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Mapa 8-8 – Ações encontradas ON ou Outros Negativo (+HARNIK)

4 FREDERICK LAW OLMSTED

4.3 Influências

Aqui compreendemos dois tipos de influências: aquelas que moldaram FLO e aquelas que ele imprimiu a diversos setores, não só ao longo de sua vida, como as que permaneceram após sua morte. Aquelas que o moldaram estão contidas em livros, vivências e experiências adquiridas ao longo de sua vida, notoriamente heterodoxa, e obsessivamente metódica (MARTIN, 2011).

Na biblioteca pública de Hartford ele foi apresentado à arte do paisagismo, através do

Remarks on Forest Scenery, and Other Woodland Views (Notas sobre o Cenário Florestal e

Vistas de Outros Bosques) de William Gilpin, publicado em 1790. Entretanto, o livro que mais exerceu influência na sua teoria, foi An Essay on the Picturesque (Ensaio sobre o Pitoresco) de Uvedale Price, publicado em 1794. Price foi um teórico e cabeça do movimento ‘Pitoresco' (descrito no capítulo 3) que desembocaria no Movimento da Paisagem Urbana de 1949. Já maduro FLO declararia o livro de Price como ‘um dos mais importantes da História do Paisagismo' (RYBCZYNSKI, 1999). Beveridge (2000), no entanto, ressalta que os livros que mais influenciaram FLO foram Sketches and Hints on Landscape Gardening (Esboços e Dicas de Paisagismo), de 1795, e The Theory and Practice of Landscape Gardening (A Teoria e Prática do Paisagismo), de 1803, ambos de Humphry Repton. O próprio FLO descreve estes livros como

“(...) os melhores do século passado, mas que estimo mais que qualquer outro publicado desde então, pois estimulam [de tal forma] o exercício de julgamento em assuntos de minha

arte, que os coloco nas mãos de meus alunos assim que chegam ao nosso escritório (...)” (BEVERIDGE, 2000).

Ele também teve acesso à biblioteca do avô, carregada de livros sobre elementos naturais e paisagísticos, os quais devorou avidamente. Dentre os livros ai encontrados ele destacou o Solitude, de Johann Georg Zimmermannr, o qual adotaria para o resto da vida,

influenciando suas teorias e a vida pessoal, e que “recomendava recorrer aos refúgios rurais e à contemplação da natureza como um corretivo para as desgastantes condições da vida urbana” (SCHEPER, 1989, p. 374).

Para Beveridge (2000) uma influência decisiva na organização dos projetos de parque foi a de Horace Bushnell, que durante muitos anos trabalhou como pastor entre as famílias de Hartforfd, e dava grande importância à “influência inconsciente” da/na sociedade. Para entender essa relação é essencial compreender um pouco do universo Protestante da época. A princípio, a relação dos primeiros colonos com a natureza recém-descoberta não foi amistosa, pois o que de fato vigorava entre os primeiros colonizadores (first settlers) tinha muito mais a ver com o Utilitarianismo de John Stuart Mill do que com o pastoralismo rural de Jefferson ou o Transcendentalismo de Emerson.

A duzentos anos atrás a hostilidade fundamental dos Puritanos em relação à natureza foi resumida na máxima de Cotton Matherssde que “o que não é útil é iníquo” – uma opinião,

explica Robert Elman, “que se relacionava a qualquer planta ou criatura que não pudesse ser comida, usada, vendida ou utilizada de outro modo” (SCHEPER, 1989, p. 375).

Nos Estados Unidos do século XIX, o modelo ético-religioso não tinha sofrido alterações substanciais em seu corpus, embora houvesse uma proliferação de cultos liberais advindos de movimentos reformistas que terminariam colaborando para um tipo de feminismo específico. Scheper especula que “a mudança da ortodoxia Calvinista para as várias formas de ortodoxia Protestante liberal e o fenômeno paralelo do movimento da influência moral da mulher” (1989, p. 377) é importante para compreender a localização de FLO na história intelectual americana. Mais adiante o autor conclui que, embora FLO não fosse um clérigo ativo, esteve:

(...) fortemente alinhado a esses movimentos reformistas, que Irving Fishert caracterizou

como um deslocamento da filosofia moral ascética para a estética, e que Ann Douglasu

rotulou de feminização da cultura Americana”. Douglas propos. Haver um paralelo entre o desligamento clerical e a mulher no século dezenove e que ambos os grupos, as mulheres de maneira geral e o clero liberal especificamente, encontraram-se desligados do genuíno

r Johann Georg Zimmermann (1728-1795) – escritor filosófico, naturalista e médico suíço.

s Cotton Mathers é mais conhecido pela sua atuação no processo inquisitorial instaurado em Salem, onde 20 pessoas foram

queimadas pela acusação de bruxaria.

t Irving Fisher (1867-1947) – economista, estatístico e inventor norte-americano

u Ann Douglas – professora emérita de literatura comparada e inglesa da Universidade de Columbia, autora de The Mother of

poder e autoridade na sociedade e reduzidos, ao invés, ao papel de meros manejadores de “influência” (idem, 1989, p. 337)2

É nesse sentido de ‘exercer a autoridade com destreza’ (to wield) que Bushnell leva adiante sua interpretação. Segundo Beveridge (2000), Bushnell acreditava que “a influência mais importante e constante que as pessoas exerciam umas sobre as outras não era verbal, mas antes uma silenciosa emanação de seu verdadeiro caráter que se mostrava em sua conduta habitual e fazia-se sentir num nível abaixo da consciência”. Scheper (1989) sugere que enquanto o Calvinismo enfatizava o dogma, o trabalho e o dever, Bushnell declarava que a humanidade havia sido criada para ser feliz e se divertir ao invés de criada para a labuta e que idealmente o desempenho do dever devia ser não autoconsciente.

Houve uma outra forma de educação, mais informal e importante para FLO: a dos pais que partilhavam do gosto pela natureza e enfatizavam isso através de longos passeios pela paisagem silvestre do Connecticut, com FLO sentado à sela do cavalo de seu pai. Aqui temos talvez a primeira influência genuína na construção de seu caráter, uma vez que esses passeios pela majestosa paisagem montanhosa eram acompanhados de silenciosa e quieta reverencia. Numa destas incursões o menino, carregado nos ombros do pai, apontou uma estrela no céu, o pai o abraçou e murmurou algo sobre o "amor infinito" que sentia por ele (MARTIN, 2011). Beveridge (2000) corrobora essa ligação argumentando que a maior influência de FLO “veio de seu pai”.

Embora prosaico, este é o elemento construtivo de caráter mais duradouro em FLO, tendo o acompanhado vividamente até o fim de seus dias: o amor infinito e incondicional de um pai pelo filho. Quiçá, tenha sido essa relação entre o “amor infinito” do pai e o infinito do céu acima, naquela paisagem grandiosa, que tenha determinado a visão do sublime que mais tarde seria sua marca mais persistente. O Pai morreu em 25 de Janeiro de 1873 aos 81 anos de idade, mas a mensagem permaneceu viva.