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Materiais e construção naval

No documento O Porto em Cortes : 1331-1406 (páginas 101-105)

NATUREZA FISCAL

6. Materiais e construção naval

A actividade naval encontrava-se agravada com muitos impostos que incidiam sobre os materiais empregues na construção. Recaíam ainda sobre muitos outros, tais como a entrada nos portos das embarcações.

No Porto, desde cedo, esta actividade ganhou importância, até porque muitos eram aqueles que se encontravam envolvidos no comércio de cabotagem que daqui se fazia para outras paragens. Se por um lado eram necessários homens empreendedores, também havia necessidade de haver incentivos para a construção naval. Por vezes, era

302 AHMP. Livro 1. "de Pergaminhos, doe. 25. 303 AHMP, Livro,4, fis. 72v°-73.

304 Ibidem, fl. 73. 305 Ibidem, fis. 73-73 v°. 306 Ibidem, fl. 73 v°.

in

necessário importar materiais do estrangeiro para construção e isso só se poderia fazer se os encargos incidentes sobre esses produtos pudessem ser minimizados. Por isso, desde cedo, e com o objectivo de apoiar a actividade comercial marítima, os reis dispensaram carinho e apoio a estas gentes que nisso estiveram envolvidas.

Nas cortes celebradas em Santarém em 1331, os mercadores e donos de barcos do Porto queixam-se:

- Dos almoxarifes e escrivães por levarem dizima dos cravos utilizados na construção naval.

O rei promete analisar a queixa e dar uma decisão posterior, depois de averiguadas as razões.

- Do atraso dos curadores de Gaia que aparecerem no Porto para fazerem a distribuição das mercadorias em navios.

O rei determina que tudo deve ser feito como o era até aqui e com tempo suficiente para ser bem feito, pelo que faz o seu deferimento.

- Dos almoxarifes e escrivães que são acusados de levarem 10 libras pelas naus que se dirigem a Lisboa "...assy como leuam das outras naaos"

- Do agravamento que recebiam dos almoxarifes e escrivães de Lisboa quando 310

eram obrigados a apresentar fiadores para aí efectuarem compras.

O rei promete analisar estes dois pedidos e reserva a sua posição para uma decisão futura.

- Os moradores do Porto são igualmente queixosos nesta assembleia contra os almoxarifes e escrivães, por lhes tomarem casas e almoinhas para o alargamento do armazém régio e não as pagarem.

O rei promete indagar se as expropriações foram feitas de acordo com as suas determinações e corrigir as injustiças, se as houver, pelo que remete para uma decisão futura.

Trinta anos mais tarde, isto é, em 1361, desta feita em Elvas, e uma vez mais, os mercadores pedem que lhes seja concedida a isenção do imposto de entrada dos navios do Porto em portos nacionais. O imposto que lhes era cobrado por entrada cifrava-se numa dobra de ouro, para os navios grandes, e de meia, para os pequenos.

Com base nessa solicitação, o rei determina que o almirante não leve o imposto aos navios do país.

Por um capítulo apresentado nas cortes do Porto de 1372 (art.0 9.°) os mosteiros

de fidalgos queixam-se do agravo que recebem dos moradores de Gaia e do Porto.

307 AHMP, L. 1. "de Pergaminhos, doe. 15.

™ Ibidem.

309 Ibidem. 310 Ibidem. 311 Ibidem.

Alegando estes possuírem cartas régias que lhes permitem cortar madeiras e arvores que se destinam à construção de navios, acabam por levar muito mais que aquela que lhes

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pagam.

D. Fernando, por carta régia, concedeu igualmente importantes privilégios a mercadores lisboetas, isentando-os parcialmente do pagamento de dizima e de desobrigas de terem cavalo, ou de servirem por mar ou por terra.

7. Sisas

As sisas começaram por ser um imposto indirecto que onerava as mercadorias constantes de contratos por compra, venda ou troca. As primeiras sisas datam do início do séc. XIV e são, essencialmente, um imposto municipal para custear as despesas extraordinárias de um concelho.

Este encargo apresenta, na opinião de Gama Barros, algumas afinidades com a contribuição que nos surge nos forais.

Ninguém estava isento do seu pagamento, sendo metade liquidada pelo vendedor e a outra parte pelo comprador.

Em 26 de Maio de 1363, D. Pedro isentou os frades de S. Domingos do Porto do pagamento de sisa, portagem e costumagem, em relação às esmolas que lhes eram

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oferecidas, constituídas por pão, vinho e outras coisas.

Muitas vezes os concelhos prescindiam das sisas em favor da Coroa, como o fez Lisboa e seu termo, em 1374, em relação ao rei D. Fernando.

O rei D. Fernando apesar do abuso que fez das sisas e das tentativas em torná- las permanentes, não o conseguiu.

Nas Cortes celebradas em Coimbra, a 3 de Março de 1385, por alturas da sua eleição como rei, os povos comprometem-se aí a entregar-lhe 400 mil libras para as despesas, requerendo-lhe que não lhes fosse lançado pedido, nem sisa, nem outro

• • 320 encargo de pagar dinheiro e acabasse com todas as sisas gerais e especiais.

