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Apesar do exposto no item anterior permitir uma visão abrangente da história da Educação a Distância no mundo, não se pode dizer que a mesma visão se aplica ao Brasil.

O Brasil, no que se refere à Educação a Distância, encontra-se em desvantagem ao que vem acontecendo no panorama internacional. O assunto somente começou a ser discutido no país, com o interesse e a seriedade necessários, de maneira ampla, praticamente a partir dos últimos seis anos. Antes disto, A Educação a Distância era discutida de maneira pontual ou legada a um segundo plano no contexto educacional.

Conforme constata Carvalho (1997) ao observar a participação do Brasil nas Primeiras Jornadas de Educação a Distância do MERCOSUL, em setembro de 1997:

“Participaram cerca de 150 pessoas de várias instituições privadas e governamentais, principalmente, instituições de ensino e pesquisa, não somente dos países do Mercosul, mas também das três Américas. O maior número dos participantes era oriundo da Argentina, do Brasil e do Chile. Havia representantes oficiais dos governos (Ministérios da Educação) do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai”.

“Sem dúvida alguma o Brasil está menos adiantado na área de ED do que muitos outros países participantes das Jornadas, principalmente - em se tratando apenas da América do Sul - em relação ao Chile (o mais adiantado) e à Argentina2”.

A observação acima mostra um interesse brasileiro pelo tema, apesar de, na época, o Brasil não ter apresentado trabalhos na mesma proporção e porte que outros países participantes.

Para se entender os motivos desta defasagem, é necessário recorrer a um pouco da história da Educação a Distância no Brasil.

Os principais marcos históricos da Educação a Distância no Brasil, conforme apresentado por Alves (1998, p. 2), Volpato et al ( ____ , p. 2) e Nunes (1994, p. 2) são:

1891- Registro de anúncio oferecendo profissionalização por correspondência (datilógrafo), na primeira edição da seção de classificados do Jornal do Brasil. 1904- Implantação das "Escolas Internacionais", representando organizações norte-

americanas.

1923- Oferta, pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, de educação pelo rádio. A emissora foi doada ao Ministério da Educação e Saúde em 1936 e, no ano seguinte, foi criado o Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério da Educação.

1939- Fundação, em São Paulo, do Instituto Rádio Técnico Monitor, com opção no ramo da eletrônica.

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De acordo com o representante do Governo Argentino existem, como resultado de um projeto governamental, 40.000 alunos de ED em Buenos Aires. Há três anos atrás eram 1.000.

1941- Início das atividades do Instituto Universal Brasileiro3, voltado para a formação profissional.

1943- Lançamento, pela Igreja Adventista, da Escola Rádio-Postal, com "A Voz da Profecia", com a finalidade de oferecer, aos ouvintes, cursos bíblicos por correspondência.

1946- Início, no Rio de Janeiro e São Paulo, das atividades da Universidade do Ar, do SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, que em 1950 já atingia 318 localidades e 80 alunos.

1959- Criação, pela Diocese de Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, de algumas escolas radiofônicas, dando origem ao Movimento de Educação de Base.

1962- Fundação, em São Paulo, da Ocidental School, de origem americana, sendo atuante no campo da eletrônica. Possuía, em 1980, alunos no Brasil e em Portugal.

1967- Início das atividades em Educação a Distância do IBAM - Instituto Brasileiro de Administração Municipal, utilizando a metodologia de ensino por correspondência.

1967- Criação do Núcleo de Ensino a Distância da Fundação Padre Landell de Moura, com metodologia de ensino por correspondência e via rádio.

Conforme apresentado por Alves (1998, p.2), a Diocese de Natal em 1959 marcou a Educação a Distância no Brasil. Este destaque é importante para que se possa chegar a algumas conclusões, se adicionado às afirmações a seguir.

Na afirmação de Nunes (1994, p. 2):

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De acordo com a propaganda veiculada pelo Instituto Universal Brasileiro em revistas leigas, principalmente as de histórias em quadrinhos, já estudaram no instituto, nestes mais de 50 anos, mais de 3.200.000 pessoas, o que é um número muito expressivo. Apesar da tendência do meio acadêmico em menosprezar os cursos oferecidos pelo instituto, é importante deixar registrado que tais cursos foram responsáveis pela formação de muitos brasileiros, que puderam exercer, com os conhecimentos adquiridos, uma profissão, mesmo que modesta.

