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Horizonte está localizado na região metropolitana de Fortaleza e tem suas raízes históricas ligadas ao município de Pacajus, ao qual pertencia enquanto distrito. Através da Lei Estadual Nº 11.300, aprovada em 6 de março de 1987, a localidade foi emancipada politicamente, após plebiscito requerido por intenso movimento organizado por lideranças locais em prol da independência administrativa.

O município possui extensão territorial de aproximadamente 192 km2 e dista 40 km da capital cearense, cujo acesso se dá pela Rodovia Santos Dumont, comumente conhecida por BR 116. Geograficamente, divide-se em quatro regiões principais ou distritos, sendo: Sede, onde se concentram 83,24% da população, e Queimadas, Aningas e Dourado, nos quais residem 16,76% dos habitantes, constituindo, assim, uma cidade eminentemente urbana.

Enquanto distrito de Pacajus, a economia de Horizonte girava em torno basicamente do cultivo de frutas, do beneficiamento da castanha e da avicultura, modalidade que foi se destacando a partir da década de 1970, com a instalação da Granja São José e, posteriormente, de outras empresas de criação de aves.

Em apenas vinte e dois anos de emancipação, Horizonte vem construindo uma história de crescimento econômico, despontando hoje como um dos principais pólos industriais e estando entre as sete maiores economias do Ceará, resultado da intensa industrialização ocorrida a partir do início da década de 1990.

Atualmente, o setor primário, apesar do pouco destaque em termos financeiros para a arrecadação de impostos, é representado pela cajucultura, apicultura, avicultura, mandiocultura, produção de hortaliças e fruticultura diversificada. Já o setor fabril desponta indubitavelmente como preponderante na economia horizontina, contando com mais de 50 empresas industriais dos mais diversos ramos (SOUSA, 2007). Essas indústrias, cujas origens e ramos são os mais variados, posicionam Horizonte no campo da reestruturação produtiva, desregionalizando a sua produção. (BORSOI, 2005).

A emancipação política de Horizonte foi efetivada no ano de 1989, com a posse do então prefeito Francisco César de Sousa6, que já na sua primeira gestão

6 Além do período de 1989 a 1991, Francisco César de Sousa, comumente chamado “Chico César”, foi

administrativa aderiu à política de desenvolvimento econômico de estímulo à industrialização adotado pelo Governo do Estado, preparando o município para atrair indústrias à região. (BORSOI, 2005). A instalação das primeiras empresas não foi difícil, tendo em vista as características do território, conforme justifica o texto do informativo publicitário Gerando Desenvolvimento:

[...] a localização às margens da BR 116, um dos principais eixos rodoviários do Brasil, faz de Horizonte um lugar especial para receber investimentos no setor industrial. O Município é atendido por cabeamento de fibra óptica e pelo Gasoduto Guamaré (RN/São Gonçalo-CE), tendo instalado um dos quatro City Gates. A apenas 40 quilômetros de Fortaleza, Horizonte beneficia-se da proximidade com o Complexo Portuário do Mucuripe e o Aeroporto Internacional Pinto Martins. Outra vantagem estratégica é o fácil acesso ao mais recente equipamento do setor de transporte do Estado do Ceará, o Complexo Portuário do Pecém. Por todos esses motivos, Horizonte está em posição estratégica para travessias do Oceano Atlântico e conta com excelente acesso à América do Norte e Central, favorecendo o escoamento da produção industrial. (HORIZONTE, 2004).

Tais peculiaridades, aliadas aos incentivos concedidos pela administração local, foram essenciais para o início da industrialização, dada a partir da edição da Lei Municipal N° 032/1990, que autorizou a criação da Companhia de Desenvolvimento Industrial de Horizonte, Sociedade de Economia Mista com maior parte do capital público. (SOUSA, 2007). Outro instrumento legislativo importante para esse processo foi a Lei Municipal Nº 161/1994, que estendeu os benefícios da Lei Nº 088/1992 e adotou providências como: isenção de taxas de licença de construção e execução de obras, de IPTU, de Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e de licença de construção; alíquota do ISS de 1% nos cinco primeiros anos de funcionamento, dentre outras.

