• Nenhum resultado encontrado

1.1 A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DO ENSINO MUNICIPAL

1.1.1. Inspetoria Escolar

A Inspetoria Escolar era o órgão responsável pelo ensino nas escolas municipais e tinha como finalidade “fiscalizar e orientar as unidades escolares” (Zago, 1980, p. 43). A fiscalização se dava através das Visitas de Inspeção Escolar, assinadas com o nome de ‘Termo de Inspeção’ ou ‘Termo de Visita’ em Livros de Frequência Escolar ou em Livros de Atas Escolares. A professora Ida Menegotto Poletto comenta sobre a frequência das visitas:

11 Exerceu seu mandato de 1935 a 1947 (Dalla Vecchia; Herédia; Ramos, 1998). 12

Ítalo João Balen foi nomeado como Secretário do Município através da Portaria nº 82, de 16 de abril de 1937 (Adami, 1981).

13 Firmino Bonet foi nomeado como Inspetor Escolar através da Portaria nº 63, de 27 de agosto de 1936 (Adami, 1981).

Não vinham uma vez por mês, mas conforme às vezes cada dois meses, cada três meses vinham que era um inspetor. Vinha sempre inspecionar as aulas. Ele vinha fazia umas perguntas para os alunos, olhava os livros, olhava os cadernos dos alunos. A chamada se estava em dia, os planos. Se estava tudo em dia. Às vezes, pegava um aluno, mandava no quadro resolver algum problema, ou alguma conta (Poletto, década de 1980).

Além das visitas do Inspetor Escolar era muito comum nas inspeções a presença do prefeito, de subprefeitos, de autoridades religiosas e policiais também. Como consta o Termo de Visita, do dia 12 de novembro de 1944, onde o prefeito em conjunto com um tenente coronel do 9º B.C. realizaram uma visita à Escola Isolada Dom Sebastião Leme14. Também era comum, o prefeito estar presente na inauguração de novas estruturas escolares e escolas, como na inauguração da Escola Municipal São João Batista15; e na inauguração das novas dependências do Grupo Escolar São Romédio, onde consta: “Nessa ocasião, o Dr. Dante Marcucci dirigiu-se aos presentes, pondo em evidência o grande interêsse do Govêrno do Estado pela Instrução Publica”16.

Com relação às orientações da Inspetoria Escolar, estas se dirigiam à organização da documentação, ao zelo pela execução dos programas de ensino, e outras organizações necessárias na escola. Muitas destas orientações eram emitidas através de documentos Circulares enviados às escolas a partir do ano de 1940. Porém, a partir do ano de 1941 que elas seguiram uma numeração sem cessar ao final do ano, além disso, neste mesmo ano foi emitida uma Portaria explicando a importância destes documentos.

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PREFEITURA DE CAXIAS

PORTARIA Nº 612 Expede instrução ao professorado municipal DANTE MARCUCCI, Prefeito Municipal de Caxias, no uso das suas atribuições legais,

ATENDENDO, necessidade de metodizar, através de circulares elucidativas do programa de ensino, a orientação que a Inspetoria Escolar vem prestando ao professorado municipal;

ATENDENDO, que as referidas circulares serão, também, diretrizes de conduta, atividades e funções das professoras do município,

RESOLVE

Pela presente Portaria, baixar, a respeito, as instruções e esclarecimentos seguintes, com ADVERTÊNCIA, muito especial, para seu mais integral cumprimento:- 1º - As circulares em referência serão expedidas, em ordem numérica, sempre que se tornarem necessárias ou oportunas.-

14

Livro de Atas da Escola Municipal Dom Sebastião Leme. Acervo do AHMJSA. 15

Livro de Atas da Escola Municipal São João Batista (1941-1965). Acervo do AHMJSA.

16 Ata de 14 de junho de 1943, pertencente ao Livro de Atas de Comemoração e Encerramento dos Anos Letivos (1942-1957) da Escola Municipal de 1º Grau Incompleto Carlos Gomes. Acervo do AHMJSA.

2º - O professorado municipal acusará o recebimento das circulares enviadas, dando ligeira notícia sobre os assuntos nelas contidos, e as arquivarão, em pasta especial, por ordem de recebimento.-

3º - As instruções assim expedidas serão integralmente cumpridas, na forma indicada, dando-se conhecimento aos alunos tudo o que lhes disser respeito e fôr ordenado.-

4º - As circulares, que representarão, sempre, o pensamento do Governo Municipal, serão lidas e estudadas, com especial carinho, de forma a serem perfeitamente conhecidas e devidamente aplicadas.-

5º - Quaisquer dúvidas na interpretação das instruções nelas contidas, serão resolvidas pela Inspetoria Escolar com recurso para o Prefeito Municipal.-

6º - O extravio de qualquer circular será considerada falta da professora responsável e, a extração da segunda via, terá anotação nos assentos funcionais respetivos.- 7º - O desconhecimento dos termos, avisos, instruções das circulares será, também, consideradas falta de parte da professora.-

8º - O extravío do arquivo das circulares é falta grave.-

9º - Da mesma forma, se reputará falta grave, a desídia e o não cumprimento do que dispõe as circulares.-

Caxias, 2 de Maio de 1941.

