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A idealização da EFA ocorreu a partir dos anseios e da necessidade das famílias camponesas cearenses se emanciparem, estes se efetivaram através de uma organização que teve início nos assentamentos colocando como ponto de pauta uma educação contextualizada que pudesse contribuir com novas formas de convivência e práticas produtivas no campo.

A realidade das camponesas e dos camponeses da região do sertão dos Inhamuns era bastante complicada. Primeiramente, no que se refere à questão do acesso à terra pois, uma grande maioria, que fazia parte dos povos originários da região, se encontrava sem acesso à terra para produzir livremente. Vivendo da agricultura, tinham que pagar renda3para uma minoria que se apossara da terra de forma duvidosa.

A partir da década de 1980, mesmo sendo um período complicado devido a Ditadura Militar, a Diocese de Crateús, juntamente com a CPT, Dom Fragoso e organismos da diocese que já desenvolviam um trabalho de conscientização das famílias de agricultores sobre reforma agrá- ria, preocupados com o êxodo rural, que era muito forte, sobretudo entre os jovens, começaram a discutir sobre uma alternativa para manter os jovens no campo.A educação surgiu, então, como pauta das reuniões entre sindicatos, igreja e assentados. O sujeito G3 aponta como decorreu o processo de idealização e construção da escola a partir das necessidades dos agricultores da região:

E aí a gente ficou conversando então, com o pessoal aqui, nos encontros então dos trabalhadores, então eles falavam muito, começaram a surgir as desapropri- ações e aí o pessoal, lá nos encontros, os assentados, então eles diziam: “Olha, como é que vocês podem ajudar a gente, como é que é CPT pode ajudar a gente a entender um jeito diferente de fazer agricultura, porque o que a gente aprendeu foi brocar, queimar, plantar milho, feijão.Como é que a gente pode descobrir outras possibilidades, outro jeito de lidar melhor com a natureza, tanto para a questão da continuidade, como também para permitir que os jovens se interessem também por isso, né.” Isso aqui em 1992 quando a gente voltou. É então no final da década, então as coisas começaram a clarear nós tínhamos visitado duas escolas de família, uma em Ji-paraná, em Rondônia, e a outra, em Teresina, isso em 1991. Aí a gente disse: “Olha, do que a gente viu por aí afora é bom, e depois a gente começou a se interessar a ler também sobre esse modelo de educação, a Pedagogia da Alternância, então a gente acha que a escola familiar agrícola pode ser uma resposta aos jovens” E aí, dessa conversas foram surgindo propostas; então, vamos dizer, a diocese interessou por isso e alguns padres, então apoiaram e disse: “Olha, a gente não tem, não dispõe de tempo, mas vocês de Independência podem-podem puxar essa coisa e a gente apoia.”

3 Renda da terra é uma teoria geral dentro da área da economia política que procura estudar e explicar como funciona a lógica do capital na organização da produção agrícola no modo de produção capitalista. Neste caso se referente ao pagamento, por parte dos agricultores, aos senhores de terra pelo direito de uso da terra na produção de grãos.

A partir do momento que as instituições e os movimentos sociais do campo come- çaram a se interessar sobre o modelo de Educação baseado na Alternânciaaconteceram vários encontros para decidir a viabilidade do projeto, assim como local e recursos para implantação da escola.

Inicialmente os padres sugeriram visitar várias paróquias que pudessem em ceder o local ideal e quem podia se comprometer com o projeto, contudo isso não ocorreu e também os recursos eles não sabiam de onde poderiam vir. Então 1992 surgiu a possibilidade de comprar a terra a partir de recurso cedido pelo Pe. Gerardo Fabert, devido a uma herança que recebeu doou o dinheiro para a compra do terreno. Então depois de muita procura encontraram uma fazenda na comunidade de Santa Cruz. Esta era uma área de difícil acesso e muito degradada G3 aponta sobre a realidade a propriedade no período:

