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Mapa 8-8 – Ações encontradas ON ou Outros Negativo (+HARNIK)

5 CENTRAL PARK-1 SCRIPT

5.1 Breve História

Em seu prefácio para o “Central Park: An American Masterpiece”, Keneth Millera diz

que o Central Park de Nova Iorque não é o mais antigo espaço livre público, nem o maior e nem o mais bonito, nem dos Estados Unidos nem do mundo, mas é o mais importante dos Estados Unidos, por ter sido “...o primeiro grande espaço livre destinado intencionalmente para o cidadão comum numa cidade próspera e ambiciosa.”1 (MILLER, 2003, p.7).

Todos os autores consultados confirmam quase unanimemente que até o advento do CP, primeiramente não existia o que hoje conhecemos como ‘parque público’, como lugar destinado ao ‘cidadão comum’ de Jackson. Havia, sim, grandes parques privados, pertencentes à aristocracia abertos apenas a convidados e a nobreza, e apenas o Birkenhead Park, de Manchester havia sido criado como espaço projetado e destinado ao cidadão comum.

Um dos elementos mais citados pelos autores como justificativa para a criação do CP é o extraordinário aumento da população de Nova Iorque em meados do século XIX, num episódio equivalente ao ‘crowding’ contemporâneo. Aqui consideramos como crowding, “...a resposta psicológica das pessoas à densidade, isto é, a sensação de estar sendo comprimida, de estar tendo uma falta de privacidade, de estar tendo um aumento de interações indesejadas ou angústia psicológica.”2 (GREY, 2001, p.8). A população da cidade que era de 70.000

habitantes em 1800, saltou para meio milhão em meados de 1850 (SLAVICEK, 2009) devido uma série de ocorrências que influiriam em seu futuro. Segundo Martin, o apinhamento era tal que em “...alguns lugares 100.000 pessoas eram espremidas em 2.600 m2” (MARTIN, 2011,

p.126), o equivalente a 3,87 pessoas por m2.

Para Rosenzweig e Blackmar (1992, p.18) o Central Park emergiu “de uma complexa mistura de motivações – fazer dinheiro, exibir a cultura da cidade, erguer o pobre, refinar o rico, aumentar os lucros comerciais, inibir a expansão do livre-comércio, melhorar a saúde pública, obter favores políticos, fornecer empregos”3.

De fato, por volta da década de 1820 para albergar mais e mais moradias o que a cidade tinha ganhado em aumento populacional, tinha perdido em áreas livres. Em 1806 foi sancionada uma lei criando uma comissão para planejar e projetar melhorias em toda

Manhattan, formada por Simeon De Witt, John Rutheford e Gouverneur Morris, e que apontou John Randel Jr (SPANN, 1988, p.17), para fazer o levantamento de toda a ilha.

[Em 1811] ...a comissão decidiu por um plano reticulado simples, sem nenhum respeito pelo terreno natural subjacente. Superposta ao levantamento topográfico que Randel havia realizado entre 1808 e 1810 estava a inexorável grade que tem definido a cidade desde então: 12 avenidas no sentido norte-sul, todas com 30m de largura, e 155 ruas no sentido leste-oeste, 15 com largura de avenidas e 140 com largura de 18 metros.4 (HECKSHER,

2008, p. 8).

A malha do Plano de 1811b, como ficou conhecida, aqui apresentada por William

Bridges em 1814 (Mapa 5-1), foi bastante criticada, inclusive pela própria Comissão, considerando, por exemplo, que “imposição da retícula sobre terreno irregular implicava em custos exorbitantes tanto para preparar o gerenciamento da retícula das ruas quanto para fornecer drenagem adequada.”5 (SPANN, 1988, p.25).

Mapa 5-1–Plano de Randel, com a área do The Parade (verde), e a localização atual do Central Park (vermelho).

FONTE: http://goo.gl/Ys0l9C. Acesso em: 30/01/2014.

A Comissão também indicava que o Plano era sem imaginação, desdenhoso da paisagem natural e servir “habilmente aos proeminentes interesses do desenvolvimento imobiliário e as necessidades do comércio da Cidade”6 (HECKSHER, 2008, p.9), parecer

compartilhado por García-Posada ao afirmar que “A retícula de 1811 foi defendida por seus autores como algo que facilitava a compra, venda e melhoria da propriedade imobiliária” (2007, p.223). Por sua vez, as lideranças comercial e cultural da cidade, tinham outra perspectiva e:

...estavam alarmadas pela rapidez com que os prados e florestas de Manhattan, outrora abundantes, estavam desaparecendo. Temerosas de que toda a ilha logo fosse pavimentada, tornaram-se determinadas em assegurar um espaço verde de deleite para todos os Nova- iorquinos antes que fosse tarde demais.7 (SLAVICEK, 2009, p.11).

