• Nenhum resultado encontrado

2. O CONTEXTO E AS DIRETRIZES PARA O ENSINO BRASILEIRO NO

2.1 A INSTAURAÇÃO DO GOVERNO DO ESTADO NOVO

Após o ano de 1930, encerra-se no cenário brasileiro o período da República Velha e inicia uma nova etapa política no Brasil, a Nova República. Esta transição parecia ser necessária, pois os tempos eram outros e o país precisava mudar.

A situação da economia brasileira era outra. O sistema coronelista perdia terreno para o processo crescente de urbanização-industrialização. O crescimento do eleitorado urbano, a crise do café, a melhoria dos meios de comunicação entre a zona rural e a urbana foram alguns dos fatores que contribuíram para a corrosão do compromisso “coronelista”. A Velha República já era incompatível com os anseios da nova geraçãode políticos, militares, intelectuais e de diversos outros segmentos da sociedade (Cunha, 1981, p. 23).

E as mudanças começaram a ser encaminhadas a partir das tumultuadas eleições de março de 1930. Naquele ano havia duas chapas presidenciais: a Aliança Liberal (formada por Getúlio Vargas e João Pessoa) e a Concentração Conservadora (formada por Júlio Prestes e Vital Soares). A última chapa, apoiada pelo presidente da época, Washington Luiz, venceu a eleição, com isso o monopólio do poder presidencial continuaria a pertencer ao estado de São Paulo. Mineiros e Gaúchos descontentes com tal situação denunciaram fraude na contagem de votos. Com o inesperado “[...] assassinato de João Pessoa, ex-candidato à vice-presidência, por elemento ligado à situação, era o rastilho que estava faltando. E a revolta é marcada para 3 de outubro de 1930” (Cunha, 1981, p. 24).

A Aliança Liberal se rebelou e iniciou a sua caminhada para tomar posse do Governo Federal. Em 31 de outubro de 1930, Getúlio Vargas assume provisoriamente como presidente do país, iniciando assim a Era Vargas. Mesmo se tratando de um regime provisório, somente em 1933 foram realizadas novas eleições, estabelecendo às chapas um mandato de 4 anos de governabilidade. Desta vez, Getúlio Vargas venceu a eleição, o que lhe proporcionaria permanecer no cargo até 3 de janeiro de 1938.

Porém, em 10 de Novembro de 1937, o então presidente promulga uma nova Constituição67, instaurando assim um novo regime de governo, o Estado Novo. Tal medida é justificada nas primeiras linhas da Constituição:

ATENDENDO às legitimas aspirações do povo brasileiro à paz política e social, profundamente perturbada por conhecidos fatores de desordem, resultantes da crescente agravação dos dissídios partidários, que, uma notória propaganda demagógica procura desnaturar em luta de classes, e da extremação, de conflitos ideológicos, tendentes, pelo seu desenvolvimento natural, resolver-se em termos de violência, colocando a Nação sob a funesta iminência da guerra civil;

ATENDENDO ao estado de apreensão criado no País pela infiltração comunista, que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo remédios, de caráter radical e permanente;

ATENDENDO a que, sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado de meios normais de preservação e de defesa da paz, da segurança e do bem-estar do povo;

Com o apoio das forças armadas e cedendo às inspirações da opinião nacional, umas e outras justificadamente apreensivas diante dos perigos que ameaçam a nossa unidade e da rapidez com que se vem processando a decomposição das nossas instituições civis e políticas;

Resolve assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua independência, e ao povo brasileiro, sob um regime de paz política e social, as condições necessárias à sua segurança, ao seu bem-estar e à sua prosperidade, decretando a seguinte Constituição, que se cumprirá desde hoje em todo o País: CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (Brasil, 1937).

Pelo que transparece o texto anterior, o Estado Novo era considerado a única maneira de instaurar a segurança, bem-estar e prosperidade no país, pois,

Longe de ser uma instância pacífica, as ruas das cidades brasileiras após 1930 foram locais de intensa conflitividade e baixíssima regulação. [...] A constância dos motins urbanos, das revoltas populares, das greves e dos levantes revolucionários fez parecer ao governo brasileiro que a paz pública seria algo difícil de se alcançar nestes anos (Parada, 2009, p. 9).

O novo regime de governo estabelecia principalmente a ordem da vida pública, com imposições rigorosas. Por isso, foi “[...] declarado em todo o País o estado de emergência”68 (Brasil, 1937), e o presidente passa a ter plenos poderes para governar.