E aí então fomos lá para aquele lugar que você viu (risos) que é um lugar, difícil, onde foi tudo degradado, desmatado aquela área não tinha uma árvore, não tinha nada, então foi lá que a gente encontrou e aí, então vamos trabalhar aqui! E a partir daí então coisa começou a acontecer tanto a nível do pessoal, que trabalhava na escola, como também na diocese de entender essa proposta, de apoiar e tudo mais, e foi também que os assentamentos foram se firmando e essa ideia de fazer uma agricultura orgânica ou agroecologia, permacultura, uma série de coisas assim que a gente foi descobrindo, foi trabalhando, ajudando ter uma perspectiva porque das EFAs que a gente sabe que existem no Brasil, têm muitas que trabalham com agricultura convencional,ou que os jovens vão ficam lá, mas que todas as práticas são fora ou com a família ou na sua vizinhança não tem, a escola é apenas um lugar de aulas.

Uma questão importante para o período de implantação da EFA foram questões de cunho político através da busca de recursos e compromisso com a Educação do Campo, já que essa responsabilidade não devia vir somente do povo, mas também do Estado visto que no período já havia leis que abordavam e asseguravam o direto á Educação do Campo, que foi um artigo de lei inserido na LDB/96 em 2001: "Art. 1oA presente Resolução institui as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas escolas do campo a serem observadas nos projetos das instituições que integram os diversos sistemas de ensino."(BRASIL, 2001, p.22)

Neste contexto a EFA Dom Fragoso foi planejada pelo Bispo Dom Antonio Fragoso, que atuou 40 anos na Diocese de Crateús e pela irmã Paulete, que veio ao Nordeste brasileiro com o objetivo de auxiliar na organização dos primeiros Sindicatos de Trabalhadores Rurais.

Contudo este modelo de educação idealizada pela Diocese de Crateús que tinha como finalidade a formação continuada dos povos do campo, melhorando as condições de vida das comunidades rurais, e diminuindo o êxodo rural, sobretudo a sujeição e opressão sofridas pelos camponeses, só se concretizou em 2001 a partir da Associação de Famílias Agrícolas

de Independência – EFAI, uma entidade sem fins lucrativos, que foi criada pelos agricultores familiares, trabalhadores rurais, líderes comunitários, dirigentes sindicais e representantes da Comissão Pastoral da Terra – CPT. Contudo somente a partir de 2002 que a EFA passou a ser reconhecida pelo MEC. A escola é batizada com o nome de seu principal idealizador, Dom Fragoso.

Figura 3 – Croqui da área da EFA

Fonte: Acervo EFA Dom Fragoso (2016)

Do ano de sua criação, 2002, até 2007 a escola trabalhava somente com o Ensino Fundamental e a partir de 2008 foi inserido o Ensino Médio. Hoje a escola trabalha somente com o Ensino Médio, os estudantes são formados no curso técnico profissionalizante com habilitação em Agropecuária. A escola neste ano de 2017 completa de 15 anos de luta em defesa de uma educação igualitária e contextualizada para os povos do campo.

No início de setembro do ano corrente foram selecionados 24 alunos da EFA Dom Fragoso para contribuírem no desenvolvimento das ações do Projeto Paulo Freire no Estado do Ceará.

A escola contém disciplinas do currículo convencional, exigidas pelo MEC, como Geografia, História, Matemática. A escola também conta com disciplinas diferenciadas, tais

como: Agricultura Familiar, Economia Doméstica, Construção e Instalação Rural, Educação Ambiental, Zootecnia, estas são trabalhadas em sala, depois em campo e por último são aplicadas nas comunidades dos educandos.

Figura 4 – Ação em comemoração aos 15 anos de funcionamento da escola

Fonte: Acervo EFA Dom Fragoso (2017)

A EFA Dom Fragoso conta com o apoio das seguintes pessoas e instituições desde sua fundação até os dias atuais:

Para a sua manutenção:

a. Entidade Mantenedora – a Associação Escola Família Agrícola de Independência (AEFAI), que através de convênios, projetos e doações diversas, assume a maior parte das despesas efetuadas;

b. Auto-sustentação – com a produção de hortaliças, frutas diversas, mel de abelha, caprinos, ovinos, suínos e etc., destinado à alimentação e à comercialização do excedente;

c. Famílias – parte da alimentação, despesas com material escolar, estágio e visitas de estudo; mensalidade da AEFAI (um por cento do salário mínimo), doação anual de três diárias de serviço para a Escola, de uma saca (milho, feijão ou outros) da produção familiar e um animal (galinha);

d. Poder Público – pagamento de parte do salário de monitores/as e professores, transporte escolar, parte da alimentação escolar, livro didático, cessão de equipa- mentos e móveis;

e. ONGs ou Parcerias – despesas diversas (seminários, formações, viagens de es- tudo, material didático, equipamentos, reforma e ampliação de prédios, inclusive com pagamento de pessoal e custeio em geral).

