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2.1 A Origem da Universidade

Comumente os historiadores consideram que a universidade (do latim universitas) é uma instituição, e que, portanto, as primeiras universidades estavam localizadas na Europa Ocidental, sendo Paris e Bolonha citadas como os primeiros exemplos.Entretanto, atualmente a Unesco considera que a mais antiga instituição educacional universitária é a Universidade de al-Qarawiyyin ou al-Karaouine (em árabe: نييورقلا ةعماج), localizada em Fes, Marrocos. Foi fundada por Fátima al-Fihri em 859 como parte da Mesquita de al-Qarawiyyn, com uma escola associada, ou madrasa (escola em árabe).18

2.2 A universidade europeia

Por volta de 1088 inicia-se o processo de fundação da Universidade de Bolonha, na Itália. É considerada a primeira universidade do mundo ocidental e de fato é a que se apresenta como modelo de Instituição de Ensino Superior para os países de colonização europeia.

Tratava-se da primeira escola laica de Direito, mantida pelo pagamento dos estudantes e pelo apoio do governo da cidade, núcleo da futura Universidade de Bolonha e que rivalizacom a Universidade de Paris, que foi criada entre 1150 e 1170 por iniciativa do episcopado da cidade, vindo a fugir da tutela eclesiástica um século depois.

Antes de sua fundação, na Idade Média, uma universidade constituía a instituição eclesiástica que usufruía de privilégios reais e papais, sendo encarregada do ensino, ou, ainda, uma universidade seria o conjunto de estabelecimentos escolares que se ocupam do ensino superior, agrupados num mesmo organismo administrativo ou sob uma única direção.

18 https://www.fez-guide.com/Listing/the-karaouine-mosque/

Sacerdotium, Imperium e Studium foram os três misteriosos poderes ou virtudes que, em harmônica cooperação, sustentaram a vida e o vigor da cristandade. Os dois primeiros poderes tinham um campo específico de ação: o Sacerdotium, por intermédio da sua cabeça, o papado, manifestava-se como detentor do poder espiritual, enquanto o Imperium, representado pelo Sacro Império Romano-Germânico, monopolizava o poder temporal. O Studium também possuía um monopólio, o da instrução superior, e era uma espécie de elo de ligação entre o sacerdócio e o Império, pois todas as correntes do conhecimento, quer religioso quer laico, tinham a sua fonte nas universidades. Talvez fosse nessa função de ligadora e, ao mesmo tempo, de veículo das vicissitudes intelectuais, tanto do poder papalino quanto do poder imperial, que residia a importância histórica da universidade medieval. Não é de se estranhar que sua história seja tão importante quanto a do papado e do Império, e que, sem ela, dificilmente se possa compreender a própria história do pensamento medieval. (Janotti, 1992, p. 22)

O caráter seminal da Instituição Universidade é o da Universalidade e essa ideia é fundamental para sua compreensão. Esse conceito já estava presente na Universidade de Bolonha, sendo essa a principal razão para que a Instituição se diferencie das anteriores, se colocando como marco no setor:

[...] ao lado das duas forças sociais que vinham da Idade Média, a Religião e o Império, começou a surgir outra, o studium, vale dizer, o ensino universitário. Em rigor nada tem a ver essa famosíssima universidade com as antigas escolas de Direito de Berito, Constantinopla, Cesareia, afamadas ao fim do Império Romano do Oriente, nem mesmo com as corporações escolares pré-existentes em cidades italianas, como as de Pavia, Florença, Pisa, Roma e outras. Bolonha apresenta características especiais como ponto de atração de estudantes de toda a Europa, que depois regressavam a seus países com uma carga cultural que se espalhou a pouco e pouco por toda a parte. E era tamanha a fluência de estrangeiros, que praticamente coexistiam duas universidades paralelas, a dos ultramontanos e a dos citramontanos, aquelas constituídas principalmente de estudantes de origem germânica. Mas ao lado destes havia os provindos de outros territórios europeus, da França, da Inglaterra, da Espanha, da Lusitânia, da Suíça. Dela nasceram as primeiras e mais

antigas universidades europeias: a Montpellier, na França, a Oxford, na Inglaterra. essa fundada por Vaccarius e aquela por Placentino. [...] Quando [os estudantes] regressavam às suas pátrias levavam consigo a cultura amelhada em Bolonha [...].(MEIRA, 1991, pp. 393-94)

Pode-se dizer que a Universidade de Bolonha é a principal responsável para que se formulasse o conceito jurídico e se difundisse o ensino do direito do modo como o entendemos.

