãos” (Sant’anna, 2011, p. 298), pois um o corpo desprovido de coberturas era considerado como falta de pudor.

Mas a partir da segunda metade do século XIX, os cuidados com o corpo começaram a se tornar um hábito para a população economicamente mais favorecida.

Os mais pobres não eram vistos como os que menos conheciam os benefícios da higiene, mas sobretudo como os que mais concentravam em seus corpos os germes das doenças.

A associação entre pobreza, sujeira e doença se afirmava ao mesmo tempo que uma indústria do banho começava a iniciar uma carreira de sucesso no Brasil e em várias partes do mundo (Santa’anna, 2011, p. 300).

A higiene passou a ser associada ao progresso, e além da vida cotidiana a moda higiênica começou a fazer parte também do contexto escolar. A partir dos Pareceres de Rui Barbosa de 1882, o Brasil iniciou a ter consideráveis noções a respeito da higienização escolar. Com base em estudos e vivências europeias e americanas sobre a higienização, Rui Barbosa “[...] volta-se para o Brasil diagnosticando, com base naquela chave de leitura, a imensidade do atraso científico e administrativo do país onde, pela higiene escolar, ainda não se havia começado a fazer nada” (Gondra, 2010, p. 531).

Assim como outros diversos temas relacionados ao desenvolvimento do país, a higienização efetivamente não conseguiu ser implantada durante os anos imperiais. Somente a partir do início da era republicana “[...] a associação entre limpeza, produção de energia e vitalidade, um tripé doravante fundamental para erigir não apenas uma raça saudável, mas, sobretudo o desenvolvimento da indústria e da urbanização” (Sant’anna, 2011, p. 312) tornou- se importante para uma vida mais saudável. Assim, nas décadas finais do século XIX, além das casas, restaurantes, instalações sanitárias, o higienismo também passou a ser uma preocupação nas escolas. Com isso, havia a necessidade de que as instituições escolares se adequassem às novas tendências higiênicas. Já que “Os higienistas acentuavam sobremaneira o mal causado, às crianças, pelas péssimas instalações escolares. Além disso, expunham o quanto a falta de espaços e materiais higienicamente concebidos era prejudicial à saúde e à aprendizagem dos alunos” (Faria Filho; Vidal, 2000, p. 24).

Assim, os preceitos higienistas aplicados às escolas sugeriam

[...] inicialmente nas prescrições para a construção do edifício escolar, influenciam, em seguida, a escolha de mobiliários e utensílios a serem utilizados nos grupos escolares e, por fim, são refletidos na figura dos alunos por meio de regras, condutas e de suas ações na escola (Kinchescki; Neves, 2012, p.131).

Todas estas preocupações se voltavam na prevenção de possíveis condutas prejudiciais à saúde de crianças no ensino primário. Em Minas Gerais, um dos estados “[...] referência para os gestores da escola pública primária” (Peres, 2000, p. 11)119

gaúcha, havia a

[...] busca em educar a postura, em demarcar e controlar claramente os gestos, em criar as condições para um escrever saudável e higiênico, transformando-o em um ato minuciosamente projetado, implicou, também, que os profissionais imbuídos desta nova sensibilidade e imbuídos de uma proposta de racionalização da escola voltassem suas preocupações para os equipamentos escolares, para as carteiras, para a qualidade dos quadros e enfim, para os custos da educação. Assiste-se neste momento, não por acaso, tanto a uma crítica severa à falta e inadequação das instalações e equipamentos escolares, principalmente das escolas isoladas, quanto a uma intensa propaganda dos móveis “importado dos EUA” para as escolas mineiras (Faria Filho, 2001, p. 44).

Uma das preocupações dos higienistas estava voltada a leitura imprópria e inadequada, isso porque alguns livros poderiam causar malefícios às crianças. Assim as leituras mais indicadas eram as fábulas, que de acordo com Rousseau possibilitavam “[...] um recurso eficaz para educação moral e, desse modo, deveriam ingressar no espaço das escolas auxiliando na higienização e moralização dos jovens” (Gondra, 2010, p. 539).

