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Luta contra o preconceito do Senso Comum

2. O PENSAMENTO DE THOMAS REID QUANTO AO CONHECIMENTO

2.1. Conhecimento em Thomas Reid

2.1.1. Luta contra o preconceito do Senso Comum

Uma das principais teses de Reid na Investigação é expor que há certo preconceito quanto ao Senso Comum. Para Reid, o Senso Comum é tão útil para qualquer formulação filosófica que mereceria uma preocupação especial. Por isso, a sua luta é para provar que os sentidos são as principais vias para fazer com que a mente seja digna de toda confiança, pois os sentidos não formam

impressões e sim dados confiáveis que providencialmente evitam o caos (REID,

1858, p. 17).

REID indica suas convicções no Senso Comum como um procedimento

muito confiável, mesmo que para alguns seja um caminho ingênuo:

É metafísica, dizem: Quem presta atenção a isto? Deixem os intelectuais, os sofistas e escolásticos entrarem nas suas próprias teias de aranha; eu consigo solucionar os problemas de minha própria existência, e a existência de outras coisas, com confiança; e acreditar

78 Creio que a interpretação de Alves quanto a crise no contexto religioso possa ser semelhante neste caso: “o que está em jogo é a constatação de que as estruturas de pensamento e de linguagem que o teísmo oferecia entraram em colapso. Chegou ao fim uma certa visão do universo. ” (ALVES, 2007, p. 70). Em outro lugar ainda diz: Uma pessoa sem religião era uma anomalia. No mundo dessacralizado as coisas se inverteram. Menos aos homens comuns, externos aos círculos acadêmicos, mas de forma intensa entre aqueles que pretendem já haver passado pela iluminação científica, o embaraço diante da experiência religiosa pessoal é inegável (ALVES, 1985, p. 11).

que a neve está fria, e na doçura de mel. Pode ser dito que isso é coisa de um tolo, ou queiram me fazer de tolo, quando eu acredito em minha razão e sentidos (REID, 1858, p. 19).

Para ele há uma incoerência no ceticismo apontado por Hume:

Eu confesso, eu não sei o que um cético pode responder a isto: qual seria argumento para pleitear quando se ouve; que meu raciocínio é sofístico, e assim merece desprezo; ou não há nenhuma verdade nas faculdades humanas, e então por que nós deveríamos argumentar? (REID, 1858, p. 24)

É ilógico colocar-se em um universo de dúvidas quando na verdade a razão pode ser procurada e encontrada, sendo tão fiel e digna de confiança, a mente criada por Deus é uma parceira confiável:

Mas é absolutamente certo que esta senhora [a mente] aceita o convite para participar da festa? Não é possível que ela seja falseada? Não terá frequentemente os velhos gênios em seus próprios sonhos passado pelos oráculos dela? Deve ela então ser condenada sem ser ouvida? Isto seria desastroso. Eu a achei em todos os outros assuntos uma companheira agradável, uma conselheira fiel, uma amiga para o senso comum, e para a felicidade de gênero humano. Isto justamente a intitula para minha confiança, não tenho como não cultivar provas infalíveis contra a infidelidade dela (REID, 1858, p. 24).

Desta forma, Reid passa a dar corpo para sua investigação ressaltando a capacidade de se confiar na mente por meio dos sentidos. Os órgãos do sentido mostram e provam que qualquer caminho cético é na verdade um caminho ilógico. REID, usando a mesma regra de DESCARTES, mostra que seria

incompreensível desestimular o uso dos sentidos como uma forma de compreensão verdadeira das afirmações:

É tão difícil de desvendar as operações da compreensão humana, e os reduzir aos seus primeiros princípios que nós não podemos esperar ter sucesso nesta tentativa, mas comecemos com as mais simples, e procedendo através de passos muito cautelosos para as mais complexas: Comecemos com os cinco sentidos que reivindicam a dignidade de serem considerados os primeiros na análise nas

faculdades humanas em busca das certezas.[...] [pois] é com os cincos sentidos onde os objetos externos têm menos perigo de uma compreensão errada (REID, 1858, p. 24)

Os sentidos são a principal forma da evidência do conhecimento em sua obra e cada um deles ganha importância.