(As.) DANTE MARCUCCI Prefeito Municipal Re. Á fls. 117 do livro de Portarias nº 5.-

Data supra.-

(As.) ITALO BALEN Secretário do Município

O documento anterior estabelecia rigorosamente sobre as funções das circulares, bem como advertia a possíveis extravios. Mesmo com tantos avisos sobre a perda destes documentos, no acervo do AHMJSA, somente foi encontrada tal documentação no arquivo de uma escola17, além daquele da Inspetoria Escolar. É oportuno salientar, que não existem indícios sobre o desaparecimento das circulares em outros arquivos escolares.

De acordo com a Portaria anterior, no seu item 5º, quaisquer dúvidas deveriam ser relatadas primeiramente à Inspetoria Escolar, mas também poderiam ser informadas ao Prefeito; que pode ser comprovado pelo relato da professora Guilhermina Lora Poloni Costa que “[...] a professora era orientada por um inspetor escolar e o prefeito” (Costa, 1991). Porém tal comentário provavelmente se referia aos anos anteriores a 1942, já que nos documentos pesquisados, até este ano poucas pessoas, senão somente o Inspetor Escolar Firmino Bonet trabalhava nesta pasta administrativa. Somente a partir do ano de 1942, que houve a criação do cargo de Orientador do Ensino Primário Municipal, e então, foi possível constatar a presença de outros servidores na Inspetoria Escolar.

O cargo de Orientadora de Ensino Primário Municipal foi assumido por Ester Justina Troian Benvenutti18, e a sua principal função era manter uma vigilância mais próxima da

17

Escola Isolada Vitório Rech II.

18 Ester Justina Troian Benvenutti foi designada a exercer suas funções como Orientadora de Ensino Primário em 03 de novembro de 1942, através da Portaria nº 8047 (Adami, 1981).

Administração Municipal para com a Escola. Para investir neste cargo foi preciso ser aprovada em concurso público e conforme relato de entrevista da Orientadora de Ensino Primário Municipal, o Secretário Estadual de Educação José Pereira Coelho de Souza foi um dos responsáveis pela criação deste novo cargo.

Então, eu entrei no concurso para orientadores de ensino municipal, o doutor José Coelho de Souza quer imprimir além da orientação técnica, pedagógica, quer imprimir mais assim o tipo...detalhes, mas que não queriam mais que falassem em italiano, alemão, aquela coisa toda. Queria uma nacionalização do ensino. Ele disse: “A senhora não quer concorrer? Eles estão atribuindo muitos pontos para quem conhece a zona rural”. Como me trazia vantagens financeiras eu concorri com mais seis daqui de Caxias. Mas provavelmente novamente a minha experiência na zona rural e fui nomeada então a primeira orientadora do estado do Rio Grande do Sul, aqui em Caxias do Sul. [...] Fiz um curso em Porto Alegre, ainda no tempo da Marietinha... da Olga..., e o doutor José Coelho de Souza pra receber orientação de como eu devia agir em visitas às escolas (Benvenutti, 1983).

Através desta fonte, é possível salientar que a função da Orientação do Ensino Primário visava nortear os docentes municipais tanto com relação à legislação quanto ao suporte técnico e pedagógico. Suporte este, que parece ser compatível à experiência e formação de Ester Justina Troian Benvenutti, para a realidade da época, já que, a Orientadora de Ensino Primário atuou como professora da rede municipal de 1930 a 1941 e tinha formação da Escola Complementar19 de Caxias. Segundo a professora Verônica Candiago Bortolon, a Orientadora era muito dedicada aos professores, e que “Depois que entrou o Dante Marcucci, a Ester, ficou uma beleza lecionar” (Bortolon, década de 1980). A professora Dorotéia Rizzon Corte, amplia “Depois que a Dona Ester assumiu, foi nomeada, então as coisas melhoraram [..]” (Corte, década de 1980).

Através dos indícios, parece que a partir da criação do cargo de Orientadora de Ensino Primário Municipal, o ensino começou a se organizar administrativamente melhor. Outras pessoas assumiram cargos na Inspetoria Escolar, como a funcionária Adelina Lunardi, comprovado pela descrição da Portaria nº 120820: “Srta Adelina Lunardi, funcionária da citada Inspetoria”; e também em uma ata de instalação de uma unidade escolar, onde aparece “[...] Srta. Adelina Lunardi, Funcionária da Prefeitura Municipal [...]”21

. Provavelmente esta senhora exercia a função de secretária da Inspetoria Escolar, pois não foram encontrados documentos que comprovem seu cargo. Também, outra função encontrada nas fontes

19

Ester Justina Troian Benvenutti completou seus estudos na Escola Complementar em 15 de dezembro de 1941. Informações obtidas no Livro de Atas da Entrega dos Diplomas às alunas que concluíram o Curso da Escola Complementar de Caxias (1932 a 1945), depositado no acervo no Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendonza.

