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4 A AGRICULTURA NA RMC

4.1 A AGRICULTURA ORGÂNICA NA RMC

4.1.1 Histórico …

Como já mencionado, a agricultura orgânica na região teve seu início por meio de um trabalho do órgão oficial de extensão rural (EMATER), no início dos anos 1980, no município de Agudos do Sul, sendo que após a saída do profissional que assessorava o grupo de agricultores o trabalho ficou prejudicado. Por volta de 1986, uma família de agricultores chegou do oeste do estado com uma experiência de 15 anos de produção orgânica na bagagem. A família Konzen estabeleceu-se no município de Colombo e iniciaram suas atividades. Faziam a comercialização por meio de sacolas, e em 1991 conseguiram autorização para montar uma barraca na feira de artesanato do Largo da Ordem em Curitiba (MANUAL DE AGRICULTURA ORGÂNICA, 1991).

Segundo Darolt (2000), neste mesmo ano, era criado o Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural (IVV), por um grupo de técnicos e pessoas que desejavam expandir e promover a agricultura orgânica nos moldes do Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural (IBD) de Botucatú – SP. Suas atividades foram focadas em cinco regiões no Paraná, estando a RMC contemplada em um projeto de olericultura.

Com o avanço destes trabalhos novos agricultores foram se aproximando desta “nova” maneira de produzir. A partir de junho de 1993, um grupo maior de feirantes se somou à família Konzen, na feira de domingo. Mas, das oito barracas pioneiras restaram cinco no final de 1994. Ainda neste ano, com o advento do Programa Paraná Rural, do governo estadual em parceria com o Banco Mundial, foram capacitados 25 extensionistas da EMATER-PR (DAROLT, 2000).

Segundo CEAO (2002) após pesquisas da Prefeitura Municipal, bem como a consulta aos agricultores e também apoio da EMATER-PR, foi recriada aquela feira, porém em local e dia diferenciado: Passeio Público e aos sábados. A nova iniciativa aconteceu em março de 1995 e contou com 10 agricultores.

A partir da Associação Paranaense dos Secretários do Meio Ambiente e Agricultura (APASEMA) foi organizada uma excursão técnica para o Rio Grande do

Sul, envolvendo agricultores e profissionais das Prefeituras e EMATER-PR da RMC em 1996. Durante dois dias, o grupo visitou propriedades orgânicas e comprovaram a sua viabilidade. Nesta empreitada, conheceram pessoalmente o Sr. Delvino Magro, o qual preconizou o biofertilizante “Supermagro”. Este grupo retornou a RMC, com muitas idéias e animados pelos profissionais da assistência técnica iniciaram as

suas experiências (CIDADE JUNIOR3, 1996).

Afirma Karam (2001) que a atividade encontrava-se em franca expansão, originando ainda em 1995 a Associação de Agricultura Orgânica do Paraná (AOPA), com sede em Quatro Barras e atualmente intitulada Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia. Nesta época, o IVV conseguiu aprovar um projeto junto a entidades européias e com isso pode implementar a assistência técnica aos agricultores.

Em 1996, a AOPA firmou uma parceria com a Associação Estadual de Cooperação Agrícola (AESCA) e com uma agência de cooperação belga e viabilizaram recursos para implementar o Programa Regional de Agroecologia (PRA). Este programa teve o enfoque no desenvolvimento da agricultura orgânica mediante a visão de toda a cadeia (CEAO, 2002). O efeito desta iniciativa e de outras proporcionou os resultados que podem ser avaliados na figura 5.

ATIVIDADES NÚMERO DE ATIVIDADES

DESENVOLVIDAS 1996 1997 1998 1999

Agricultores Orgânicos 180 219 265 301

Grupos de Agricultores Orgânicos 9 13 18 21

Municípios 9 13 16 19

Feiras 1 2 2 2

Lojas (Superm., Quitandas) 0 4 12 21

FIGURA 5 - EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ATIVIDADES LIGADAS À PRODUÇÃO ORGÂNICA NA ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA ORGÂNICA DO PARANÁ (AOPA)

FONTE: CEAO (2002); DAROLT (2000)

Já no ano de 1997, a AOPA passou a atuar junto com a Associação de Produtores Agrícolas de Colombo (APAC) e otimizou o uso de suas instalações, bem como fortaleceu o grupo de agricultores daquele município. A parceria foi proveitosa também para a APAC que se beneficiou da base filosófica e da organização da AOPA (SILVA, 2002).

