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História da Educação Especial na rede estadual de ensino

4 UM TEATRO-ESCOLA: DIVERTIMENTO E APRENDIZADO AO

4.1 PRIMEIRO ATO: O CONTEXTO DA REDE ESTADUAL DE ENSINO E AS

4.1.3 História da Educação Especial na rede estadual de ensino

Faz-se necessário conhecer a história como ponto de partida para uma análise que nos oriente o olhar para o presente e a identidade construída em processo. A história da Educação Especial no Espírito Santo tem sido marcada por contradições, pois, de acordo com os dados coletados, percebemos ações feitas em um movimento de escolarização dos alunos com deficiência, TGD e altas habilidades/superdotação no ensino regular, mas, ao mesmo tempo, a rede estadual mantém, em parceria com as Prefeituras, as instituições especializadas. Esse foi o espaço que predominantemente atendeu a esses alunos e muitas vezes a “escolarização” acontecia somente neles.

Assim, recentemente, tem havido um esforço conjunto de modo que a escolarização desses alunos possa ser efetivada nas escolas comuns. Diante disso, pela via da entrevista (APÊNDICE E), tentamos conhecer um pouco dessa história, ao entrevistar a coordenadora da Educação Especial.

A coordenadora da Educação Especial no Estado resgata um pouco dessa história. Destacamos que sua narrativa traz características pessoais, com seu modo de narrar esta história, seu olhar, sua implicação e sua subjetivação no processo vivido. A esse respeito entendemos que esta história tem sido contada como pertencente à Educação Especial da rede estadual do Espírito Santo, contudo lembramos que esta história foi subjetivada de diferentes formas, nos diferentes contextos geográficos e escolares do Estado, considerando fatores locais, como os sujeitos e a cultura, presentes em cada local que viveu/vive a história.

[...] a Sedu iniciou em 1957 e, como outros Estados também, a rede estadual está bastante em consonância com as orientações em nível

nacional, sempre esteve. Então, quando a orientação era classes especiais, a secretária de Educação daqui do nosso Estado tinha classes especiais em menor escala, é claro. De 1950 para cá, houve uma ampliação muito intensa das escolas especiais de caráter filantrópico também em nível nacional e nível estadual. Agora, a partir da década de 90, da declaração de Jontiein, Declaração de Salamanca, primeira metade da década de 90, a Sedu iniciou o processo de transformação da sua classe especial em sala de recurso, sabendo-se que a maioria dos alunos com deficiência mental eram atendidos na rede filantrópica, Apaes e Pestalozzis. Nesse processo, a gente vem, gradativamente, ampliando. É claro que houve momentos em que esse número de alunos ampliou. Quando iniciou a sala de recurso, ela era para crianças com deficiência mental e dificuldade de aprendizagem. A própria Resolução nº 2 ela traz isso. [...] a gente observa que a maior parte dos alunos que estava na sala de recurso eram crianças que não apresentavam deficiência. Tinha crianças com deficiência, ‘mental’, mental, tô falando da área de deficiência mental, então, boa parte dos alunos apresentavam dificuldades de aprendizagem sem ter a comprovação que tinha uma deficiência ou não. As crianças com deficiência estavam mais presentes nas instituições filantrópicas, com isso na Secretaria de Educação houve um movimento. Foi até em um período que eu não estava presente aqui, em que reduziu o número de salas de recursos, uma vez que isso foi detectado. Então houve uma redução, apesar de que a Resolução nº 2 diz que a Educação Especial deve atender os alunos com dificuldade de aprendizagem também. Quando nós retornamos, de 2007 para cá, destaco que houve um período em que a Educação Especial, a equipe de Educação Especial, ficou junto com a equipe de inclusão e diversidade, então era uma pessoa representando a Educação Especial dentro da equipe de inclusão e diversidade. Com isso, o trabalho, os atendimentos reduziram bastante. Não tinha equipe de Educação Especial, era um representante. Esperava-se que essa equipe pudesse responder, mas não se percebeu que não estava respondendo. Em 2007, foi criada a Subgerência de Educação Especial, então aí nós constituímos a equipe. Eu entrei como subgerente e, gradativamente, a gente foi ampliando tanto o número de pessoas aqui como pessoas responsáveis pela nossa superintendência, sala de recursos e contratação de professores. Então, de 2007 para cá, a gente vem ampliando, hoje a gente tem cerca de 200 salas de recursos em todo o estado. Nós estamos em processo de organização. Às vezes tem o equipamento, tem professor, mas o espaço ainda não está adequado. Nós estamos ainda organizando essas salas de recursos. Algumas ainda não receberam todos equipamentos, então a gente está nesse processo de organização desse espaço, e uma dessas questões de organização é a orientação e a formação desse profissional, que atua e que está na sala de recurso atualmente (COORDENADORA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO, 2010).