Todo um renascimento de ciência jurídica se operou com a descoberta de exemplares do Digesto ou Pandectas e outras compilações do Imperador Justiniano em cidades italianas, em que haviam permanecido esmagadas pelo peso do tempo, em bibliotecas, conventos e corporações. Algumas referentes aos preceitos do direito anterior, dos períodos clássico e pós- clássico, acumuladas por meio dos séculos, foram restauradas, mais tarde, por meio da revelação de inscrições em palimpsestos antiquíssimos. Toda uma doutrina jurídica passou a servir ao Ocidente. Os alemães a assimilaram magistralmente. Aplicaram esse direito na prática forense de todos os dias, por meio dos séculos, criando verdadeiros monumentos jurídicos com a Pandectística do século XIX, que culminou com a elaboração do código civil germânico, promulgado em 1896, para entrar em vigor em 1900 (BGB). A França, a Bélgica, a Holanda, a Inglaterra, Espanha, a Suíça, Portugal, todas as nações, de Leste e do Oeste europeu, se abeberraram nas fontes romanas, transladadas para os séculos posteriores ao XI pela força renovadora da Universidade de Bolonha. (MEIRA, 1991, p. 394)

A concepção atual de universidade, portanto, tem como respaldo uma instituição cujo exercício da laicidade permite que a formulação do pensamento crítico se desprenda das instituições anteriormente respaldadas restritamente pelo Império e pela Igreja.

É fato que a Antiguidade teve academias como a de Atenas e museus como o de Alexandria, ambos importantes centros de debate e de pesquisa, porém, só mais tarde se conheceu o legítimo formato de universidade, que surgiria no auge do período feudal, qual seja, o de Instituições de Ensino Superior estabelecidas pela agregação de várias escolas específicas, orientadas à formação de especialistas

titulados. A educação superior na Europa, até o século XI, era oferecida somente nas escolas dos mosteiros, nas quais foram formados os grandes pensadores da escolástica e também lançadas as bases da lógica formal, ou nas escolas dos templos e das catedrais, formadoras de quadros e administradores da própria Igreja Católica. O início do movimento que originou as universidades na Europa deu-se na Escola de Medicina de Salerno, Itália, que foi fundada no início do século X, tornando-se o centro de intercâmbio das ciências cristã, árabe e judaica.

A instituição universitária é realmente medieval. Foi na Idade Média que ela de fato realizou a verdadeira unificação da cultura chamada ocidental. A cultura da Europa foi unificada por essa universidade medieval que surgiu nas alturas dos séculos XI e XII, e que elaborou realmente um trabalho extraordinário de unificação intelectual do pensamento humano naquela época. Essa universidade, que chega a seu clímax, a seu ápice, no século XIV, entra depois num período de consolidação tão rígida e tão uniforme que verdadeiramente se torna uma das grandes forças conservadoras do mundo. Ela não aceitou completamente nem o Renascimento nem a Reforma e, durante séculos XV, XVI, XVII e XVIII, prosseguiu num extraordinário isolamento dentro da sociedade. Era então a velha universidade medieval defendendo-se completamente dessas forças exteriores que se encaminhavam para transformá-la. (TEIXEIRA, 1988, p. 84)

Embora o período medieval ainda seja vinculado a um período de trevas do ponto de vista criativo para a Europa, é inegável, hoje, a percepção de que as universidades bem como outras instituições medievais tiveram extrema importância na formação dos países modernos, o que se deu pelo alicerce erigido dentro das significativas e irreprimíveis mudanças gestadas na Idade Média. Tal situação leva a considerar que essas mudanças, sobretudo no campo do conhecimento, devem ser tratadas de forma mais abrangente, não se limitando apenas ao Renascimento e ao Humanismo dos séculos XV e XVI, ensejando um movimento mais extenso, uma vez que as transformações culturais, políticas, sociais e educacionais da época medieval propiciaram o ambiente para o que a história conheceria depois, o mesmo acontecendo com nossas origens e nossas tradições. Deve-se ter em foco que o conhecimento sobre as universidades é um meio para a compreensão como se

foram estruturando o conhecimento, as ciências humanas e naturais, o que permite que se elabore com mais acuidade nossa identidade como seres intelectuais.

