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4 A AGRICULTURA NA RMC

4.2 OS AGRICULTORES ORGÂNICOS E SUAS PROPRIEDADES

4.2.1 Motivação

A presente pesquisa levantou nos dois municípios-tipo dados referentes aos agricultores para a ilustração de um perfil da família e das propriedades orgânicas. Os motivos que levaram os agricultores a mudar de um sistema de agricultura convencional para um sistema de produção orgânico foram divididos em três grupos principais. Os motivos econômicos, que demonstraram a redução dos custos de produção e por conseqüência a inviabilização da propriedade, além da diferenciação do produto no mercado. Os motivos de saúde, que diziam respeito à saúde dos agricultores (alguns intoxicados várias vezes) e dos consumidores. Finalmente, os motivos ambientais, que estavam relacionados com a proteção dos mananciais e a recuperação do ambiente que estava degradado.

Em Campo Largo, com respeito à motivação que os levou a mudança de sistema, 70% alegaram motivos econômicos, 20% motivos de saúde e 10% motivos ambientais e filosóficos, conforme mostra a figura 6.

Em contrapartida, na pesquisa conduzida por Curitiba (2006a) pela Secretaria Municipal de Abastecimento (SMAB), em um levantamento que entrevistou todos os 56 feirantes orgânicos em atividade, chegaram aos dados demonstrados na figura 7. Estes feirantes representam os mais diversos municípios da RMC (Almirante Tamandaré, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Cerro Azul, entre outros, além do município de Barra do Turvo no estado de São Paulo). Estes dados foram conflitantes com as entrevistas realizadas em Campo Largo, pois a questão econômica foi mencionada por apenas 9% dos entrevistados na pesquisa feita por Curitiba (2006a). De fato, acredita-se que houve um problema na formulação da questão na pesquisa de Curitiba, pois as pesquisas de outros autores apontam resultados semelhantes aos encontrados no presente trabalho (DAROLT, 2000; ALMEIDA, 2003).

20% 10% 70% Saúde Ambientais e filosóficos Econômicos

FIGURA 6 – MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES DE CAMPO LARGO ENTREVISTADOS NA PESQUISA FONTE: O AUTOR (2007) 27% 15% 13% 9% 9% 27% Saúde Não Agredir o meio ambiente Qualidade de vida Não usar agrotóxico Econômicos Outros

FIGURA 7 – MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES FEIRANTES EM CURITIBA FONTE: CURITIBA (2006a) ADAPTADO PELO AUTOR

Em Colombo, neste mesmo sentido, os motivos que levaram as famílias entrevistadas para a mudança de sistema estão expressos na figura 8, onde novamente as questões econômicas foram as prevalentes.

20% 40% 10% 30% Saúde Ambientais Econômicos Incentivo de técnicos

FIGURA 8 – MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES DE COLOMBO ENTREVISTADOS NA PESQUISA

Já em outro estudo conduzido em Colombo, Almeida (2003) discutiu as motivações para a mudança para agricultura orgânica. Encontrou 50% dos entrevistados afirmando que o motivo era a perspectiva de ampliar rendimentos aproveitando o crescimento da demanda, 30% apontou questões de saúde e 20% outros motivos, como retrata a figura 9. Percebe-se aí claramente a priorização da dimensão econômica sobre as outras.

20% 30% 50% Saúde Econômicos Outros

FIGURA 9 – MOTIVOS PARA MUDANÇA DOS AGRICULTORES DE COLOMBO FONTE: ALMEIDA (2003)

Ainda citando outra pesquisa conduzida com agricultores orgânicos na RMC, Darolt (2000) identificou na sua amostra uma maior preocupação dos agricultores com a saúde para a mudança (68,4%). Sendo seguida de perto pelos motivos econômicos (66,7%) e em terceiro lugar as convicções ideológicas com 35,1% das respostas, o que corrobora a argumentação anterior. Darolt entrevistou 57 agricultores e os dividiu em quatro categorias, que apresentaram lógicas diferentes com relação à motivação para mudança, conforme pode ser observado na tabela 2. Cabe ressaltar que esta questão admitiu mais de uma resposta, por isso a soma dos valores ultrapassou 100%.

