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O conhecimento está ao alcance de qualquer pessoa

3. A INFLUÊNCIA GERAL DE THOMAS REID E SUA RECEPÇÃO NO SEMINÁRIO DE PRINCETON E NO BRASIL

3.5. A Formulação de Reid: base para um posicionamento religioso

3.5.2. O conhecimento está ao alcance de qualquer pessoa

A filosofia do Senso Comum forneceu um contra-ponto digno de ser inquestionável pelos que lidavam com a filosofia das ciências (ver mais em BARY,

2002, passim). Mas não se limitou a isso. Contribuiu também com elementos para a ordem moral nacional americana. Segundo BARY, a filosofia de Reid foi

fortemente utilizada para compreender de forma global a religião, ao fornecer os elementos para a confirmação racional e científica daquilo que era chamado de verdades bíblicas, as quais qualquer pessoa tinha a possibilidade de conhecer (2002, 173).120

Reid pensa que o sistema de Hume é a consequência lógica da teoria das ideias. A hipótese de Hume de que a convicção está em um lugar sensível, um ato de cognição que resulta na reivindicação que "a moralidade, então, é sentida mais corretamente que de fato pode ser julgada, torna a ética em um possível hedonismo melhorado. ” (REID, 1858, p. 599).

Assim, Hume é levado à visão de que não há nenhum conhecimento moral, porque convicções morais não são atos de julgamento e, consequentemente, não há nenhuma proposição correspondente que seja verdadeira ou falsa. Reid acredita que não pode haver nenhum conhecimento sem verdade e o que não é verdade não pode ser conhecido (REID, 1858, p. 610).

De acordo com Hume, os pronunciamentos morais expressam os sentimentos agradáveis ou desagradáveis de um agente que são despertados pela conduta pessoal ou a conduta de outros (HUME, 1973, p. 215). Rejeitando

esta teoria emotiva de moralidade, Reid oferece dois tipos de argumentos. Primeiro, Reid invoca um argumento empírico ou introspectivo. Ele não nega que haja sentimentos envolvidos em nossas convicções sobre conduta moral. Porém, ele nega que a presença de tais sentimentos exclua a presença de razão ou atos de cognição (REID, 1858, p.624). Realmente, uma convicção pode ser o resultado

de "sensações que regulam as convicções inclusive os relatos bíblicos, que são frutos destas convicções (REID, in D. D. TODD, 1989, p. 30, 33 e 36ss). Convicção

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Questão da universalidade da verdade. A capacidade da linguagem de expressar o mundo real; a capacidade da memória de conhecer objetivamente o passado. A verdade é universal; desta forma, a Bíblia, com suas informações, tem a verdade universal. Não se pode interferir por meio da linguagem a possibilidade de transmissão da verdade (REID, in D. D. TODD, 1989, passim). Esta obra faz parte de uma série de

discursos de Thomas Reid nas cerimônias de graduação em King´s College e Aberdeen nos anos de 1753, 56,59 e 1762).

de Percepção é o exemplo das convicções anteriores, e morais são exemplos das posteriores. Segundo Reid está atento ao pensamento de Hume. Assim, se a visão de Hume é que há sentimentos morais em lugar de julgamentos morais, então ele está enganado, porque alguns agentes fazem julgamentos morais depois de um raciocínio quanto ao efeito do ato. "Que eu não devo roubar, ou

matar… é uma verdade, pois eu estou consciente que ao julgar serem verdadeiras as proposições quanto ao efeito negativo e digno de ser rejeitado; e minha consciência faz todos os outros argumentos desnecessários com respeito às operações de minha própria mente que me levariam a tal ato" (REID, in D. D.

TODD, 1989, p. 76).

Consciência, de acordo com Hume, não pode enganar as ações ou sentimentos de nossa mente; o que é revelado por consciência deve ser o que parece ser segundo as percepções (compare com Hume, 1973, p. 190). Se a pessoa adotasse a visão de Hume de consciência, então Reid reivindicaria que os julgamentos morais e que os sentimentos de Hume de aprovação ou desaprovação dependem desses julgamentos (REID, p. 520). O argumento

empírico de Reid é outro exemplo da estratégia frequentemente empregada contra as reivindicações do seu oponente, na tentativa de refutá-lo. Como vimos acima os efeitos de um ato repercutem na história ao produzir efeitos que podem ser avaliados por meio de seus resultados (REID, p. 608).

Logo, Reid rejeita a teoria de Hume de moralidades em termos meramente linguísticos. Se, como nas reivindicações de Hume, a aprovação moral de um agente somente é um sentimento agradável, então a expressão do agente de aprovação não expressa um julgamento sobre a conduta de alguém; o agente está expressando só algo sobre ele, isto é, que ele tem um sentimento agradável. Assim, "tal homem fez bem e meritoriamente, a conduta dele é altamente louvável" significa que "a conduta do homem lhe deu sentimento" muito agradável (Reid, 77). Reid oferece argumentos ao refletir sobre este assunto mostrando que a interpretação de Hume e a dele partem do ponto em que as duas expressões enfatizam dois caminhos, o de Hume que é evidente o ponto de vista cético, e Reid que parte do ponto da epistemologia providencial compreendido por Newton (sobre isto ver REID, 717).

“Todo homem tem a capacidade de avaliar a conduta de outro” diz Reid (p. 630). Embora esta expressão possa ser usada para ressaltar algo sobre o orador ou outra pessoa, a conduta de linguagem sobre o que ele define como agradável expressa o seu julgamento sobre algo, que é visto por Hume como mero sentimento. Reid diria que isto não é apenas sentimento, mas antes de tudo uma verdade: o juízo sobre o falso e o verdadeiro (78).

Finalmente, Reid discute os contraditórios das duas expressões: sentimentos e julgamento. As expressões não significam a mesma coisa. Considere o contraditório da frase: “A conduta dele não é louvável". Se um agente fizesse tal reivindicação, nós ordinariamente pensaríamos que ele estaria expressando uma opinião diferente sobre a conduta de alguém; mas nem tudo está incluído sobre a integridade do agente que expressa a visão. Porém, este não é o caso na segunda expressão. Nós não podemos enganá-lo sobre nosso próprio sentimento; um agente não pode contradizer o orador original sem insinuar que o orador original está mentindo, e isto implica num julgamento (REID,1858, p. 624). Consequentemente, porque podem ser caracterizadas as

negações das duas expressões de modos incompatíveis, as expressões não podem significar a mesma coisa, antes de uma avaliação pelo julgamento que cada homem pode fazer livremente. Isso parece com um positivismo, ou até ufania, mas na verdade é a forma pela qual Reid evidência que a ordem moral estabelecida no mundo torna os padrões morais um discurso universal.

Por certo esta visão de Reid é um excelente meio para se intercambiar com o pensamento ortodoxo oriundo da Reforma quanto à doutrina da Graça Comum. Seria então mais um ponto pelo qual vimos a confluência entre sua filosofia e a teologia.