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3. EVOLUÇÃO DOS PAPÉIS DAS SUBSIDIÁRIAS

5.2 Histórico das operações no Brasil

5.2.1. Início da parceria entre FMC e CBV

As operações da FMC no Brasil foram iniciadas em 1958 através de uma joint venture para a fabricação de peróxido de hidrogênio (água oxigenada). Em seguida, seus negócios foram expandidos para as àreas química e implementos agrícolas.

Em 1957, com a aquisição da O-C-T Oil Center Division (empresa norte-americana, do estado do Texas), houve o aumento de seus ativos, o que fez com que a empresa entrasse no ramo do setor petrolífero, com um uma perspectiva de crescimento internacional.

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Relatório Anual de 2011.

Nesta lógica, a empresa passou a buscar parceiros em novos mercados para este segmento. O Brasil foi visto como uma boa oportunidade de expansão de negócios para atendimento de novos clientes. Essa aproximação com o Brasil foi concretizada através de contratos de licenciamento com a companhia CBV Indústria Mecânica Ltda, empresa brasileira que havia iniciado os seus negócios em dezembro de 1956. O nome da empresa veio das iniciais de Carlos Barbosa Viana, pai dos fundadores e irmãos, Paulo Virgílio Didier Barbosa Viana e Antonio Carlos Didier Barbosa Viana11. Ambos desenvolveram a carreira na marinha, como engenheiros navais,e tendo inclusive trabalhado no Arsenal da Marinha.

A companhia CBV Indústria Mecânica Ltda, em um primeiro momento, vislumbrou oportunidades para fornecimento de produtos e serviços básicos à indústria mecânica, principalmente no atendimento à demanda de usinagem de peças para a indústria nascente brasileira12. O cenário no país era favorável, em grande parte pelo estímulo governamental, à abertura de novas empresas, a partir do plano de metas do governo JK. Assim sendo, o foco inicial dos negócios da empresa estava voltado para as linhas automotiva e ferroviária, com o atendimento de clientes como a Fábrica Nacional de Motores (FNM) e da Rede Ferroviária Federal.

A FNM foi o primeiro cliente regular, em 1957, graças à demanda por peças como rodas, eixos e cruzetas. A participação da CBV neste processo era a adaptação das peças, ao receber o material forjado e executar a usinagem. Como se tratava de uma operação que agregava pouco valor ao produto, e a empresa, gradualmente, pensou em desenvolver produtos com a marca CBV. Surgiu a ideia de fabricação de mancais (parte da estrutura mecânica destinada a comportar um eixo) para a Rede Ferroviária Federal, tendo em vista que o mercado brasileiro tinha pouca oferta, e ainda realizava uma produção artesanal. A empresa fez uma parceria para obter o licenciamento da americana ABEX Corporation, de forma a dominar os processos de fabricação, e agregar valor aos produtos vendidos. Em 1962, o mancal torna-se o primeiro produto vendido com a marca CBV.

Entretanto, a partir das oportunidades provenientes do ramo de petróleo, principalmente pela busca de acordos para a fabricação de produtos no Brasil, de forma a atender a demanda de equipamentos para o setor (com a produção de árvores de natal e cabeças de poço para a Petrobras), houve o interesse pela ampliação em seu portfólio de negócios, o que proporcionou que essa primeira parceria entre FMC e CBV fosse ratificada.

Essa convergência entre as empresas proporcionou intercâmbio de conhecimentos

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em diversas áreas, tais como tecnologia, gestão, marketing e vendas. Além disso, para a CBV, foi canalizado o suporte técnico necessário à produção de uma extensa variedade de válvulas e cabeças de poço para campos terrestres. A posteriori, evoluiu-se para equipamentos mais sofisticados, como as novas gerações de árvores de natal, além de investimentos na prestação de serviços de reparo.

No final da década de 60, e com as oportunidades de expansão do relacionamento com o seu principal cliente do setor petrolífero (Petrobras), a CBV ampliou o licenciamento de produtos da FMC. Com isso, produtos como árvores de natal, válvulas de produção e de controle de fluxo já passavam a ser comercializados, contribuindo para a empresa se tornar a maior fabricante de equipamentos petrolíferos da América do Sul.

Diante do cenário positivo, em decorrência do crescimento industrial, investimentos em grandes obras no Brasil, bem como a abertura ao capital estrangeiro, a CBV buscou o caminho da captação de novos recursos e investimentos. Uma das ações tomadas com este intuito foi a abertura de seu capital, com a transformação da empresa de Sociedade Limitada (Ltda) para Sociedade Anônima (S/A), ocorrido em 1972. No que diz respeito ao capital votante (ações ordinárias) ficou de posse da família Barbosa Viana, e uma parcela menor com terceiros. A FMC, interessada nos acontecimentos e perspectivas do setor de petróleo no Brasil, tornou-se acionista minoritária com direito a voto.

O rápido desenvolvimento da indústria de petróleo no Brasil, bem como a descoberta de novos campos, como Robalo e Camorim (Sergipe), Uberana (Rio Grande do Norte), Mero (Alagoas) e a Bacia de Campos (Rio de Janeiro) compensaram de alguma forma o sombrio cenário internacional da década de 70 para o setor, que passou por duas crises internacionais.