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CIDADE JUNIOR, H. A. Relato de viagem à Ipê e Antônio Prado – RS. Araucária, 07/1996. Informação verbal.

A parceria entre as associações durou até o ano de 2000, quando divergências entre seus dirigentes levaram a AOPA a buscar nova localização em Curitiba. Percebe-se assim a fragilidade do associativismo na região, inclusive entre associações. Com esta cisão, as duas associações passaram a ser concorrentes como fornecedoras das redes de supermercados de Curitiba.

A AOPA apresentou dificuldades na comercialização e pagamentos dos associados que amargaram prejuízos no ano de 2001, levando ao encerramento das atividades comerciais da associação. No início de 2002, foi fundada a empresa Armazém Agroecológico pela empresa INCOFIN Paraná Participações S.A. e um grupo de consumidores e agricultores para operacionalizar vendas de produtos, que durou até 2003. A partir daí a AOPA trilhou um caminho mais próximo das atividades de uma organização não governamental, com uma representação mais pronunciada diante de outras entidades e do governo, além de organizar a produção e tentar abrir novos canais de comercialização (CEAO, 2002).

Neste sentido, ainda segundo CEAO (2002), foi elaborado um trabalho em conjunto com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) para resolver a problemática do processamento do leite e derivados que vinha apresentando problemas, que variavam desde maquinários, tecnologias até questões legais. Porém, as dificuldades prevaleceram e atualmente existe apenas um produtor de leite orgânico na RMC, o qual possui um prazo para finalizar seu processo de adequação.

Em outras áreas os agricultores individualmente continuaram suas atividades, comercializando por meio das feiras ou por empresas. A AOPA buscou uma nova missão mais voltada ao fomento da agroecologia, cursos e execução de projetos e desde então desenvolve projetos como o Iguatu e Florestando, alguns deles com abrangência na RMC.

Como a atividade anterior da AOPA estava ligada à comercialização, a certificação dos grupos era realizada sob a organização da mesma. Ao mudar o foco, os grupos integrantes ficaram sem certificação. Como já havia uma articulação nos estados do sul do Brasil referente à certificação participativa, a AOPA através de sua estrutura e conhecimento regional criou o núcleo Maurício Burmester do Amaral (MBA) para que pudesse ser realizada esta maneira de certificação em 14/11/2002 (PINHEIRO, 2004).

Já a APAC, ampliou suas instalações com recursos do Programa Paraná 12 Meses e com verbas de emendas parlamentares sendo uma referência no estado, recebendo diversas caravanas técnicas para conhecer os associados e sua infra-estrutura. Porém, em 2005, em uma conjugação de problemas administrativos, de descontos absurdos exigidos pelas redes de supermercados e de falta de acompanhamento dos associados, esta associação fechou as portas. Era a última associação da RMC que funcionava com atividades comerciais e encerrou seu funcionamento após 20 anos deixando dívidas e dúvidas.

Ainda com relação ao histórico do setor empresarial é possível citar iniciativas, como a da empresa Nova Era (Campo Largo - 1998-99) que comercializava com redes de supermercado. Não resistiu às práticas de comercialização dos supermercados, tendo que ratear os prejuízos com os seus fornecedores (outros agricultores familiares), alguns deles desanimaram de maneira definitiva e retornaram para a convencional.

Já a empresa Rio de Una, começou a se estruturar no ano 2000, com a contratação da agrônoma Rosângela de Almeida, que iniciou os trabalhos na região de Colombo, quando prestou serviços para a EMATER-PR. Sua linha de produtos é composta por hortaliças embaladas e processadas e está presente nas maiores redes de supermercados.

Para completar as iniciativas empresariais, cita-se a empresa Fruto da Terra, que é oriunda de Colombo. Seus proprietários tiveram a oportunidade de ir na viagem técnica ao Rio Grande do Sul (1996) e iniciaram a produção orgânica naquela época. Foram associados da AOPA, depois fizeram parte dos agricultores que abasteciam a AOPA e a APAC e finalmente desenvolveram-se a ponto de seguirem seu próprio caminho, na comercialização.