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Matrículas: rede estadual de ensino e rede municipal da Serra – Ensino

4 UM TEATRO-ESCOLA: DIVERTIMENTO E APRENDIZADO AO

4.1 PRIMEIRO ATO: O CONTEXTO DA REDE ESTADUAL DE ENSINO E AS

4.1.2 Matrículas: rede estadual de ensino e rede municipal da Serra – Ensino

A rede pública estadual ainda é responsável por um quantitativo significativo de alunos matriculados nos anos iniciais do ensino fundamental. Isso demanda do Estado investimentos nesse nível de ensino, como escolas, professores qualificados, formação, concursos e planos de carreira que possam garantir a qualidade da educação ofertada nessa etapa de escolaridade. Percebemos algumas ações sendo realizadas, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Vejamos o gráfico de matrículas na rede estadual do Espírito Santo e no município da Serra:

Gráfico 1 – Alunos matriculados nos anos iniciais do ensino fundamental: comparativo entre e Estado do Espírito Santo e o município da Serra

Fonte: Inep (2010). 0 50000 100000 150000 200000 250000 300000

Estadual Federal Municipal Privada Total

Serra Total - ES Alunos

Gráfico 2 – Alunos matriculados nos anos iniciais do ensino

fundamental no Estado do Espírito Santo – todas as redes – 2010

Fonte: Inep (2010).

Percebemos, a partir dos gráficos, que o número de alunos que se encontram matriculados na rede estadual, na primeira etapa do ensino fundamental, demanda um olhar diferenciado do Estado. Para isso, buscou-se elaborar o “Currículo Básico Escola Estadual”. Essa tentativa teve como objetivo melhorar a qualidade do ensino destinado a esses alunos. Apesar de esse documento ter sido elaborado em uma perspectiva colaborativa, como dissemos, a elaboração do currículo tornou-se uma ação importante dada a necessidade de garantirmos o acesso ao conhecimento dos estudantes matriculados nas diferentes regiões capixabas.

Assim, um documento em nível estadual revela o currículo em seu aspecto global e sinaliza para o local, onde são vividos currículos que devem atender às singularidades dos alunos daqueles espaços-tempos. Meirieu (2005) nos alerta para o fato de que precisamos ter “algo em comum”, ou seja, algo que nos permita dialogar e conviver juntos em nossas especificidades coletividade, senão corremos o risco de nos tornarmos “individuais” devido às nossas diferenças. Nesse sentido, há que se criar ações que promovam o diálogo necessário entre o local e o global (SANTOS, 2007), entre o currículo prescrito e o vivido. É um canal para delinearmos rupturas e continuidades, tensões e possibilidades (MEIRIEU, 2002).

A rede de ensino é gerenciada pela Secretaria de Estado da Educação, com sede em Vitória, capital do Espírito Santo, contando com diferentes setores que

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coordenam as políticas públicas de educação. Como forma de descentralizar algumas ações. Considerando que o Estado do Espírito Santo se constitui por 78 municípios, 11 Superintendências Regionais de Educação13 foram criadas para coordenar os trabalhos desenvolvidos pelas escolas, apoiar os municípios geograficamente a elas subordinados e implementar ações políticas visando à oferta do ensino.

A referida rede conta com trabalhos de professores efetivos, mas também com um significativo número de docentes contratados em regime de designação temporária (DT),14 situação que acarreta a descontinuidade de alguns trabalhos realizados pelas escolas. A participação de alunos em fase de conclusão de cursos de licenciatura configura-se como uma realidade presente no quadro do magistério estadual, valendo a ressalva de que, por muito tempo, houve a contratação de profissionais sem formação na área educacional para ministrar as disciplinas presentes no currículo escolar, situação bastante minimizada, mas ainda existente.

O histórico da rede conta graves momentos de desvalorização dos profissionais do magistério, acarretando momentos de greve e descrença na política estadual. Há,

13 Constituem-se em unidades administrativas e orçamentárias descentralizadas da Secretaria de Estado da Educação, “[...] tendo como jurisdição administrativa a supervisão, inspeção, orientação, acompanhamento e controle dos programas e projetos educacionais integrantes das políticas estaduais de educação no âmbito de sua jurisdição” (Lei nº 5.468, de 23 de setembro de 1997). No Estado do Espírito Santo, contamos com 11 SREs que agregam municípios sob sua jurisdição. Apresentamos as superintendências e os municípios pertencentes. Barra de São Francisco – municípios: Barra de São Francisco, Águia Branca, Ecoporanga, Água Doce do Norte, Mantenópolis. Afonso Cláudio – municípios: Afonso Cláudio, Conceição Do Castelo, Laranja da Terra, Brejetuba, Venda Nova do Imigrante, Domingos Martins e Santa Maria de Jetibá; Cachoeiro de Itapemirim – municípios: Cachoeiro de Itapemirim, Castelo, Iconha, Vargem Alta, Muqui, Atílio Vivácqua, Rio Novo do Sul, Mimoso do Sul, Presidente Kennedy, Itapemirim, Jerônimo Monteiro e Marataízes; Carapina – municípios: Vitória, Serra, Santa Teresa, Aracruz, Ibiraçu, João Neiva e Fundão; Cariacica – municípios: Cariacica, Viana, Marechal Floriano E Santa Leopoldina; Colatina – municípios: Colatina, Alto Rio Novo, Baixo Guandu, Governador Lindemberg, Marilândia, Pancas, São Domingos do Norte, São Roque do Canaã, Itaguaçú e Itarana; Guaçuí – municípios: Guaçuí, Alegre, Bom Jesus do Norte, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, São José do Calçado, Apiacá, Iúna, Ibatiba, Ibitirama, Irupi e Muniz Freire. Linhares – municípios: Linhares, Sooretama e Rio Bananal; Nova Venécia – municípios: Nova Venécia, Boa Esperança, Vila Valério, São Gabriel Da Palha, Vila Pavão, Pinheiros, Mucurici, Ponto Belo e Montanha; São Mateus – municípios: São Mateus, Pedro Canário, Conceição da Barra e Jaguaré; Vila Velha – municípios: Vila Velha, Guarapari, Anchieta, Piúma e Alfredo Chaves.