2.1.1.1. O olfato

Com o cheiro, Reid mostra que temos a capacidade de avaliar um corpo, pois todo corpo exala algum tipo de odor; esta variação em conjunto com a mente produz a capacidade de avaliação sobre corpos externos (PATRICK, in HALDANE;

STEPHEN, 2003 p. 25). Por exemplo, sentimos o cheiro, mas o objeto avaliado

ainda é abstrato em nossa mente. Com as informações já captadas, por meio da memória, em outras experiências, podemos relacionar aquilo com que possivelmente seja parecido com cheiro de uma rosa, por exemplo.REID revela:

Eu posso pensar no cheiro de uma rosa quando eu não a cheirar; e é possível que quando eu pensar nisto, não há nenhuma rosa nem qualquer cheiro onde eu esteja. Mas quando eu sinto o cheiro, eu necessariamente sou forçado a acreditar que a sensação realmente existe. Isto é comum a todas as sensações (REID, 1858, p. 27).

No caso da rosa, o julgamento por meio das convicções sensoriais precede a simples apreensão. Isso acontece pelas primeiras avaliações da mente sobre o objeto, que concebe dentro das convicções já existentes na mente pela comparação, na avaliação em acordo ou desacordo com o objeto comparado. 2.1.1.2. O degustar

No caso do degustar, Reid expõe exemplo semelhante ao do olfato, contudo, neste caso ele dá prioridade sobre as dificuldades quanto à diversidade. Ele mostra que pode haver uma classificação universal, como o que é doce e o que é amargo. Para uns será mais doce, enquanto para outros será menos doce. A variedade no caso não exclui uma lei natural que faz com que o homem possa usar esse sentido como forma de convicção em suas definições, o amargo sempre será amargo, como doce sempre será doce, independente do julgamento quanto à quantidade. O mesmo ocorrerá quando ele anexa ao tema a questão da

memória que capacita o indivíduo a trabalhar com o julgamento antes da simples apreensão.

2.1.1.3. O ouvir

Quanto a esta faculdade Reid toma o mesmo caminho dos outros sentidos. Sua defesa é sobre pessoas que distinguem alguns sons que outras não conseguem, ele argumenta:

Embora estejamos ouvindo e com capacidade de percepções de harmonia e melodia, e de todos os charmes da música; ainda parece que estes requerem uma faculdade mais alta que nós chamamos de ouvido musical. Este parece estar em muitos graus diferentes, nesses que têm a faculdade de ouvir igualmente perfeito; e então devem não ser classificados com os sensos externos, mas em uma ordem mais alta (REID, 1858, p. 50).

Nesta parte ele ocupa-se mais com a linguagem. Reid não tem problemas em dizer que sua compreensão sobre linguagem é pautada na origem de que há uma capacidade natural dada ao homem79, por isso ele não está preocupado em trabalhar a história da linguagem. Mas, diante da importância do assunto, Reid demonstra que essa parte é fundamental quando se trata de outros aspectos ligados às representações por meio da língua:

Através do idioma eu entendo todos esses sinais que o gênero humano usa em ordem para comunicar os seus pensamentos e intenções, seus propósitos e desejos. E podem ser concebidos tais sinais em dois tipos: Primeiro como não tendo nenhum significado, mas os que são anexados a eles de forma compacta os usam como sinais artificiais: Segundo, como é comum, o idioma tem um significado que todo homem entende pelos princípios da natureza (Reid, 1858, p. 117).

Ele continua:

79 Por vezes o naturalismo epistêmico, que também pode ser chamado do naturalismo providencial, aparece nas observações de Reid. Este aspecto será tratado adiante. Nosso trabalha não visa chegar no assunto noética e hilética tão comum na fenomelnologia de Hurssel, no aspecto apreendido da realidade de forma compreensiva em sua analises, mas há aqui possibilidades de se pensar em uma possível ligação dos dois temas, entre Reid e Hurssel, para isso creio que a obra de BELLO seria muito importante (1997, p. 86).

Tendo postulado estas definições, eu penso que é demonstrável, que se o gênero humano não tivesse um idioma natural, eles nunca poderiam ter inventado um artificial pela razão e ingenuidade. Para toda a linguagem artificial há um acordo que se supõem para anexar certo significado aos sinais; então deve haver compacta ou acordos antes do uso de sinais artificiais; mas não pode haver nenhuma interação humana sem sinais, nem sem idioma; e então deve haver um idioma natural antes de qualquer linguagem artificial que pudesse ser inventada [...] (REID, 1858, p. 51).