O documento “Diretrizes da Educação Especial na Educação Básica e Profissional para a Rede Estadual de Ensino – Educação Especial: Inclusão e Respeito à

Diferença” (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, 2010), baseado nas orientações do Ministério da Educação (MEC), divulgado e publicado em novembro de 2010, destaca pontos centrais dessa história. Vejamos o trecho:

De acordo com os documentos que integram o acervo da Subgerência de Educação Especial, o atendimento na área da Educação Especial no Estado do Espírito Santo teve seu início em 1957, com a criação da classe especial para atendimento a alunos que apresentavam deficiência auditiva no Parque Infantil Ernestina Pessoa, dando origem, mais tarde, em 1960, à Escola Especial Oral e Auditiva. Em 1964, foi criada a primeira classe especial para deficientes mentais no Grupo Escolar Suzete Cuendet [...]. Por meio do Decreto n.º 917/76 criou-se o Setor de Educação Especial, inserido no Departamento de Educação Supletiva. Em 1980, foi realizado o I Encontro Estadual de Educação Especial e, em 1983, foi implantado na E o Serviço de Avaliação e Triagem de alunos para classes especiais, constituído por uma equipe multidisciplinar (pedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo e assistente social) [...]. Em 1988, a Educação Especial passa a compor o Departamento de Apoio Técnico e Pedagógico (DAT) [...]. A partir de 1990, [...] entre as ações realizadas, neste período, destaca-se a criação das salas de apoio destinadas ao atendimento dos alunos com dificuldades de aprendizagem e alunos com deficiência mental, as quais, posteriormente, passaram a ser designadas como salas de recursos. Ainda na década de 90, a Equipe de Educação Especial da SEDU, visando à promoção da inclusão no ensino regular de todos os alunos com necessidades educacionais especiais [...] inicia a extinção das classes especiais e amplia o atendimento em salas de recursos e o atendimento itinerante. As formações continuadas também tiveram fomento nessa época. [...] Com a continuidade do movimento inclusivo, foram criadas, respectivamente, a primeira sala de recursos para alunos com altas habilidades/superdotação, em 1995, no Projeto de Atendimento ao Aluno Talentoso (PAAT) [...]. No ano de 2001, período em que as ações da Educação Especial estavam voltadas para a municipalização, houve uma maior aproximação entre Estado e municípios tendo como desdobramento ações de formação que objetivaram a promoção de uma política de princípios inclusivos envolvendo a comunidade escolar (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, 2010, p. 8).

Essa história deixou um legado que explica algumas dificuldades encontradas na rede e explicita também que esta está em construção. Assim há que se construir uma história de incentivo à escolarização de alunos com deficiência, TGD e altas habilidades/superdotação na escola comum, no intuito de construir uma história que seja marcada pelo esforço e investimento nesta escola como capaz de receber todos os alunos.

Desse modo, a Sedu – subgerência de Educação Especial – lançou suas diretrizes da Educação Especial como documento orientador para a rede estadual de ensino e, em muitos casos, para vários municípios que ainda não são sistemas e que tomam a legislação estadual como eixo em suas ações. Destaca como objetivo central do AEE:

[...] prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos, orientando os sistemas de ensino para garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular e o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, 2010, p. 16, grifo do autor).

