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A hipótese principal é que se configura na microrregião do Vale do Paraíba fluminense o processo de dispersão urbana, desenvolvendo-se de maneira crescente. Essa nova forma de urbanização difere do modelo de polarização regional com formas urbanas concentradas, evidenciando significativas transformações na conformação e escala dos espaços urbanos da região.

Nesta microrregião o processo de urbanização dispersa está inicialmente relacionado à atividade industrial, mas não é exclusivo deste setor econômico, abrangendo na atualidade atividades comerciais, institucionais, de serviços e residenciais. Este processo ocorre de maneira análoga na microrregião de São José dos Campos, no Vale do Paraíba paulista.

A hipótese secundária, confirmando-se a primeira, é de que a dispersão urbana na microrregião do Vale do Paraíba fluminense é induzida por entes públicos e privados.

No caso dos entes públicos, isto ocorre em diferentes níveis de governo, pelo fato da União, do Estado do Rio de Janeiro e dos municípios da microrregião não terem criado ou incentivado a elaboração e implementação de políticas e planos de desenvolvimento regional e industrial. De modo contraditório, são oferecidos financiamentos utilizando fundos públicos do BNDES e do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado do Rio de Janeiro (FUNDES) para a implantação de empreendimentos dispersos no território regional. Isto tem gerado a competição predatória entre os municípios da microrregião, na busca por investimentos públicos e privados.

Já como instituição privada, a CSN mantém, ainda hoje, a propriedade e a concentração das melhores terras disponíveis nos municípios de Volta Redonda, Barra Mansa e Pinheiral. Mesmo após sua privatização em 1993, a empresa impede a instalação de novas indústrias nestes municípios, que anteriormente concentravam, em grande parte, a produção industrial da região. Ao mesmo tempo, a empresa continua sendo indutora de investimentos na microrregião, com a instalação, nos últimos vinte anos, de indústrias que utilizam o aço fabricado pela CSN como insumo básico de produção. Essas indústrias são implantadas com formas urbanas dispersas, que estão desconectadas do tecido urbano tradicional e fragmentadas no território regional.

Metodologia

Como metodologia da pesquisa, o estudo teório-conceitual e a análise empírica do espaço urbano-regional foram as principais estratégias para identificar e examinar as transformações que levaram ao processo de dispersão urbana e, especificamente, à urbanização do Vale do Paraíba fluminense.

O estudo de importantes referências bibliográficas, destacadas na parte teórica, possibilitou identificar e compreender as origens e o desenvolvimento do processo de dispersão urbana em diferentes situações nos EUA, Europa, América Latina e em regiões brasileiras, principalmente no Vale do Paraíba fluminense.

Nas pesquisas de campo foi possível observar os padrões de ocupação e as atividades urbanas dispersas, envolvendo grandes equipamentos industriais, empreendimentos comerciais, de serviços e residenciais de diferentes portes, além da circulação e dos modos de vida com características regionais. A visita a essas atividades e equipamentos que compõem a realidade espacial do Vale do Paraíba trouxe subsídios para as análises empíricas que possibilitaram a compreensão mais ampla dos fenômenos em curso, e não apenas da dispersão urbana em si.

A reunião e confrontação dos elementos teóricos e empíricos possibilitaram a elaboração das análises que levaram à formulação da tese, conclusões e reflexões acerca das transformações urbanas recentes, do processo de dispersão urbana e do quadro da urbanização no Vale do Paraíba fluminense. Dessa maneira, o trabalho procura contribuir para as pesquisas sobre novas formas de urbanização, trazendo subsídios para a realização de análises dos processos urbanos e futuras propostas de instrumentos de planejamento e gestão dos espaços urbano e regional.

Os procedimentos metodológicos adotados na elaboração do trabalho constam de:  Revisão bibliográfica referente aos temas abordados no trabalho. O início

desta revisão teve como base o livro “Notas Sobre Urbanização Dispersa e Novas Formas de Tecido Urbano” (REIS, 2006) e as referências bibliográficas nele contidas. A pesquisa e aprofundamento teórico foram realizados em etapas, conforme as questões e temas emergiam ao longo do trabalho. Este procedimento se direcionou, a princípio, para os seguintes temas: o processo de dispersão urbana, com autores brasileiros e estrangeiros, como também exemplos internacionais e nacionais que apresentassem relatos do processo, sua evolução e consequências (incluindo o material produzido no LAP); as transformações nos processos sociais e na industrialização, envolvendo

novas tecnologias, formas de produção e de organização social; o Vale do Paraíba, abrangendo os antecedentes históricos, os ciclos econômicos e a formação dos municípios, sua caracterização e desenvolvimento urbano, a industrialização com a criação da CSN e seus rebatimentos espaciais e sociais; transformações e industrialização recente.

 Pesquisa de dados quantitativos e qualitativos, envolvendo fontes primárias e secundárias – IBGE, IPEA, fundações e órgãos estaduais SEADE, EMPLASA (SP) e CEPERJ (RJ) –, com indicadores e demais dados, destacando-se: informações geográficas; dados censitários e de séries históricas; Censo Demográfico de 2010; publicações com indicadores econômicos – PIB e atividade industrial; dados ambientais e territoriais dos municípios e das regiões, entre outros.

 Pesquisas de campo e levantamento fotográfico10 nos municípios fluminenses

e paulistas do vale, com observações empíricas, ao mesmo tempo em que procurou-se documentar o processo de dispersão urbana. Para as pesquisas de campo foram executados previamente mapeamentos das áreas de dispersão com imagens de satélite do programa Google Earth Pro, delimitando as áreas e os empreendimentos a servem visitados, bem como os percursos. Em campo, foram percebidos as formas e usos urbanos dispersos, como também os deslocamentos intra e extraurbanos, acompanhando-se a rápida evolução da dispersão no lado fluminense e atualizando as informações do projeto temático sobre o lado paulista. Cabe destacar ainda o trabalho de campo realizado na Região Metropolitana de Buenos Aires, observando-se as diferentes formas de dispersão urbana, associadas aos condomínios de luxo e ao transporte fluvial no noroeste desta metrópole.  Sistematização da bibliografia e dos dados levantados. O material trabalhado

na pesquisa foi organizado pelos temas abordados nos capítulos. O material coletado e as imagens dos trabalhos de campo foram selecionados, sistematizados, mapeados (conforme a figura apresentada a seguir), consolidados e analisados, de maneira a acompanhar a evolução da urbanização dispersa e orientar a elaboração da comparação entre os lados paulista e fluminense do vale. Neste confronto foram buscados as relações e

10 Parte das pesquisas de campo contou com a colaboração da bolsista de iniciação científica

contrastes entre as escalas espaciais, a formação do tecido urbano e os impactos sociais, entre outros.

 Elaboração de artigos científicos. Durante o período do doutorado foram preparados e publicados nove artigos científicos referentes aos diferentes estágios da pesquisa, com a participação em onze eventos nacionais e internacionais. Nesses eventos, destacam-se as sessões temáticas e livres do grupo de estudos “Urbanização Dispersa e Novas Formas de Tecido Urbano”, coordenado pelo Prof. Dr. Nestor Goulart Reis e centralizado no LAP, trocando-se informações e experiências com os demais pesquisadores.

Figura I.9 – Localização dos principais locais e municípios fotografados no Vale do Paraíba, destacados com pontos vermelhos. Fonte: Mapa do programa iPhoto com bases cartográficas do Google e Maplink.