“Se idioma tivesse sido uma invenção humana”, diz REID, “como muitos

escrevem ou imprimem” (1858, p. 117), então nós deveríamos achar nações inteiras com mudos como os brutos. Realmente até mesmo os brutos têm alguns sinais naturais pelos quais eles expressam os seus próprios pensamentos, afetos, e desejos, e entendem tais sentimentos de outros. Como animais que entendem, por natureza, que o som das vozes humanas significa sinal de ameaça80 (REID, 1858, p. 117). Ou seja, os animais que não têm nenhuma noção de contratos ou convenções, ou de obrigações morais para os executar, mesmo assim se expressam (REID, 1858, p. 117) e por certo, seus instintos demonstram a

necessidade de comunicação. E onde a natureza negou estas noções, é impossível os adquirir por arte, como é para um homem cego adquirir a noção de cores. Alguns brutos são sensatos de honrar ou desonrar; eles têm ressentimento e gratidão; mas nenhum deles, até onde nós sabemos, pode fazer uma promessa, ou mostrar sua fé, não tendo nenhuma noção da constituição (REID, 1858, p. 117).

E se gênero humano não tivesse estas noções por natureza, e sinais naturais para expressá-los com toda sua inteligência e ingenuidade, se nunca tivessem inventado um idioma, a linguagem seria desnecessária. Mas, porque ela faz parte de uma capacidade natural, o homem pode transmitir o conhecimento.

80

Reale e Antissere resumem a luta de Reid quanto ao ceticismo de sua época, ao ressaltar sua posição frente ao Senso Comum na preservação da existência: Reid ressalta que também a respeito da mente foram formu- ladas conjecturas equivocadas. Ele vê o seu tempo como a época que "produziu um sistema de ceticismo que parece triunfar sobre toda a ciência e até mesmo os ditames do senso comum". Por isso, é preciso voltar a analisar a nossa mente. Pois bem, entre os vários poderes e faculdades que possuímos, temos alguns em comum com os seres brutos: são os ‘necessários para a conservação do indivíduo e a continuação da espécie’. Entretanto, “existem (...) outros poderes, cujas sementes a natureza só pôs em nossa mente, deixando à cultura a função de desenvolvê-los. É através de sua cultivação apropriada que nos tornamos capazes de todos os aperfeiçoamentos no intelecto, no gosto e na moral que exaltam e honram a natureza humana (...)” (v. II, p. 800).

Reid não quer dizer que todos os que pintam ou escrevem seriam de fato bons pintores ou bons escritores, mas o uso dos símbolos de comunicação é na verdade uma forma, uma necessidade natural, pela qual os homens são conduzidos pela necessidade para conversar, de estarem juntos. Os homens sempre usarão os sinais, e onde eles não puderem fazer isto através de sinais artificiais, eles farão isto, até onde possível, através de sinais naturais.81 Para REID, o uso de sinais naturais deve ser o melhor juiz em todas as artes

expressivas (REID, 1858, p. 119).

2.1.1.4. O tato

REID afirma que a sensação do toque primeiro sugestiona as mesmas

noções do corpo e suas qualidades (1858, p. 121). Quando se fala de sensação de quente ou de frio, está se usando a mesma concepção de Newton82 quando o mesmo descobriu a lei da gravitação e as propriedades da luz. Para ele, a obra de Newton é uma prova de que o valor do Senso Comum torna-se usual para o dia a dia.

Os homens sábios concordam ou devem concordar em que não há senão um caminho para conhecer as obras da natureza: o caminho da observação e do experimento. Pela nossa constituição, nós somos fortemente levados a conduzir fatos e observações particulares e regras gerais e a aplicar essas regras gerais para explicar outros efeitos ou para nos orientar em sua produção. Esse procedimento do intelecto é familiar a toda criatura humana nas questões comuns da vida e é o único através do qual se pode realizar toda descoberta real em filosofia (REID, 1858, p.

126).