Dado as guerras com Castela prosseguirem e o dinheiro ser escasso, D. João I, consegue a aprovação, nas Cortes de Coimbra de 1387, da conversão deste imposto, outrora concelhio, em imposto geral e permanente, do qual pessoa alguma estava isenta, nem sequer o rei ou a rainha.

Cortes Portuguesas - Reinado de D. Fernando I (1367-1383), p. 118. BARROS, Henrique da Gama- Ibidem, v. DC, p. 362.

Dicionário da História de Portugal - direcção de Joel Serrão, v. VI, pp. 1 e 2. BARROS, Henrique da Gama - Ibidem, p. 401.

Chancelarias Portuguesas - D. Pedro, p. 363. BARROS, Henrique da Gama - Ibidem, p. 405.

MARQUES, A. H. Oliveira -Portugal na crise dos séculosXIVeXV, p. 305. BARROS, Henrique da Gama - Ibidem, pp. 418,419.

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Este imposto recaía sobre a generalidade das mercadorias para comprador e vendedor. No entender de Oliveira Marques é símbolo "...no campo das finanças, a

criação do Estado moderno, com a sua noção de súbdito e de igualdade de todos perante a lei?'312.

Sete anos depois do lançamento definitivo como imposto permanente, os povos em Cortes, celebradas em Coimbra, levam aí agravos que dizem receber dos executores do fisco.323

O arrendamento era a forma mais usual utilizada na cobrança deste imposto. O cerco fiscal apertava-se em volta do contribuinte, pelo que este raramente poderia escapar.

Para julgar as infracções relativas à imposição da sisa havia juizes privativos para os feitos da sisa, assim como escrivães e requeridores.

8. Siseiros. Abusos

Os povos faziam repetidas queixas em Cortes, acusando de abusos e arbitrariedades, os rendeiros das sisas. Disso encontramos eco nas cortes de Coimbra, em 1394324, no Porto, em 1398325, em Coimbra, em 1400.326

Sob a forma de capítulo especial levados pelos Portuenses a Cortes neste caso em Santarém, em 1406 denuncia-se que os rendeiros levam as sisas por inteiro, apesar do rei ter perdoado ao povo a terça parte do seu valor.

O rei defere e promete castigar os que procederem desta forma, devendo por outro lado, os moradores dizerem onde isto acontece e quem o pratica.

9. Pedidos

Surgiram-nos no século XIII, com as necessidades de um novo conceito de 328

estado, então emergente.

O novo estado, mais centralista, mais burocrático e dispendioso, tinha novas exigências. Os cofres régios estavam exaustos.

Como motivos para o seu lançamento, encontrava-se a defesa nacional, as campanhas militares, o casamento de um príncipe, etc.

Como imposto extraordinário que era, só poderia ser lançado em Cortes e de acordo com os procuradores concelhios.

322 MARQUES, A. H. Oliveira - Portugal na crise dos séculos XIV e XV, p. 305. 323 BARROS, Henrique da Gama - Ibidem, p. 421.

324 SOUSA, Armindo -As cortes Medievais Portuguesas (1385-1490), v. H, pp. 249,250. 325 Ibidem, p. 254.

326 Ibidem, p. 255.

' " AHMP, Livro A, fis. 80-80 v°.

MARQUES, A. H. Oliveira - Portugal na crise dos séculos XIV e XV, p. 306.

GONÇALVES, Iria - Pedidos e empréstimos públicos em Portugal durante a Idade Média, p. 22.

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Embora recorrendo aos mesmos processos de lançamento e de cobrança, a diferença entre pedido e finta residia no facto do primeiro se destinar a uma única pessoa - rei ou grande senhorio -, enquanto que a finta tinha, como finalidade, resolver os gastos extraordinários, na maioria dos casos, dum concelho.330

Por outro lado, o dinheiro angariado para o pedido, era uma soma global que se repartia pelos contribuintes.

Existe, todavia, uma interpretação variável entre os vários historiadores que se debruçaram sobre o estudo do conceito de pedido, que assume várias designações e nomes, tais como o de finta, talha, empréstimos, peitas e serviços.

Nas cortes de Coimbra, de 1390, o concelho do Porto pede ao rei que permita que a cidade lance certas imposições sobre algumas coisas para poderem dar resposta a algumas despesas da cidade.331

O rei acede ao lançamento das imposições, segundo o montante que entendessem necessário, sobre bens nacionais ou importados e de modo a não provocar escândalo entre as populações.332

10. Finta

Era uma outra espécie de designação que assumia o nome do pedido e que se destinava a realizar obras no concelho, envio de procuradores às cortes, etc. Este género de empréstimo destinava-se, quando solicitado, a resolver os problemas de uma comunidade.

11. Talha

É um imposto lançado pelos concelhos para acudir em situações de apuros financeiros. Aparece-nos muitas vezes associado ao termo finta. Para Viterbo, este imposto consistia numa colecta lançada por cabeça e na qual todos eram contados segundo os respectivos cabedais e haveres que tinham.334

No documento O Porto em Cortes : 1331-1406 (páginas 101-105)