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Alinhavando sonhos construindo realidades: os significados do trabalho para mulheres do Município de Horizonte Ce

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

MESTRADO EM PSICOLOGIA

MABEL MELO SOUSA

“ALINHAVANDO SONHOS / CONSTRUINDO REALIDADES”:

OS SIGNIFICADOS DO TRABALHO PARA MULHERES DO

MUNICÍPIO DE HORIZONTE – CE

ORIENTADORA: IZABEL CRISTINA FERREIRA BORSOI

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MABEL MELO SOUSA

“ALINHAVANDO SONHOS / CONSTRUINDO REALIDADES”: OS SIGNIFICADOS DO TRABALHO PARA MULHERES DO

MUNICÍPIO DE HORIZONTE - CE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Izabel Cristina Ferreira Borsoi

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“Lecturis salutem”

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S697a Sousa, Mabel Melo.

“Alinhavando sonhos / construindo realidades” [manuscrito] : os significados do trabalho para mulheres do município de Horizonte – CE

/ por Mabel Melo Sousa. – 2009. 125 f. : il. ; 31 cm.

Cópia de computador (printout(s)).

Dissertação(Mestrado) – Universidade Federal do Ceará,Centro de Humanidades,Programa de Pós-Graduação em Psicologia,Fortaleza (CE), 13/03/2009.

Orientação: Profª. Drª. Izabel Cristina Ferreira Borsoi. Inclui bibliografia.

1-MULHERES – HORIZONTE(CE) – CONDIÇÕES SOCIAIS. 2-MULHERES – HORIZONTE(CE) – ATITUDES. 3-TRABALHO – ASPECTOS SOCIAIS – HORIZONTE(CE). 4-PROJETO

ALINHAVANDO SONHOS / CONSTRUINDO REALIDADES.I- Borsoi, Izabel Cristina

Ferreira,orientador. II - Universidade Federal do Ceará. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. III - Título.

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MABEL MELO SOUSA

“ALINHAVANDO SONHOS / CONSTRUINDO REALIDADES”: OS SIGNIFICADOS DO TRABALHO PARA MULHERES DO

MUNICÍPIO DE HORIZONTE - CE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia.

Aprovada em 13 de março de 2009.

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________________________ Profª Drª Izabel Cristina Ferreira Borsoi (Orientadora)

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

__________________________________________________________ Profª Drª Léa Rodrigues Carvalho

Deptº Ciências Sociais – Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________________________________ Profº Drº Cássio Adriano Braz de Aquino

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AGRADECIMENTOS

Às participantes do projeto “Alinhavando Sonhos / Construindo Realidades”, pelos meses de convivência agradável e pelo aprendizado pessoal e profissional possibilitado; em especial à Leni, pelo envolvimento no projeto e auxílio na investigação.

Às mulheres entrevistadas, pela disponibilidade e pela permissão de exposição das suas histórias e opiniões.

Aos meus pais Chico César e Vânia Dutra, pela maneira de nos educar, incentivando-nos a seguir incentivando-nossos próprios caminhos, estimulando-incentivando-nos rumo ao crescimento e apoiando-nos incondicionalmente.

Aos meus irmãos Cesinha e Tereza, o primeiro pela companhia no dia-a-dia e a segunda pelo acompanhamento e torcida, mesmo à distância.

À orientadora Cristina Borsoi, pelo cuidado e comprometimento nesses dois anos, pelas contribuições teóricas.

Aos professores e formadores Fátima Sena e Cássio Aquino, por me introduzirem no universo da Psicologia Social do Trabalho, e pelo enorme aprendizado no NUTRA. Aos membros da banca examinadora, professores Léa Rodrigues e Cássio Aquino, pela disponibilidade e pelas pertinentes contribuições.

À amiga Raquel Libório, por incentivar meu ingresso no Mestrado.

À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), pelo apoio financeiro.

Aos amigos Herbert e Allan, o primeiro pela parceria acadêmica e o segundo pelo apoio “informático”.

Aos meus tios e tias Sousa e Dutra pela torcida constante e pelas orações, em especial, Conceição e João Wilson, pelo apoio direto e indireto em todo o percurso dessa pesquisa.

A todos os primos, presentes nos mais diversos momentos da minha vida, representados por Alice, Aída, Natielly, Tiago.

Às amigas do Mestrado em Psicologia Glícia, Lívia, Andressa, especialmente Mona e Ju, por acompanharem de perto cada passo, dificuldade e conquista.

Aos amigos do GRAB Adriano, Alexandre, Aline, Chico, Dedé, Elísio, Ferreira, Hellano, Lourdes, Orlaneudo, Rocha, por ouvirem os desabafos acadêmicos, auxiliarem quando solicitados e pela amizade.

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Aos amigos da Prefeitura Municipal de Horizonte, em especial Evandro Nogueira, Dário Rodrigues e Vanda Lúcia, cujo apoio foi essencial para transformar o “Alinhavando Sonhos / Construindo Realidades” em realidade.

Às amigas do colégio Cíntia, Moema, Elane, Karine, Helga, pelos curtos, porém reenergizantes, momentos de descontração durante os períodos de estresse produtivo. Às amigas psicólogas Esterfânia e Lia pela constante preocupação e pela compreensão nos períodos de “reclusão social”.

Às companheiras de casa Eliene e Raimunda, por respeitarem meus horários de estudo e atenderem meus pedidos.

Aos afilhados Maria Eduarda e Tiago Filho (e seus respectivos pais), por proporcionarem instantes de descontração nos fins-de-semana.

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“Entre toda gente cearense Um povo se destaca e tem ação Não cruza os braços, vai à luta No trabalho encontra a redenção Que é o caminho da paz, da liberdade Do progresso e da emancipação”

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RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo analisar como mulheres, moradoras da comunidade quilombola do município de Horizonte-CE e participantes do projeto social “Alinhavando Sonhos / Construindo Realidades” significam o trabalho, sua participação em um projeto de capacitação profissional e sua condição de mulheres que vivem em um território reconhecido como quilombola. A partir da década 1970, a crise do capitalismo é responsável por uma série de transformações no mundo do trabalho, caracterizadas principalmente pela flexibilização dos processos de produção e de mercado, pela precarização das condições e das forças de trabalho e pela reconfiguração das plantas produtivas. As mudanças contribuíram para uma profunda alteração nos modos de organização e nas dinâmicas do trabalho e do emprego, o que se reflete nas atitudes de trabalhadores e de empregadores e nas suas representações acerca do trabalho. O município em questão integra esse cenário e se vê diante de modificações profundas em virtude do seu processo de industrialização recente. O projeto social citado foi elaborado seguindo os pressupostos das políticas públicas atuais e teve como proposta qualificar profissionalmente mães chefes de família para a geração de trabalho e renda, priorizando a construção de uma autonomia profissional. A metodologia utilizada na pesquisa foi a abordagem qualitativa, tendo como técnicas a observação participante e a entrevista aberta semi-dirigida envolvendo sete mulheres. Os dados obtidos foram analisados a partir das seguintes categorias: as experiências do emprego nas fábricas; questões de gênero e de raça ligadas ao trabalho; vivência do projeto; re-significando o trabalho. O sonho de abrir um negócio ou trabalhar por conta própria, presente na fala das mulheres, é adiado pelas dificuldades da atualidade, pela impossibilidade financeira e pelos valores ainda difundidos da chamada sociedade salarial. As entrevistas mostraram o quanto o trabalho é importante e central na vida de cada uma delas.