2.1.1.5. A visão

Grande parte da investigação de Reid é dedicada à visão. Ele mostra que a descoberta de Isaac Newton no conhecimento óptico, como um filósofo natural, é uma forma de humilhar os modernos céticos, que ao estudarem as descobertas do mestre da física, ficam engendrados em contradições.

81 Sr. Vicent Hope fala sobre Reid: “Os papéis das sensações não são apenas representar, mas antes de tudo significar” (in HONDERICH, 2001, p. 898). E continua: “O modo como as sensações podem significar sua causa externa é inexplicável e certamente não é racional”.

82

REALE e ANTISERI identificam: “Em suma, trata-se ao procedimento indutivo newtoniano, que se tornou

Reid faz considerações sobre a visão, valorizando o sentido como um dos mais nobres:

A estrutura dos olhos, e de toda a sua complexidade, é um aparelho natural admirável para todos os movimentos internos e externos, e a variedades de tipos de olhos na natureza nos olhos dos animais, provam sua necessidade e formas de preservação da vida, isto claramente demonstra que este órgão é uma obra-prima do trabalho da Natureza (REID,1858, p. 135).

Tem-se o que Reid chama de figura visível e é este o apogeu da sua filosofia, ao afirmar que pela imagem retinal pode-se conceber o objeto visível, que é a figura real projetada na retina. Nós não temos nada em nós que possa definir o objeto, pois não somos o objeto, mas o princípio fundamental disso é que a sensação não se assemelha a algo externo, mas que na verdade somos conscientes de que existe algo – a figura visível (Hope, in HONDERICH, 2001, p.

898).

Reid enumera várias capacidades do aparelho visual como a compreensão da distância e da aproximação, por isso, a construção do microscópio e do telescópio, fato este que não se pode contestar, pois a experiência assim mostra: a capacidade de distinguir a aparência de objetos, a distinção de suas cores, as aparentes extensões, figuras e movimentos.

Tal como nos outros sentidos, Reid expõe que aquilo que pode ser visto por uma compreensão errônea do sentido da visão, é, na verdade, algo que, como nos outros sentidos, é a possibilidade de uma má compreensão, mas isso não é um defeito (REID, in BROOKES, 2003, p. 329). Ele demonstra que um quadro

geral não pode ser substituído por um ponto específico e individualista: um indivíduo não pode ser a referência, diante do quadro que leva o mundo a entender, e se comunicar, por meio da linguagem de que o vermelho é vermelho. Mesmo que aquele indivíduo daltônico não consiga enxergar vermelho, ele terá que se direcionar a maioria que vê vermelho.

Sobre o assunto da visão relacionada à mente, Reid infere que muitas coisas tão naturais podem se desconsideradas por ela, como a capacidade que temos de refletir sobre as aparências dos objetos. Para isso ele dá o nome de

filosofia dos sentidos (REID, in BROOKES, 2003, p. 330) e a mente só pode

compreender isso por meio de uma grande reflexão.

Outra tese sobre a visão pautada por Reid é que as cores são qualidades dos corpos, não uma sensação da mente.

Através da cor, todos os homens que não foram ensinados pela filosofia moderna entendem que a mesma não é uma sensação da mente, pois na mente não há possibilidade de poder ter existência quando não há percepção da cor do objeto, mas uma qualidade ou modificação de corpos continua sendo a mesma, sendo vista ou não. A rosa vermelha que está diante de mim ainda é uma rosa vermelha quando eu fecho os meus olhos, e era assim à meia-noite quando nenhum olho a tinha visto (REID in BROOKES, 2003, p. 330).

Reidexplica que os objetos representam outras estruturas que não podem ser modificadas – a mente terá que obrigatoriamente lidar com a realidade do objeto. “Um dos maiores paradoxos da filosofia moderna que tem sido tão estimado como uma grande descoberta é, na realidade, quando examinada a fundo, nada mais além que um abuso de palavras” (REID, in BROOKES, 2003, p.

326).

Uma conclusão precedente: Quando se diz que a cor não é uma qualidade dos corpos, mas apenas uma ideia na mente,

Nós temos que mostrar que a palavra cor, como a usamos de forma vulgar, pode significar não apenas uma ideia da mente, mas a permanente qualidade do corpo. Nós podemos mostrar que há qualidade permanente do corpo, para que o comum uso da palavra [cor] esteja exatamente de acordo (REID, in BROOKES, 2003, p. 316).