A rede estadual tem investido na formação do professor de AEE. Foi ofertado um curso com 120 horas presenciais, para cada área de conhecimento (surdez, cegueira, deficiência intelectual), ou seja, vai um pouco além da sugestão de formação do Ministério da Educação (MEC), incentivando a formação desses profissionais. Percebemos que há um investimento por parte da rede estadual. A coordenadora da Educação Especial no Estado também destaca que tal organização é possível devido ao tamanho geográfico do Espírito Santo, um Estado pequeno, e também considerando o investimento que vem sendo feito há alguns anos.

Essa é a realidade estadual e a coordenadora destaca outras possibilidades de organização e formação profissional em outras realidades do País. Vejamos sua fala:

[...] porque tem lugares que trabalham com professor em nível de pós-graduação, tem lugares que trabalham com professor com cursinho de 40 horas, então a gente vai se adequando à nossa situação, aquilo que temos no mercado de trabalho, que tipo de professor formado que nós temos? Então nós vamos pegar esse documento (MEC) e vamos adequá-lo dentro da nossa realidade daqui, do Estado. O MEC oferece curso, eles montam a sala, põe esses equipamentos, pegam os professores dão curso a distância do AEE com formação, alguns com 40 horas em cada área, outros com 60 horas em cada área, a gente tem curso de aperfeiçoamento a distância de 240 horas, só que eles formam um professor com uma formação pequena em cada área, isso porque nós sabemos da falta de profissionais com formação adequada para atender aos alunos.

Diante disso, a função e formação do professor especialista que deverá atuar na sala de recursos multifuncionais são fundamentais. Assim, as diretrizes estaduais da Educação Especial destacam os conhecimentos e saberes que os professores especialistas precisam possuir para implementar e praticar o AEE na perspectiva em que ele tem sido significado na política estadual. Nessa direção:

Os professores especializados deverão apresentar conhecimentos relativos ao seu campo de atuação tais como: Língua Brasileira de Sinais (Libras), língua portuguesa na modalidade escrita como segunda língua; sistema Braille; soroban; orientação e mobilidade; atividades de vida autônoma; comunicação alternativa; desenvolvimento dos processos mentais superiores; programas de enriquecimento curricular; adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos; utilização de recursos ópticos e não ópticos; tecnologia assistiva e outros (SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, 2010, p. 16).

Esse contexto e a realidade histórica da educação capixaba nos possibilitaram escolher a rede estadual de ensino do Espírito Santo como campo de investigação.

Além da opção pela rede estadual, fomos construindo outros elementos para seleção do campo em que seria desenvolvida esta investigação de Mestrado. Nosso segundo critério de escolha contemplava as séries iniciais do ensino fundamental com matrícula de alunos com deficiência, TGD e altas habilidades/superdotação. Esses critérios nos ajudaram a selecionar o município de Serra/ES, onde há uma carência de estudos que contemplem tal realidade. Assim, localizamos a escola “Clarice Lispector”.

Vale também ressaltar que o município de Serra/ES pertence à região metropolitana da Grande Vitória, com 409.324 habitantes e apresenta grande potencial para os campos industrial, habitacional, construção civil, comercial e agrícola. É um município marcado também por um histórico de violência e tráfico de drogas e, ao mesmo tempo, por grande procura para habitação, mediante a expansão e crescimento que tem apresentado. Esses elementos constituem o espaço-visor do ambiente local e global em que a pesquisa foi vivida/narrada/encenada.

O novo costuma nos deixar fragilizados por um lado e potentes por outro. Foi com essa perspectiva que chegamos à escola “Clarice Lispector”, em 16 de agosto de

2010, dia em que ocorreu nosso primeiro contato com a escola. Era por volta das 12 horas. A escola estava em seu frisson costumeiro, pois já estava próximo o horário de saída dos alunos do turno matutino que se encerra às 12h15min. Assim, fizemos nosso primeiro contato com a coordenadora. Identificamo-nos e explicamos nossa intenção de fazer a pesquisa. Ela, então, nos orienta a retornar no turno vespertino para encontrarmos com a diretora. Desse modo, retornamos, contudo não foi possível estabelecer essa conversa. Assim, após alguns dias, conseguimos o contato e foi autorizada a realização da pesquisa pela dirigente que conversou com o grupo de professores sobre nosso estudo na escola e explicou um pouco sobre a pesquisa (APÊNDICE A).