nos últimos anos, grandes investimentos em combate a esse legado com a promoção de concursos públicos, investimentos na formação continuada e valorização salarial do magistério. No entanto, na busca pela construção desse processo de investigação com a escola para desenvolver esta pesquisa, percebemos o quanto esse legado ainda se torna presente e o quão longo é o caminho a ser percorrido. Destacamos duas falas de professoras com mais de 30 anos de magistério na rede estadual:

[...] eu já comprei giz para dar aula, eu trabalhei muitas vezes sem material nenhum mesmo, tendo que comprar tudo, cartolina, papel... O básico não tinha. [...] porque que eu digo que a minha condição hoje é média; já trabalhei numa condição péssima, fazendo merenda no fogão a lenha, [...] então hoje as condições são médias, está no nível médio, porque eu queria uma escola mais bonita. Eu acho que um lugar bonito ajuda muito atuar, um lugar mais fresco, com uma condição assim de um ambiente mais arejado, mais confortável. Nós temos salas muito quentes. Hoje estamos numa sala razoável, queria, hoje, por exemplo, que as salas tivessem menos alunos [...] eu acho que é assim isso aí, tem a ver com qualidade de trabalho, hoje (PROFESSORA JOANA, 2010).

[...] trabalhava o ano todinho, então eu e todas as minhas amigas tínhamos que trabalhar na rede particular, porque a gente não podia contar com esse salário. Quando você precisava, ele era bem vindo no montante. Você tinha que trabalhar em outra rede, senão você não conseguia. A gente ficava um tempão sem receber. Às vezes, no dia de Natal, você ainda não tinha recebido pagamento, você ficava doidinha, então assim, a situação mudou muito, as coisas mudaram, não está aquele salário, hoje recebemos em dia (PROFESSORA JULIA, 2010).

As duas falas nos mostram as condições de trabalho dos professores tanto em tempos anteriores como nos dias atuais. Houve uma mudança e tem havido investimentos na melhoria das condições de trabalho, mas esses professores ainda revelam o desejo de uma escola diferente da que temos hoje. Apesar dos investimentos, há muito ainda a caminhar.

Dessa forma, a discussão sobre currículo se depara com esse contexto, necessitando que acompanhemos os processos de mudança, a partir dos investimentos que a rede vem buscando garantir aos professores para atuarem de forma mais significativa.

A Sedu conta com um trabalho efetivo de 558 escolas de educação básica, compreendendo o ensino fundamental, médio, educação de jovens adultos (EJA) e o ensino profissional, envolvendo um quantitativo de 286.139 alunos matriculados nessas fases de ensino.

Os dados evidenciam um número significativo de alunos com deficiência, TGD e altas habilidades/superdodação matriculados nas escolas estaduais que atendem ao ensino fundamental – séries iniciais. Contudo, essa é uma realidade relativamente nova, uma vez que a rede estadual investiu por anos em instituições especializadas – Apaes e Pestalozzis – para realizar a escolarização desses sujeitos. Investimentos no sentido de esses alunos estarem na escola regular é algo recente, é uma política que está em processo de implementação.

Gráfico 3 – Matrícula nos anos iniciais do ensino fundamental – alunos com deficiência, TGD e altas habilidades/superdotação no

Estado do Espírito Santo

Fonte: Inep (2010).

Essas informações nos ajudaram a vislumbrar a realidade a partir dos números e também nos forneceram subsídios para a pesquisa/estudo.

Nessa direção, a matrícula de alunos com deficiência, TGD e altas habilidades/superdotação na rede estadual de ensino nos instigou a retomar um pouco da história da Educação Especial no Estado do Espírito Santo, buscando destacar elementos que possibilitem montar um espaço-visor da realidade em que

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ocorreram nossas escolhas e o nosso trabalho. Concordamos com Bloch (2001, p. 75), quando diz que “[...] O passado é por definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado é uma coisa em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa [...]. A história é busca, portanto escolha”.