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HV-19 e seu sistema de definitude e referencialidade sob o olhar de Ribeiro

1.4 O COMPORTAMENTO DOS SDs NUS NO PB E NOUTRAS LÍNGUAS

1.4.4 HV-19 e seu sistema de definitude e referencialidade sob o olhar de Ribeiro

O trabalho de Ribeiro (2010) analisa o sistema de definitude e referencialidade de uma falante afro-brasileira de 103 anos (idade da informante no ano da entrevista (1994)) da comunidade de Helvécia, identificada como HV-19 no Projeto Vertentes da UFBA. Os dados desse estudo fazem parte de um dos inquéritos que foram escolhidos

para serem inteiramente sistematizados nesse trabalho. O estudo de Ribeiro servirá como diretriz para que seja possível perceber as particularidades do PABH quanto ao uso dos SDs objetos, sendo, portanto, de importância específica para a presente dissertação.

Inicialmente, Ribeiro assume os conceitos sobre definitude e referencialidade propostos por Givón (1998), Lyons (1999), Laca (1999) e Baptista (2007). Como aponta a autora (p.1), a propriedade semântica da referencialidade confere, à expressão nominal, a propriedade de possuir um referente e/ou de ser identificável, como pode ser visto no exemplo abaixo:

74) Comprei a casa amarela da esquina.

O uso genérico, por sua vez, ocorre quando o falante faz referência “a uma espécie ou uma classe ou um tipo de objetos ou de fatos” (p.1), como nos exemplos de 75 a 77 :

75) Pesco muitos peixes nesse lago. 76) Chupo laranja todos os dias. 77) Vendo canetas faz muito tempo.

Em se tratando de definitude, Ribeiro (p.1) assume que essa diz respeito à familiaridade da expressão nominal entre o ouvinte e o falante, exatamente como foi assumido no tópico 1.3.1 desse capítulo:

78) Chamei a menina da qual te falei.

Para as expressões indefinidas, a autora afirma (p.1), concordando com Lyons (1999) e, consequentemente, com o que assumiu-se nesse estudo, que elas podem possuir uma leitura específica ou não específica, como é possível visualizar, respectivamente, nos exemplos que se seguem:

79) Comprei um vestido lindo. 80) Preciso comprar uma caneta.

Os determinantes definidos podem apresentar, como sugere Ribeiro (p.2), o traço [+ Específico] ou [-Específico]. Os exemplos abaixo demonstram essas possibilidades:

81) Quero abraçar o perdedor, mas ainda não sei quem ele é.

82) 17Quero abraçar o perdedor, mas não quero deixá-lo constrangido.

Segundo a autora, o falante, precisa de pistas morfossintáticas e pragmáticas para interpretar os traços de referencialidade, genericidade, definitude e especificidade. Ribeiro (p. 2-3) apresenta exemplos de usos de determinantes indefinidos na fala de HV-19 e compara com dados do crioulo de Cabo Verde apresentados por Baptista (2007:65) e percebe as mesmas possibilidades referenciais (numeral, indefinido não- específico/singular, indefinido específico singular e quantificador). Ribeiro (p.3) observa que o determinante Ø pode ser usado como indefinido (no lugar de um) na gramática de HV-19, assim como no CCV, como apontado anteriormente por Baptista (2007: 66-7). Ribeiro, recorrendo a Baptista (2007:97), aponta que, no PE, nomes singulares indefinidos + específicos combinados com o determinante Ø, são agramaticais, como em Ele comprou Ø apartamento. O PB e a variedade do português usada por HV-19 também diferem do PE quanto ao uso do determinante Ø sem marca de plural no nome; o PE não admite uma sentença como em Buscar Ø criança na

escola é chato18.

Ribeiro (p. 4-5) faz outras observações relevantes sobre o sistema de definitude e referencialidade de HV-19, a saber: a) a morfologia de plural nunca aparece no nome; b) expressões indefinidas quantificadas combinadas com o determinante Ø são usadas com bastante frequência (“jogo Ø água nele”); c) há situações de expressões nominais na posição de objeto em que o determinante Ø marca a indefinitude plural não- específica, focalizando a ação ou um evento e funcionando, portanto, como um objeto incorporado dentro da proposta de Saraiva (1997) (“Na pé de tomate aí, comeno

tomate”) (comendo uns tomates/alguns tomates)19; d) a informante não faz nenhum uso do determinante uns durante a entrevista; e) há expressões nominais na função de objeto

17

Os exemplos de 74 a 82 são meus

18

Os exemplos são meus.

19

direto cuja leitura é de indefinitude plural não específica, marcada pelo determinante Ø (“São Batião foi buscá madeira nesse matim ali”20

– nesse caso, como aponta Ribeiro, citando Saraiva (1997), o foco da sentença é o evento e não a expressão nominal).

Exemplos como o dessa última observação, acrescenta Ribeiro (p.5), podem ser “resultantes de desenvolvimentos linguísticos de gramaticalização da indefinitude, no processo de aquisição do português do século XIX aos tempos atuais”. Apesar da importância da afirmação anterior, essa discussão não será aprofundada, pois o objetivo desse estudo não é explicar o processo histórico dessas realizações

Ribeiro (p.5) observa que a forma singular dos nomes genéricos com o determinante Ø, é licenciada tanto em PB, como em CCV e HV-19 (“Fazê ensopado de tomate” (HV-19)).

Quanto ao uso do demonstrativo, explica Ribeiro (p.5) HV-19 possui um sistema bastante simplificado em que existe apenas a forma esse para o singular. A marcação de [±Proximidade] é feita por “partículas adverbiais aqui, aí, lá” (p.6). O esse também substitui o pronome pessoal ele e ela em algumas situações (“esse é meu neta”). No plural, a única forma do demonstrativo é esses, como observa Ribeiro (p. 6-7).