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ABSTRACT

The aim of the present research is to analyze how the women who live in the community quilombola in the district of Horizonte-CE and participants of the social project “Sewing the Dreams / Building Realities”, mean the work, their participation in the Professional capacitating Project and their condition as women who live in a territory which is known as quilombola. From the 1970’s on, the capitalism crisis has been responsible for a series of transformations in the working world, characterized mainly by the flexibility in the processes of production and market, by condition and workforce precarization and by the reconfiguration of productive plants. The changes have contributed for a deep alteration in the methods of organization and the working and jobs’ dynamics which are reflected in the employers as well as in the employees attitudes and also in their representations concerning the work. The district at issue joins this scenario and faces deep changes due to the recent process of industrialization. The mentioned social project was elaborated according to the current public policies assumptions and had as a proposal to professionally qualify mothers who are household heads to generate work and income, priorizing the construction of a professional autonomy. The methodology used in the research was the qualitative approach using as techniques the participant observation and the semi-directed open interview involving seven women. The data obtained were analyzed from the following categories: work experience in plants, a matter of gender or race related to work; experience in the Project re-meaning the work. The dream of opening their own business or working by themselves which is present in the women’s speech is postponed by nowadays difficulties, by financial impossibility and by the values which are still scattered in the so called wage society. The interviews show how the work is important and central in the life of each of them.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Remuneração média (R$) em Estados Brasileiros (2006 e 2007)... 36

TABELA 2 - Remuneração média de empregos formais em Horizonte (31 de dezembro de 2007). ... 41

TABELA 3 - Número de empregos formais em Horizonte (31 de dezembro de 2007)... ... 99

TABELA 4 - Ocupações com maiores estoques em Horizonte (31 de dezembro de 2007). ... 99

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Logomarca do projeto “Alinhavando Sonhos / Construindo Realidades”

... 58

FIGURA 2 – Fotografia do Processo de Seleção ... 59

FIGURA 3 – Fotografia da Oficina de Retalhos ... 61

FIGURA 4 – Fotografia da Exposição de produtos ... 61

FIGURA 5 – Fotografia da Oficina de Fuxicos ... 63

FIGURA 6 – Fotografia do Curso de Costura ... 64

FIGURA 7 – Fotografia do Seminário na UFC ... 65

FIGURA 8 – Fotografia da Oficina de Crescimento e Desenvolvimento Pessoal ... 66

FIGURA 9 – Fotografia da Roda de Conversa sobre Trabalho ... 66

FIGURA 10 – Fotografia da Oficina de Bonecas de Pano ... 68

FIGURA 11 – Fotografia de Reunião Interna do Grupo de Mulheres ... 69

FIGURA 12 – Fotografia do Desfile de Moda Infantil ... 70

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1– Caracterização das mulheres entrevistadas... 51

QUADRO 2 – Observações da Avaliação da Oficina de Retalhos... 62

QUADRO 3 – Observações da Avaliação da Oficina de Fuxicos... 63

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LISTA DE SIGLAS

ARQUA – Associação de Remanescentes de Quilombos de Alto Alegre e Adjacências BEC – Banco do Estado do Ceará

CAGECE – Companhia de Água e Esgoto do Ceará

CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados CBO – Classificação Brasileira de Ocupações

CEREST – Centro de Referência em Saúde do Trabalhador COELCE - Companhia Energética do Ceará

CREDE – Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação CRST – Centro Regional de Referência em Saúde do Trabalhador CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social

CVT – Centro Vocacional Tecnológico

DETRAN – Departamento Estadual de Trânsito DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis FIEC – Federação das Indústrias e do Comércio

FUNCAP – Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IDT – Instituto de Desenvolvimento do Trabalho

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano

ISS – Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza ITBI – Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome NUTRA – Núcleo de Psicologia do Trabalho

OIT – Organização Internacional do Trabalho

PEA – População Economicamente Ativa PNQ – Plano Nacional de Qualificação PSF – Programa Saúde da Família

ONG – Organizações Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

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PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PSF – Programa Saúde da Família

SEFAZ – Secretaria da Fazenda Estadual

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizado Industrial

SEPPIR – Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial SER – Secretaria Executiva Regional

SESI – Serviço Social da Indústria SINE – Sistema Nacional de Emprego UFC – Universidade Federal do Ceará

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 17

1.1 ALGUMAS NOTAS SOBRE O PORQUÊ DA ESCOLHA DESTE TEMA ... 21

2 MUNDO DO TRABALHO ... 23

2.1 CRISE DO CAPITALISMO E FLEXIBILIZAÇÃO PRODUTIVA... 24

2.2 NOVAS DEFINIÇÕES DE ESPAÇOS E OUTRAS CONSEQÜÊNCIAS DA PRECARIZAÇÃO LABORAL... 28

3 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NO ESTADO DO CEARÁ E NO MUNICÍPIO DE HORIZONTE ... 33

4.1 HORIZONTE E PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RECENTE ... 39

4.2 TERRITÓRIO QUILOMBOLA DE HORIZONTE. ... 44

4 PERCURSO METODOLÓGICO DA INVESTIGAÇÃO... 48

5 PROJETO “ALINHAVANDO SONHOS / CONSTRUINDO REALIDADES”... 53

5.1 IMPLANTAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO GRUPO PARTICIPANTE ... 58

5.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS, AVALIAÇÕES, APRENDIZAGENS ... 60

6 AS NOVAS ARTESÃS: A VIDA, O TRABALHO, A FAMÍLIA, OS SONHOS .... 71

6.1 CRISÁLIA: “MEU SONHO É VOLTAR NOVAMENTE PRA SAPATOS”.... 71

6.2 VIRGÍNIA: “A CORRERIA QUE A GENTE VIVE, CONTANDO COISAS, SE VAI DAR OU NÃO VAI DAR, ISSO PRA MIM NÃO É VIDA, É UMA SOBREVIDA”... 75

6.3 LUCIMAR: “TEM QUE SER ‘MULHER MACHO SIM SENHOR’!”. ... 78

6.4 ROSALBA: “PRA MIM, TRABALHAR EM FIRMA NÃO DÁ MAIS”. ... 80

6.5 MIRTES: “É MUITO TRISTE A GENTE DEIXAR OS FILHOS COM OS OUTROS, MAS É O JEITO”... 82

6.6 VALQUÍRIA: “HOJE NÓS MULHER TEM PULSO FIRME, TEMOS TOM PRÓPRIO”... 84

6.7 LETÍCIA: “A GENTE TEM QUE TRABALHAR DOENTE LÁ”... 88

7 ONDE AS HISTÓRIAS SE ENCONTRAM E SE DISTANCIAM... 91

(16)

7.3 VIVÊNCIA DO PROJETO “ALINHAVANDO SONHOS / CONSTRUINDO

REALIDADES”: APRENDIZAGEM PARA ALÉM DA COSTURA. ... 106

7.4 SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS AO TRABALHO... 109

8 CONSIDERAÇÕES “FINAIS”... 114

REFERÊNCIAS ... 117

APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista para Pesquisa de Campo ... 122

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido... 123

APÊNDICE C – Ficha de Cadastro... 124

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1 INTRODUÇÃO

Ainda que a reflexão sobre o futuro do trabalho seja bastante antiga, o debate atual sobre o seu provável fim tem origem na década de 1970 e é reflexo, principalmente, da preocupação suscitada pelos altos níveis de desemprego que acompanharam a crise econômica mundial de 1973 (LUQUE, 2006). Na verdade, esse debate se insere na discussão sobre o fim da sociedade salarial, que teria seus ditames e valores superados pelas correntes transformações do universo laboral em todo o mundo.

Embora o desemprego seja um dos itens mais visíveis e preocupantes dessa situação, há vários outros aspectos relativamente novos que preconizam uma reflexão por parte das ciências, tendo em vista suas repercussões para a sociedade em geral.

Conforme Luque (2006), a globalização do capital, o avanço científico e tecnológico e as novas formas de organização das empresas têm dado lugar a uma profunda transformação da natureza do trabalho assalariado, modalidade cujos princípios constituem a mencionada sociedade salarial.

As mudanças no universo laboral ocorrem tanto no que diz respeito às formas de inserção dos trabalhadores na estrutura produtiva, como também aos modos de representação sindical e política destes, o que reflete na significação e no sentido atribuído ao trabalho por parte dos trabalhadores. De acordo com Antunes,

[...] Foram tão intensas as modificações, que se pode mesmo afirmar que a

classe-que-vive-do-trabalho sofreu a mais aguda crise deste século, que atingiu

não só a sua materialidade, mas teve profundas repercussões na sua

subjetividade e, no íntimo inter-relacionamento destes níveis, afetou a sua forma de ser (1998, p. 15).