“Entre as primeiras experiências de maior destaque encontra-se certamente, a criação do Movimento de Educação de Base MEB, cuja preocupação básica era alfabetizar e apoiar os primeiros passos da educação de milhares de jovens e adultos através das "escolas radiofônicas", principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Desde seus primeiros momentos, o MEB distinguiu-se pela utilização do rádio e montagem de uma perspectiva de sistema articulado de ensino com as classes populares. Porém, a repressão política que se seguiu ao golpe de 1964 desmantelou o projeto inicial, fazendo com que a proposta e os ideais de educação popular de massa daquela instituição fossem abandonados.“

Completando, Carvalho (1997) apresenta:

“Conforme relatou a Profa. Eda, em sua palestra nas Jornadas4, a ED no Brasil praticamente teve seu início, de maneira mais ampla, nos primórdios da década de 1960. Nesta época a Dra. Eda foi convidada pelo Bispo D. Fernandes (Paraná) para fazer um curso sobre ED, para poder desenvolver um projeto de ED para o Paraná, que envolvia 45 escolas da zona rural. O curso em questão era oferecido pela igreja Católica em Natal no RN, sob o incentivo de D. Eugênio Sales. O grupo de Natal detinha o conhecimento do assunto, devido a experiência da utilização de ED para as comunidades carentes da região. Participava deste grupo de ED a Profa. Julieta Calazans.

A Profa. Eda conta que quando da ascensão do governo militar, alegando motivo de segurança, os cursos de ED foram perseguidos, fechados e as iniciativas neste campo tachadas de subversivas. ... Nesta época a Profa. Eda freqüentava o curso em Natal há pouco mais de um mês e foi acusada de subversão. O projeto do Paraná não pôde ter prosseguimento ...”.

Pelo apresentado, nota-se que dois motivos tiveram importância relevante para o descrédito da Educação a Distância no Brasil, contribuindo para o seu desenvolvimento descompassado em relação a outros países: num primeiro momento, a falta de qualidade no serviço dos correios e, posteriormente, a atuação do governo militar, a partir da década de 1960, controlando o conteúdo a ser divulgado no Ensino a Distância, logicamente de forma antipática aos educadores.

Finalmente, a citação de Nunes (1994, p. 3) é oportuna para complementar a conclusão deste item:

“As experiências brasileiras, governamentais, não-governamentais e privadas, são muitas e representaram, nas últimas décadas, a mobilização de grandes

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A Profa. Dra. Eda Coutinho Barbosa Machado de Souza é coordenadora da Cátedra UNESCO de Educação a Distância da Universidade de Brasília. As informações apresentadas em sua palestra nas Primeiras Jornadas de Educação a Distância do Mercosul e aqui descritas, foram posteriormente confirmadas, pelo autor deste relatório, com a própria Profa Eda, por telefone, com o objetivo de evitar erros de interpretação.

contingentes de técnicos e recursos financeiros nada desprezíveis. Contudo, seus resultados não foram ainda suficientes para gerar um processo de irreversibilidade na aceitação governamental e social da modalidade de educação a distância no Brasil. Os principais motivos disto são a descontinuidade de projetos, a falta de memória administrativa pública brasileira e certo receio em adotar procedimentos rigorosos e científicos de avaliação dos programas e projetos.”

1.3 – Conceituação

Um bom modo de se iniciar este item é através do apresentado em Niskier (1999, p.19):

“Da mesma forma que sucedeu com as idéias de Jean Piaget, em que se estabeleceu uma grande discussão se constituiriam um método ou uma teoria, com clara propensão para esta segunda hipótese, a educação à distância inspirou uma série de conceitos aparentemente díspares: tratar-se-ia de modalidade, metodologia ou tecnologia?

Sem entrar no mérito da questão etimológica, sem dúvida a EAD pode ser apresentada, como tem ocorrido em seminários internacionais, como a tecnologia da esperança. Há uma expectativa positiva de que possa representar um esforço considerável à política de recursos humanos de nações interessadas no progresso e que dependerão dessa tecnologia educacional para alcançar uma aprendizagem construtiva. ...”.