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1 INTRODUÇÃO

3.2 METODOLOGIA

Neste trabalho, se reconhece os termos método e metodologia como distintos, apesar de serem tratados como sinônimos em muitos ambientes. O método já foi descrito anteriormente e a metodologia compreende a organização dos diversos métodos, seus paradigmas, objetivos, enfim as técnicas de pesquisa relativas àquele campo do conhecimento (TURATO, 2003).

Dentro desta concepção e tomando como base o método complexo foram escolhidas metodologias qualitativas para nortear o desenvolvimento desta pesquisa, não deixando de lado nas análises as metodologias quantitativas. Nesta

pesquisa se adotou que ambas não se excluem, porém ampliaram a visão, pois foram utilizadas com rigor científico e dentro de um contexto.

Neste sentido, considerando a importância da multidimensionalidade como elementos de análise, vislumbra-se que a agricultura orgânica não pode deixar de ser vista mediante o prisma da sustentabilidade. Caporal e Costabeber (2002a) consideram-no possuindo seis dimensões distintas e relacionadas entre si, são elas: ecológica, econômica, social, cultural, política e ética.

Na figura 2 é possível observar o caráter multidimensional da sustentabilidade, inclusive com a proposição de diferentes níveis entre elas. As dimensões contempladas no primeiro nível (ecológica, econômica e social) são básicas para todo o processo. Não seria possível haver uma agricultura orgânica sustentável na dimensão política (segundo nível) quando esta mesma não possui sustentabilidade econômica.

FIGURA 2 – MULTIDIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE FONTE: CAPORAL E COSTABEBER (2002a)

Nas metodologias qualitativas está compreendida uma preocupação que vai além de leis e princípios. Por outro lado, a busca da qualidade é particularmente “indicada para situações em que a teoria não é suficiente para solucionar o problema e o pesquisador necessita buscar em campo as variáveis que serão consideradas na análise”, como é o caso na presente (DENCKER, 1998, p.98).

Dentre as metodologias qualitativas, a observação participante compreende uma forma de coleta de dados na qual o pesquisador interage pessoalmente com o contexto observado. Segundo Haguette (2005), o observador pode desempenhar um

papel passivo, quando procura interagir o mínimo possível, ou um papel ativo, que potencializa a sua participação, com a finalidade de obter dados de melhor qualidade e integrar sua ação dentro das ações do contexto que observa. Normalmente, quanto mais tempo o pesquisador está ligado ao contexto pesquisado, mais se assume o papel de observador ativo, o que inclusive pode facilitar mudanças na realidade.

Se por um lado esta abordagem favorece a qualidade dos dados, por outro, em função da proximidade observador/observado, pode causar alguma diminuição da percepção do contexto. Além disso, existe a desvantagem de não se poder generalizar os dados para outras populações da mesma forma como se faria com um levantamento quantitativo. Porém, a profundidade dos dados permite ilustrar realidades e favorecer uma compreensão mais ampla de determinada situação. Nas palavras de Haguette (2005, p. 76), “sua força é também sua fraqueza...”, avalia-se os pontos positivos da abordagem com a consciência dos pontos fracos ou cego, pelo envolvimento e proximidade com a atividade.

Enfim, para uma avaliação adequada da agricultura orgânica na RMC se exige muitos métodos e dados. A pesquisa

da ação empírica exige [...] a observação sistemática dos acontecimentos; inferir os sentidos desses acontecimentos das (auto-)observações dos atores e dos espectadores [que] exige técnicas de entrevista; e a interpretação dos vestígios materiais que foram deixados pelos atores e espectadores [e que] exige [...] uma análise sistemática. (BAUER e GASKELL, 2002, p. 18-19)

Na concepção de Bauer e Gaskell (2002), existem quatro dimensões na pesquisa. A primeira diz respeito aos seus princípios estratégicos e neste caso, foi escolhida a observação participante por contemplar os objetivos da melhor maneira. A segunda é relacionada com os métodos de coleta de dados, basicamente expressos por: entrevista individual, grupos focais, observação sistemática e coleta de documentos. A terceira trata das análises dos dados, que é fundamental e contempla análises qualitativas e quantitativas. Finalmente, a quarta dimensão refere-se aos interesses do conhecimento que quando produzidos servem para emancipação e “empoderamento” do segmento na região, ou seja, dos agricultores e consumidores.

Esta técnica de observação participante foi utilizada em diversos eventos ligados à agricultura orgânica, a maioria deles com freqüência regular, como é o

caso da reunião do grupo ligado à rede Ecovida de Certificação Participativa em Campo Largo, do Grupo de Estudos de Agricultura Orgânica (GEAO), Colegiado Paranaense para a Produção Orgânica (CPOrg), entre outros, que serão listados posteriormente. Em nenhum dos casos foi ocultado o objetivo da pesquisa. A importância destes diversos pontos de vista dos segmentos da atividade, em diversos momentos, configuram um quadro analítico cada vez mais nítido. Esta nitidez foi conseguida por repetidos questionamentos acerca dos fatores limitantes ao desenvolvimento naqueles eventos.

3.2.1 Universo da pesquisa

A Região Metropolitana de Curitiba abrange 25 municípios, conforme a figura 3. Porém, neste estudo foi feito um recorte para viabilizar as análises com relação ao objetivo geral do trabalho no que diz respeito aos fatores que interferem na consolidação do segmento. Portanto, foram considerados os municípios aonde o trabalho dos agricultores orgânicos já vem sendo realizado há mais de cinco anos e onde os mesmos estão organizados ao redor de alguma entidade associativa. Estas entidades são associações de produtores, cooperativa ou grupos ligados à Rede Ecovida de Agroecologia. Estes critérios delimitam o universo da pesquisa e permitem a avaliação das diversas hipóteses elencadas. Os municípios que se enquadram nesta condição foram (10): Almirante Tamandaré, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Lapa, Mandirituba, São José dos Pinhais e Tijucas do Sul.

Em função de aspectos práticos, os municípios foram agrupados respeitando características similares, em dois sistemas distintos, representados por: Campo Largo (Almirante Tamandaré, Bocaiúva do Sul, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Lapa, Mandirituba,) e Colombo (Colombo, São José dos Pinhais e Tijucas do Sul).

FIGURA 3 - IDENTIFICAÇÃO DOS SISTEMAS-TÍPICOS NA RMC FONTE: IPPUC (2002)

O sistema-típico Campo Largo possui na sua maioria, produtores com comercialização direta (feiras), certificação predominantemente participativa e pequeno apoio de políticas públicas municipais. Campo Largo foi estudado como município-tipo para que suas análises sirvam como ilustração para aqueles outros pertencentes ao sistema. O sistema-típico Colombo demonstrou produtores com comercialização indireta (associação e empresa), certificação predominantemente auditada e médio a grande apoio de políticas públicas municipais.