Essas transformações podem ser exemplificadas por alguns processos destacados por Santos (1997), como: a transnacionalização da produção e o consequente surgimento de empresas multinacionais em distintos países (inclusive países tradicionalmente fora do circuito industrial); uma fragmentação geográfica e social dos processos laborais; uma ampliação e diversificação do mercado de trabalho e a divisão entre países devedores e países credores.

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desproletarização do trabalho industrial fabril. Por outro lado, paralelamente, houve a efetivação de uma expressiva expansão do trabalho assalariado, a partir da ampliação do setor de serviços, uma subproletarização intensificada, observada em uma expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado, terceirizado, além de uma crescente incorporação do contingente feminino ao mercado de trabalho.

Outras características relevantes dessa chamada forma flexibilizada de acumulação capitalista são apresentadas pelo autor: redução do proletariado fabril estável; incremento dos assalariados médios e de serviços; exclusão dos jovens e dos idosos do mercado de trabalho; inclusão precoce e criminosa de crianças; expansão do trabalho em domicílio; reconfiguração, tanto do espaço quanto do tempo de produção (ANTUNES, 2006).

A convivência de inúmeros modelos e formas de organização das atividades laborais configura o que Antunes (2006) denomina nova morfologia ou nova polissemia do trabalho, pois

[...] além, dos assalariados urbanos e rurais que compreendem o operariado industrial, rural e de serviços, a sociedade capitalista moderna vem ampliando enormemente o contingente de homens e mulheres terceirizados, subcontratados, part-time, que exercem trabalhos temporários, entre tantas

formas assemelhadas de informalização do trabalho, que proliferam em todas as partes do mundo. (p. 17).

Como resultado dessas transformações, Antunes (1998) aponta, como sendo o mais brutal, o crescimento do contingente de pessoas em busca de inserção no mercado de trabalho, ou seja, a expansão do desemprego estrutural, que atinge o mundo em escala global.

(19)

Nessa nova reconfiguração apresentada pelo sistema global capitalista, ocorre um processo em que cada vez mais plantas produtivas são mundializadas, novas regiões industriais emergem e muitas desaparecem, o que Antunes (1998) denomina de re-territorialização e des-territorialização. Tal situação pode ser facilmente identificada no contexto político e econômico do Ceará dos últimos anos.

De acordo com Pereira Jr. (2005), a reprodução dos modelos de gestão do estado do Ceará do final da década de 1980 teve sua filosofia traduzida no “fortalecimento das tendências industrializantes, na ampliação da infra-estrutura cearense, na atração de investimentos externos e na reestruturação do Estado baseada numa política de privatização”. (p. 45). Inúmeras empresas passaram a receber incentivos governamentais para que pudessem instalar suas plantas produtivas em localidades que não possuíam tradição industrial e apresentavam também carência de oportunidades de trabalho e características mais rurais que urbanas de organização do seu espaço. (BORSOI, 2005).

As conseqüências advindas dessa modalidade de implantação industrial, na qual cidades interioranas recebem empresas de forma abrupta e sem prévia preparação estrutural, são inúmeras. Pereira Jr. (2005) afirma, por exemplo, que “a industrialização, ao tomar forma num território, cria uma rede de fluxos responsáveis por novas noções de deslocamento, aproximação e funcionalidade”. (p. 17). Desse modo, enfatizamos que, ao mesmo tempo em que a instalação de fábricas em regiões não industrializadas funciona como uma alternativa para os trabalhadores ao desemprego, acaba também atraindo contingentes populacionais externos e alterando consideravelmente a configuração do lugar, nos aspectos social, cultural, ambiental, urbano, entre outros.

O município de Horizonte, no estado do Ceará, integra esse cenário e tem sido, há pouco mais de duas décadas, alvo importante de grande investimento de capital industrial, resultante da política de incentivos do governo do Estado, o que inclui isenção de impostos e oferta de mão-de-obra abundante e de baixo custo. Em razão disso, o povo da região tem encontrado nas fábricas sua chance de fugir do desemprego, do trabalho incerto e extremamente precário. (BORSOI, 2005).

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posicionando a região, ainda distrito de Pacajus, como um centro importante no Estado. (BORSOI, 2005).

As conseqüências da chegada das indústrias em Horizonte, no início da década de 1990, podem ser facilmente observadas na própria estrutura geográfica da cidade, no incremento do setor comerciário, no aumento do número de escolas, no redimensionamento das formas de apreensão e consumo do espaço urbano, na mudança do perfil do processo saúde-doença e da capacidade de consumo de gêneros duráveis ou não de parte da população. (BORSOI, 2005).

É fundamental enfatizar o intenso crescimento demográfico de Horizonte, visto que a população quase triplicou em apenas 22 anos de emancipação. Dessa maneira, em um curto período de tempo, essa localidade vem sendo bombardeada por inúmeras transformações em vários aspectos, o que inclui um redimensionamento significativo da cultura do lugar e, principalmente, modificações no âmbito do trabalho. Nesse contexto de Horizonte, encontra-se um território quilombola, reconhecido em 2005 a partir de uma proposta do Ministério da Cultura, que compreende uma unidade étnica e racial composta por cinco localidades e cerca de 520 famílias de descendentes de escravos. Apresenta, como outras comunidades quilombolas do Brasil, Índice de Desenvolvimento Humano1 (IDH) abaixo das médias estadual e nacional, além de inúmeros problemas sociais e econômicos.

Seguindo as prerrogativas da gestão presidencial vigente, cujas políticas de governo passaram a exigir um compromisso, tanto do poder público como da sociedade civil na articulação, concretização e implementação de proposições e de alternativas para os problemas sociais da população brasileira, foi elaborado, pelo Núcleo de Psicologia do Trabalho (NUTRA), o Projeto de Extensão “Alinhavando Sonhos / Construindo Realidades”.

O projeto, que teve o território quilombola de Horizonte como um dos campos de atuação, foi desenvolvido durante o ano de 2007 e teve, como proposta, qualificar profissionalmente mães chefes-de-família para a geração de trabalho e renda, com o oferecimento de cursos e oficinas articulados com a realidade local e a cultura da região. Surgiu, então, o interesse em analisar como as mulheres que participaram do projeto significam o trabalho, suas experiências laborais anteriores, sua participação em um projeto de capacitação, que teve como prioridade a autonomia profissional, e sua

1 O IDH é uma medida comparativa que engloba três dimensões (riqueza, educação e esperança média de

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condição de mulheres, descendentes ou não de quilombolas, vivendo em uma comunidade assim reconhecida. Este constitui, portanto, o objetivo central desta dissertação.

1.1 ALGUMAS NOTAS SOBRE O PORQUÊ DA ESCOLHA DESTE TEMA

Embora o estudo da Psicologia do Trabalho como disciplina obrigatória inicie apenas no penúltimo ano da graduação em Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), o meu contato com essa área ocorreu já no terceiro semestre do curso, em 2002, quando ingressei como estagiária voluntária no NUTRA, projeto de extensão do Departamento de Psicologia, cadastrado desde 1994. Ainda hoje me considero, e creio que seja considerada, uma “nutraniana”, pois contribuo e participo, sempre que convidada, das atividades e eventos do núcleo. Essa inserção foi muito importante para minha formação acadêmica e pessoal, o que se reflete na minha carreira e atuação profissional e na escolha dos temas a serem abordados em pesquisas científicas, como é o caso da presente dissertação.

Mesmo que as ações acadêmicas de toda a UFC sejam pautadas no tripé ensino-pesquisa-extensão, o Departamento de Psicologia está tradicionalmente voltado para a Extensão Universitária, ou seja, para um processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e que viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade. Seus núcleos e laboratórios têm apresentado uma cultura de priorizar a realização de projetos voltados diretamente para a comunidade e para a sociedade em geral, contribuindo assim elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico.

Essas realizações são fundamentais, tendo em vista o próprio compromisso social que as instituições públicas devem ter com o seu entorno. Acreditamos também que a pesquisa pode e deve estar vinculada à extensão, de forma que tem havido um movimento de estímulo ao desenvolvimento de pesquisas e à produção científica na comunidade acadêmica da Psicologia da UFC.