Associado à limpeza do corpo e aos processos de leitura e escrita, os princípios higienistas escolares também estavam relacionados aos hábitos saudáveis, a arquitetura, a iluminação, o arejamento das salas de aula e ergonomia do mobiliário. Todas estas indicações estavam contempladas nos princípios da Escola Nova, e um destes importantes seguidores, Fernando de Azevedo, sugeria que as edificações escolares deveriam se pautar

[...] em necessidades pedagógicas (iluminação e ventilação adequadas, sala de jogos, pátios de recreação, instalações sanitárias etc.), estéticas (promoção do gosto pelo belo e pelo artístico), e nacionalizantes (constituição do sentido de brasilidade, pela retomadas de valores arquitetônicos coloniais e pelo culto às nossas tradições). O ambiente, segundo o reformador, deveria ser educativo, ou seja, alegre, aprazível, pitoresco e com paisagem envolvente (Faria Filho; Vidal, 2000, p. 28).

Além dessas instruções, outra preocupação estava relacionada à fachada da escola, que não deveria estar voltada “[...] diretamente para a rua, afim de que não perturbassem a ordem e o silêncio das classes” (Revista da Educação, 1937, p. 151 apud Gonçalves, 2012, p. 45).

As escolas também tinham que possibilitar o acesso aos livros através das bibliotecas. No acervo da biblioteca deveriam existir: “livros sobre viagens, ciências naturais (tanto quando possível sob a forma atrativa), biografias, poesias, obras didáticas, dicionários, revistas e jornais ilustrados e outros de interesse educativo”120 (Brasil, 1937 apud Eggert-

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Além de Minas Gerais, o estado de São Paulo e países como os Estados Unidos, a Suécia, o Uruguai e a Argentina também eram referência aos gestores da escola pública primária gaúcha (Peres, 2000). 120

Steindel, 2012, p. 73). Além do acervo da biblioteca, a escola deveria oferecer aos alunos um museu escolar, ou seja, “uma junção de objetos, naturais e/ou fabricados, pertencentes aos reinos mineral, vegetal e animal, organizados em coleções pelos professores e alunos, destinados ao ensino, caracterizando-se como instrumento auxiliar” (Petry, 2012, p. 85).

O ambiente escolar deveria ser agradável, e como os mobiliários tinham “[...] atuação direta na higiene do corpo, na disciplina, no conforto e na aprendizagem” (Castro; Silva, 2012, p. 170-171) existia a necessidade de que possibilitassem uma postura adequada para que o estudante realizasse bem as suas tarefas. Com isso, deveriam ser “abolidas as carteiras fixas [...]” (Faria Filho; Vidal, 2000, p. 29), e deveria ocorrer “[...] a extinção em definitivo dos tablados que ainda sobreviviam em diversos países” (Revista da Educação, 1937, p. 152 apud Gonçalves, 2012, p. 45).

Além da estrutura escolar, os hábitos saudáveis de higiene, a Educação Física e a Ginástica eram importantes integrantes das propostas do Higienismo (Paiva, 2003). Isso tudo pelo motivo de que,

[...] a defesa dos exercícios corporais encontra-se radicalizada por ocasião do combate àquele que era considerado o mais grave e terrível dos vícios: onanismo. Tal hábito, descrito como vício, provocaria o aniquilamento físico, perverteria a moral e reduziria a inteligência (Gondra, 2010, p. 536).

Mas é oportuno salientar que nem sempre as escolas funcionavam em locais apropriados para a prática. Quando acontecia isso, “no máximo aconselhava-se que o local fosse ventilado e iluminado, por questões de salubridade” (Gonçalves, 2012, p. 30). A partir do momento que as escolas receberam um local próprio, também surgiu a necessidade de regulamentar a arquitetura escolar, “[...] que inclui o volume de espaço ideal para cada aluno, o tamanho e a localização das portas e janelas, a largura dos corredores, a área e altura dos pátios, as medidas do mobiliário adequadas a cada idade e tamanho das crianças” (Gonçalves, 2012, p. 30).

Partindo das informações citadas anteriormente, o item seguinte propõe uma aproximação à realidade estrutural das escolas municipais de Caxias do Sul daquele período. Porém, em virtude da falta de fontes documentadas, alguns aspectos não serão possíveis de serem comparados aos preceitos higienistas.