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4 A AGRICULTURA NA RMC

4.2 OS AGRICULTORES ORGÂNICOS E SUAS PROPRIEDADES

4.2.9 Política (Associações, cooperativas e outros)…

Os processos associativos formais na região remontam aos anos de 1980, quando da administração do Sr. Claus Germer na pasta estadual da Agricultura. Na sua gestão, de 1982 a 1984, foram criadas 14 associações na RMC, com a finalidade de ser um canal de comercialização para os agricultores. Além das finalidades comerciais, era esperado destas entidades um papel representativo da classe. As 14 entidades estão ilustradas na figura 32.

MUNICÍPIO ENTIDADE SIGLA

Agudos do Sul Associação dos Produtores de

Hortigranjeiros de Agudos do Sul

HORTISUL

Almirante Tamandaré Associação dos Produtores

Rurais de Almirante Tamandaré

ASTRO

Araucária Associação dos Produtores

Rurais de Araucária

APRA

Balsa Nova Associação dos Produtores

Rurais de Balsa Nova

AGRONOVA

Campina Grande do Sul Associação dos Produtores

Rurais de Campina Grande do Sul

ACOMGRASUL

Campo Largo Associação dos Produtores

Rurais de Campo Largo

AGROCAMPO

Colombo Associação dos Produtores

Agrícolas de Colombo

APAC

Contenda Sociedade União Agrícola de

Produtores Senhor Bom Jesus

SUACAN

Mandirituba Associação dos Produtores

Rurais de Mandirituba

APRAM

Quatro Barras Associação dos Produtores

Rurais de Quatro Barras

AGROBARRAS

Rio Branco do Sul Associação dos Produtores

Rurais de Rio Branco do Sul

RIOSUL

São José dos Pinhais Associação dos Produtores

Rurais de São José dos Pinhais

APROSP Adrianópolis com extensão para: Apiaí, Barra do

Turvo, Iporanga e Ribeira (SP) e Bocaiúva do Sul e Cerro Azul

Associação dos Produtores do Vale do Ribeira AGROVALE Federação Paranaense de Associações de Produtores Rurais* FEPAR

FIGURA 32 – ASSOCIAÇÕES DE PRODUTORES RURAIS DA RMC FONTE: BALESTRIN (2002)

NOTA: *Criada em 1985 com o respaldo das associações dos seguintes municípios: Adrianópolis, Agudos do Sul, Alm. Tamandaré, Araucária, Camp. Gr. do Sul, Campo do Tenente, Cerro Azul, Colombo, Lapa, Mandirituba, Morretes, Quitandinha, Rio Br. do Sul, São José dos Pinhais e Tijucas do Sul

A criação acelerada de associações, que até nos seus nomes/identidade, parecem seguir uma fórmula, foi uma iniciativa de caráter estatal. Claramente, se pode notar o sentido da criação: de cima para baixo. Inicialmente, a associação recebia através do estado diversos recursos para construir sua sede, armazéns e para adquirir caminhões, máquinas, tratores, entre outros. Normalmente a municipalidade colaborava com a doação de um terreno. Apenas para citar um exemplo da falta de autonomia, a Federação Paranaense de associações de Produtores Rurais (FEPAR) era administrada por técnicos da EMATER-PR até 1993, o que caracteriza seu atrelamento ao governo do estado (BALESTRIN, 2002).

Na trajetória histórica das associações que trabalharam com a agricultura orgânica cita-se, inicialmente a da Associação dos Produtores Agrícolas de Colombo (APAC). Esta associação foi criada em 1984, na comunidade do Boicininga em Colombo. Sua atividade principal era a comercialização de cestas em Curitiba e nesta época utilizavam a estrutura da igreja da comunidade. Em 1988, receberam um terreno da prefeitura e até meados de 1990 não tiveram muitas atividades, como a maioria dos seus pares na região. Por volta de de 1995, segundo Balestrin (2002) a APAC prestava serviços de preparo do solo e possuía uma cozinha para manipulação para produtos de origem vegetal.

Nesta época, com apoio fundamental da prefeitura, iniciaram a comercialização junto ao programa da merenda escolar e em algumas redes de supermercado. Em 1997, aconteceu a parceria com a AOPA, que trouxe a APAC para além da agricultura convencional. Esta parceria durou até o final de 1999, daí em diante a APAC seguiu comercializando produtos orgânicos e convencionais chegando em 2002 a comercializar 450 t de produtos orgânicos e 950 t de convencionais. Naquela época, seu quadro associativo era composto por 100 sócios, sendo que 30 eram orgânicos e 10 estavam em conversão.

A comercialização era feita junto às redes de supermercados de Curitiba, Santa Catarina e Rio Grande do Sul respondendo por 98% do escoamento da produção e apenas 2% era comercializado na loja da APAC, direto ao consumidor e único ponto de venda de orgânicos no comércio verejista de Colombo. Segundo CEAO (2002) a formação de preço da APAC tomava como referência o preço pago aos agricultores na CEASA e acrescentava 30 – 40%. Ainda segundo CEAO (2002) naquela época, suas maiores dificuldades eram:

• necessidade de ampliação do beneficiamento;

• restrição financeira aliada à dificuldade de acesso ao crédito para

investimento;

• a comercialização era complicada, sendo necessário a ampliação de

outros canais de comercialização para reduzir a dependência das redes de supermercados.

