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2 O RECURSO DE AGRAVO NA SISTEMÁTICA DO NOVO CÓDIGO DE

2.1 Da modificação do regime de agravo

2.1.3 O novo agravo de instrumento

2.1.3.1 Hipóteses de cabimento

Na versão adotada pelo novo ordenamento jurídico processual civil há expressamente, em numerus clausus, as decisões interlocutórias que podem ser impugnadas por agravo de instrumento. Dessa forma, o cabimento do referido recurso está restrito às decisões interlocutórias previstas em lei, bem como aos casos autorizados pelas leis extravagantes.

Para Câmara (2015, p. 9), a principal alteração identifica-se naquela relacionada ao cabimento do instituto do agravo. Conforme suas próprias palavras:

A primeira e maior das novidades está em que nem todas as decisões interlocutórias serão, no novo sistema processual, agraváveis. O novo CPC prevê um rol exaustivo de decisões interlocutórias contra as quais caberá agravo [...]

De acordo com o estudado no capítulo anterior, atualmente, conforme prevê o artigo 522 do atual Código, o agravo pode ser interposto, como regra, na forma retida ou, de forma excepcional, por meio do instrumento, sendo o primeiro cabível para qualquer decisão interlocutória proferida em primeiro grau de jurisdição, e o segundo quando tratar-se de

decisão que acarretar à parte lesão grave ou de difícil reparação, bem como nas hipóteses de não recebimento do recurso de apelação e no que tange aos efeitos em que recebida a apelação (NEVES, 2010).

Diferentemente do modelo atual do recurso de agravo citado no parágrafo acima, o texto do novo Código estabelece quais as decisões interlocutórias passíveis de serem impugnadas pelo agravo em comento. Vejamos, na dicção do artigo 1.015, o rol de decisões agraváveis (BRASIL, 2015):

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:

I – tutelas provisórias; II – mérito do processo;

III – rejeição da alegação de convenção de arbitragem; IV – incidente de desconsideração da personalidade jurídica;

V – rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;

VI – exibição ou posse de documentos ou coisa; VII – exclusão de litisconsorte;

VIII – rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio; IX – admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;

X – concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;

XI – redistribuição do ônus da prova nos termos do artigo 373, § 1º; XII – (vetado);

XIII – outros casos expressamente referidos em lei.

Notadamente, em face do princípio da taxatividade já estudado, o legislador manteve a salvo o cabimento do agravo de instrumento em outras hipóteses expressas em lei esparsas ou no próprio código, o que está autorizado pela previsão contida no inciso XIII do artigo em comento, conforme explica o Procurador de Justiça Antônio Cézar Lima da Fonseca (2015).

Além disso, o legislador preocupou-se em agregar outras possibilidades de manejo do agravo de instrumento no parágrafo único do já citado artigo, o qual admite a sua interposição em face das interlocutórias prolatadas quando da liquidação ou do cumprimento de sentença, bem como quando proferidas no processo de inventário e de execução (JOBIM; CARVALHO, 2015).

Na dicção do parágrafo único do artigo 1.015 do NCPC/2015 (BRASIL, 2015): “também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de

liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.”

Sobre o assunto assevera Hill (2015, p. 369):

As hipóteses de cabimento do agravo de instrumento são de duas ordens. Nos incisos do artigo 1015, o legislador contemplou as hipóteses por ele consideradas graves o suficiente para justificar a imediata recorribilidade da decisão interlocutória. No parágrafo único, o legislador previu hipóteses nas quais a insurgência contra a decisão interlocutória em sede de recurso de apelação mostra-se viável, dadas as especificidades do procedimento, como é o caso da liquidação de sentença, do cumprimento de sentença, do processo de execução e do inventário, o que justifica a interposição de agravo de instrumento.

Ainda, a autora esclarece que o agravo de instrumento, tanto o do regime atual como o da nova sistemática, é cabível de forma excepcional. Conforme suas próprias palavras (HILL, 2015, p. 368-369):

Tal qual vislumbramos na atual redação do CPC de 1973, o cabimento do agravo de instrumento continua a ser excepcional na sistemática do novo CPC. No entanto, ao contrário do CPC de 1973, que prevê, como regra, a interposição de agravo retido contra decisões interlocutórias e o cabimento, em caráter excepcional, do agravo de instrumento conforme verifique o magistrado a ocorrência de lesão grave e de difícil reparação (art. 522 do CPC/73), agora, no novo diploma, o legislador optou por estabelecer, como regra, a recorribilidade diferida das decisões interlocutórias em preliminar de apelação/contrarrazões, sendo que as hipóteses excepcionais de cabimento do agravo de instrumento passaram a ser expressamente contempladas em lei (art. 1015, CPC/2015).

Note-se que o novo diploma processual retomou o regime utilizado no CPC de 1939, porquanto afastou a chamada cláusula de abertura prevista no CPC vigente, onde todas as interlocutórias com potencialidade lesiva são agraváveis, suprimindo a vasta recorribilidade atualmente admitida ao prever taxativamente, em números fechados, as decisões passíveis de serem impugnadas pelo agravo instrumental (JOBIM; CARVALHO, 2015).

Pode-se aferir que, em síntese, o rol taxativo das decisões agraváveis pela via instrumental na nova disciplina recursal tem como finalidade tornar a análise dos requisitos que admitem a sua interposição mais clara e assegurar à parte segurança jurídica, evitando-se

assim decisões diversas quanto à presença ou não da lesão grave e de difícil reparação, como acontece no atual regime.

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