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NATUREZA URBANÍSTICA

No documento O Porto em Cortes : 1331-1406 (páginas 129-132)

1. Introdução 2. Sobre o topónimo Lada 3. O aparecimento de Lada como rua 4. Conclusão

1. Introdução

O Porto é uma cidade nascida e feita, sobretudo pela burguesia. Com efeito, foi junto ao rio, na Ribeira, que as populações se foram fixando. Desbravaram-se matas. Consoante as necessidades assim o exigiam, igualmente muitas das hortas e almoinhas aí existentes foram progressivamente transformadas e deram lugar a acessos que permitiram uma mais fácil ligação com o interior da cidade.

Ruas, ruelas e becos eram uma constante nas cidades medievais a que o Porto, naturalmente, não escapava.

A urbe portuense encontrava-se inserida dentro dum plano regular de muralhas, mas interiormente com um plano irregular de distribuição de ruas, de vielas e de becos sem saída. Os arrabaldes foram crescendo progressivamente, e em breve, a velha muralha tornou-se pequena para albergar os que aí procuravam refugio e segurança.

As medidas pré-urbanísticas encontram-se já na carta de sentença de D. Dinis, de 13 de Maio de 1316.417

Além dum respeitar de certos direitos e regalias anteriores, existe implícita uma certa preocupação urbanística.

Para J. M. Pereira Oliveira esta carta de sentença é "...oprimeiro sinal de

ordenamento urbanístico pois que contrariou todos os aspectos em que na construção o domínio privado ofendia o público..." AX*

E as medidas foram progressivamente assumidas como foi o caso da construção da alfandega régia, da muralha fernandina, da abertura da rua Nova, entre muitas outras edificações.

2. Sobre o topónimo Lada

Lada era a zona da rua que ia abrir sobre a "Lada" do Douro, na Ribeira. Para encararmos o vocábulo "lada", não como nome comum, mas sim aplicado, a nome de uma rua, só temos de olhar a três vocábulos latinos para o efeito:

Corpvs Codicvm, v. I, p. 55.

418 OLIVEIRA, J. M. Pereira de - O espaço Urbano do Porto. Condições naturais e desenvolvimento, cap. VI, p.

O latim latus, -eris, que há que excluir, pois a forma antiga não tinha -dr-, isto é, já era «lada» e não «ladra» (apesar de em Lisboa haver, ou ter havido, a «Feira da Ladra», que era «Feira da Lada» e assim foi falsamente interpretado, pela própria sugestão pejorativa da feira): portanto, como era e sempre foi Lada, no Porto, não há possibilidade desta aplicação ao caso: isto é, nada de «lada» com esse étimo, substantivo (porque nem *Ladre <latere-, nem *Ladra <latera.

O latim latus, -a, -um era um adjectivo: ora Lada provém de um substantivo (sendo que no Porto- que nos lembre até há Prelada, que o contém: «pedra lada» ou "pêra lada" < lata, larga. Não é o caso, porque a forma antiga é já, tout court, «lada», adjectival ou sem substantivo. Este poderá ter-se perdido; mas não devemos apoiar-nos nisso, porque nem é o caso, nem é o que geralmente temos. (Até Agua lada < aqua lata

> "Aguada" hoje, caso muito outro).

Por outra, nós temos o n. comum «lado» ( parte lateral de alguma coisa), e esta palavra não pode ter vindo de latus, -a,-um nem de later, -eris: porque «lado» é um substantivo, sem dr, o que leva a excluir os dois vocábulos latinos. Logo, forçosamente teve outra origem - o latim * latum,- pois só este daria «lado» nessa acepção. Pois bem, o plural neutro lata singularizado é o nosso «lada», acidente hidrográfico (não conhecemos outros casos). Esta forma usou-se no singular e, daí, passou novamente, ao plural, "ladas", que já é português.

No mais, isto é, já quanto ao sentido, o próprio rei D. Fernando, na sua carta de 1380, fala em se fazer, onde hoje é a Rua da Lada, um "caminho" que ia abrir na Ribeira, isto é, na margem do Douro. Logo, na "lada" desta banda direita (a da esquerda era a "lada" de Gaia), sendo "lada" uma "estrada de água", como diz Viterbo - parte lateral do curso do rio e pela qual se navegava. Disse ele ainda mais: "São, pois, as

"ladas" as duas correntes do Douro, superior e inferior à cidade do Porto, não só por lhe ficarem aos lados mas caminhos e estradas largas"419 (Texto do Livro Preto de

Grijó). Notável o texto -que ele ainda alega- relativo a "muitos navios entrarem pela foz

do Doiro e por antre amballas ladas ".

Vê-se que é acidente hidrográfico próprio de rios de grande caudal ou, até melhor- por este- do seu estuário ou foz: e daí ter-se Lada em Lisboa e no Porto.

Morfologicamente, uma estrutura, lata, muito simples, e daí, foneticamente, um fenómeno único e elementar, a sonorização t >d.

3. O aparecimento de Lada como rua

1 * f l »

O topónimo Lada, pelos testemunhos que nos chegaram, é referido já em 1230. Numa carta de sentença de D. Dinis, de 1316, voltamos de novo a ver referido este topónimo a um local "...après da lada..."421

Pelos fracos acessos e dado ser um local de trânsito razoável, vereadores e procuradores do Porto solicitam em capítulo especial, apresentado nas Cortes de Torres Novas, em 1380, a construção dum caminho na Lada para cima, dado no tempo de guerra correrem grande perigo e para que se pudesse subir a pé ou a cavalo desde a Ribeira até à Sé "...não cabem de pee como de cavalo da Ribeira pêra cima hu estam os

pinheiros dorredor do muro...nom poderem andar per hi senom a grande perigo..."422

Alguns dos moradores não eram, todavia, favoráveis à construção deste caminho devido às despesas em que iria importar.

O rei D. Fernando manda executar esse caminho, devendo ser custeado com as dívidas atrasadas da construção do muro da cidade e outras dividas que existam

"...pela guisa que he devisado com entendimento que esse caminho sefaçapellas aduas gaspassadas... "4 2 3

4. Conclusão

As ruas do Porto não fugiam à regra geral de outros núcleos nacionais e estrangeiros. Muitas das vezes não passavam de simples vielas e becos.

Como cidade progressiva, o Porto, vai exigir melhores vias até porque a sua malha urbana vai crescer pouco a pouco.

Os responsáveis autárquicos, tomam consciência de muitas das situações anómalas sendo uma das mais significativas a estreiteza das vias, e empenham-se no seu alargamento e na construção de outras, mais amplas capazes de responderem às exigências que se colocavam.

A construção da rua da Lada, que partia das proximidades da Ribeira, que até aí era um simples caminho, é um dos primeiros indícios da importância que desempenham na vida das populações.

A construção da chamada Rua Nova vai ser a confirmação total de uma nova mentalidade plenamente de acordo com as exigências dos principais protagonistas no desenvolvimento do Porto - a burguesia.

Cunha e Freitas - Toponímia Portuense « Primeiro de Janeiro de 24/8/1971» Corpvs Codicvm v. I, p. 60.

AHMP,LivroA, fis. 124v°, 125. Ibidem, fl. 125.

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CAPÍTULO VI

No documento O Porto em Cortes : 1331-1406 (páginas 129-132)