TABELA 2 - PERCENTUAL MÉDIO DE UNIDADES DE PRODUÇÃO SEGUNDO AS RAZÕES QUE

INFLUENCIARAM OS AGRICULTORES NA DECISÃO DE PRODUZIR

ORGANICAMENTE

RAZÕES PARA TIPOS DE AGRICULTORES MÉDIA

PRODUZIR ORGANICAMENTE PERCENTAGEM (%) MÉDIA DE

UNIDADES TOTAL AFT N = 32 AFO N = 20 EAO N = 03 EAT N = 02 N = 57

Saúde pessoal e da família 75 65 33 50 68,4

Razões econômicas (obter mais lucro) 65,6 65 100 50 66,7

Convicção ideológica 25 45 33 100 35,1

Conservação dos recursos naturais 21,8 15 0 50 19,3

Saúde do consumidor 6,2 30 0 0 14,0

Conjuntura político-econômica 21,8 0 0 0 12,3

Melhorar a produtividade 6,2 5 0 0 5,3

FONTE: DAROLT (2000)

NOTA: AFT= Agricultor Familiar em Transição AFO= Agricultor Familiar Orgânico EAO= Empresário Agrícola Familiar EAT= Empresário Agrícola em Transição

Em contrapartida, no município da Lapa, Hernández (2005) conduziu um estudo envolvendo 14 famílias e apontou dois grandes fatores que motivaram a mudança tecnológica dos agricultores: preservação do meio ambiente e motivos econômicos (mercado garantido). A autora estabeleceu uma diferenciação entre estas duas vertentes motivacionais e sua influência na lógica de conversão da propriedade, número de técnicas na produção vegetal e fonte de informações (FIGURA 10). ASPECTOS TÉCNICOS-INSTITUCIONAIS UNIDADES EM OU COM CONVERSÃO TOTAL UNIDADES EM CONVERSÃO PARCIAL Fator principal que motivou

A conversão

Preservação do meio ambiente Mercado garantido

Extensão da conversão Conversão total da unidade Conversão parcial da unidade

de uma área de 0,5 ha Áreas de produção adotadas Vegetal, animal e florestal Vegetal ou animal, apenas

uma Número de técnicas adotadas

na produção vegetal

Mais de oito técnicas Uma cultura

Fontes externas de informação de maior influência

Rede Ecovida, AOPA e Curso Técnico em Agroecologia (ET-UFPR)

Lapinha Clínica SPA

Naturista

FIGURA 10 – ASPECTOS TÉCNICOS-INSTITUCIONAIS CARACTERÍSTICOS DAS UNIDADES EM OU COM CONVERSÃO TOTAL, E DAS UNIDADES EM CONVERSÃO PARCIAL DOS GRUPOS BEIJA-FLOR E MARGARIDA – LAPA, RMC DE CURITIBA, PR

FONTE: HERNÁNDEZ (2005)

Quando o fator principal estava ligado a motivos econômicos a pesquisadora percebeu uma redução do número de técnicas adotadas, notadamente caracterizando um sistema mais simplificado, sendo chamado por Gliessman (2005)

de propriedades adotantes de tecnologias de produto. Segundo Hernández (2005, p. 116) estas tecnologias implicam em

menor grau de reorganização, sedimentação e maturação de novos conhecimentos se comparadas com as tecnologias de processo. As tecnologias de produto também representam uma complexidade menor na implantação de rotinas, o que facilita o processo de aprendizado de técnicas orgânicas de produção, diminuindo o tempo de conversão e aumentando a velocidade do processo de certificação.

Diante destes vários estudos foi possível concluir que os fatores motivacionais foram bastante diversos e que eles influenciaram a lógica de produção, conversão e de comercialização. Os fatores que motivaram a mudança trazem consigo valores invisíveis no discurso, porém expressos de maneira explícita na prática, como será discutido nas reflexões finais. No que tange às mudanças fundadas em motivações econômicas se observou claramente a busca da viabilização da família na atividade agrícola. Isto se deveu ao cenário de custos de produção crescentes na agricultura convencional e preços dos produtos declinantes, o que em certas culturas não motivavam sequer a colheita.