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CAPÍTULO IV ANÁLISE E DISCUSSÃO DO DADOS

4.2. Análise de produções semi-controladas e livres

4.2.2. Hipergeneralização de regras

Este processo cognitivo é identificado quando o fenômeno, geralmente de natureza linguística, pode ser entendido como aplicação generalizada de regras e traços sintáticos da LE. Nas ocorrências do FS na prótase, encontramos

o fenômeno de “regularização” das formas verbais irregulares, que é também

comum por parte dos falantes nativos. Estudos recentes da LP, destacamos o de Reis (2008), avaliam esse fenômeno como um caso de variação linguística, todavia, a nossa abordagem neste trabalho volta-se para as estratégias usadas por aprendizes de PLE e nos revela pertinente analisar essas ocorrências como resultados de hipergeneralização de regras.

4.2.2.1. Construções com SE

Nas 20 amostradas analisadas, somente 3 delas apresentaram em todas as prótases condicionais do exercício 1 o emprego do FS. Nas demais amostras, ou o FS não foi utilizado ou apareceu em apenas uma ou duas construções cujo verbo é irregular e tem um uso muito frequente, como por exemplo os verbos ser  for e querer  quiser.

Vale observar, ainda, que nas construções condicionais com o FS pudemos

distinguir casos de “erros” e também dos chamados “lapsos”, em consonância com Corder (1967). Para definir “lapsos” em oposição a “erros sistemáticos”, Corder (1967,

p.37) apoia-se em Miller (1966) e esclarece que o termo “lapso” refere-se aos erros de

atuação e o termo “erro” é utilizado para falar daqueles erros sistemáticos dos alunos

que nos possibilitam reconstruir seu conhecimento da LE, os quais refletem sua

competência transitória. Para o autor, a diferença entre “erros sistemáticos” e “não sistemáticos” é que os primeiros estão relacionados à competência linguística, à

competência transitória e os segundos, a fatores externos como cansaço físico, nervosismo, grau de relaxamento etc.

Em uma das 3 amostras com o FS, em todas as prótases, das 11 construções feitas para o exercício 1, houve um único erro, que preferimos, neste caso, definir como lapso, pois se revela muito mais um problema de falta de atenção à concordância do verbo com o sujeito do que de falta de conhecimento das regras da LE:

(A_15) Se meus pais quiser viajar comigo na viagem dos meus sonhos, eu vou matá-los.

Não consideramos esse um exemplo de hipergeneralização de regras, diferentemente de outros exemplos como:

(A_17) Se um dos meus amigos dizer que não viajará mais vou estar muito contente!

Se não fizer sol nenhum dia, vou ficar deprimida. Se a minha professora dar uma prova depois da minha viagem, não gostarei nada disso.

Como se pode observar, o aluno conhece o valor do FS e o emprega nas suas construções condicionais eventuais/potenciais, porém, para alguns verbos como dizer e dar, cujas respectivas formas no FS seriam disser e der, ele aplicou a regra que conhece para os verbos regulares, que é coincidente com a forma do infinitivo. Os verbos regulares representam a grande maioria no paradigma verbal e, portanto, para o aluno é muito mais lógico e até mesmo prático,

estender a regra “geral”, ou seja, aquela que atende a maior parte dos casos para

os verbos irregulares, que são a minoria.

A construção seguinte traz um outro exemplo de generalização de regra que não funciona, justamente, por não ser coincidente a forma infinitiva do verbo irregular poder com a do FS, puder:

(A_2) Se não poder pagar o hotel porque terei perdido o meu cartão de crédito, pedirei uma ajuda aos meus amigos.

Temos, portanto, evidências do processo cognitivo de hipergeneralização de regras. O que nos possibilita identificar esse processo é justamente o caráter de sistematicidade dos erros, diferentemente da construção de A_15, em que a forma irregular é empregada adequadamente, mas não foi feita apenas a concordância com o sujeito da oração. Os erros de atuação se caracterizam por sua assistematicidade e os de competência, por sua sistematicidade.

4.2.2.2. Construções com QUANDO

Verificamos que a presença do FS na orações temporais com quando foi bastante significativa. Existem alguns fatores que devem ser considerados, pois podem ter exercido influência nesse resultado:

a) o aluno tinha a possibilidade de escolher 10 das 20 frases propostas como tema para a construção das orações temporais e a seleção das frases pode ter sido condicionada pelo grau de facilidade – preferência pelos verbos regulares ou conhecimento/fixação de formas irregulares muito recorrentes etc – que esses alunos apresentam diante de uma ou outra forma verbal;

b) a presença de um texto motivador – a tirinha – trazia o emprego do FS (atividade semi- controlada) e, ainda que não houvesse uma referência explícita à forma verbal, os alunos podem ter se baseado no modelo como parâmetro para as demais construções.

Uma maior ocorrência do FS implicou na verificação de muitos casos de hipergeneralização de regras, pois, nesse caso, os aprendizes reconheceram o contexto favorável ao emprego do FS e se valem das regras que conhecem para construir os

enunciados. A estratégia mais recorrente é a de “regularizar” os verbos irregulares,

como também observamos nas condicionais:

(A_4) Quando ser indipendente financeiramente, vou viver sozinha

Quando concluir a minha tese, vou ficar muito feliz.

Quando procurar o emprego dos meus sonhos, vou fazer uma boa carrera.

Quando querer viajar pelo mundo, não vou ter tempo para viajar.

Quando eu encontrar um animal abandonado, vou ajuda-lo para encontrar uma casa.

(A_10) Quando comprar um carro vou viajar muito.

Quando manter a calma para resolver um problema vou ter todos os meus problemas resolvidos.

Quando encontrar um animal abandonado vou ajudá-lo. Quando concluir a minha tese, vou ficar muito alegre. Quando perdir o meu cartão de crédito vou pedir um outro. Quando ser independente financeiramente vou comprar uma casa.

(A_13) Quando ter filhos vou educá-los.

Quando estar cansado de estudar vou trabalhar. Quando ver um cego atravessando a rua vou ajudá-lo.

A amostra seguinte evidencia que o aluno “fixou” algumas das formas

irregulares e, para outras, vale-se da estratégia de aplicar a regra dos verbos regulares:

(A_17) Quando eu ser independente financeiramente, vou comprar uma casa.

Quando eu fizer amigos estrangeiros, falarei muito com eles para praticar as línguas.

Quando ver um cego atravessando a rua, ajuda-lo-ei. Quando encontrar um animal abandonado, cuidarei dele.

Quando procurar o emprego dos meus sonhos, vou estar muito contente.

Quando quizer viajar pelo mundo, só vou fazer a mala e sair de casa.

4.2.2.3. Construções com ENQUANTO

A mesma estratégia de “regularização” dos verbos irregulares foi encontrada

para as construções com enquanto:

(A_9) Enquanto fazer as coisas como pensa o mundo, vai sempre ficar sempre resposta de nada.