As fulgurantes e grandes universidades europeias viriam nos séculos XI e XIV, dentre as quais podemos citar as de Pádua (1222), Nápoles (1224), Siena (1242), Coimbra (1308), Pisa (1343), Oxford (1249), Cambridge (1284), Heildelberg (1385), Colônia (1388), Leipzig (1409), Tübingen (1477), Praga (1348), Cracóvia (1364), Viena (1365), Louvain (1425), Barcelona (1477), Copenhagen (1479), Valência (1501), Sevilha (1505), mas há muitas outras que foram criadas por subdivisão ou transferência.

No começo do século XIII havia três studia generalia que predominavam pelo seu prestígio: Paris, Bolonha e Salerno. Cada umase destacava num determinado campo do ensino superior: Paris em teologia e artes; Bolonha, em direito, e Salerno, em concepção original de um studium generale foi, gradualmente, acrescentada a vaga noção de validade ecumênica para o magistério que ele conferia. (Janotti, 1992, p. 24)

Cumpre destacar um ponto fundamental: essas primeiras universidades eram notadamente centros de erudição cristã, que se concentravam no estudo das leis, humanidades, medicina, astrologia, lógica e teologia, porém, eram centros regidos pelo princípio que seria essencial para o futuro da Instituição, o princípio da autonomia universitária, e essa autonomia, o autogoverno universitário, tem origem num movimento corporativo de autoproteção de professores e alunos.

Dificilmente se poderá compreender o esboçar do movimento universitário europeu na Idade Média, se não se levar em conta as condições e os interesses que estiveram intimamente relacionados com as origens das universidades. As condições que favoreceram o nascimento das universidades foram dois: o da Igreja e o do Estado. As universidades de uma maneira geral surgiram como consequência da atuação concomitante dessas condições e desses interesses. (Janotti, 1992, p. 27)

As universidades eram centros de efervescência, sendo frequentadas por milhares de alunos e professores versados em todas as línguas europeias. Portanto, desde o princípio, essas instituições caracterizaram-se como centro de cosmopolitismo cultural, em que os estudantes se juntavam em alojamentos

próprios de acordo com sua língua materna, formando ligas, ao lado dos professores, conhecidas por asnatio, que eram presididas por uma autoridade máxima eleita, o chamado rector scholariorum.

Para o Teixeira (1988), mais do que transmissora de conhecimento, a universidade tem a função de produção e circulação do saber:

A função da universidade é uma função única e exclusiva. Não se trata, somente, de difundir conhecimentos. O livro também os difunde. Não se trata, somente, de conservar a experiência humana. O livro também os conserva. Não se trata, somente, de preparar práticos ou profissionais, de ofícios ou de artes. A aprendizagem direta os prepara, ou, em último caso, escolas muito mais singelas do que as universidades. [Trata-se] de manter uma atmosfera de saber pelo saber para preparar o homem que o serve e o desenvolve. Trata-se de conservar o saber vivo e não morto, nos livros ou no empirismo das práticas não intelectualizadas. Trata-se de formular intelectualmente a experiência humana, sempre renovada, para que a mesma se torne consciente e progressiva.(TEIXEIRA, 1988, p. 17)

Um aspecto importantíssimo, que determinou a longevidade e o sucesso dessa Instituição é que as universidades mantinham-se sob a proteção dos reis, bispos, imperadores ou do papado, porém, a Instituição defendia ferozmente sua independência interna, estabelecendo a liberdade intelectual que pavimentou seu destino longevo. A exemplo das catedrais, é provável que as universidades constituam o maior legado da cultura gótica à civilização ocidental e a acompanharam em sua expansão mundial.

O aparecimento na Idade Média da Universidade como estabelecimento escolar se constituiu num dos exemplos mais significativos da solidariedade que na história da Europa Ocidental, ligou a evolução da cultura intelectual e da vida do espírito às transformações da vida social, comandadas elas mesmas pela subversão do regime econômico.