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constante e dialético. Em resumo, consideramos que o homem se desenvolve enquanto ser humano a partir da sua relação com o trabalho.

Outro fator fundamental para a seleção do campo e tema do presente estudo foi a vinculação pessoal com a região abordada. Sou filha e grande admiradora de uma das principais figuras impulsionadoras do desenvolvimento industrial e econômico de Horizonte, no caso, o primeiro representante político do município após a sua emancipação. Dada essa informação, tentei distanciar-me o quanto pude dessa posição afetiva e adentrar no estudo apenas como pesquisadora, mesmo sabendo ser humanamente impossível assumir uma postura absolutamente neutra em se tratando de pesquisa, principalmente por ser esta uma investigação que privilegia a abordagem qualitativa, na qual a subjetividade é integrante incondicional.

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2 MUNDO DO TRABALHO

As profecias que anunciavam o fim do trabalho assalariado não se cumpriram. A sociedade de princípios do século XXI continua sendo uma sociedade salarial. As transformações não apontam para a direção de um desaparecimento material do emprego, e sim mostram uma progressiva degradação das condições de trabalho para setores mais amplos da população. (LUQUE, 2006).

O trabalho, uma vez que assume representações as mais variadas, dependendo do contexto histórico, social e econômico em que é abordado, constitui temática central para questionamentos, reflexões e estudos sob as mais variadas perspectivas.

Devido ao seu caráter plural e polissêmico, o trabalho assume, inclusive, sentidos contraditórios (BORGES, YAMAMOTO, 2004; ANTUNES, 2006; NAVARRO, PADILHA, 2007), nos quais aspectos positivos e negativos podem conviver num mesmo lugar e tempo, como podemos perceber no decorrer da nossa história e na atualidade. De um modo ou de outro, benéfico e / ou maléfico, útil e / ou inútil, o trabalho possui suma importância na manutenção do metabolismo social entre humanidade e natureza, conforme afirma Antunes (2006).

Compreendemos que a atividade laboral se posiciona de forma central na vida das pessoas, pois entendemos que o trabalho ocupa lugar importante do espaço e do tempo em que se desenvolve a vida contemporânea, constituindo também fonte de identificação, de auto-estima e de desenvolvimento das potencialidades humanas.

Rebelo (2002) afirma que as mutações registradas na sociedade em geral contribuíram para uma profunda alteração nos modos de organização e nas dinâmicas do trabalho e do emprego, o que se reflete nas atitudes de trabalhadores e de empregadores e nas suas representações do mundo do trabalho, e no modo como percebemos o trabalho e o emprego.

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dispersar a relação de emprego e gerar formas de trabalho frágeis, do ponto de vista social. (REBELO, 2002).

Devido às diversas nuanças que acompanham o trabalho, para que possamos adentrar no universo significativo dessa temática pelo grupo de mulheres da presente pesquisa, faz-se necessário percorrer determinado caminho teórico preliminar, na tentativa de compreender a formação do atual contexto sócio-econômico e cultural no qual elas estão inseridas. Isso porque entendemos a importância desses elementos na composição do modo de vida das pessoas (BORSOI, 2005) e na atribuição de significados por parte delas ao trabalho, diante de suas vivências e experiências de vida. Ao mesmo tempo em que o trabalho é fonte de humanização, sob a lógica do capital ele se torna degradado, alienado, estranhado. (ANTUNES, 2006; NAVARRO, PADILHA, 2007). Isso ocorre porque o sistema capitalista privilegia a obtenção do lucro, por exemplo, e põe em outro plano a melhoria das condições de trabalho, do ponto de vista da qualidade de vida do trabalhador.

Torna-se essencial, então, abordar alguns aspectos do capitalismo e seus movimentos, para, então, buscar uma compreensão das transformações do mundo do trabalho nos dias atuais, bem como suas implicações na atribuição de significados ao trabalho pelas pessoas.

2.1 CRISE DO CAPITALISMO E FLEXIBILIZAÇÃO PRODUTIVA

Para obter o envolvimento do trabalhador nos regimes de produção do capitalismo, os princípios da ética protestante, difundidos ao longo do século XIX, foram essenciais. Com o objetivo de vencer as resistências dos trabalhadores diante da industrialização, forjou-se a idéia de que o trabalho assalariado é fonte de identidade e de realização pessoal, baseando-se na postergação das satisfações e na sensação de dever cumprido como fonte de gratificação. (LUQUE, 2006).

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desenvolve o trabalho e todo o conjunto de garantias e direitos que são mediados por ele, ou seja, é uma condição básica desenvolvida no âmbito da sociedade salarial, lógica surgida a partir da industrialização.

O uso dos termos trabalho e emprego como sinônimos ainda está bastante enraizado em grande parte da literatura e também no senso comum, mas não deverá ser feito na presente dissertação, uma vez que esta pressupõe o trabalho como sendo essencial para o desenvolvimento do indivíduo e não somente como meio de obtenção de recompensas em dinheiro.

A partir do final da década de 1960 e início da década 1970, o planeta é assolado por uma grande crise da economia capitalista. (LIMA, NONNENMACHER, 1995). Essa situação, também denominada de crise do fordismo, exprimia, em seu significado mais profundo, uma crise estrutural do capital, na qual o capitalismo, após um longo período de acumulação, começou a dar sinais de declínio, tendo esgotada a capacidade de valorização do capital a partir do modelo taylorista-fordista de gestão produtiva.

Esse modelo é caracterizado pela produção em massa e em série de mercadorias com estrutura homogeneizada e verticalizada, por um padrão produtivo baseado no trabalho fragmentado, no qual as tarefas são decompostas em atividades repetitivas, e realizadas em uma linha de produção rígida, com ritmo e tempo delimitados e cronometrados, por uma nítida separação entre elaboração e execução e por uma maior vigilância dos trabalhadores. (ANTUNES, 1998; SILVA, 2004; BORSOI, 2005).

O quadro do declínio capitalista pode ser caracterizado por: queda nas taxas de lucros, ocasionada principalmente pelo aumento do preço da força de trabalho conquistado pelas lutas sociais; maior concentração de capitais; crise do Estado de Bem Estar Social; desregulamentação e flexibilização do processo produtivo, do mercado e das forças de trabalho. (ANTUNES, 2000; BORSOI, 2005).

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caracterizam esse processo de reestruturação incidem na substituição gradativa do homem por máquinas mais modernas e em mudanças no gerenciamento da produção propriamente dita.

Esse movimento, que juntamente com a globalização vem redefinindo a estrutura econômica mundial e modificando a própria estrutura social, tem como instrumento fundamental para sua consolidação e sustentação o neoliberalismo, sistema ideológico e político de dominação caracterizado principalmente pela privatização do Estado. (ROMÃO, 1998).

Presenciou-se, a partir da década de 1980, a completa desregulamentação dos capitais produtivos transnacionais, além da forte expansão e liberalização dos capitais financeiros. (ANTUNES, 2000). Como pode ser lido em Pereira Jr. (2005), o capital tem adquirido uma mobilidade sem precedentes na escala mundial, de forma que “tanto é possível integrar o espaço mundial por meio de uma rede de investimentos e financiamentos como separar o processo produtivo industrial em diferentes lugares”. (p. 33).

Novas técnicas de gerenciamento da força de trabalho foram então se desenvolvendo, principalmente a partir de modificações no modelo taylorista-fordista de organização produtiva. Em um cenário de intensa competitividade, as empresas passaram a investir em mudanças de ordem tecnológica e organizacional, fazendo emergir formas de organização do trabalho “mais flexíveis” em várias partes do mundo. (NAVARRO, PADILHA, 2007).

Uma excelente definição de flexibilização produtiva nos é apresentado por Luque (2006), que diz ser a “capacidade das empresas de adaptar constantemente as tarefas e o tempo de trabalho às circunstâncias cambiantes do mercado2”. (p. 26).