Ao ler a Investigação, percebe-se que o diapasão exposto anteriormente é uma constante. Reid fala contra o pensamento de filósofos modernos em sua época, como Locke e Hume. Isso por que todos seguiam uma linha mais ligada à compreensão de que na mente tudo já estava preordenado e que os sentidos não eram confiáveis. Todas as dificuldades apontadas por Reid, quando fala das dificuldades de interpretação pelos sentidos, apresentam a possível existência de

um caminho mais fácil, e não que são apenas “impressões”. Para ele, dificuldades também são encontradas nos sentidos, como quase tudo na vida, e que para esclarecê-las são necessárias melhores pesquisas começando sempre pela forma mais simples que é o Senso Comum, pois é desta forma que a raça humana alcança o devido sucesso na busca pela verdade:

Os avanços alcançados no conhecimento da óptica na época passada, e também na época atual, e, principalmente, as descobertas de Sir Isaac Newton, enobrecem são a filosofia apenas, mas a natureza humana. Essas descobertas devem para sempre envergonhar as tentativas ignóibeis de nossso céticos modernos de depreciar o entendimento humano e de desanimar os homens em sua busca pela verdade, representando as faculdades humanas como não sendo aptas para nada a não ser nos levar a absurdidades e contradições (REID, 2013, p. 85)

E continua, mostrando que a deficiência nos sentidos, como cegueira, pode ser superada pelo uso de outros sentidos, isso é prova, segundo Reid de que abrir mão dos órgãos dos sentidos, um diminuí-los seria um grave erro:

Um homem cego pode conceber linhas esboçadas de muitos pontos do objeto fazendo ângulos mentais. Ele pode conceber que o comprimento do objeto será grande ou pequeno, na proporção do ângulo que é subentendido na percepção; e que, de certa forma, a largura, e na distância geral de qualquer ponto do objeto de outro qualquer ponto, irá aparecer como grande ou pequeno na proporção dos ângulos que à distância será subentendida (REID, in BROOKES, 2003, p. 273).

Para Reid, portanto, parece “que há bem poucos conhecimentos adquiridos pelos olhos que não possam ser comunicados pela linguagem àqueles que não tem olhos” (REID, 2013, p. 88).

A percepção ganha destaque na obra de Reid que mostra que “é por causa da passagem” imediata das sensações para a mente que há concepção e convicção do objeto que nós concebemos por meio da percepção, e desta maneira a passagem vinda dos sinais para as coisas significadas, ocorre nos sinais ou objetos externos para expressar a função da natureza (REID, 1858, p.

Reid percebeu que a evolução do pensamento filosófico chegou a um limiar de dois caminhos pelos quais os homens podiam formar suas opiniões concernentes à mente e o seu poder de afirmação, por meio de suas operações dos sentidos. Numa formulação bíblica ele fala de dois caminhos, e para mostrar o quanto seria mal visto em sua época, por parte dos filósofos, Reid coloca a posição do Senso Comum como o caminho mais fácil, diferentemente da parábola bíblica, que coloca os que estão na verdade no caminho estreito como os que estão no caminho correto. Ele classifica os dois caminhos83:

• O primeiro está somente no caminho que conduz à verdade; mas ele é estreito e rude, e poucos têm entrado por ele. Seria este o caminho das ideias, não conhecemos nada diretamente, mas sim por meio das ideias no entendimento. Esse foi o caminho que Reid tinha acreditado até então.

• O segundo é largo e fácil, e tem sido muito utilizado, não somente pelo vulgar, mas muito frequentado por filósofos: ele é suficiente para uma vida comum, e é de fácil adaptação para os propósitos de poetas e oradores: mas, nas discussões filosóficas concernentes à mente, eles conduzem para o erro das ilusões (Reid, 1858, p. 194). O método de Bacon e Newton, que segundo ele foi negligenciado, seria o ponto definidor e seguro: os axiomas que poderiam sustentar a teoria do conhecimento não seriam uma especulação, a priori, esse seria o caminho que Reid trilharia então.

Para ele, o primeiro caminho é o da reflexão. Quando a operação da mente é externa, nós somos conscientes dela; e está sobre nosso poder atentar e refletir sobre ela, até chegar a ser familiar dos objetos do pensamento. É apenas neste