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Figura 1 – Classificação da pesquisa

Fonte: O autor (2016)

Quanto aos objetivos esta se classifica como Pesquisa Exploratória que de acordo com Gil (2008) objetiva a maior familiaridade com o problema, tornando-o explícito, ou à construção de hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de Pesquisas Bibliográficas e Estudos de Caso.

Quanto aos procedimentos técnicos será um Estudo de caso que, segundo com Kauark (2010), consiste num estudo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento.

De acordo com Yin (2001), o uso do estudo de caso se torna adequado quando é pretendido investigar o como e o porquê de um conjunto de eventos atuais. O autor ressalta que o estudo de caso é uma averiguação empírica que permite o estudo de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. ParaMoraes (2006, p. 664)

O que queremos justamente ressaltar é o dado singular – que pode ser definido como aquele que se sobressai dentro das regularidades que caracterizam o conjunto a ser analisado, o diferente, o que foge à regra, tendo por isso a possibilidade de revelar um modo de atuação mais esclarecedor.

Gil (1996) aponta as principais vantagens dos estudos de caso: a) O estímulo a novas descobertas: o pesquisador em virtude da flexibilidade do planejamento se mantém atento a novas descobertas ao longo do processo; b) A ênfase na totalidade: no estudo de caso o pesquisador tenta investigar as multiplicidades de dimensões do problema e assim foca no problema como um todo; c) A simplicidade dos procedimentos: os procedimentos de coleta de dados são bastante simples, desta forma a compreensão dos relatórios se torna mais acessíveis do que outros relatórios de pesquisa.

YIN (2001) Apresenta o estudo de como uma estratégia de pesquisa, pois este compreende um método que abrange tudo como a lógica de planejamento, as técnicas de coleta de dados e as abordagens específicas à análise dos mesmos. Desta forma o estudo de caso não é nem uma tática para a coleta de dados nem meramente uma característica do planejamento em si, mas uma estratégia de pesquisa abrangente.

A definição do método de pesquisa é uma das fases mais relevante do processo de pesquisa já que este é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que com maior segurança e economia, permite alcançar os objetivos (...) traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. (LAKATOS; MARCONI, 1991)

A pesquisa em questão caminhará pela perspectiva dialética que será adotada por considerarmos que dialética é um método que permite uma maior interpretação da realidade. De acordo com GIL (2012), a dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade. Os fatos sociais não podem ser entendidos isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, sociais, culturais etc.

Gil (2012) afirma que para Hegel, a lógica e a história da humanidade seguem uma trajetoria dialética, nas quais as contradições se transcendem, mas dão origem a novas contradições.O método dialético desenvolveu-se em duas fases: a Pré-socrática (Grécia antiga) Dialética do grego, arte do diálogo, discussão. Concepção Moderna (Hegeliana)–as contradições que dão origem a novas contradições. Concepção de natureza idealista. As ideias têm hegemonia sobre a matéria. Já para Friederich Engels e Karl Marx a dialética tem bases materialistas, ou seja, admitindo a hegemonia da matéria em relação às ideias. E é nessa perspectiva que caminhará a pesquisa.

Os procedimentos investigativos serão desenvolvidos a partir da análise da literatura produzida na área, entrevistas semi-estrumadas com os sujeitos da pesquisa, observação e análise do currículo.

No primeiro momento foram realizadas pesquisas bibliográficas: levantamento bibliográfico em livros, artigos, dissertações, teses, objetivando um maior aprofundamento do conhecimento sobre a temática e a problemática investigada.

No segundo momento ocorreu o primeiro contato como aluna mestrado, o primeiro trabalhode campo, no qual visitei a escola em agosto de 2015 para apresentação da proposta de pesquisa e para pedir a autorização para realizar o trabalho. Nesse período de visitação no qual permaneci dois dias nas dependências pude visitar as unidades produtivas que estavam em funcionamento.

Em seguida foi necessário selecionar as categorias de análise para elaboração das entrevistas que deveriam ter como base a questão central da pesquisa: Como a EFA vem desenvolvendo as práticas agroecológicas proposta no currículo no atual regime de seca?

