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CAPÍTULO III – METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1. Natureza da pesquisa

A natureza de pesquisa deste trabalho é predominantemente de caráter qualitativo interpretativista, tendo como foco o processo de construção, de compreensão e de interpretação de significados, dando maior ênfase ao processo e não ao produto (LUDKE e ANDRÉ, 1986). Apesar de a nossa análise basear-se em princípios que regem a pesquisa qualitativa, também submetemos o conjunto dos dados a uma análise quantitativa, a fim de ilustrar a frequência de ocorrência dos tipos de erros encontrados.

Levaremos em conta os aspectos de natureza epistemológica mais recentes da área de Linguística Aplicada. Os procedimentos metodológicos aplicados às Ciências Naturais revelam-se inadequados às pesquisas desenvolvidas nas Ciências Sociais – as quais consideramos tão científicas quanto aquelas –, pois, diferentemente dos pressupostos teóricos positivistas, o mundo social, na ótica interpretativista, não existe independentemente do homem. Os significados atribuídos pelo homem e constantemente (re)interpretados conferem a existência de várias realidades a respeito do mundo que o cerca, e essas só são passíveis de interpretação. (MOITA LOPES, 1994)

A respeito dos princípios que configuram nossa conduta metodológica, André (1998) destaca o caráter da pesquisa qualitativa:

56 Entendemos o conceito de paradigma baseando-nos em Kuhn (2005, p.30), o qual sugere com esse termo que “alguns exemplos aceitos na prática científica real – exemplos que incluem, ao mesmo tempo, lei, teoria, aplicação e instrumentação – proporcionam modelos dos quais brotam as tradições coerentes e específicas da pesquisa científica.”

em oposição a uma visão empiricista de ciência, busca a interpretação em lugar da mensuração, a descoberta em lugar da constatação, valoriza a indução e assume que fatos e valores estão intimamente relacionados, tornando-se inaceitável uma postura neutra do pesquisador. (ANDRÉ, 1998, p.17)

Os fenômenos observados são relatados de forma descritiva, tentando-se analisar os dados em toda a sua riqueza e tendo sempre em vista o significado das atividades desenvolvidas na perspectiva dos sujeitos da pesquisa, ou seja, percebendo-se aquilo que eles experimentaram e o modo como interpretaram essas experiências, conforme propõem Bogdan e Biklen (1994), em estudo sobre a investigação qualitativa na educação.

De acordo com Moita Lopes (1994, p.331-332), o fator qualitativo é justamente o particular, o contingente, o específico, a partir do qual se pode pensar no conceito de

“generalização construída intersubjetivamente” e, assim, os aspectos processuais do

mundo social passam a ser o foco dos estudos dessa natureza em vez do produto padronizado e verificável em experimentos. É por meio do viés interpretativista que

ocorre o acesso indireto ao fato de pesquisa “através da interpretação dos vários significados que o constituem”.

A escolha pelo paradigma de pesquisa se deu devido aos nossos propósitos analíticos, que visam a interpretação da percepção dos participantes do contexto delimitado e das produções textuais escritas dos alunos. Realizamos um estudo transversal e a forma de investigação tomou como consideração os nossos dados, buscando compreendê-los e não lhes atribuir um tratamento experimental.

São três os critérios de investigação contemplados por Giorgi (1985) como sendo relevantes na postura investigativa do pesquisador, para que seu estudo seja caracterizado de cunho científico. A investigação, portanto, precisa ser:

a) metódica (procedimentos de investigação têm que estar claros); b) sistemática (o conhecimento produzido deve ser inter-relacionado, ou seja, a investigação de uma determinada questão não pode ignorar outras); c) criticada pelo próprio pesquisador e oferecida à crítica dos pares na comunidade científica (GIORGI, 1985 apud MOITA LOPES, 1994, p.333).

Dentro da tradição interpretativista, reconhecemos a relevância do pesquisar se valer do metaconhecimento, ou seja, ter consciência dos processos de investigação e assumir uma postura reflexiva e crítica durante a produção do conhecimento, de modo a garantir a confiabilidade e a validade da pesquisa (MOITA LOPES, 1994).

3.2. Contexto da investigação

Os dados foram coletados numa universidade da região central da Itália, na qual a língua portuguesa está presente no rol das disciplinas ofertadas pelo Departamento de Letras.