As empresas com capacidade de competir passam a ser aquelas flexíveis, que podem dar uma resposta rápida às flutuações da demanda. Didaticamente, Luque (2006) aponta os procedimentos utilizados pelas empresas para alcançar essa maleabilidade:

a) flexibilidade numérica: capacidade de aumentar ou reduzir a planta produtiva de forma rápida, minimizando os custos laborais derivados da demissão através da contratação temporária ou por meio de agências de emprego;

2

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b) flexibilidade temporal: capacidade de introduzir mudanças rápidas tanto na quantidade de tempo que os trabalhadores dedicam ao emprego como nos horários e turnos de trabalho;

c) flexibilidade produtiva: terceirização de alguns processos de produção; d) flexibilidade funcional: polivalência dos trabalhadores, permitindo sua rotação em diferentes postos em função das necessidades da organização.

A autora considera que, com todas essas mudanças, estamos diante de uma crise profunda do emprego. As formas de trabalho que se converteram em norma durante a década de 1960, caracterizadas pela estabilidade, jornada completa, estabelecimento de vínculos claramente definidos pela empresa etc., estão sendo substituídos por formas “atípicas” de emprego. A instabilidade das ocupações, o contrato a tempo parcial a diversificação dos horários de trabalho, o trabalho por turnos ou o auto-emprego, são situações cada vez mais freqüentes e que caracterizam o momento atual.

Dessa forma, embora a flexibilização esteja fundada em propostas que, na teoria, parecem ser interessantes tanto para as empresas quanto para o trabalhador, na prática, em geral, acaba privilegiando o mais forte. O discurso em sua defesa se articula em torno de inúmeras vantagens, normalmente para as empresas, quais são: o trabalho flexível supõe um aumento da produtividade e da competitividade das empresas, uma redução dos custos laborais etc. Para os trabalhadores, lida-se com a expectativa de que possa haver maior autonomia e controle sobre o próprio trabalho e tempo e possibilidade de conciliar trabalho e outras esferas da vida, como o ócio e a família.

Contudo, Luque (2006) argumenta que estamos longe da situação em que o tempo de trabalho seja uma negociação pessoal do trabalhador com a empresa. Ao contrário, a flexibilidade de horário não se traduz em maior participação dos trabalhadores na gestão de seu tempo, uma vez que foram criados instrumentos rigorosos para controlar o processo de trabalho e o tempo dedicado a ele.

Nesse sentido, Aquino (2003) chama atenção para a mudança advinda da nova organização do capitalismo enquanto precarização, no sentido de que a resposta do capital frente à crise consiste na articulação de novos modelos de temporalidade e vínculos laborais que, na verdade, vulneram os direitos básicos dos trabalhadores, ou seja, são apenas novas formas de exploração laboral.

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voltado exclusivamente para o lucro daqueles que detém o poder em detrimento da classe trabalhadora e do indivíduo enquanto sujeito social.

Para ilustrar algumas novidades do mundo do trabalho, o modelo de gerenciamento articulado no Japão, a partir do pós Segunda Guerra Mundial, pelo engenheiro Ohno, da fábrica de veículos Toyota, mostra-se paradigmático. As marcas desse modelo, comumente chamado de toyotismo ou ohnismo, estão na produção flexível, variada, diversificada e, ao mesmo tempo, conduzida diretamente pela demanda, na sustentação de estoque mínimo, no aproveitamento máximo do tempo, concomitante à redução dos tempos mortos, no controle total de qualidade e estoque, na exigência da polivalência, ou seja, de uma maior qualificação do trabalhador e também em uma lógica de controle aparentemente sutil do processo de trabalho. (ANTUNES, 1998; BORSOI, 2005).

Como resposta à crise do fordismo, o toyotismo começa então a expandir-se pelo mundo sob formas mais híbridas (ANTUNES, 1998), sofrendo adaptações, de acordo com a realidade na qual vai sendo aplicado.

Essa forma flexibilizada de acumulação capitalista, baseada na reengenharia, na empresa enxuta, apresentou enormes conseqüências para o mundo do trabalho, como informa Antunes (2006): crescente redução do proletariado fabril estável; enorme incremento do trabalho precarizado (terceirizados, subcontratados, part time) e dos assalariados médios e de serviços; exclusão dos jovens e dos idosos concomitante com a precoce inclusão das crianças no mercado de trabalho; aumento significativo do trabalho feminino; expansão do trabalho em domicílio; reconfiguração, tanto do espaço quanto do tempo de produção.

Todas essas e outras características são de suma importância para o entendimento do que vem ocorrendo no contexto laboral na atualidade, ainda mais quando se observam as suas intensas repercussões na sociedade. Contudo, outras merecem ser destacadas e discutidas, tendo em vista a amplitude de suas conseqüências para a subjetividade do trabalhador.

2.2 NOVAS DEFINIÇÕES DE ESPAÇOS E OUTRAS CONSEQÜÊNCIAS DA PRECARIZAÇÃO LABORAL

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surgimento de novas regiões industriais, o desaparecimento de outras e a mundialização cada vez maior de plantas produtivas, situações que Antunes (2006) denomina de re-territorialização e des-re-territorialização do espaço produtivo.

Tal redimensionamento se concretiza na implantação e na transferência de estruturas produtivas para localidades as mais diversas, o que acontece, muitas vezes, para regiões não-industrializadas e que não possuem tradição fabril nem condições infra-estruturais para receber certos aparatos urbanos e tecnológicos. Conforme aponta Pereira Jr. (2005), alguns lugares ganham destaque propiciado pela expansão de equipamentos e pela implementação de políticas públicas e tornam-se, assim, atraentes para novos investimentos.

Assim, nesse quadro de nova configuração espacial, assistimos a diferentes definições de distância, que fazem com que antigas barreiras físicas não se apresentem mais como restrições decisivas ao sistema produtivo, e novas condições de lucratividade são estabelecidas, uma vez que os novos meios de conexões e telecomunicações suplantam qualquer limite criado pela descontinuidade geográfica global. (PEREIRA JR., 2005).

Importante salientar que todas essas alterações têm como núcleos centrais e detentores dos lucros os países de capitalismo avançado, principalmente Estados Unidos, Alemanha e Japão, ao passo que, nos países de Terceiro Mundo, a reestruturação se deu nos marcos de uma condição subalterna. (ANTUNES, 2000). Nesse sentido, temos que “a lógica da globalização é excludente, fazendo que certos espaços do globo interessem mais que outros, que alguns espaços exerçam a função de comando e que outros fiquem relativamente isolados”. (ROSA, 2001, p. 66).

Mudanças sem precedentes no universo laboral podem ser observadas também com relação à força de trabalho, nos mais diversos âmbitos. Ao contrário do que seria esperado, que as novas tecnologias e o surgimento das modernas máquinas amenizariam o sacrifício e a penosidade do trabalho operário, através da gradativa substituição da força humana por máquinas para diminuir o dispêndio de energia por parte do homem, o que se verifica é justamente o oposto.

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A intensidade de força física requerida para auxiliar ou acompanhar uma etapa da produção pode ser baixa, mas as condições em que isso acontece e a quantidade de tempo em que se passa frente à máquina compensam esse aparente pouco dispêndio de energia e tornam a tarefa penosa.

Há também a questão do trabalhador polivalente, igualmente inserida pelo modelo toyotista, que exige do trabalhador conhecimentos de diversos setores. Segundo Serrano, Moreno e Crespo (2001), “essa organização capitalista pós-fordista demanda uma dedicação ativa à produção e à resolução de problemas, o que requer uma disponibilidade temporal e intelectual sem limites”. (p. 51).

Antunes (2006) salienta que, diante da impossibilidade de eliminar o trabalho vivo do processo produtivo pelas máquinas inteligentes, a introdução da informatização acaba por exigir também parte dos atributos intelectuais do trabalhador.

Sendo assim, a necessidade da presença do corpo humano vai sendo dispensada pelo uso da tecnologia e da computação, e quando esta presença é requisitada, nem sempre há profissionais competentes para preencher as vagas existentes, além de se imperar pela sua manutenção no máximo de tempo possível nos postos de trabalho.