Após a provação da Escola e com as categorias de análise estabelecidas fiz minha segunda visita a escola em fevereiro de 2017. Nesse período foram realizadas as primeiras entrevistas semi-estruturadas com alunos da EFA (3 ano do ensino médio, forma 3 alunos) e um aluno egresso separadamente a fim de registrar os testemunhos sobre acontecimentos da escola/comunidade e de conhecer o modo de vida dos sujeitos da investigação. Para a apreensão das narrativas foi feito o uso de meios eletrônicos (gravadores) destinadas à elaboração de documentos.

Nesse mesmo período pude vivenciar alguns acontecimentos próprios de escolas que utilizam a alternância como a noite cultural e a defesa de alguns PVFCs. Assim utilizei um documento essencial e clássico na pesquisa qualitativa que foram as anotações na caderneta de campo ou diário de campo.

De um modo geral, a produção da realidade tem início com as notas de campo, quando o pesquisador se coloca como intérprete apontando os elementos essenciais do objeto de estudo: o que pode ser visto e o que não pode ser visto.

No final de março de 2017 e inicio de abril num terceiro momento da pesquisa me desloquei até a cidade de Tianguá para realizar entrevista semiestrurada com um aluno egresso e conhecer as instalações da EFA de Ibiapaba.

Outros procedimentos da pesquisa qualitativa também foram muito utilizados no trabalho de campo como o estudo dos aspectos naturais e culturais através da observação, o registro fotográfico e as rodas de socialização que consistem em discussão, geralmente no final do dia, sobre o estudando e visto durante o dia de campo. Utilizei também a observação

assistemática (modo de vida, cultura, conflitos de uso da terra) para poder reconhecer as diversas realidades.

O quarto momento da pesquisa de campo e ultima visita a escola aconteceu em maio de 2017, nesse período entrevistei dois profissionais que trabalham na escola a mais de 10 anos. Nos trabalhos de campo foram levantadas informações acerca da problemática da região com a finalidade de compreender a realidade local. O levantamento documental e a pesquisa exploratória foram iniciados com antecedência ao trabalho de campo para termos um conhecimento teórico extraído de lituras.

Nesse mesmo período também visitei a comunidade de um aluno egresso a fim de entrevistá-lo na comunidade de Oticiquinha. Visitei também a cidade de Ararendá para entrevistar um dos fundadores da escola.

Para análise do PPP e do currículo da escola foi utilizada a Análise do Discurso que de acordo Caregnato e Mutti (2009) trabalham com o sentido, sendo o discurso heterogêneo marcado pela história e ideologia, a AD entende que não irá descobrir nada novo, apenas fará uma nova interpretação ou uma releitura; outro aspecto a ressaltar é que a AD mostra como o discurso funciona não tendo a pretensão de dizer o que é certo, porque isso não está em julgamento.

Para Rocha e Deusdará (2005, p. 318): Para a Análise do Discurso, a linguagem não é o reflexo de algo que lhe é exterior. Toda produção de linguagem, portanto, não possui uma motivação outra, constituindo-se, de fato, como produto do encontro entre um eu e um outro, segundo formas de interação situadas historicamente. Não há, em Análise do Discurso, um espaço para formas de determinismo que possam constituir um limite entre um interior (a linguagem) e o seu exterior (o social ou o psicológico). Há sim uma articulação entre esses planos. É desse ponto de vista que um pesquisador em Análise do Discurso elaboraria sua pergunta – uma pergunta que explicitaria seu desejo de intervir (ou a impossibilidade de não intervir) em uma determinada produção de realidade.

Ao final esse material foi organizado, categorizado, como entrevistas semi-estruturadas e registros escritos de conversas não gravadas; notas de campo; materiais audiovisuais; textos e/ou reportagens sobre o tema, publicados em jornais e revistas; notas biográficas e, ainda, dados de outras pesquisas sobre o mesmo tema ou temas afins. A partir da organização dos dados, das bibliografias e sistematizações, temos a tomada interpretativa que culminou na redação do documento final.

4 BREVE HISTÓRICO SOBRE A PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA

O campo brasileiro é marcado desde o período colonial por injustiça social e hie- rarquização do poder. Este processo por ser unilateral caracteriza-se por um poder social e o espaço físico encontrarem-se concentrados nas mãos dos detentores da terra, os latifundiários. O capital hoje se utiliza de novas vestes para apropriar-se da identidade dos campesinos com a mecanização do campo e o agronegócio, que geram um processo de expulsão e expropriação do território.