O departamento assume todas as funções científicas, didáticas e formativas dos cursos que o compõem. As faculdades foram substituídas pelos departamentos com a Lei da Reforma da Universidade (n.240/2010). A partir de 1º de janeiro de 2014, entrou em vigor o novo Estatuto da Universidade e a Faculdade de Letras e Filosofia e os velhos departamentos deixaram de existir e no seu lugar estão ativos os novos departamentos de Letras – Línguas, Literaturas e Civilizações Antigas e Modernas, Filosofia, Ciências Humanas, Sociais e de Formação.

O Departamento de Letras oferece uma específica formação cultural e os instrumentos necessários para que os alunos assumam uma posição crítica com a realidade, além de dividir a didática dos setores científicos-disciplinares nos cursos de graduação e de especialização. Os cursos de graduação, conhecidos como triennale têm duração de três anos e os de especialização, conhecidos como magistrale, de dois anos. O aluno tem a possibilidade de obter seu diploma de formação após os três anos de curso equivalentes à graduação, mas se quiser obter também o título de especialização, deve cursar os dois anos da magistrale, que lhe proporciona a possibilidade de seguir a carreira acadêmica e ingressar no curso de doutorado. Os cursos oferecidos pelo Departamento de Letras dessa universidade são:

 Bens culturais, Arqueologia e História da Arte;

 Letras, Italianística e História Europeia, Civilizações Clássicas;

 Línguas, Culturas Estrangeiras e Línguas, Literaturas Comparadas e Traduções

 Doutorado em História, Artes e Linguagens na Europa Antiga e Moderna (XXX

Ciclo);

Para esta pesquisa, contribuíram os alunos dos cursos de Línguas e Culturas Estrangeiras (triennale) e de Tradução Intercultural (magistrale). A possibilidade de atuação no mercado de trabalho é bastante ampla para esses alunos, que podem trabalhar como professores nas escolas ou até mesmo nas universidades, se concluírem o curso de doutorado, como tradutores e intérpretes e nas áreas de mediação linguística dos setores de turismo, relações internacionais etc.

No primeiro ano da triennale, os alunos devem escolher obrigatoriamente duas línguas estrangeiras – de acordo com suas preferências e interesses – e estudar ao longo dos três anos também a sua literatura. Sucessivamente, no curso da magistrale, eles também devem cursar duas línguas estrangeiras, acompanhadas da literatura, porém é exigido um nível de conhecimento dos idiomas que varia de acordo com a disciplina a ser cursada. No caso da Língua Portuguesa, o nível requerido para o curso da magistrale é o C1.

Devido a razões políticas, geográficas e econômicas, o português ensinado nessa universidade seguia, predominantemente, a variante europeia. Nos dois últimos anos, após algumas mudanças nos cursos, a variante brasileira tem ganhado mais espaço e visibilidade, tanto nas aulas ministradas pelos professores, como nos acordos realizados em maior número com as universidades brasileiras.

Além das aulas de português ministradas na universidade pelas professoras da cátedra de português (uma portuguesa e outra brasileira), os alunos frequentam o CLA (Centro Linguístico Ateneo), cujas aulas são realizadas pelas professoras leitoras (ambas portuguesas). O objetivo do CLA é fazer o aluno praticar mais a língua estrangeira e se inteirar da nova cultura, exercícios de áudio são bem explorados nos laboratórios e a ênfase na comunicação é o ponto principal dessas aulas. Já na universidade, o foco é dado às questões linguísticas mais específicas, a exercícios de tradução e ao estudo da literatura. Dessa forma, o ensino de PLE nessa instituição se divide didaticamente em duas frentes que atuam contemporaneamente no desenvolvimento de todas as competências linguísticas necessárias ao processo de aquisição/aprendizagem dos alunos.

Os materiais utilizados em sala de aula são elaborados pelos docentes e são bastante diversificados, não há um livro didático ou uma gramática que seja seguida

desde o primeiro ano do curso. As fontes desses materiais são predominantemente calcadas em textos autênticos, como reportagens, vídeos, filmes, músicas, notícias de jornais, artigos acadêmicos, obras literárias, sites etc.,) e incluem, também, exercícios variados: preenchimento de lacunas, tradução da LE para a língua materna e vice-versa, leitura e interpretação textual, produções escritas e orais.

As avaliações das disciplinas dividem-se em duas modalidades: orais e escritas. Na Itália, diferentemente do Brasil, são mais frequentes os exames orais – em todos os cursos – e acreditamos que, principalmente no contexto de ensino e aquisição/aprendizagem de línguas estrangeiras, a comunicação oral deve ser, de fato, explorada e direcionada para contribuir na autonomia do aluno no uso do novo sistema linguístico para articular seus conhecimentos e expressar sua opinião.