A escola tem como parceiros os seguintes apoiadores:

• Pe. Gerardo Fabert (in memórian) doação para a aquisição de 135 hectares para a construção da EFA e a instalação de unidades produtivas;

• Mutirões das Comunidades Rurais e da cidade de Independência para a constru- ção dos prédios iniciais da EFA;

• Famílias;

• Comissão Pastoral da Terra (CPT);

• Grupo Um Mundo - Voluntários Franciscanos da Alemanha; • Grupo Freckenhorster Kreis e Kindermissionswerk– Alemanha; • Província Italiana de Bolzano;

• Prefeitura Municipal de Independência;

• Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC/CE); • Projeto Dom Hélder Câmara (PDHC);

• Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Ceará (FETRAECE); • Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Independência, Crateús, Nova Russas, Quiterianópolis, Parambu, Tauá, Pedra Branca, Choró e Quixeramobim;

• Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (EMATERCE); • Grupo de voluntários do Canadá;

• União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil (UNEFAB); • Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA);

• Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) do Estado do Ceará; • Associações Comunitárias das Comunidades Rurais e Assentamentos; • Paróquia de Independência e Monsenhor Tabosa;

• Cáritas Diocesana de Crateús (CDC); • Cáritas Regional do Ceará;

• Instituto de Desenvolvimento da Economia Familiar (IDEF); • Inhamuns Assessoria (IAS);

• FM – Comunitária Independência;

• Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (RESAB); • Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB);

• Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA; • Fundação WE WORLD (antes denominada Intervita); • Movimento dos Sem Terra – MST.

Como citado anteriormente a EFA Dom Fragoso se propõe a trabalhar na perspectiva da Pedagogia da Alternância que se caracteriza por um período letivo no centro educativo alternando por um período letivo no meio sócio-profissional. Inicialmente este período de alternância era de 15 dias na escola e 15 dias na comunidade. Contudo devido às peculiaridades regionais e a questões de economia a escola optou por de 12 dias na Escola e 18 dias na Família/Comunidade.

Atualmente a escola conta com 62 educandos distribuídos na Educação Profissiona- lizante de Nível Médio. Estesse originam de 53 comunidades de 17 municípios do estado do Ceará: Independência, Crateús, Quiterianópolis, Tamboril, Monsenhor Tabosa, Nova Russas, Santa Quitéria, Ipueiras, Madalena, Canindé, Parambu, Tauá, Pedra Branca, Quixeramobim, Aracoiaba, Chorozinho, Ocara.

No que se refere à estrutura física a escola conta com: 3 salas de aula, 1 sala para os monitores/professores, 1 sala para coordenação pedagógica, 1 secretaria escolar, 1 sala para arquivo da associação e edição de imagem, 1 sala para tv e vídeo, 1 auditório, 1 biblioteca, 3 dormitórios para hóspedes com banheiro, 1 refeitório com banheiros, 1 cozinha com despensa, 1 copa com 2 locais para material de limpeza e 01 banheiro, 1 laboratório de informática, 1 laboratório de ciências agrárias, 2 alojamentos masculinos com banheiros, 2 alojamentos femininos com banheiros, 1 anfiteatro descoberto com uma área de 108 m2 com assento para 200 pessoas, 1 telhoça com área coberta de 85 m2e 3 casas para monitores.

A instituição hoje conta com um quadro de 21 profissionais, que estão distribuídos entre professores, monitores, coordenação pedagógica, instrutor de campo dentre outros. Cada profissional desenvolve mais uma atividade a fim de contribuir para um melhor funcionamento da escola, vale ressaltar que os profissionais que trabalham na escola precisam conhecer as relações sociais do campo e se engajar na luta pela terra e pelo bem viver no semiárido.