Conforme Fernandes (1999, p. 56) as transformações no campo “privilegiam a agricultura capitalista em detrimento da agricultura familiar, que foi renegada. banida do modelo econômico adotado pelos governos militares, situação que permanece até hoje.” Porém este cenário também é de resistências, as lutas e oposições a esta realidade são características das comunidades tradicionais que se levantam contra a repressão e o avanço do capital no campo brasileiro.

O capitalismo no campo que embora produza segregação também fortalece as lutas pela exigência de reconhecimento dos direitos dos sujeitos sociais do meio rural. Estas lutas trouxeram em seu cerne reivindicações por melhores condições de vida e o desejo de ir além da assistência técnica ou do crédito de habitação. Avançou para exigências por escolas que tenham condições de identificar, analisar e refletir junto com os seus sujeitos acerca da educação que se pretende ter.

Nasce nesse contexto, fora da escola, o Movimento de Educação do Campo. A partir do contexto cearense, Oliveira (2008) analisa a educação do campo, elucidando que a educação também se realiza em outros ambientes fora da escola, como no roçado e nas práticas culturais dos assentamentos.

A Alternância surge nesse contexto para garantir o direito à educação do campo e se apresenta como alternativa para solucionar o problema das necessidades educacionais do homem e da mulher do campo, num processo que envolve as famílias e comunidades rurais. De acordo com SILVA (2008) a proposta educativa da Pedagogia da Alternância utilizadas nas CFRs vem se consolidando através das lutas do movimento Por uma Educação do Campo, que no Brasil ganha força ao associar a formação política à formação para o trabalho e pelo seu envolvimento com os movimentos sociais rurais.

A presente pesquisa tem como objeto de estudo a Escola Família Agrícola Dom Fragoso, localizada na comunidade de Santa Cruz, situada a 14 quilômetros da sede do município

de Independência – Ceará, o acesso se dá pela BR 020 e BR 226, estando distante da capital do estado, Fortaleza, aproximadamente 309 quilômetros.

A Pedagogia da Alternância tem suas raízes nas lutas dos agricultores franceses, desde o movimento de Sillon2no ano de 1894, através das reivindicações por melhores condições de educação, saúde, assistência técnica nas áreas rurais.

A partir desse movimento foi criado, na França,no ano de 1920 a Secretaria Central de Iniciativas Rurais (SCIR), que era formada por entidades ligadas aos sindicatos da classe agrícola.A partir da SCIR e pensando numa escola diferenciada foi criada A Maison Familiale Rurale (MFR), Casa Familiar Rural que surgiram devido as reivindicações dos agricultores franceses, organizados , dando início à Pedagogia da Alternância em 1935.

Neste período (década de 1930) a França vivia uma situação difícil que exigia uma reconstrução social e econômica da sociedade. A realidade agrária era marcada por um grande número de pequenas propriedades rurais que tinham por base a produção familiar. No aspecto social os agricultores se viam desprovidos de políticas públicas para o camponês tanto no campo agrícola como na educação. Neste último aspecto o que se via era um ensino urbano sendo oferecido para camponeses

Era preciso criar uma proposta de ensino que valorizasse os aspectos sociais, econô- micos e culturais relacionando com os conteúdos de ensino e que envolvesse os alunos do campo sem prejudicá-los na sua contribuição no trabalho da produção familiar.

No que se refere à educação nas áreas rurais, no Brasil,percebe-se que historicamente, tem sido negado á população jovem, o direito de avançar nos níveis escolares em suas localidades, baixa remuneração e qualificação dos educadores e a urbanização dos currículos escolares que supervalorizam os costumes urbanos em detrimento dos rurais.

No Brasil, ela hoje está inserida em um movimento intitulado Educação do Campo, que busca discutir através dos movimentos sociais a implantação de escolas que incorporem a experiência de vida de seus alunos e a garantia de políticas públicas que considerem as especificidades das populações rurais.