Partindo de informações do Anuário do Ceará 2007-2008, Horizonte ocupa, desde 2002, a 7ª colocação no ranking do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. No ano de 2003, conforme circulado no O Povo (DUTRA, 2005), Horizonte ocupava o 3º lugar no somatório de todas as riquezas produzidas por habitante (PIB per capita) do Ceará, cujo valor de R$ 10.005 foi maior que a média nacional do período (R$ 8.694).

Sobre esses dados, cabe destacar a colocação de Sen (2000) de que “o crescimento econômico pode ajudar não só elevando rendas privadas, mas também possibilitando ao Estado financiar a seguridade social e a intervenção governamental ativa” (p. 57), o que tem acontecido em Horizonte.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Horizonte para o ano de 2007 era de 48.660 pessoas (2008), enquanto que, na publicação Perfil do Ceará 1991-1992, Guilherme Filho (1991) aponta a observa-se, então, fator de suma importância: em um curto período de tempo, pouco mais de duas décadas, houve um crescimento populacional de mais de 250% naquele território, o que ocasionou inúmeras conseqüências positivas e negativas para a região.

O Jornal Diário do Nordeste (2008) divulgou, em meados de janeiro de 2008, dados sobre a evolução do eleitorado cearense de 2006 para 2007. No Brasil, o Ceará foi o 4º Estado em aumento do número de eleitores, ao passo que a maior evolução deste foi apresentada por Horizonte, com 12,38% a mais de votantes de um ano para o outro (de 27.701 para 31.131 eleitores).

Em matéria sobre a geração de empregos no País, o veículo de comunicação O Povo (SCALIOTTI, 2008) anunciou o município de Horizonte como estando entre os dez que mais abriram postos de trabalho com carteira assinada no Ceará em 2007, com a quantidade de 766 novas oportunidades.

Uma pesquisa do IDT revela que as empresas do município ampliaram o número de contratações de 3.225 trabalhadores em 1997 para 10.543 em 2005, tendo subido da 6ª para a 4ª posição em quantidade de empregos gerados no Estado. (CALDAS, 2007).

Uma das grandes empresas têxteis de Horizonte, que ocupa a segunda colocação em absorção de mão-de-obra industrial no município, divulgou, em matéria do jornal Diário do Nordeste (27/01/2008), o perfil de seus funcionários (aproximadamente 940): 88% são homens; mais da metade (52%) residem na localidade; 60% têm Ensino Médio completo; 52% possuem estado civil solteiro.

A tabela abaixo apresenta a remuneração média dos trabalhadores formais no ano de 2007, de acordo com as áreas de atividades laborais.

TABELA 2 - Remuneração média de empregos formais em Horizonte (31 de dezembro

de 2007).

Indicadores Masculino Feminino Total

Extrativa Mineral 539,03 309,00 521,34

Indústria de Transformação 743,89 558,58 664,00

Serviços Industriais de Utilidade Pública 0,00 0,00 0,00

Construção Civil 553,24 842,00 561,32

Serviços 666,03 569,96 639,21

Administração Pública 838,95 873,68 859,89

Agropecuária 498,02 557,83 504,57

Total das Atividades 721,34 614,24 675,42

Fonte: RAIS/2007 - MTE

Enquanto região nova, ou seja, que não tem história industrial anterior (BORSOI, 2005), Horizonte se vê diante de intensas transformações advindas do seu processo recente de industrialização. A autora salienta que “até mesmo a simples presença de uma indústria pode interferir de forma significativa no modo de vida de trabalhadores que se tornaram ou estão se tornando operários fabris” (BORSOI, 2005, p.26), afirmação que oferece uma visão esclarecedora do potencial transformador da sociedade pela industrialização:

Nativo ou migrante, a história de trabalho anterior desses trabalhadores não difere muito em sua natureza. Agricultura e pecuária, fábrica de beneficiamento de castanha, olaria, casa de farinha, avicultura, construção civil, “casa de família” (no caso de mulheres), pequeno comércio são as fontes de trabalho que antecederam a indústria e que fazem parte da vida desses trabalhadores. (BORSOI, 2005, p. 50).