5 PARA SE PENSAR NA ESCOLA DO CAMPO: A LUTA POR UM CURRÍCULO CONTEXTUALIZADO

O currículo surgiu como objeto de estudo nos Estados Unidos no século XX (1920) em conexão com o processo de industrialização e os movimentos imigratórios que intensificaram a massificação da escolarização, pois era necessário condicionar os sujeitos para que estes entrassem na engrenagem do processo industrial, além de modificar o modo de vida dos migrantes, provenientes do meio rural.

Segundo Silva (2009) a primeira ideia de currículo foi extraída do livro de Bobbit (The Curriculum, 1918) o autor afirma que o currículo é visto como um processo de racionaliza- ção de resultados educacionais, cuidadosa e rigorosamente especificados e medidos. O Currículo se torna um processo industrial e administrativo, os estudantes são comparados com produtos em processo de fabricação. Este se baseou no modelo organizacional de Frederick Taylor e utilizou como suporte as teorias de Ralph Tyler e de John Dewey. A primeira defendia a ideia de organização e desenvolvimento curricular essencialmente técnica. Enquantoa de John Dewey se preocupava com a construção da democracia liberal e considerava relevante a experiência das crianças e jovens, revelando uma postura mais progressista.

A partir da década de 1960 eclodiram grandes agitações e transformações, nesse contexto se iniciaram críticas àquelas concepções mais técnicas e tradicionais do currículo. As teorias críticas do currículo efetuam uma completa inversão nos fundamentos das teorias tradicionais.Dentre os principais autores que discutem sobre as ideologias transmitidas pelo currículo destacam-se: LouisAlthusser em A ideologia e o aparelho ideológico do estado. Sua teoria afirma que a escola contribui para a reprodução da sociedade capitalista ao transmitir, através das matérias escolares, as crenças que nos fazem vê-las como boa e desejável. Bourdieu e Passeron em A reprodução alegam que o currículo está baseado na cultura dominante, o que faz com que as crianças das classes operárias não dominem os códigos exigidos pela escola.

De acordo com Silva (2009), Henry Giroux fala numa “pedagogia da possibilidade” que supere as teorias de reprodução. Ele utiliza os estudos da Escola de Frankfurt sobre a dinâmica cultural e a crítica da racionalidade técnica. Giroux compreende o currículo a partir dos conceitos de emancipação e liberdade, já que vê o currículo como um campo cultural de lutas.

No Brasil o destaque na discussão sobre alienação, opressão e união para libertação é Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido. Sua apreciação não se limita em analisar como é a educação, porém em como deveria ser. Sua crítica ao currículo está sistematizada no conceito de

educação bancária. Freire (2004) concebe o ato pedagógico como um ato dialógico em que os educandos e educadores participam das escolhas dos conteúdos e da construção do currículo.

Embora existam inúmeras críticas ao currículo tradicional e ao modelo fabril de educação, algumas instituições continuam engessadas num modelo de educação que oprime e vitimiza os educandos. O sistema capitalista “mercadoriza” o ensino com o intuito de transformar os sujeitos escolares em máquinas reprodutoras de ideologias fabricadas por um modelo que visa o ter em detrimento do ser, formando assim jovens assíduos e obedientes que serão incapazes de contestar o status quor.

Entretanto, no que se refere à escola do campo esta tem buscado um currículo que questione o paradigma da educação rural e as contradições do modo de produção capitalista no campo. Assim, a Educação do campo traz uma nova concepção quanto ao camponês/campo ou trabalhador rural, fortalecendo o caráter de classe nas lutas em torno da educação. Desta forma, a EFA Dom Fragoso tem buscado a partir do currículo contextualizado da escola do campo libertar os alunos destes parâmetros tradicionais de apenas descrição, a fim de superar os exercícios de memorização, tornando a escola uma fonte disseminadora de esclarecimentos que dá suporte na luta por uma sociedade mais justa e crítica.

De acordo com o Programa Político Pedagógico – PPP, da EFA Dom Fragoso (lócus da pesquisa) a escola tem como objetivo promover uma educação contextualizada e integral de jovens agricultores/as e camponeses/as, desenvolvendo o protagonismo juvenil e tecnologias apropriadas para a convivência4com o semiárido.