Estas novas ideias, de acordo com Figueiredo (1984) foram influenciadas pelo Positivismo69, que preconizava a centralização do poder em um estado forte e autoritário, com a intervenção do Estado na organização social. Porém é oportuno salientar que muitas mudanças alcançadas neste período foram consequência de alterações realizadas nos anos

67

Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 10 de novembro de 1937. Disponível em:

www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm Acesso em: 20 jun. 2012. 68

Artigo 186 da Constituição de 1937. Disponível para consulta em:

www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm Acesso em: 20 jun. 2012. 69

“Corrente filosófica que surgiu na França no começo do século XIX. Os principais idealizadores do Positivismo foram os pensadores Augusto Comte e John Stuart Mill. O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro”. Disponível em:

anteriores, assim o resultado do Estado Novo não pode estar vinculado somente à Constituição de 1937, mas sim de uma trajetória política que iniciou no ano de 1930.

Seria engano pensar que o Estado Novo representou um corte radical com o passado. Muitas de suas instituições e práticas vinham tomando forma no período 1930-1937. Mas a partir de novembro de 1937 elas se integraram e ganharam coerência no âmbito do novo regime (Fausto, 2001, p. 365).

Com estas mudanças organizacionais, o Governo Vargas em conjunto com os estados, buscava incutir no povo a ideia de que o país estava ingressando em uma nova época. Uma das principais ideologias impostas à população brasileira foi o sentimento de identificar-se como brasileiro, honrando aos símbolos nacionais: “Art. 2º- A bandeira, o hino, o escudo e as armas nacionais são de uso obrigatório em todo o País. Não haverá outras bandeiras, hinos, escudos e armas. A lei regulará o uso dos símbolos nacionais”70 (Brasil, 1937). Com isso, mas não somente isso, iniciou a caminhada para o Nacionalismo, que será tratado mais adiante.

Outra mudança imposta à população brasileira foi a valorização do trabalho e do trabalhador, com legislações inovadoras. Em parte este incentivo está relacionado ao combate da pobreza, resquício da Abolição da Escravatura que ainda vagava pelo ambiente nacional. Pois,

[...] a partir desse momento, demarcado pela Revolução de 30, que podemos identificar de forma incisiva toda uma política de ordenação do mercado de trabalho, materializada na legislação trabalhista, previdenciária, sindical e também na instituição da Justiça do Trabalho. É a partir daí que podemos igualmente detectar – em especial durante o Estado Novo (1937-1945) – toda uma estratégia político- ideológica de combate à “pobreza”, que estaria centrada justamente na promoção do valor do trabalho. O meio por excelência de superação dos graves problemas sócio- econômicos do país, cujas causas mais profundas radicavam-se no abandono da população, seria justamente o de assegurar a essa população uma forma digna de vida. Promover o homem brasileiro, defender o desenvolvimento econômico e a paz social do país eram objetivos que se unificavam em uma mesma e grande meta: transformar o homem em cidadão/trabalhador, responsável por sua riqueza e também pela riqueza do conjunto da nação (Gomes, 1999, p. 55).

Outros dois temas, saúde e educação, também foram de importante destaque no cenário da época, pois havia a preocupação em sanar os principais problemas do país que eram o saneamento moral e físico (Horta, 2010a; Werle, 2008). Por esse motivo, foi criado o Ministério da Educação e Saúde para legislar e alcançar tal objetivo, tema que será desenvolvido nos próximos itens.

Mesmo com tantas alterações, muitas vezes benéficas ao país, o novo sistema começou a entrar em decadência.

70 Artigo 2º da Constituição de 10 de novembro de 1937. Disponível para consulta em:

O fim do Estado Novo começou com a entrada do Brasil em guerra, ao lado dos aliados, em agosto de 1942. Tornava-se clara a contradição entre a manutenção de um regime autoritário desmobilizador e o apelo à mobilização popular para o esforço de guerra ao lado das nações democráticas. [...] Em 1945, no momento em que ficou claro que Getúlio Vargas tentaria manter-se no poder, após a redemocratização do País, com o apoio dos comunistas que mobilizavam as camadas populares na campanha pela “constituinte de Getúlio”, os grupos liberais apelaram novamente para os militares, desta vez com êxito. Os mesmos líderes militares que haviam ajudado Vargas a implantar o Estado Novo, em 1937, depuseram-no em outubro de 1945 (Horta, 2010a, p. 29).

Com o término do Estado Novo, finalizou um período político que se desenvolveu durante quinze anos. Assim, assumiu como interino no poder José Linhares, no qual permaneceu de 29 de outubro de 1945 até 31 de janeiro de 1946. Em seguida, Eurico Gaspar Dutra elegeu-se presidente do país inaugurando o momento democrático político.