No início da década de 80, os investimentos foram reduzidos, em decorrência dos choques do petróleo, que levaram ao racionamento de energia, visando à manutenção do abastecimento no país, além da busca de fontes alternativas. Entretanto, com o advento de novas descobertas a posteriori, como as reservas de Albacora (1984) e Marlim (1985) aumentaram as expectativas sobre a oferta de petróleo no país. Devido a essa demanda, assim como a alavancagem produtiva da bacia de Campos, houve um enfoque no desenvolvimento de sistemas submarinos de produção de petróleo. Apesar da FMC naquele momento, focar suas atividades em tecnologia onshore nos Estados Unidos, a corporação voltou a investir neste mercado incipiente para atender as necessidades no Brasil.

Em 1987, foi feita a entrega de uma árvore de natal, que obteve o recorde mundial de produção em lâminas d’água acima de 300 metros no campo de Marimbá. No ano seguinte, o recorde foi novamente quebrado, com o atingimento de uma profundidade de 492 metros.

Dessa forma, a parceria entre CBV e FMC ficou cada vez mais reconhecida internacionalmente.

Na década de 90, houve a expansão no portfólio de produtos oferecidos, com a descoberta de novas tecnologias, que impulsionavam os sistemas de produção em águas profundas, como a fabricação de manifolds13. Dada à complexidade do negócio, os recursos em pesquisa e desenvolvimento eram crescentes, e o mercado apresentava-se cada vez mais afunilado.

5.2.2. Os motivos que levaram a criação da FMC Technologies do Brasil

A união entre FMC Technologies e CBV foi sacramentada em 1998, por meio da aquisição da firma brasileira. A nova diretoria recebeu o desafio de comandar o processo de transição de uma empresa familiar para atender os requisitos de uma companhia multinacional.

No relatório financeiro da FMC Technologies do ano de 2001, há a seguinte justificativa para a compra da CBV:

“Para atender o crescimento da demanda de nossos clientes por capacidade e competência em águas

profundas, a FMC investe internamente em processos dessa natureza e sistemas de produção. Assim, adquiriu a CBV, empresa brasileira líder no fornecimento de sistemas submarinos. Como reconhecimento das atividades offshore no Brasil, e para atender a demanda de nossos clientes, nós também anunciamos planos de expandir nossa fábrica no Rio de Janeiro e Macaé”.

Todos os respondentes confirmaram que a relação entre FMC Technologies e CBV era antiga e a companhia brasileira possuía um contrato de licenciamento com a FMC, que permitia a comercialização de produtos para o mercado brasileiro.

Sobre a entrada da FMC no mercado brasileiro em 1998:

“Em 1998, a FMC decidiu se estabelecer no setor no Brasil, decidimos de fato entrar neste mercado, e

a maneira mais fácil que foi identificada ocorreu pela aquisição da CBV, que já tinha experiência e conhecimento técnico para a fabricação dos equipamentos”.

“Se deu com a abertura do mercado brasileiro de petróleo e gás para as empresa estrangeiras. Isto

motivou a FMC a se aproximar mais do Brasil, e preocupada com a possível vinda dos seus clientes no

exterior como Shell, Chevron e BP. Até então, só a Petrobras podia atuar. E a CBV cuidava bem do mercado da Petrobras no Brasil. Mas com a chegada das outras operadoras, a FMC entendeu que seria a hora de estar de frente com os seus clientes, que também estariam no mercado brasileiro. E foi natural o caminho para efetuar a compra da CBV. Ou as operações da FMC se dariam por meio da compra da CBV, ou entraria com a instalação de fábricas próprias”.

“A FMC já era fornecedora e parceira de alguns deles, principalmente a Shell, a FMC já tinha

relação com a CBV, bateu na porta dos donos da CBV e tomaram a decisão de entrar no Brasil por dois caminhos: adquirir a CBV com todo o seu ativo e passivo e corpo técnico ou então abrir uma filial da FMC e tornar-se concorrente da CBV, tirando o contrato de licenciamento que existia entre eles, já que a FMC teria uma representação no país. Os donos da CBV optaram por vender a companhia para a FMC. Ou seja, o fato gerador e motivação: quebra do monopólio; facilitador: relação com a CBV de longos anos e a proposta que culminou na venda da CBV”.

“... dessa forma, o grande motivador para a compra da CBV foi a abertura que o governo brasileiro

deu no sentido de outras operadoras atuarem no Brasil, não apenas a Petrobras. O que possibilitou mais negócios, não só com a Petrobras, mas também com outras operadoras, fazendo com a FMC

buscasse a ampliação de seus negócios”.

“A FMC adquiriu a CBV em função da abertura da exploração de petróleo e gás no Brasil, ao ver que

os negócios no Brasil iriam crescer”.

A abertura do mercado de petróleo no Brasil ocorreu pela lei número 9478, de 06 de agosto de 1997, sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Passou-se então a permitir que outras empresas com sede no Brasil, além da Petrobras, atuassem em todos os elos da cadeia de petróleo em regime de concessão ou por meio de autorização do governo federal. Além disso, essa lei foi responsável pela criação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), com a finalidade de propor políticas para o setor; e a Agencia Nacional de Petróleo (ANP), órgão regulador da indústria de petróleo, gás natural, seus derivados e biocombustíveis, vinculada ao Ministério de Minas e Energia14.

Com o cenário brasileiro sinalizando pela autossuficiência de petróleo, assim como o interesse de empresas multinacionais em elaborarem planos ambiciosos para atender o

mercado brasileiro, levaram ao início das conversas sobre união entre FMC e CBV. As negociações foram concluídas em 14 de agosto de 1998, e nesta data, foi oficializada a compra do controle acionário da CBV pela FMC Technologies.

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