Assim a partir do modelo de escola e currículos propostos a pesquisa tem como base autores que buscam a partir do currículo uma educação libertadora que questione o modo de produção capitalista e seu projeto educacional. São eles: Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido (2004); Rituais na Escola de Peter McLaren (1991), Michael Apple em Ideologia e Currículo (2006) e Educação e poder (1989) e JurjoSantomé (2013).

Em pedagogia do Oprimido Freire traz à tona a relação dialética de contradição entre opressor e oprimido a fim de desenvolver uma dura crítica ao modelo de educação que produz 4 O termo convivência foi utilizado, pela primeira vez, pela Embrapa e a Embrater no ano de 1982, com apresentação do documento intitulado "Convivência do Homem com a Seca". A proposta contida no documento, apesar de seu caráter tímido, sugere uma orientação inovadora que propõe implantação de sistemas de exploração de forma a assegurar a convivência com o ambiente da seca. A proposta de convivência significa, representa e expressa um novo pacto entre, com e para a natureza. Nesse pacto, a natureza é percebida tanto quanto sujeito de direito como sujeito de sociabilidade. Um pacto que envolva o mundo, reconhecendo a importância simbólica da natureza e o seu reatar simbólico entre o homem e a natureza nos contratos que regulam a vida em sociedade, no qual elege a educação como elemento fundamental, na tessitura dessa comunhão entre a vida humana e o planeta. Mattos (2011)

e reproduz o conformismo social. Inicialmente Freire discute o processo de desumanização causada pelo opressor a seus oprimidos. Ele relata que a forma de imposição que o opressor envolve o oprimido faz com esteveja- se em condições onde ele precise do seu opressor.

O autor traz dois conceitos importantes: o de revolução e o de contradição. Uma revolução no campo da opressão, por buscar mudanças daqueles que dominam, acabam gerando novos opressores e oprimidos. Contudo, na contradição o opressor se reconhece como superior e o oprimido consegue compreender que está num processo de subjugação. Então é a contradição que gera a consciência, entretanto o processo de compreensão da opressão deve acontecer de maneira cuidadosa para que os opressores não venham a ser novos oprimidos, pois a liberdade deve ser sentida por ambas as partes. A libertação do estado de opressão é uma ação social, não podendo, portanto, acontecer isoladamente.

No conceito de educação ‘bancária’ Freire aponta que na educação tradicional o aluno é considerado um mero receptáculo, incapaz de produzir conhecimento, assim o professor deposita nele, aluno, conhecimento produzido por terceiros. Freire propõe que a educação deve ser problematizadora que estimule os educandos a refletir sobre sua realidade para assim transformá-la. Pois uma vez que o aluno conheça a realidade ele jamais se curvará para a condição de oprimido.

Com o tema “a dialogicidade – essência da educação como prática de liberdade” Freire traz o quanto é relevante o desenvolvimento no diálogo no processo educativo. Uma comunicação não expressa somente por palavras, mas também por ações e este diálogo se faz importante, sobretudo quando se refere aos conteúdos, pois segundo o autor estes não devem ser dissociados da realidade dos educandos, tem que haver uma conexão real.

Ao discorrer sobre libertação o autor aponta que esta não pode vir como uma doação, um favor, ela tem que vir como uma conquista (das massas populares) já que estas não podem ser coadjuvantes das próprias vidas. Aponta também que é necessário que os oprimidos se unam para que desta união venha a libertação, porém esta libertação tem que vir da prática, da luta pela liberdade, pois a vontade de libertar-se tem de vir do próprio oprimido para que esta seja de fato legítima.

Michael Apple se opunha à perspectiva neoliberal característica da sociedade norte- americana, que, a leva a pensar o mundo como um vasto supermercado, reduzindo a democracia à escolha livre do consumidor. Que ainda tinha suas bases nas proposições de Bobbit, que via a escola como um espaço fabril.

O autor alertava para o fato de que a seleção que constitui o currículo é o resultado de um processo que reflete os interesses particulares das classes e dos grupos dominantes, a fim de promover desigualdades e manipulação do pensamento.

Apple compreendia o currículo como um campo de disputa ideológica em torno da

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