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Os homens da vereação nesta altura

No documento O Porto em Cortes : 1331-1406 (páginas 49-53)

Percentagem de respostas dadas em função dos pedidos apresentados

5. Os homens da vereação nesta altura

Escolhidos entre os homens bons que adquiriram prestígio e riqueza através das actividades comerciais e industriais a que se dedicavam, muitos cargos de vereadores, como podemos testemunhá-lo através da inúmera documentação que chegou até nós, eram desempenhados por antigos clérigos.

Uma carta de D. Pedro I, de 1363, dá-nos a conhecer algumas facetas interessantes do tipo de vereação feita pelos homens da Câmara de então entre as quais, destacamos a falta de bom vereamento, a inoperância dos mesmos na aplicação das leis e posturas, devido ao facto de grandes e poderosos praticarem aquilo que designamos por "compadrio", favorecendo os mais poderosos. As acusações régias vão mais longe,

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ao ponto de denunciar a falta na vereação de homens bons mais antigos e por conseguinte, mais experientes, a falta de reuniões preparatórias para discussão de acordos, de comparência dos vereadores em participar por vezes em reuniões camarárias etc.

O seu conteúdo é bem elucidativo da forma oligárquica como funcionava esta assembleia. Todavia, não podemos esquecer que esta situação é comum a outros locais, embora possa aparecer, consoante as localidades, mais cedo ou mais tarde. Reflecte a situação administrativa-social da época, em que a forma de riqueza dominante estava na mão dos que se encontravam ligados ou associados à actividade comercial.

Tudo nos leva a crer que as reuniões se efectuassem em edifício destinado para o efeito. E baseamos esta nossa afirmação no facto de nos aparecer, com bastante frequência, a referência na documentação ao sobrado "...na dita Cidade no ssobrado de

ssobre ologo..."m No entanto as reuniões feitas por pregão e em que havia maior

afluência de participantes, sobretudo as relacionadas com a escolha de homens bons para o exercício de cargos, tais como os juizes e procuradores, deveriam realizar-se num espaço mais amplo e por isso encontramos a referência a "...Clasta do moesteyro de sam

Domjngos..."140

6. Procurador

Ao procurador cabia um leque variado de funções, relacionadas essencialmente com uma actuação diligente na autarquia e na vereação, onde exercia funções tais como: requeredor e procurador de todos os feitos e coisas. Diligenciava para que os vereadores lançassem impostos quando se tornassem necessários, para realizar certas obras para a terra. Dispunha de um leque de funcionários coadjutores, que no dia a dia anotavam as receitas, despesas, créditos e dívidas municipais. Entre estes estariam um tesoureiro, um escrivão141 e um pregoeiro que se encarregava da

arrematação dos impostos.

Competia-lhe ainda preparar as embaixadas que levassem as grandes preocupações locais junto do poder régio, como eram os capítulos, levados a Cortes. Por vezes podia ainda ser integrado nas próprias comitivas.

Como responsável pelas finanças camarárias, os seus gastos eram rigorosamente controlados. Para evitar dúvidas, o escrivão registava num livro

Corpvs Codicvm, v. VI, f. IV, doe. 6, pp.l 1-14.

139 Ibidem, f. n, doe. 24, p. 38. 140 Ibidem , doe. 28, p. 44.

No Livro de Vereações do Porto de 1401- 1449 encontramos no ano de 1401, p. 16 a referência a " Gonçalo Anes, como tesoureiro". Nas várias actas de "Vereaçoens 1390-1395" o aparecimento de escrivães encontra-se vulgarizado.

específico as receitas e despesas. Explicitava-se minuciosamente o que se encontrava arrendado e a quem, os preços, tempos, assim como as despesas efectuadas.

Competia-lhe ainda mandar lavrar no respectivo livro de vereação todos os mandados e acordos celebrados.

Não devia despender, fosse que importância fosse, sem ser na presença do escrivão.

Em relação às rendas, e enquanto as mesmas não fossem arrendadas, devia guardá-las de modo a que não houvesse penalização para a terra.

Na altura de abandonar funções devia entregar todas as coisas de que se

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encontrasse depositário.

No estudo que elaborou sobre Lisboa, Marcelo Caetano refere que este actuava como ministério público ao lado dos alvazis para promover a defesa dos interesses municipais, do património e dos réditos do concelho.

