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CAPÍTULO 3- DA REABILITAÇÃO E HABILITAÇÃO PROFISSIONAL

3.1 História da reabilitação profissional

Conforme registra Fernando Boccolini32, a ideia de reabilitação profissional teve seus passos iniciais na primeira guerra mundial, quando, pela falta de mão de obra, utilizou-se da mão de obra de militares acidentados para a realização de tarefas outras: “...para aqueles soldados que estavam em condições de andar ou usar as mãos, foram distribuidas pequenas tarefas com finalidade de mantê-los ocupados, evitando assim uma ´decomposição mental`. Pinturas de pequenas peças, fabricação de enfeites para o natal próximo e tantas outras atividades começaram a ser usadas. Verificou-se então que os soldados que executavam estas tarefas se apresentavam sempre mais bem dispostos, mais joviais, aceitando melhor as restrições e imposições a que o tratamento os obrigava”. Grifei

Nesta época já identificava-se a importância da reablitação profissional, constatando-se ser necessário ocupar o cidadão incapacitado ou com alguma deficiência, evitando-se, com isso, deixá-lo à margem da sociedade laboral e, assim, zelando-se pela sua saúde mental.

A Organização Internacional do Trabalho – OIT, publicou em 1921 o documento The Compulsory Employment of Disable

Man, sobre a obrigatoriedade de emprego para inválidos de

guerra, inspirado no sistema legal da Áustria, Alemanha, França e Inglaterra33. Em 1923 a OIT reconhece a obrigação do Estado em auxiliar os inválidos na reabilitação profissional para que tivessem sustento próprio e, em 1925, a OIT também reconhece a proteção social aos acidentados do trabalho em que o deveriam receber a reabilitação profissional, porém em 1930, diante da crise econômica e o desemprego em massa, o programa de rabilitação deu uma estagnada34.

Com a Segunda Guerra Mundial o programa de reabilitação passou a tomar corpo pelos mesmos motivos já reconhecidos à época da Primeira Guerra Mundial, ou seja, pela falta de mão de obra e também por se perceber

32 BOCCOLINI, Fernando. Reabilitação profissional. In: Curso de medicina do trabalho. São

Paulo: Fundacentro, 1979. pag. 1239.

33 LAZZARI, João Batista. Curso Modular de Direito Previdenciário / João Batista LAZZARI;

João Carlos Castro Lugon - Florianópolis: Conceito Editorial.2007. 688p. Pag. 462.

34 LAZZARI, João Batista. Curso Modular de Direito Previdenciário / João Batista LAZZARI;

João Carlos Castro Lugon - Florianópolis: Conceito Editorial.2007. 688p. Pag. 462 apud LEÑERO. José Perez. Ideario de La rehabilitacion profesinal de los inválidos. Madrid: Graficas Canelas, 1961. Pag. 45.

que algumas atividades poderiam ser realizadas por pessoas com deficiência decorrentede acidente da guerra ou de nascença.

Além da reabilitação ter sido visualizada por questões de guerra, e recomendada por determinação da OIT, a Segunda Guerra Mundial não deixa de ser um marco na proteção social.

Nesse sentido a jocosa passagem descrita por Jacqueline Michels Bilhalva no texto de Roberto Campos35, sobre a preocupação dos líderes

mundiais com a proteção social logo após a Guerra:

[...] “...após o jantar, bebericando o conhaque de sobremesa, no palácio Livadia, em Yalta, tratava-se de um debate entre Churchill, Roosevelt e Stalin. Churchill iniciou a conversa dizendo que, conquantos os detestasse, tinha que tirar o chapéu aos trabalhistas. Por influência do Labour Party se havia estabelecido na Inglaterra o welfare state, no qual os homens seriam protegidos from the cradle to the grave (do

berço ao túmulo). Roosevelt redargüiu que os Estados

Unidos, injustamente acusados de excessivo individualismo, o sistema havia avançado ainda mais, porque a proteção se estendia do ventre ao túmulo (from the womb to the tomb). Stalin acrescentou ironicamente que os países capitalistas jamais rivalizariam com os soviéticos na proteção de serviços sociais. A proteção soviética se estenderia da ereção à

ressurreição (from the erection to the ressurrection). Quando,

mais tarde, inquirido sobre o assunto, Chiang-Kai-Chek achou- se na obrigação de exaltar ainda mais as preocupações assitenciais chinesas e acrescentou que o que se planejava na China era a proteção do esperma ao verme (from the sperm to the worm)!... grifei

Este contexto lúdico exala, sem dúvidas, o espirito da época em que 3 (três) lideres mundiais importantes: Franklin Delano Roosevelt (presidente norte-americano), Sir Winston Churchill (primeiro-ministro britânico) e Josef Stalin (líder soviético), se reuniram na Criméia em Yalta, e redefiniram o desenho da Europa durante a Segunda Guerra Mundial, exatamente no período em que se acentua a preocupação mundial com a seguridade social, devido à “necessidade dos países europeus de reincorporarem parcela da mão de obra acidentada ou inválida à sua força de trabalho ativa, resultado, em parte, da mortalidade advinda da Segunda Guerra Mundial e, em parte, da resposta do Estado à sua crise econômica e social36””

35 LAZZARI, João Batista. Curso Modular de Direito Previdenciário / João Batista LAZZARI;

João Carlos Castro Lugon - Florianópolis: Conceito Editorial.2007. 688p. Pag. 462. apud Campos, Roberto. A lanterna na popa: memórias. Rio de Janeiro: Topbooks, 1994, p. 81.

36 LAZZARI, João Batista. Curso Modular de Direito Previdenciário / João Batista LAZZARI;

João Carlos Castro Lugon - Florianópolis: Conceito Editorial.2007. 688p. Pag. 462. apud Soares, Léa Beatriz Teixeira. Terapia Ocupacional – Logica do Capital ou do trabalho? São Paulo: Editora HUCITEC, 1991. Pag. 108

Em que pese o conto da disputa de quem daria a maior proteção social, fato é que, em 1942 foi apresentado ao Parlamento Britânico pelo conhecido Lord Beveridge, Sir Willian Henry Beveridge37, o relatório, denominado como Plano BEVERIDGE, que implantava o Seguro Social e Serviços afins, tendo como objetivo a proteção social do berço ao túmulo.

O Plano de Beveridge tratou sobre a reabilitação profissional “o estabelecimento de serviços racionais de saúde, de reabilitação e de manutenção dos empregos, considerando que evitar o desemprego em massa é condição necessária ao êxito do seguro social”38.

Como podemos observar, o objetivo da reabilitação para Beverdge era evitar o desemprego em massa para que houvesse o êxito do seguro social.

Diante das recomendações da OIT e o sucesso do Plano Beveridge, o Brasil começou a pensar nesta proteção social, lançando o Decreto-lei 7036, de 10 de novembro de 1944, com objetivo de realizar a adaptação profissional e o reaproveitamento profissional para o empregado acidentado, ainda não previa a proteção de outras categorias, dependentes e etc.

Portanto, historicamente, num primeiro momento, período pós-guerra, a reabilitação profissional nasceu pela falta de mão de obra, e num segundo momento, a partir do Plano Beveridge, foi a reabilitação enquadrada como proteção social para buscar a colocação do segurado ao mercado de trabalho, mesmo diante de suas limitações físicas ou psíquicas.

3.2 Reabilitação e habilitação profissional na lei 8213/91