Fica excluído desse processo o trabalhador que não se encontra plenamente capacitado e / ou qualificado para assumir determinada gama de atribuições. Ocorre então um crescimento cada vez maior do número de pessoas sem postos de trabalho, numa situação em que há, por um lado, excesso de mão-de-obra para funções mais simples e operacionais e, por outro, carência de profissionais habilitados para a ocupação de colocações mais gerenciais e complexas.

Origina-se, portanto, uma situação em que o exército de reserva constitui grandes aglomerados de pessoas de todas as idades e em todos os lugares, revelando um cenário de crescimento exorbitante do desemprego, talvez a mais grave de todas as conseqüências das transformações econômicas e sociais no âmbito do trabalho.

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Diante dessa situação, tem-se que a classe trabalhadora fragmentou-se, heterogeneizou-se e complexificou-se ainda mais (ANTUNES, 2006), sendo esse o eixo sobre o qual se insere o debate acerca da crise da sociedade do trabalho, que vivemos atualmente (AQUINO, 2003; SERRANO, MORENO, CRESPO, 2001).

Inúmeros são os elementos que fazem parte do contexto dessa crise. Romão (1998) afirma que a transição do fordismo à acumulação flexível, facilitada pela automação, robotização, microeletrônica e flexibilização generalizada, vem acentuando o já mencionado desemprego estrutural, fenômeno encontrado em todos os países do mundo, em menor ou maior escala. Tudo isso tem originado, conforme aponta Antunes (2000), uma ação destrutiva contra a força humana de trabalho, que tem enormes contingentes precarizados.

Navarro e Padilha argumentam que as metamorfoses do mundo do trabalho ferem não só os direitos e as formas de organização da classe trabalhadora na luta contra o capital, mas atingem outros âmbitos da vida do trabalhador, implicando perdas do ponto de vista financeiro e de saúde física e psíquica:

A flexibilização trazida pela reestruturação produtiva – que exige trabalhadores ágeis, abertos a mudanças a curto prazo, que assumam riscos continuamente e que dependam cada vez menos de leis e procedimentos formais – não causa apenas sobrecarga de trabalho para os que sobreviveram ao enxugamento dos cargos, mas acarreta grande impacto para a vida pessoal e familiar de todos os trabalhadores; sejam eles empregados ou desempregados. (NAVARRO, PADILHA, 2007, p. 19).

Borsoi (2005) também alerta para as repercussões do modo de organização da jornada de trabalho no cotidiano do trabalhador, no sentido de que este, ao organizar sua vida em função do tempo que precisa dispor para fazer valorizar o capital, acaba “usurpando de si próprio o tempo de vida, assim comprometendo sua própria capacidade produtiva” (p. 96). A autora reconhece como sendo um dos efeitos mais danosos da precarização do trabalho a perda de referência de construção da denominada “identidade operária”, tendo em vista que “os antigos operários estão sendo empurrados para o trabalho informal, enquanto a fábrica está sendo ‘invadida’ por trabalhadores” sem experiência fabril.. (BORSOI, 2005, p.23).

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sobre o sentido e o lugar do trabalho na estrutura social, bem como sobre o seu impacto na construção da subjetividade do trabalhador. Precisamos refletir sobre os paradoxos que nos são apresentados por essa crise, na qual situações e atividades aparecem como normais e aceitáveis, mas que, ao mesmo tempo, contradizem alguns dos valores dominantes da nossa época. Questões como essas constituem desafios para os estudos da Psicologia Social e do Trabalho.

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3 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NO ESTADO DO CEARÁ E

NO MUNICÍPIO DE HORIZONTE

O processo de reestruturação produtiva que ocorre no Brasil faz parte de um quadro de transformações que vêm ocorrendo na economia mundial e que resulta, entre outros aspectos, na dispersão espacial das atividades produtivas. Uma das características desse processo consiste na transferência de segmentos tradicionais da indústria para lugares onde não se tinham constituído plenamente as condições necessárias para o desenvolvimento pleno do capitalismo. Porquanto, uma série de investimentos industriais vem proporcionando a novos lugares mudanças significativas na estrutura produtiva e setorial. (PEREIRA JR., 2005).

O jornal Diário do Nordeste (2005), na sua edição de 28/11/2005, salienta que a descentralização do processo industrial que ocorre no Brasil para regiões interioranas vem transformando capitais brasileiras em centros de serviços por excelência e fazendo surgir novos pólos econômicos, cujo crescimento desordenado do contingente populacional tem gerado déficit habitacional, desemprego, carência de mão-de-obra qualificada e de serviços essenciais.

A região Nordeste, em especial o estado do Ceará, constitui um campo detentor de novos investimentos, tanto provindos de outras regiões brasileiras quanto de outros países e representa um contexto proeminente para a análise das questões relativas ao presente trabalho.

Nos anos 1950, no bojo do processo de desenvolvimento promovido pelo então presidente Juscelino Kubitschek, o Nordeste representava um problema no quadro econômico nacional, devido às disparidades de níveis de renda entre a região e o Centro-Sul e à diferença no ritmo de crescimento entre as duas economias. As causas para tanto eram atribuídas principalmente às características geoambientais da região, de forma que o único meio vislumbrado para a melhoria da situação consistia na industrialização.

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energia elétrica; aproveitamento de conquistas tecnológicas recentes. (RIGOTTO, 2001).

Dessa maneira, o Governo Federal passou a atuar no Nordeste, investindo em infra-estrutura viária e energética, através da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e de outros órgãos. A partir daí, ações de reestruturação e expansão industrial aparecem como destaque nos programas federais e estaduais voltados para a região, visando ao crescimento acelerado.

Portanto, o intervencionismo estatal constitui uma marca no desenvolvimento econômico e industrial nordestino, através do “esforço de atualização de modelos e conceitos relativos à administração e organização da produção, a fim de sintonizar a economia local à global, e inseri-la no circuito da chamada reestruturação produtiva”. (ROMÃO, 1998, p. 11).

No Ceará, a opção de promover o desenvolvimento industrial adequa-se à nova divisão internacional do trabalho facilitada pela globalização e submete-se às regras impostas aos países em desenvolvimento. Os investimentos produtivos movem-se hoje no planeta em busca da atratividade dos países e sociedades periféricas com regulamentações menos restritivas em termos de direitos trabalhistas e ambientais, favorecendo a transferência de tecnologias e riscos a partir dos países centrais. (RIGOTTO, 2001, p. 52).

Acontece que essa redistribuição das plantas industriais com crescente implantação de fábricas em áreas como o Nordeste não acontece por acaso. Rigotto (2001) atenta para o fato de que as empresas de gêneros industriais têm buscado se localizar no interior nordestino para competir com os concorrentes externos, atraídas pela superoferta de mão-de-obra e baixos salários, e pela possibilidade de flexibilizar as relações de trabalho.

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A industrialização propriamente dita da região cearense se inicia principalmente a partir da gestão governamental de Tasso Jereissati (1987-19913) que, liderando um grupo de jovens empresários, inaugura uma nova etapa na política do Estado. (RIGOTTO, 2001; BRUNO, FARIAS, ANDRADE, 2002). Isso ocorre através do sobressalente “Governo das Mudanças” e de uma série de medidas que visavam combater a precariedade e a situação em que se encontrava o Ceará naquele período:

O Estado estava praticamente quebrado, apresentando um quadro alarmante de pobreza e concentração de renda, além de uma máquina administrativa ineficiente, corrupta e sobrecarregada de servidores públicos, muitos dos quais “fantasmas”, outros em greve devido ao atraso de três meses de pagamento. A arrecadação de impostos era suficiente apenas para cobrir dois terços da folha de pagamento. O BEC4 estava sob intervenção federal. Nos

sertões, além da miséria em larga escala, predominava impunemente os crimes de pistolagem. (BRUNO, FARIAS, ANDRADE, 2002, p. 31).

