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Tipos de impostos

No documento O Porto em Cortes : 1331-1406 (páginas 98-101)

NATUREZA FISCAL

2. Tipos de impostos

Os impostos podiam dividir-se em: ordinários e extraordinários. Ordinários eram aqueles que estavam ligados a uma prática consumeira e ocorriam no dia a dia. Os

GONÇALVES, Iria - Pedidos e empréstimos públicos em Portugal durante a Idade Média, p. 70. MARQUES, A. H. de Oliveira - Portugal na crise dos séculos XIV e XV, v. IV, p. 264.

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extraordinários, por sua vez, aconteciam em circunstâncias especiais e sempre que existisse necessidade disso, tal como aconteceu com os pedidos que surgiram na centúria de trezentos (reparação de pontes, a construção de muros de defesa, casamento da família real, etc).

A nossa abordagem debruçar-se-á essencialmente sobre os diversos tipos de impostos que a documentação nos refere, na medida em que é aí que encontramos a grande preocupação das camadas mais atingidas e oneradas com este encargo.

3. Impostos extraordinários. Dízima

A dízima era um imposto que recaía sobre o tráfico mercantil. Incidia sobre o valor dos produtos que se importavam e em alguns casos sobre os exportados. Era um dos principais rendimentos da Coroa. Correspondia a cerca de 10% do valor desse mesmo produto como a palavra o indica. No entanto, este valor variava consoante os produtos. Os cereais , que raramente eram exportados, encontravam-se entre os produtos que pagavam apenas 3%. Igual valor pagava o vinho.

A dizima era ainda um imposto de portagem. Mesmo dentro do país havia as chamadas dizimas de exportação.293 Não admira, por isso, que os envolvidos na actividade comercial procurassem, sempre que lhes era possível, fugir a mais este imposto. Quando tal acontecia, os dizimeiros ou os funcionários encarregues da sua cobrança, se descobrissem a fraude, confiscavam o produto ou produtos em causa.

Em certas circunstâncias e para situações concretas, o rei contribuiu com cartas de privilégio, em que se minorava ou até se isentava a cobrança de tal imposto. Por exemplo, em 18 de Agosto de 1410, D. João I regulamentou os casos em que a

294 importação de panos e outras coisas ficavam isentos deste imposto.

Pelo número de vezes que ocorrem assuntos relacionados com as dizimas isso leva-nos a concluir da grande preocupação existente, quer da parte da Coroa - a entidade que arrecadava as receitas -, quer da parte dos contribuintes, em não pagar, dado que isso contribuía para onerar o preço dos produtos.

4. Sal

O sal era um dos produtos onerados e pelo qual se pagava dizima. Conjuntamente com este produto, o peixe, era uma das principais receitas do concelho do Porto.295.

Como sabemos, este era um dos produtos mais importantes da época e do comércio do país. Destinava-se à salga do peixe, ou então, à exportação.

Ibidem, p. 138.

BARROS, Henrique da Gama - História da Administração Pública em Portugal, v. Dí, p. 383. MARQUES, A. H. Oliveira -Portugal na crise dos séculosXIVeXV, p. 113.

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Os Portuenses traziam-no, sobretudo, do concelho de Bouças e de Aveiro, localidade muito importante, que prosperou essencialmente com a actividade salinífera.

Desde cedo, uma das preocupações dos negociantes e mercadores do Porto reside no agravamento da dizima do sal que recebem do almoxarife e escrivão de Aveiro.297

Isto parece ser um encargo novo para os mercadores, segundo se depreende do texto do capítulo especial de 1331, levado às Cortes de Santarém, embora resumido pela Chancelaria, pois diz que "...esto seffaz de pouco tempo à àca..."

O rei, por sua vez, remete para uma decisão futura, depois de analisada a competente inquirição que lhes atribuía esse direito.

Nas Cortes de Coimbra de 1385, a queixa volta a ser apresentada de novo, contra os oficiais régios atrás visados - almoxarife e escrivão. Ao rei, é pedido que todo o mercador traga de Aveiro tanto sal, quanto o valor da dizima paga na introdução de panos. Para este seu pedido, os mercadores alegam a existência dum alvará do

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almoxarife do Porto, nesse sentido.

O rei defere o pedido que lhe é solicitado, desde que esses mercadores transportem consigo o respectivo alvará.

A situação não se resolve aqui. E de novo, em 1389, nas Cortes de Lisboa, uma vez mais, pedem os mercadores do Porto que lhes seja guardada a isenção do pagamento da dizima, quando carregassem sal em Aveiro. Para isso, alegam o costume e o facto de nos reinados anteriores já se praticar essa mesma isenção.

D. João I defere o capítulo apresentado e determina que não se lhes cobrem dizimas, excepto nos casos e situações em que já eram cobrados no tempo de D. Afonso IV e D. Pedro. Determina ainda, que os juizes devem notificar os oficiais responsáveis pela cobrança, neste caso João Rodrigues Pereira e outros subalternos, a responderem perante a lei.

5. Panos

Entre muitos dos produtos pelos quais se pagava dizima encontravam-se os panos.

Nessa época, era costume estarem isentos desse pagamento alguns panos e outros produtos, quando destinados exclusivamente a consumo próprio dos mercadores.

SILVA, Maria João Violante Branco Marques da -Aveiro Medieval, pp. 98-106. AHMP, Livro l.°de Pergaminhos, doe. 15.

Ibidem.

AHMP, Livro 2. "de Pergaminhos, doe. 76. Ibidem, doe. 98.

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Nas cortes de Lisboa de 1352, mas que tiveram lugar em Évora, os mercadores do Porto queixam-se do almoxarife e escrivães do Porto por dizimarem as vestiarias e outros artigos que trazem para si e para a sua família. Estes ameaçam-nos de que lhes tomarão essas vestes, se as venderem, contrariando desta forma a carta régia de que dizem dispor.302

O rei, por sua vez, determina que se proceda como acontece com Lisboa.

Nas cortes de Elvas de 1361, pedem os homens bons do Porto que não sejam cortados os panos inteiros por razão da dizima e se o almoxarife entender, que os leve inteiros para o rei, pagando em valor, ou então, que deixem o pano e paguem em dinheiro. Na base disso, está o facto dos almoxarifes avaliarem os panos acima do valor real e tomarem a dizima em géneros, cortando as peças.

A resposta régia determina que se proceda como em Lisboa.

Nestas mesmas cortes são ainda apresentados mais dois pedidos. Um deles solicita a presença do almoxarife na alfândega, para proceder à respectiva dizimagem quando os panos chegassem à cidade. A falta destes funcionários prejudica os mercadores que não conseguem colocar, na ocasião mais oportuna, esses produtos no mercado, recebendo menos lucros e prejudicando os impostos que o rei recebe.

O rei defere o pedido e recomenda que os seus oficiais sejam diligentes, de modo a que os mercadores não sejam prejudicados e, caso isso aconteça, recomenda a reposição dos prejuízos.

O outro, pede que sejam compensados da dizima sempre que são obrigados pelos oficiais, a tratar os panos molhados, por acidente de naufrágio havido após a chegada. É que muitas vezes o almoxarife e oficiais obrigam os mercadores a reparar esses panos antes de lançarem a respectiva dizima.

O rei defere o pedido e determina que o almoxarife e escrivães paguem a dizima da lavagem dos panos que saírem molhados e maltratados.

No documento O Porto em Cortes : 1331-1406 (páginas 98-101)