A Pedagogia da Alternância se desenvolve na perspectiva de que os estudantes do campo possam vivenciar a escola, mas também possam estar em suas comunidades.Desse modo os estudantes alternam 15 dias na escola e o restante do mês em suas comunidades trabalhando 2 Sillon significa ‘sulco’ no Francês. Ele foi criado em 1894 a partir do lançamento da revista ‘Le Sillon’. A ideia de sulcar a terra em preparação ao plantio e à semeadura nova. Uma analogia ao que se pretendia fazer o Movimento: preparar os agricultores, através da formação e da mudança de mentalidade, para ações afirmativas de participação, organização e protagonismo. (BEGNAMI, 2003, p. 22).

nas atividades agrícolas, onde devem por em práticas as técnicas agroecológicas e sustentáveis que estudaram. Nesse período tem-se a visita de monitores que, junto às famílias e comunidades, fazem o acompanhamento pedagógico.

No quadro a seguir são apresentados os quatro pilares da Educação em Alternância, são esses: Formação integral, A Alternância, Desenvolvimento do meio e Associação local. De acordo com Begnami (2003, p.52) a Pedagogia da Alternância busca:

Uma dimensão de formação integral da pessoa humana. Formar atitudes, caráter, ajudar o aluno a encontrar-se, a construir sua identidade, sua autoes- tima, a sonhar com projetos de vida, a descobrir e cultivar valores humanos, a instrumentalizar-se no exercício da cidadania; a engajar-se em ações comunitá- rias e desenvolver o espírito de participação, de democracia, de solidariedade etc.

Figura 2 – Os quatro pilares da Educação em Alternância

Fonte: Quadro elaborado com base em Begnami (2003)

Para alcançar essa finalidade as escolas com base em alternância buscam de alternati- vas específicas a partir de um conjunto de instrumentos, na perspectiva do ciclo de aprendizagem protagonizado que analisa os processos entre a prática e a teoria: prática como lugar da observa- ção reflexiva, encontros modulares como lugar da abstração, formalização e conceitualização. E, de volta à prática, fazer as experimentações ativas em vista da transformação de si e do meio.

4.1 A Pedagogia da Alternância no Brasil

Na década de 1960 os programas educativos que se fundamentam na Pedagogia da Alternância foram trazidos para o Brasil através de membros da Igreja católica.

Mais precisamente no ano de 1969, por meio da ação do Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES), o qual fundou a então Escola Família Rural de Alfredo Chaves, a Escola Família Rural de Rio Novo do Sul e a Escola Família Rural de Olivânia, essa última no município de Anchieta.

Mas é especialmente nos anos de 1980 e 1990 que se dá a sua expansão, através das variadas denominações, como: Escola família Agrícola (EFA), Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFAS) e as Casas Familiares Rurais (CFRs). De acordo com Souza (2015, p. 36)

De forma crescente foi acontecendo um processo de expansão das EFAs em todo o país. A iniciativa de levar essas experiências para diferentes estados do país tornou-se possível graças ao apoio das pastorais sociais das igrejas e das CEBs. No Ceará, a experiência pioneira de Escola Família Agrícola se deu no ano de 2002, na comunidade de Santa Cruz, no município de Independência, na Região do Sertão dos Inhamuns.

Atualmente existem algumas escolas em construção no Ceará são estas: a EFA de Ipueiras que está com as obras bem avançadas, a EFAJaguaribana Zé Maria do Tomé que necessita de iniciar suas atividades no início de 2018, a EFA de Tauá e EFA Ibiapaba Chico Antonio Bié em funcionamento desde 2014, contudo a escola está funcionando em instalações doadas por um assentamento, porque a prefeitura embargou a obra. Por esse motivo a escola recebe apenas uma turma a cada três anos, depois de completar o ensino médio faz uma nova seleção. Sobre a idealização da EFA de Ibiapaba, de acordo com E.2:

A EFA aqui da Ibiapaba, ela foi idealizada a partir do projeto agroecologia em rede, Chico Antônio, o qual a EFA hoje recebe o nome, ele já tinha idealizado isso há algum tempo, mas por conta das parcerias uma pessoa só não consegue fazer muita coisa. E aí dentro do surgiu uma proposta de um projeto, entre o sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tianguá e Viçosa do Ceará, que se chamava projeto Agroecologia em Rede que era pra acompanhar e potencializar as áreas de agricultores que tinha experiências agroecológicas. E aí esse projeto veio se desenvolvendo alguns agricultores e o intuito era que esses agricultores fosse multiplicadores de agroecologia.

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