Inúmeros motivos contribuíram para a eleição do Ceará como atrativa alternativa de relocalização e instalação de plantas industriais em seu território, em especial os incentivos fiscais e benefícios concedidos pelos governos estadual e municipal, tais como: isenção de até 75% do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) por até quinze anos, dez anos de isenção de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), 50% de redução no Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), facilidades na consecução de infra-estrutura (fornecimento de terreno, água, energia e telefone, construção de galpões, recrutamento dos trabalhadores). (ROMÃO, 1998; RIGOTTO, 2001; BORSOI, 2005; PEREIRA JR., 2005).

Sobre o desenvolvimento da economia cearense, Bruno, Farias e Andrade (2002) afirmam que, ao final do terceiro mandato de Tasso em 2002, o Ceará se encontrava bem diferente daquele de 1987, sendo um dos estados que, ainda hoje, apresentam os maiores índices de crescimento do país, proporcionados principalmente pela industrialização de cidades interioranas e outras próximas à capital.

3Objetivos do Plano das Mudanças 1987-1991 (CEARÁ citado por RIGOTTO, 2001): acelerar a taxa de

crescimento econômico, buscando atingir melhor distribuição de renda, favorecendo as camadas mais necessitadas e as áreas menos desenvolvidas; assegurar a criação de empregos produtivos de acordo com uma política de investimento que contemple a melhoria da produtividade da economia de modo geral; melhorar as condições de saúde e educação da população, com prioridade para o segmento em estado de pobreza absoluta. Entre as diretrizes, estão a concentração de esforços para garantir a implementação de empreendimentos de grande impacto econômico e a interiorização da indústria.

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Pesquisa recente do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho5 (IDT) veiculada no jornal O Povo no dia 11/08/2007 (CALDAS, 2007), demonstra que as indústrias cearenses têm se instalado cada vez mais em cidades do interior, caindo a participação da capital de 74,86% para 67,16% em termos de contratação de mão-de-obra industrial.

Porém, uma análise mais aprofundada da situação mostra que talvez o fator de maior impacto na atração de investimentos para o Ceará tenha sido a facilidade de encontrar uma mão-de-obra de baixíssimo custo e facilmente adequável aos ditames da acumulação capitalista. Inúmeros autores defendem que indústrias têm buscado se localizar no interior do Nordeste para competir com os concorrentes externos, atraídas pela oferta abundante de mão-de-obra, pela possibilidade de oferecimento de baixos salários, pela escassez de oportunidades de emprego e pela possibilidade de flexibilizar as relações de trabalho. (ROMÃO, 1998; RIGOTTO, 2001, BORSOI, 2005; PEREIRA JR., 2005).

Nessas duas décadas de industrialização, o trabalhador cearense tem se mostrado adaptado às novas regras de flexibilização da força de trabalho. Ele recebe bem menos que o operário do Sul/Sudeste, mesmo exercendo a mesma função, e se submete às intensas jornadas e ao ritmo de trabalho que lhe são impostos. A tabela seguinte mostra os valores médios de salários dos trabalhadores formais registrados no (MTE), possibilitando a visualização da diferença salarial entre as regiões citadas.

TABELA 1 - Remuneração média (R$) em Estados Brasileiros (2006 e 2007).

2006 2007

Unidade

Federativa Aglomerado Urbano Interior Total Aglomerado Urbano Interior Total CE 1.107,12 572,99 930,45 1.083,47 615,85 927,34

SP 1.799,19 1.300,95 1.577,52 1.804,76 1.324,87 1.591,43

SC 2.054,42 1.048,82 1.191,70 2.064,98 1.064,28 1.204,23

Fonte: RAIS - Dec. 76.900/75. Elaboração: CGET/DES/SPPE/TEM.

Sobre o movimento sindical no Nordeste e no Ceará, cabe ressaltar que, segundo Borsoi (2005), fatores como o desemprego e o privilégio da terceirização na contratação da mão-de-obra, além de outras políticas utilizadas pelas empresas,

5 O Instituto de Desenvolvimento do Trabalho é uma instituição de direito privado, sem fins lucrativos,

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dificultam o fortalecimento dos sindicatos e a organização coletiva dos trabalhadores, de forma que as reações de contestação se tornam individualizadas.

Como menciona Rigotto, os trabalhadores de um Pólo Industrial do Ceará:

Vivendo em situação de penúria social, sem experiência no trabalho industrial, sem vislumbrarem outras opções de ocupação e sem poderem contar com entidades de classe fortes e bem organizadas, tornam-se presas fáceis das armadilhas da organização do trabalho e da exploração. (RIGOTTO, 2007, p. 96).

O trabalhador demonstra ter consciência das condições sob as quais exerce as suas atividades, das conseqüências destas para a sua saúde, seu cotidiano, seu desempenho físico e sua vida em geral, além da baixa remuneração que recebe por isso. Mesmo assim, as pessoas se submetem a esses tipos de inserção laboral que lhes são oferecidos, devido à estabilidade, aumento do poder aquisitivo e outras conquistas proporcionadas pelo salário baixo, porém pago em dia no final do mês:

Mesmo que o trabalho possa ser considerado “pesado”, “cansativo”, “puxado”, e sua remuneração aquém do que consideram um “salário digno”, é ainda o que melhor conseguiram experimentar, pois é ele que tem garantido algumas certezas para além do dia seguinte; é ele que tem permitido certa experiência de conforto para si e para o grupo familiar, que tem assegurado determinada inserção num mundo de consumo impensável nas experiências anteriores de trabalho. (BORSOI, 2005, p. 153).

As vagas oferecidas pelas indústrias são preenchidas, ao passo que dezenas e até centenas de pessoas ficam à espera de serem contratadas por essas empresas. Tendo em vista a própria falta de vivência de situações semelhantes, já que o trabalho industrial constitui uma experiência completamente nova para essas famílias, o contexto de desemprego estrutural observado e a ausência de uma articulação sindical mais forte, as atitudes de contestação, quando existem, são pouco significativas, diante da precarização que faz parte desse contexto.

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alimentação e de impossibilidade de consumir aquilo que desejava. Por tudo isso, a subordinação às regras do trabalho precarizado constituem praticamente a única alternativa.

Nesse sentido, parece claro que a reestruturação produtiva no Ceará está marcada por “precarização do trabalho, baixos salários, longas jornadas, deterioração das condições de trabalho, descumprimento de direitos trabalhistas básicos, flexibilização das relações de trabalho, [...] terceirização predatória etc.”. (RIGOTTO, 2001, p. 57).

Torna-se válido destacar ainda que a interiorização de indústrias no Estado induz um complexo e profundo processo de transformação da sociedade local, conformando novos espaços urbano-industriais, com impactos no modo de vida e no processo saúde-doença da população (ROMÃO, 1998; ROSA, 2001; RIGOTTO, 2001; BORSOI, 2005; PEREIRA JR., 2005), metamorfoses estas que não necessariamente constituem melhoria da qualidade de vida para as pessoas ou benefícios para a localidade.

Pesquisas diversas têm levantado dúvidas quanto à positividade do impacto das mudanças advindas do processo de industrialização em regiões sem tradição fabril anterior, tendo em vista que, “embora a questão do desemprego esteja no centro da agenda social contemporânea, não parece haver uma ligação direta e imediata entre industrialização, geração de emprego e melhoria da qualidade de vida ou da saúde”. (ROSA, 2001, p. 83).

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4.1 HORIZONTE E PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RECENTE

Horizonte está localizado na região metropolitana de Fortaleza e tem suas raízes históricas ligadas ao município de Pacajus, ao qual pertencia enquanto distrito. Através da Lei Estadual Nº 11.300, aprovada em 6 de março de 1987, a localidade foi emancipada politicamente, após plebiscito requerido por intenso movimento organizado por lideranças locais em prol da independência administrativa.

O município possui extensão territorial de aproximadamente 192 km2 e dista 40 km da capital cearense, cujo acesso se dá pela Rodovia Santos Dumont, comumente conhecida por BR 116. Geograficamente, divide-se em quatro regiões principais ou distritos, sendo: Sede, onde se concentram 83,24% da população, e Queimadas, Aningas e Dourado, nos quais residem 16,76% dos habitantes, constituindo, assim, uma cidade eminentemente urbana.

