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Hodge: o uso do Senso Comum como forma apologética

3. A INFLUÊNCIA GERAL DE THOMAS REID E SUA RECEPÇÃO NO SEMINÁRIO DE PRINCETON E NO BRASIL

3.5. A Formulação de Reid: base para um posicionamento religioso

3.5.7. Princeton e o Senso Comum

3.5.7.2. O surgimento da escola de Princeton e sua relação com o Senso Comum

3.5.7.2.2. Hodge: o uso do Senso Comum como forma apologética

146Essa influência pode ser assim evidenciada: oriundo da preocupação com a sistematização, ou confessionalismo, por meio da Ortodoxia Protestante, como visto, movimentos que retratam a sistematização da fé dos herdeiros da Reforma estruturada pelos seguidores de Calvino, Teodoro de Beza (1519-1605) e H. Zanchi (1516-1590). Os teólogos posteriores estavam mais abertos às exigências da razão, diz COSTA (1999, p. 62), estes teólogos tinham como objetivo preservar as doutrinas bíblicas de heresias; foi uma época mais voltada a ortodoxia do que para a experiência espiritual, contudo havia uma necessidade de se ressaltar a possibilidade de uma fé explícita, comum a todos os homens, uma doutrina que era defendida por CALVINO

(1997, aos Romanos (Rm 10.17), p. 375). Outro ponto fundamental era que a teologia de Calvino chegou como uma forte influência por meio do teólogo suíço François Turretini. Sobre este, Hermisten relata sobre a experiência religiosa na Teologia de Princeton: Turretini (1623-1687) seguia a teologia de Dort (1618-1619) ele era professor de teologia em Genebra (1618), tornando-se um polemista de renome. [...] Mesmo não tendo sido delegado em Dort, redigiu juntamente com outros três pastores de Genebra uma carta, enviando-a ao Sínodo de Dort (06/10/1618), demonstrando a sua posição anti-arminiana. Ele foi representante da Igreja de Genebra no Vigésimo Terceiro Sínodo Nacional da Igreja Reformada na Franca, realizado em Ales (01/10/1620), contribuindo para o triunfo do decreto de Dort entre os calvinistas na França, quando os Cânones de

Dort (1619) e a Confissão Francesa (1559) foram adotados – por serem considerados em total harmonia com a

Palavra de Deus – e todos os ministros e presbíteros juraram solenemente defendê-los (cf. 1999, p. 68). A principal obra de TURRETINI foi o Institutio Theologiae Elencticae, que tinha como finalidade consolidar e preservar a teologia Reformada (LEITH, apud COSTA, 1999, p. 69). Este material torna-se o livro-texto adotado por Archibald

Alexander em sua fundação em 1812, e depois o mesmo livro foi adotado por Charles Hodge.

147 Mesmo entendendo que hoje, na maioria americana, a expressão “reformados” não tem valor, MARSDEN acredita que seria difícil não concordar com a minoria que mantém esta tradição calvinista hoje (in. WELLS., 1989, v. 1 p. 3-5).

148 John Witherspoon introduziu a filosofia escocesa na América quando ele se tornou presidente da Faculdade de Princeton em 1768. Todos os Princetonianos (termo usado para os estudantes da faculdade) aprenderam como a perspectiva filosófica de Thomas Reid, na qual eles não só entendiam que poderiam alcançar a certeza quanto ao conhecimento, mas também poderiam demonstrar verdades apologéticas fundamentais quanto à moral, ou seja, a fé. A dependência de Princeton desta filosofia e particularmente a pergunta se seu uso é consistente com a teologia Reformada de Princeton estimulou debate aquecido entre os estudantes contemporâneos e críticos. HOFFECKER explica como cada um dos pensadores de Princeton foi treinado em filosofia escocesa e usado seus princípios de epistemologia (in WELLS, 1989, p. 81).

Charles Hodge (1797-1878), altamente influenciado por Alexander, comentários exegéticos, textos de exortação popular, conferências, e produziu um livro de ensino volumoso em teologia sistemática, mas acima de tudo sustentou ampla polêmica através de publicações em periódicos. Embora não confortável com a devoção de revivalista como Alexander, nem tecnicamente brilhante como Warfield, Hodge era o mais complexo dos principais teólogos de Princeton. Ele teve sucesso reunindo mais elementos da herança Reformada, cultura americana e preocupação pastoral que qualquer outro. O uso do Senso Comum foi sua base filosófica para a defesa da fé protestante como nessa passagem de sua obra mais importante, sua Teologia Sistemática:

Os protestantes mantêm a validade desse testemunho sobre as seguintes bases: (1) A confiança no inconfundível testemunho de nossos sentidos é uma das leis da fé que Deus imprimiu em nossa natureza; à luz da autoridade dessas leis, é impossível que nos emancipemos. (2) A confiança em nossos sentidos é, portanto, uma forma de confiar em Deus. Supõe que ele nos colocou debaixo da necessidade de erro, para assumir que não podemos seguramente confiar em diretrizes nas quais, por uma lei de nossa natureza, ele nos constrange a confiar. (3) Toda base da certeza em questões ou de fé ou de conhecimento é destruída se a confiança nas leis de nossa natureza forem abandonadas. Nada é então possível senão absoluto ceticismo. Nesse caso, não podemos saber que nós mesmos existimos, nem que existe um Deus, nem a lei moral, nem qualquer responsabilidade para o caráter ou a conduta. (4) Toda revelação externa supernatural é dirigida aos sentidos. Os que ouviram a Cristo tiveram de confiar em seu sentido auditivo; os que lêem a Bíblia têm de confiar em seu sentido visual; os que recebem o testemunho da Igreja fazem-no pelos sentidos. É suicídio do romanismo, pois, dizer que os sentidos não são confiáveis em questões de fé. [...] Todos os argumentos derivados dos falsos argumentos dos homens, quando mal guiados pelos sentidos, são respondidos pela simples afirmação da proposição de que se deve confiar nos sentidos exclusivamente dentro de sua esfera legítima. Os olhos podem realmente nos enganar quando as condições da correta visão não estão presentes; mas isso não prova que a visão não é confiável dentro de seus limites apropriados (HODGE, 2001, p. 45).

Os detalhes quanto à influência de Reid podem ser claramente notadas com expressões tais como: “confiança no inconfundível testemunho de nossos

base de epistemologia providencial quando diz: “A confiança no inconfundível testemunho de nossos sentidos é uma das leis da fé que Deus imprimiu em nossa natureza; à luz da autoridade dessas leis, é impossível que nos emancipemos”. A confiança nos sentidos é, portanto, uma forma de confiar em Deus, como já vimos no segundo capítulo, ou seja epistemologia providencial. Observa-se também a

luta contra o ceticismo quando diz: “Toda base da certeza em questões ou de fé

ou de conhecimento é destruída se a confiança nas leis de nossa natureza forem abandonadas”. A questão da moral: “Nesse caso, não podemos saber que nós mesmos existimos, nem que existe um Deus, nem a lei moral, nem qualquer responsabilidade para o caráter ou a conduta.”

A Teologia Sistemática de Charles Hodge foi a base de ensino para vários pastores, inclusive os missionários que atuaram no Brasil. A autoridade de Charles Hodge, bem como de sua obra que foi usada em vários outros seminários nos dão a ideia de que Reid, realmente influenciou com sua filosofia o pensamento protestante americano e também o do Brasil.