Em outras palavras, Nova Iorque estava perdendo rapidamente os espaços livres, para incorporar o boom imobiliário e o crowding decorrente. Um bom exemplo dessa rapidez foi o

b O Plano 1811 de Nova Iorque está disponível em: http://www.library.cornell.edu/Reps/DOCS/nyc1811.htm. Acesso em:

encolhimento dos espaços livres, ditos praças, como no caso da Union Place e do Market Place que tiveram o tamanho reduzido em 1812. Mas nada tão dramático quanto o caso do The Parade, um retângulo de cerca de 960 m2, entre a 3ª e 7ª avenidas e as ruas 23 e 32, reduzido em 1814, novamente em 1819 e eliminado em 1929 (Mapa 5-2); atualmente sua área é cortada diagonalmente pela Avenida Broadway e termina no edifício Empire State. Na época a Comissão “...justificou a modéstia de espaços livres reservados para ar fresco e necessidades de saúde em razão do mar circundante fornecer bastante ar puro e a terra ser muito cara.”8 (HECKSHER, 2008, p.9).

Portanto, em pleno século XIX, Nova Iorque era caótica, apinhada (crowded) pela emigração maciça, com sérios problemas de saúde pública, carente de serviços básicos de esgotamento e drenagem, com arruamento desordenado e enfrentando a eliminação dos poucos espaços livres (verdes ou não) que dispunha. Os limites da cidade começaram a se expandir para o norte, engolindo mais áreas e forçando a criação de outras, compensatórias (Mapa 5-2).

Mapa 5-2–Expansão territorial de Manhattan em 1814 (esquerda), e 1836 (direita) onde já não se vê o Parade.

FONTE: Disponível em: http://goo.gl/fXoAB. Acesso em: 30/01/2014.

Um bom exemplo destas trocas é o The Parade e o surgimento da Madison Square logo acima, como compensação. Por volta de 1850, a expansão urbana já havia chegado ao norte da ilha de Manhattan, transformando as áreas livres disponíveis em mais itens urbanos (Mapa 5-3).

Mapa 5-3- Nova Iorque em 1850, com a zona de adensamento ao sul (esquerda) e a expansão ao norte (direita).

FONTE: http://goo.gl/gE2qCM Acesso em: 30/01/2014.

Essas e outras situações contextualizaram a urgência pela criação de uma área de ‘respiração’ numa cidade cada vez mais asfixiada pelo crowding e, no momento, enfrentando todas as más consequências da industrialização maciça. A carência de espaços livres para uso da população tinha chegado do ponto de se utilizar os cemitérios como substituto de parques.

Em sua busca por um lugar “aprazível” onde se caminhar ou cavalgar, muitos Nova- iorquinos ficaram reduzidos a visitar os cemitérios rurais próximos. Com seus inúmeros lagos, amplas colinas e trilhas sinuosas, o Cemitério Green-Wood no Brooklin era um destino favorito para milhares de famílias de Manhattan famintas por natureza. Após a inauguração do cemitério de quase 2000 m2, em 1838, foram tantos os Nova-Iorquinos que

começaram a passar suas tardes de domingo em Green-Wood que os superintendentes do cemitério decidiram que seria uma boa ideia emitir bilhetes de entrada. (SLAVICECK, 2009, p. 12).9

A situação, portanto, exigia uma solução não só rápida como eficiente e ao alcance da ambição e limites político-financeiros de Nova Iorque. Uma série de apelos começaram a pedir a criação de um parque para a cidade, ao modo das grandes metrópoles europeias. Segundo Martin (2011) o primeiro destes apelos foi em 1785, assinado por uma misteriosa personagem chamada “Veritas”. Em 1851 o Prefeito Ambrose Kingsland pediu a criação de um parque público com base na necessidade de adequação aos novos tempos e às necessidades da população, fazendo a proposta sem precedentes de se “(...) apropriar do dinheiro público para estabelecer um grande parque público” (ROSENZWEIG e BLACKMAR, 1998, p.18). Mas foi, definitivamente, através de William Cullen Bryant e Andrew Jackson Downing, que surgiu o verdadeiro apelo.