Estas dificuldades perduraram e acompanharam a APAC até o seu fechamento em 2005. A maioria dos entrevistados de Colombo foi associada da APAC e lamentou seu fechamento, alegando as mais diferentes versões, desde má gestão, passando por falta de apoio do governo até por sofrer das práticas abusivas das redes de supermercados. Neste trabalho, não se busca fazer juízo sobre esta questão, porém o simples fato do ocorrido mostra um cenário complicado com relação ao modo de viver o associativismo na RMC.

A trajetória da AOPA já foi detalhada anteriormente, porém se faz necessário apresentar mais alguns dados relativos às suas dificuldades evidenciadas no documento produzido por CEAO (2002), que pontua:

• falta de crédito para estruturação das propriedades e das atividades

produtivas;

• carência de assistência técnica voltada a agroecologia;

• entraves legais e tecnológicos nas etapas de processamento;

• falta de canais de comercialização mais favoráveis aos agricultores.

Com o intuito de enfrentar estes problemas, a AOPA propôs naquela época suas estratégias:

• fortalecimento da organização dos agricultores e agricultoras

agroecológicos;

• formação e capacitação de seus associados;

• estruturação da certificação participativa (Rede Ecovida);

• busca de canais alternativos de mercado;

• construção de um conjunto de parcerias com vários setores da

sociedade.

Finalmente, a AOPA conseguiu estruturar a rede de certificação e tem atuado através de projetos na formação de seus associados e de agricultores interessados na mudança para a agricultura orgânica.

Com relação aos aspectos associativos dos agricultores entrevistados de Campo Largo, ficou claro que a maioria (90%) participa da Associação dos Produtores Orgânicos de Campo Largo (PRODORGAN) e também do grupo da Rede Ecovida, denominado também PRODORGAN, pois apesar de terem finalidades distintas, eles operam juntamente ficando difícil discernir as duas entidades. A PRODORGAN foi originária do amadurecimento de um núcleo municipal da AOPA. Já o grupo da Rede se formou em função da necessidade de certificação dos agricultores.

Em oficinas realizadas em 2005, para se avaliar o grupo e quais eram as suas possibilidades de crescimento, ficou evidenciada a característica individualista no grupo. Nos trabalhos de grupo, quando as pessoas eram provocadas para dizer qual era o seu papel na associação, muitos afirmaram que era trazer produto para “ela” vender ou presenciar as reuniões. Isto, de fato é muito pouco, quando se pensa em construir um processo abrangente de sustentabilidade.

Os agricultores em Campo Largo afirmaram em 30% das entrevistas que já tiveram problemas com associações e que estes estiveram ligados à: desvio de recursos, desistência e desânimo de outros associados e decepção com dirigentes. Os agricultores avaliaram que as associações de um modo geral estão nesta situação em função dos seguintes motivos (FIGURA 33).

Má administração ou falta de tempo dos dirigentes para tomar decisões. Conflito de interesses: financeiro maior que outros interesses.

Individualismo.

Faltam dirigentes comprometidos.

Não viu resultados. AOPA aproveitou para projetos. O primeiro resultado foi a compra conjunta de tomate da PRODORGAN com preço mais baixo que os atravessadores.

Pequenas encrencas e as pessoas que começam já param.

FIGURA 33 – RELATO DOS AGRICULTORES SOBRE OS MOTIVOS QUE LEVAM AS ASSOCIAÇÕES A ESTAREM NA SITUAÇÃO ATUAL – CAMPO LARGO

FONTE: O AUTOR (2007)

Por outro lado, no município de Colombo, onde o processo associativo foi muito mais traumático, 50% relataram problemas com as associações ocorridos em função de discordâncias no modo de gerir a associação e de prejuízos causados pelas mesmas. Como demonstra a fala de um integrante da APAC: “Eles quase me quebraram!” Em função, destes problemas acredita-se que existe atualmente uma aversão generalizada ao redor do associativismo, que tem as suas raízes no histórico, que já foi explanado. Os agricultores avaliaram que as associações estão nesta situação em função dos depoimentos transcritos na figura 34.

Existe interesse particular e político.

Envolvimentos com políticos. Agrônomos não foram bem na gestão de associações, é a segunda que eles quebram na cidade.

Pessoal só vê dinheiro.

Quando mexe com dinheiro, complica para vender. Onde tem muita gente que manda, não dá certo.

Faltam pessoas para por a mão na massa. Cachorro que tem muito dono, morre de fome. Grandes redes atrapalham. Falta infraestrutura.

O associado tem culpa. Quando a verdura está cara no mercado, desvia a produção da associação. O grande come o pequeno. Quatro ou cinco comem, o que 20 juntaram com trabalho.

Má administração. Só pensam no bolso.

FIGURA 34 – RELATO DOS AGRICULTORES SOBRE OS MOTIVOS QUE LEVAM AS ASSOCIAÇÕES A ESTAREM NA SITUAÇÃO ATUAL – COLOMBO

FONTE: O AUTOR (2007)