7. Tesoureiro

O recebimento de todas as rendas pertencentes ao concelho pertencia ao tesoureiro competindo-lhe ainda efectuar as despesas determinadas pelos vereadores, assim como arrecadar as rendas. Funcionava na dependência directa do Procurador. Num dos capítulos especiais (art.° 29°), apresentados nas Cortes de 1331, realizadas em Santarém, o concelho de Lisboa queixa-se do agravamento que recebe por ser o Rei a fazer agora esta escolha. Segundo diziam, esse direito sempre lhes pertenceu.

8. Escrivão

Era um dos cargos mais interessantes e disputados pelos homens da época. Tinha como missão anotar as receitas, as despesas, créditos e todas as dívidas respeitantes ao município.

Além deste funcionário, que era dos mais importantes, existiam muitos outros entre os quais destacamos: o alcaide menor, cuja escolha pertencia ao concelho; os contadores; os porteiros do concelho; siseiros; dizimeiros; pregoeiros.

9. Almotacés

Aos almotacés regidos pelo regulamento de almotaçaria, competia-lhes vigiar e aplicar as posturas existentes sobre o abastecimento de víveres à cidade, verificar se os pesos e medidas estavam ou não adulterados, controlar o exercício dos mesteres, fixação

Ordenações Afonsinas, 1.1, tít. XXVIIII, pp. 187-189.

CAETANO, Marcelo- A Administração municipal de Lisboa durante a l."dinastia (1179-1383), p. 53. Cortes Portuguesas - Reinado de D. Afonso IV (1325-1357), p. 70

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dos preços, condições de venda e realização do mercado. O Almotacé era ainda uma espécie de polícia de mercado cujas atribuições se estenderiam ainda à salubridade.

As Ordenações Afonsinas referem-nos ainda que era aos Almotacés que competia diligenciar e providenciar na limpeza da sujidade e maus cheiros diante das

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portas, dos estercos, etc.

Na cidade do Porto existiriam 4 destes funcionários: dois eram escolhidos pela Igreja que os seleccionava entre os seus cónegos ou raçoeiros; os outros dois saíam dos homens bons do concelho.

As atribuições que lhes estavam conferidas aparecem-nos bem explícitas na inquirição: "...britarem pam coyto polio nom acharem de peso ou filharem frujta assy

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come cereyjas..."

No exercício das suas funções podiam mandar deter pessoas, recebendo 5 soldos pela sua carceragem.149

Todavia, um documento de 20 de Janeiro de 1362 indica-nos que, por esta altura, os Almotacés eram recrutados entre os homens bons e que as penas revertiam em prol do concelho. Neste mesmo tempo, estabelecem-se regras sobre a eleição e obrigação dos almotacés "...que ffezessem Almotaçees homeens boons...em cada huum

primeiro dja do mes e que esses hussassem de ssua Almotaçaria ssegundo pertencia Asseus officios..."150

As Ordenações Afonsinas confirmam-nos a documentação e fornecem-nos ainda indicações mais precisas sobre as pessoas escolhidas para o exercício deste cargo e que eram, no primeiro mês, os juizes, do ano transacto, no segundo, dois vereadores, no terceiro, um vereador e um procurador ao ano que passara e, nos restantes meses, a escolha era feita, conforme o costume, pelo alcaide ou então pelos oficiais dos concelhos.151

A duração do seu mandato seria mensal, sendo investidos no 1.° dia de cada mês.

Sabemos que estes funcionários tinham poderes de dar voz de prisão e quando assim procediam recebiam "...cjnquo soldos de carceragem..".

A origem deste género de funcionários encontra-se na estrutura das cidades muçulmanas que possuíam funcionários próprios para os mercados e para o ordenamento urbano. Ordenações Afonsinas, v. I. p. 185. Corpvs Codicum, v. I, p. 27. Ibidem. Ibidem. Ibidem.

Ibidem, v. VI, f. IV, doe. 1, p. 7 Ordenações Afonsinas, 1.1, pp. 179,180 Corpvs Codicum, v. I. p. 27.

10. Outros

Numa das queixas apresentadas pelo Bispo ao Rei, sabemos que era ao Bispo que competia nomear "Provedor na Casaria", mas direito esse que lhe usurpado pelos do concelho.153

No documento O Porto em Cortes : 1331-1406 (páginas 49-53)