20

Portaria nº 1208, de 30 de setembro de 1944. Louva e Agradece a cooperação de funcionários em prol das comemorações da “Semana da Pátria de 1944”. Documento depositado no acervo do AHMJSA.

21 Ata de instalação do Grupo Escolar Municipal Nossa Senhora do Pedancino, de 19 de abril de 1943. Documento pertencente ao acervo do AHMJSA.

pesquisadas foi a de Auxiliar de Inspeção, a partir de 1944. Conforme entrevista da professora Dorotéia Rizzon Corte, ela exerceu este cargo por três anos na subprefeitura de São Marcos.

A gente ia na escola, no interior, via se a professora estava, muitas vezes a gente não encontrava; se a escrituração estava completa; se conversava com as crianças pra ver se gostavam da escola, da professora; se dava uma olhada nos cadernos, se fazia algumas perguntas pra ver como funcionava a escola (Corte, década de 1980).

Aliada a esta informação, existe outra evidência do cargo, que pode ser verificada nos Termos de Visita assinados pela professora Leda Verônica Dal Prá, a partir de 1945. Onde sempre consta a seguinte descrição: “De ordem superior estive nesta data em visita a Escola [...]”22. Com esses apontamentos, há um forte indício de que a professora Leda Verônica Dal Prá também exerceu um cargo semelhante ao da professora Dorotéia Rizzon Corte, porém uma atuava nas escolas do distrito de São Marcos e outra no distrito de Galópolis. Provavelmente a professora Leda atuava nesta função e neste distrito, pois além de ter sido professora da rede municipal anteriormente, ela era filha do subprefeito de Galópolis, João Dal Prá. Possivelmente poderia haver outros professores na função de Auxiliar de Inspeção, porém não foram encontradas fontes que descriminavam tal fato. Se realmente existiu este novo cargo, parece ter colaborado na melhora organizacional da Inspetoria Escolar, bem como na orientação aos docentes, já que havia um elevado número de unidades escolares para serem inspecionadas.

Conforme os anos passavam, outros funcionários foram sendo incorporados ao quadro de profissionais da Inspetoria Escolar. Um desses casos foi o da professora Isolde Maria Pedron que após se exonerar de suas funções docentes, assumiu o cargo de auxiliar da Orientadora de Ensino Primário23. O documento que comprova o seu pedido de exoneração pode ser visualizado na imagem a seguir.

22

Termo de Inspeção de 13 de outubro de 1945 da Escola Isolada Farroupilha. Documento disponível no acervo do AHMJSA.

23

Imagem 3: Pedido de exoneração da professora Isolde Maria Pedron.

Pelo que apontam as fontes, parece que a maioria dos cargos na Inspetoria Escolar eram assumidos por professores da Rede Municipal. Possivelmente por conhecerem melhor a realidade das escolas ou talvez por indicação de amigos ou parentes.

Mesmo que nos anos iniciais do estudo, poucos funcionários atuavam na Inspetoria Escolar, pelo que tudo indica este órgão administrativo sempre exerceu um forte poder vigilante nas escolas, tanto que as atividades comemorativas deveriam ser aprovadas pelo órgão superior. Um exemplo disso pode ser visualizado no artigo 40 do Regimento Interno para as Escolas Primárias Municipais:

b) Sempre que fôr possível, realizar-se-ão as festas escolares na escola e, só quando carecer o prédio de instalações adequadas, poderão os diretores ouvida a Inspetoria Escolar, transferí-las para outros locais.-

c) Não será permitida, nas festas escolares, a participação de elementos estranhos à escola.

d) Os programas para as festividades serão submetidos à apreciação da Inspetoria Escolar não se permitindo a inclusão de novos números depois de aprovados.

Artº 41 – Após a realização da festa escolar, deverá o Diretor comunicar à Inspetoria Escolar, os fatos dignos de nota e enviar os nomes dos professores que não justificaram sua falta, pois, nos dias de festas escolares, os professores estarão obrigados à assinatura do ponto e haverá igualmente registro da frequência para os alunos (Caxias do Sul, 1945)24.

Além de todas estas orientações, conforme o artigo 41 estabelece, também havia a necessidade de ser prestado um relatório das atividades; sugerindo assim, um forte poder vigilante da Inspetoria Escolar sobre escolas, professores e estudantes. Após a descrição das informações à respeito dos órgãos administrativos do ensino, o item seguinte apresenta importantes dados sobre as Unidades Escolares.