E a condição, responsável pela solidariedade entre o social e o intelectual, que propiciou o nascimento das universidades foi aquilo que se costuma chamar de renascimento urbano do século XII.

história europeia, pode ser encarado como um acontecimento verdadeiramente revolucionário. Na opinião de Henri Pirenne, não houve até os fins do século XVII uma revolução social tão profunda. Compreenderemos melhor a amplitude dessa revolução, analisando as condições históricas da Europa Ocidental antes do renascimento urbano. (JANOTTI, 1992, p. 28)

Fora da Europa, as primeiras universidades surgiram na América espanhola, como San Marcos (1551) no Peru, Santo Domingo (1538), México (1553), Bogotá (1622), Cuzco (1692), Havana (1728) e Santiago (1738) e na América do Norte surgiram as famosas Harvard (1636), Yale (1701), Philadelphia (1755) e alguns outros colleges (escolas universitárias), calcados no modelo britânico. Somente no século XIX é que surgiram universidades no Japão e na Índia e, posteriormente, na África e na China devido à influência europeia.

No período da Renascença, as universidades revestiram-se de espírito científico e humanismo, na melhor tradição da cultura eclesiástica oriunda do feudalismo. A revolução industrial dos fins do século XVIII teve sua base intelectual assentada na ciência que nelas era produzida. Por algum tempo conviveram dois modelos de universidade, sendo um mais conservador, cujo berço era o centro da cultura ocidental medieval e o outro mais moderno e utilitário, nascido na Alemanha; duas tendências que contribuem para a conceituação atual de universidade:

[...] ainda em duas orientações muito curiosas – a velha universidade medieval e a de uma universidade extremamente moderna, utilitária, destinada aos problemas da sociedade propriamente dita -, vai buscar também novos rumos naquela universidade, aí colhendo a inspiração para constituir a sua verdadeira universidade moderna, que hoje lembra a universidade alemã de Humboldt, toda dedicada à pesquisa e à descoberta do conhecimento científico.

Vemos, assim, que a universidade, após atingir o seu ápice na Idade Média e, depois, entrar em completa decadência, chegando a ser até fechada, vem, em virtude das próprias transformações sociais, a renascer na Alemanha. Esse renascimento [...] cria uma universidade toda dedicada à Ciência. Mas a Ciência ainda estava longe de ter os aspectos que tem hoje. A Ciência e a Filosofia estavam completamente unidas. De maneira que a maior faculdade da grande universidade

alemã era a de Filosofia, pois a Filosofia era entendida como um desdobramento completo do conhecimento humano, inclusive o científico. (TEIXEIRA, 1988, p.75)

Nota-se que a Alemanha já compreendia que para fazer ciência era necessário cultivar o pensamento abstrato e aplicar no cotidiano os conceitos filosóficos formulados, num movimento que reconstitui o ser humano até então cindido nas dicotomias mente-corpo, pensar-fazer, bastante alimentadas pelo pensamento medieval, sendo a universidade o templo desse processo de transformação e reintegração do sujeito.

2.3 A Universidade no Brasil

No Brasil, há correntes que entendem que as primeiras universidades surgem em 1909 no Amazonas e em 1912 no Paraná, a partir de modelos europeus, mas que não se caracterizavam como universidades propriamente. A primeira universidade moderna, como se conhece atualmente, baseada no tripé Ensino- Pesquisa-Extensão, surge em 1934, com a fundação da Universidade de São Paulo. No século XX, há correntes, cujo entendimento é que houve a junção de algumas faculdades isoladas, sendo criadas as primeiras universidades brasileiras: Em 1.909 a Universidade da Amazônia-Manaus, em 1912, a Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, e em 1920 a Universidade Federal do Rio de Janeiro, esta última tida por muitos como a mais antiga da Brasil.

Com recursos humanos próprios gerados pelas faculdades e universidades implantadas no país, foram sendo criadas novas faculdades e institutos tecnológicos e de pesquisa em todo o território nacional.

Nesse sentido, pode-se dizer que a Universidade no Brasil é uma Instituição tardia, possivelmente por seu tipo de colonização, jesuítica, sendo o último país da América Latina a implementar a Instituição. Por outro lado, quando da fundação da universidade brasileira, essa aparece, de certo modo, com mais autonomia tanto em relação à igreja quanto em relação ao Estado, como sugere Anísio Teixeira:

O aparecimento da Universidade significava o aparecimento de uma Instituição que retirava da Igreja e do Estado funções anteriormente exercidas por esses dois poderes. De quem essa Instituição o direito de existir e funcionar? Em sociedades menos rígidas que a da Idade Média, medrariam por si e de si mesmas, sujeitas a todas as eventualidades. Naquela sociedade, entretanto, a disciplina que as regulou foi uma condição para o exercício vigoroso da sua função. A carta ou estatuto de direitos e privilégios, concedido às novéis instituições pelos monarcas ou pelo Papa, foi o primeiro reconhecimento de autonomia essencial que vieram desenvolvendo, daí por diante, as universidades, até que se puseram em pé de igualdade com as grandes instituições fundamentais da humanidade: a Família, a Igreja e o Estado. (TEIXEIRA, 1988, p. 34)

Até 1822 havia no Brasil cerca de 3 mil universitários com formação em Portugal, na França e na Grã-Bretanha, sendo que durante o período do Império

foram fundadas poucas faculdades, como as de Direito, em São Paulo (1808), a Politécnica do Rio (1874), a Escola de Minas de Ouro Preto (1875) e a Escola de Agricultura da Bahia (1877). Só após três décadas é que, durante o período da República, viriam a ser criadas novas instituições, como a Universidade do Rio de Janeiro em 1920 (que fundiu os cursos de Direito, Medicina e Politécnica), vindo, em 1931, a tornar-se a Universidade do Brasil com a incorporação de novas Escolas: Farmácia, Odontologia, Química, Belas-Artes e Música. Criada por Anísio Teixeira em 1935, havia ainda a Universidade do Distrito Federal, considerada de vanguarda, mas que, fora fechada durante o Estado Novo acusada de radicalismo.

É fundamental perceber que a renovação das instituições universitárias no Brasil está atrelada à Reforma de Córdoba, movimento que unificava as demandas da universidade na América Latina. Sobre isso, Freitas Neto (2011) contribui para a compreensão da importância do movimento:

Pensar e construir uma universidade a partir da América Latina era um dos desafios que o movimento estudantil de Córdoba, na Argentina, defendeu em seu Manifesto de 21 de junho de 1918. A história das instituições europeias que fincaram raízes em solo americano, ainda durante o período colonial, é marcada por polêmicas relacionadas à existência de especificidades em tais instituições, em um lugar diferente de suas origens. A chamada Reforma de Córdoba é considerada um marco na história das universidades latino-americanas por ser pioneira na construção de um modelo institucional que atribuiu uma identidade e um modelo de atuação renovado no ensino superior (FREITAS NETO, 2011, p. 62)

Segundo Bernheim (2001), até 1918, as instituições universitárias na América Latina colocaram-se como obedientes instrumentos reprodutores do status quo, sem qualquer caráter contestador, servindo basicamente aos interesses e valores de uma sociedade engessada e mantenedora de uma ordem rígida dividida entre poderosos e desvalidos. Antes, eram lugares a serviço de uma sociedade com viés de dependência e caracterizavam-se por prestar um serviço de manutenção da estrutura social interna das sociedades latino-americanas Seu papel era de subserviência ao modelo de sociedade imposto pelos donos do poder político e

econômico em voga, atendendo a seus interesses, por isso mesmo, portanto, seguindo sem criticar ou desafiar essa estrutura cristalizada.

Esse é um dado fundamental quando se trata de analisar e conhecer a universidade no continente. Começando a assumir seu papel de produtora de conhecimento contínuo e de ponta, 1918 constitui um marco para a academia latino- americana, um verdadeiro divisor de águas, sendo apontado como o ano de entrada da América do Sul na modernidade do século XX.

Em junho de 1918 teve início o chamado Movimento de Córdoba, o qual foi o primeiro choque entre uma sociedade que começava a se transformar ao sabor do protagonismo de uma nascente classe média ansiosa por ingressar nos meios acadêmicos, até então mantido sob os tentáculos do controle das velhas oligarquias e da Igreja, e uma universidade calcada em moldes ultrapassados que já não respondiam ao clamor dos novos tempos (BERNHEIM, 2001, p. 71).

Porém, o movimento rumo à reforma não se deu de maneira natural, espontânea, tendo surgido como resposta a uma situação social, não podendo ser pensado somente do ponto de vista acadêmico e universitário, mas também no bojo do panorama socioeconômico e político em que se originou.

Para uma nascente classe média, a universidade figurava como o Santo Graal da ascensão social e política, numa cruzada que fatalmente encerraria o domínio antes inexpugnável das classes “superiores”. É imprescindível, portanto, como defendem os estudiosos, que a questão da universidade latino-americana só