Enquanto distrito de Pacajus, a economia de Horizonte girava em torno basicamente do cultivo de frutas, do beneficiamento da castanha e da avicultura, modalidade que foi se destacando a partir da década de 1970, com a instalação da Granja São José e, posteriormente, de outras empresas de criação de aves.

Em apenas vinte e dois anos de emancipação, Horizonte vem construindo uma história de crescimento econômico, despontando hoje como um dos principais pólos industriais e estando entre as sete maiores economias do Ceará, resultado da intensa industrialização ocorrida a partir do início da década de 1990.

Atualmente, o setor primário, apesar do pouco destaque em termos financeiros para a arrecadação de impostos, é representado pela cajucultura, apicultura, avicultura, mandiocultura, produção de hortaliças e fruticultura diversificada. Já o setor fabril desponta indubitavelmente como preponderante na economia horizontina, contando com mais de 50 empresas industriais dos mais diversos ramos (SOUSA, 2007). Essas indústrias, cujas origens e ramos são os mais variados, posicionam Horizonte no campo da reestruturação produtiva, desregionalizando a sua produção. (BORSOI, 2005).

A emancipação política de Horizonte foi efetivada no ano de 1989, com a posse do então prefeito Francisco César de Sousa6, que já na sua primeira gestão

6 Além do período de 1989 a 1991, Francisco César de Sousa, comumente chamado “Chico César”, foi

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administrativa aderiu à política de desenvolvimento econômico de estímulo à industrialização adotado pelo Governo do Estado, preparando o município para atrair indústrias à região. (BORSOI, 2005). A instalação das primeiras empresas não foi difícil, tendo em vista as características do território, conforme justifica o texto do informativo publicitário Gerando Desenvolvimento:

[...] a localização às margens da BR 116, um dos principais eixos rodoviários do Brasil, faz de Horizonte um lugar especial para receber investimentos no setor industrial. O Município é atendido por cabeamento de fibra óptica e pelo Gasoduto Guamaré (RN/São Gonçalo-CE), tendo instalado um dos quatro City Gates. A apenas 40 quilômetros de Fortaleza,

Horizonte beneficia-se da proximidade com o Complexo Portuário do Mucuripe e o Aeroporto Internacional Pinto Martins. Outra vantagem estratégica é o fácil acesso ao mais recente equipamento do setor de transporte do Estado do Ceará, o Complexo Portuário do Pecém. Por todos esses motivos, Horizonte está em posição estratégica para travessias do Oceano Atlântico e conta com excelente acesso à América do Norte e Central, favorecendo o escoamento da produção industrial. (HORIZONTE, 2004).

Tais peculiaridades, aliadas aos incentivos concedidos pela administração local, foram essenciais para o início da industrialização, dada a partir da edição da Lei Municipal N° 032/1990, que autorizou a criação da Companhia de Desenvolvimento Industrial de Horizonte, Sociedade de Economia Mista com maior parte do capital público. (SOUSA, 2007). Outro instrumento legislativo importante para esse processo foi a Lei Municipal Nº 161/1994, que estendeu os benefícios da Lei Nº 088/1992 e adotou providências como: isenção de taxas de licença de construção e execução de obras, de IPTU, de Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e de licença de construção; alíquota do ISS de 1% nos cinco primeiros anos de funcionamento, dentre outras.

Partindo de informações do Anuário do Ceará 2007-2008, Horizonte ocupa, desde 2002, a 7ª colocação no ranking do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. No ano de 2003, conforme circulado no O Povo (DUTRA, 2005), Horizonte ocupava o 3º lugar no somatório de todas as riquezas produzidas por habitante (PIB per capita) do Ceará, cujo valor de R$ 10.005 foi maior que a média nacional do período (R$ 8.694).

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Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Horizonte para o ano de 2007 era de 48.660 pessoas (2008), enquanto que, na publicação Perfil do Ceará 1991-1992, Guilherme Filho (1991) aponta a observa-se, então, fator de suma importância: em um curto período de tempo, pouco mais de duas décadas, houve um crescimento populacional de mais de 250% naquele território, o que ocasionou inúmeras conseqüências positivas e negativas para a região.

O Jornal Diário do Nordeste (2008) divulgou, em meados de janeiro de 2008, dados sobre a evolução do eleitorado cearense de 2006 para 2007. No Brasil, o Ceará foi o 4º Estado em aumento do número de eleitores, ao passo que a maior evolução deste foi apresentada por Horizonte, com 12,38% a mais de votantes de um ano para o outro (de 27.701 para 31.131 eleitores).

Em matéria sobre a geração de empregos no País, o veículo de comunicação O Povo (SCALIOTTI, 2008) anunciou o município de Horizonte como estando entre os dez que mais abriram postos de trabalho com carteira assinada no Ceará em 2007, com a quantidade de 766 novas oportunidades.

Uma pesquisa do IDT revela que as empresas do município ampliaram o número de contratações de 3.225 trabalhadores em 1997 para 10.543 em 2005, tendo subido da 6ª para a 4ª posição em quantidade de empregos gerados no Estado. (CALDAS, 2007).

Uma das grandes empresas têxteis de Horizonte, que ocupa a segunda colocação em absorção de mão-de-obra industrial no município, divulgou, em matéria do jornal Diário do Nordeste (27/01/2008), o perfil de seus funcionários (aproximadamente 940): 88% são homens; mais da metade (52%) residem na localidade; 60% têm Ensino Médio completo; 52% possuem estado civil solteiro.

A tabela abaixo apresenta a remuneração média dos trabalhadores formais no ano de 2007, de acordo com as áreas de atividades laborais.

TABELA 2 - Remuneração média de empregos formais em Horizonte (31 de dezembro de 2007).

Indicadores Masculino Feminino Total

Extrativa Mineral 539,03 309,00 521,34

Indústria de Transformação 743,89 558,58 664,00

Serviços Industriais de Utilidade Pública 0,00 0,00 0,00

Construção Civil 553,24 842,00 561,32

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Serviços 666,03 569,96 639,21

Administração Pública 838,95 873,68 859,89

Agropecuária 498,02 557,83 504,57

Total das Atividades 721,34 614,24 675,42

Fonte: RAIS/2007 - MTE

Enquanto região nova, ou seja, que não tem história industrial anterior (BORSOI, 2005), Horizonte se vê diante de intensas transformações advindas do seu processo recente de industrialização. A autora salienta que “até mesmo a simples presença de uma indústria pode interferir de forma significativa no modo de vida de trabalhadores que se tornaram ou estão se tornando operários fabris” (BORSOI, 2005, p.26), afirmação que oferece uma visão esclarecedora do potencial transformador da sociedade pela industrialização:

Nativo ou migrante, a história de trabalho anterior desses trabalhadores não difere muito em sua natureza. Agricultura e pecuária, fábrica de beneficiamento de castanha, olaria, casa de farinha, avicultura, construção civil, “casa de família” (no caso de mulheres), pequeno comércio são as fontes de trabalho que antecederam a indústria e que fazem parte da vida desses trabalhadores. (BORSOI, 2005, p. 50).

De acordo com Sousa (2007), a divulgação promovida pela mídia sobre a industrialização em Horizonte atrai, devido às eventuais oportunidades de emprego, pessoas de outras cidades e até outros estados, ocasionando esse intenso crescimento populacional e um conseqüente crescimento da demanda pelos serviços públicos. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico do município estima que, a cada emprego ofertado, a procura pelos serviços de saúde e educação, por exemplo, é quadruplicada, pois normalmente aquele que se dirige a Horizonte leva toda a família.

Dessa forma, a infra-estrutura do município requer um acompanhamento permanente, visando atender à demanda sempre crescente, motivada pela chegada do contingente populacional atraído diariamente pelas indústrias.

Imagem

TABELA 2 - Remuneração média de empregos formais em Horizonte (31 de dezembro  de 2007)
FIGURA 1 - Logomarca do projeto “Alinhavando Sonhos / Construindo Realidades”
FIGURA 2 - Fotografia do Processo de Seleção  Fonte: Elaborado pelo autor, 2007.
FIGURA 3 - Fotografia da Oficina de Retalhos  Fonte: Elaborado pelo autor, 2007.
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Referências

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