De acordo com Sousa (2007), a divulgação promovida pela mídia sobre a industrialização em Horizonte atrai, devido às eventuais oportunidades de emprego, pessoas de outras cidades e até outros estados, ocasionando esse intenso crescimento populacional e um conseqüente crescimento da demanda pelos serviços públicos. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do município estima que, a cada emprego ofertado, a procura pelos serviços de saúde e educação, por exemplo, é quadruplicada, pois normalmente aquele que se dirige a Horizonte leva toda a família.

Dessa forma, a infra-estrutura do município requer um acompanhamento permanente, visando atender à demanda sempre crescente, motivada pela chegada do contingente populacional atraído diariamente pelas indústrias.

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Horizonte aponta o quantitativo de 11.221 trabalhadores no setor industrial para o ano de 2007, sendo que 75% destes locados em uma única indústria, do ramo calçadista. Compondo ainda o parque fabril encontram-se estabelecimentos dos mais diversos segmentos produtivos: têxtil, montagem de veículos, metalurgia, alimentos, bebidas, confecções, cervejaria, reciclagem, beneficiamento de castanha, avicultura industrial, pré-moldados, produtos de limpeza etc.

Alguns estudos vêm sendo realizados em Horizonte diante das transformações advindas com o processo de industrialização, estudos estes que possuem os mais diversos olhares.

A pesquisa de Borsoi (2005), por exemplo, trouxe informações relevantes para a compreensão do que vem ocorrendo no município, principalmente por abordar o tema sob a perspectiva dos próprios trabalhadores, analisando aspectos da industrialização a partir do modo de vida dos operários de algumas das fábricas.

Segundo a autora, esses operários vislumbram “o aumento das possibilidades de emprego, o incremento do comércio, o surgimento de novas igrejas, mais alternativas de lazer, escolas etc.” (BORSOI, 2005, p. 174) como aspectos positivos advindos com o crescimento urbano, ao passo que salientam principalmente a violência como conseqüência negativa. Nesse sentido, “os trabalhadores comparam o tempo em que as casas e as ruas inspiravam segurança com o agora, quando conseguem acumular alguns bens materiais, mas precisam, a todo tempo, proteger as conquistas e a própria vida”. (BORSOI, 2005, p. 176).

Em outra produção acadêmica, uma administradora analisou essas transformações recentes de Horizonte com enfoque no planejamento do orçamento e concluiu que o impacto na execução orçamentária de Horizonte é positivo e significativo. Para chegar a esse ponto, a pesquisadora analisou diversos aspectos relativos à industrialização do município, tendo mencionado como reflexos positivos:

[...] aumento da oferta de empregos diretos e indiretos, aumento da renda municipal, pujante crescimento financeiro-econômico, incremento do comércio local, motivação para capacitação profissional, recuperação e ampliação de grande parte do acesso ao município pela BR 116, satisfação da população por ter uma renda própria e comprovada, instalação de instituições públicas e privadas prestadoras de serviços diversos. (SOUSA, 2007, p 29).

A autora também inferiu questionamentos quanto a aspectos negativos provocados pela industrialização, com relação a: preenchimento de vagas por profissionais de outras cidades; falta de capacidade técnica e de nível de instrução da população local; atração de populações de áreas mais vulneráveis e diversificadas do estado e de fora do Estado; crescimento da demanda pelos serviços públicos, violência urbana, perda de parte da identidade e da cultura local. (SOUSA, 2007).

O tópico seguinte contém aspectos históricos e culturais da região em que foi executado o projeto “Alinhavando Sonhos / Construindo Realidades”, em cujo contexto se encontram inseridos os sujeitos da presente investigação.