Tendo em vista que esse não é o único determinante definido na fala de HV-19, a autora afirma ser “impossível dizer se o determinante Ø em uma expressão referencial definida [+Específica] está em variação com o demonstrativo ou com o artigo definido, embora haja casos em que o demonstrativo e o artigo definido possam estar em variação” (p. 8).

O uso dos possessivos adjetivais geralmente ocorre sem um artigo antecedente na fala de HV-19 (p.8). Nos casos em que o possessivo é usado como pronome, ocorre a variação entre a presença ou não do artigo (p.9). No que diz respeito às posses inalienáveis, o possessivo pode estar ausente (“Botô mão nas n’água”) (p.9).

No que concerne aos nomes próprios, Ribeiro (p.9) observa que há apenas um dado em que um nome próprio foi antecedido por artigo (“Tem o Marquinho , tem

João...”), o que pode ser, segundo a autora, uma marca de afetividade sugerida pelo

diminutivo – inho. Os nomes próprios são, muitas vezes, precedidos pelo demonstrativo

esse (quando anafóricos), podendo corresponder a uma “restrição sobre a identificação

do referente” (p.10) (significando: essa pessoa de quem te falei há pouco).

20

Quanto ao uso dos determinantes definidos, Ribeiro aponta algumas observações importantes na fala de HV-19: i) o uso do determinante definido quase sempre ocorre em situações associativas anafóricas (p.10); ii) nem sempre o uso do artigo definido indica que o elemento é [+Específico] (“Parô o fio! Taí... Oto já me chamo”) (p.11) (Ela mal aparo o/um filho, já tem outra pessoa chamando ela para fazer outro parto.)21.

Como apontado anteriormente, HV-19 não realiza os plurais nos nomes e sim nos determinantes. Assim, as realizações plurais da informante sempre aparecem acompanhadas de determinantes, independente do valor referencial discursivo do sintagma nominal. Mesmo nos casos em que a marca de plural não é foneticamente realizada há a presença de algum determinante, afirma Ribeiro (p.12).

Ribeiro (p.13) explica, de acordo com Lucchesi & Ribeiro (2009: 145), como se deu o processo de transmissão linguística irregular do português para os escravos africanos trazidos para o Brasil: I) primeiramente, houve a aquisição de um modelo de português defectivo do português como segunda língua pelos escravos africanos a partir dos dados fornecidos pelos colonos portugueses na situação de contato; II) em seguida, os filhos de escravos adquiriram o português como primeira língua através do modelo defectivo dos pais; III) depois, os afrodescendentes reestruturaram o português e transmitiram esse novo modelo do português para os seus filhos. Tendo em vista esse processo, os usos de HV-19, como aponta Ribeiro, são resultado das simplificações ocorridas no processo de transmissão linguística irregular e, ao mesmo tempo, da reincorporação de estruturas gramaticais usadas pelas classes dominantes brasileiras atuais, já que as interferências de contato entre línguas vêm diminuindo “(sobretudo a partir de 1850, com o fim do tráfico negreiro) e na medida em que esses indivíduos vão se integrando e ascendendo na sociedade brasileira” (p.13). Levar em consideração como se deu o processo de transmissão linguística irregular na comunidade é um importante passo para entender a distribuição dos determinantes no PABH .

Viu-se que o estudo de Ribeiro (2010), assim como o presente, apóia-se nos conceitos de Lyons (1999), aplicando-os ao PB e ao PABH. Através da leitura do mesmo, pôde-se perceber a necessidade de comparar os dados do CCV, do PB e do PABH para possibilitar a observação das particularidades de cada língua e alcançar o objetivo proposto. Além disso, é importante levar em consideração os seguintes questionamentos que surgiram a partir do trabalho da autora:

21

i) Quais podem ser as pistas pragmáticas usadas pelos falantes de PABH para interpretar os traços de definitude?

ii) Como o processo de aquisição influenciou a distribuição dos determinantes das falantes do PABH, principalmente as mais idosas como HV-19?

Buscar-se-á responder essas e outras questões no capítulo 3, levando em consideração todo o embasamento que foi traçado nesse capítulo.

1.5 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO

Apesar de a literatura sobre SDs nus objetos e o funcionamento da gramática do PB no que diz respeito aos mesmos não ser farta, os trabalhos até então publicados para essa língua e outros estudos acerca do tema SD em geral aqui destacados foram relevantes e suficientes para embasar teoricamente a presente dissertação. Alguns questionamentos pertinentes acerca de cada uma das leituras forma apontados ao longo das seções correspondentes.

Em Lyons (1999) e Ribeiro (2010), viu-se que há traços linguísticos que estão diretamente relacionados às possibilidades de uso de SDs nas línguas. No intuito de perceber as principais tendências de uso no PABH, selecionou-se alguns desses traços para mostrar a distribuição e caracterizar o uso dos SDs nos dados de Helvécia, como será visto no próximo capítulo, refernte à metodologia. A partir das demais leituras e das reflexões realizadas sobre SDs nus na posição de objeto em PB, viu-se que há, dentro dos moldes da gramática gerativa, duas possíveis hipóteses para explicar os SDs nus objetos: i) a de que SDs nus objetos em PB podem ser objetos incorporados, segundo propõe Saraiva (1997); ii) a de que SDs nus na posição de objeto em PB podem se projetar em SD e possuir determinantes nulo, como sugerem Longobardi (1998) e assumem Schmitt & Munn (1999) e Baptista (2007). Apesar de a presente dissertação não se propor a analisar a fundo essas hipóteses, no terceiro capítulo, uma delas será assumida como a mais adequada para o PABH.

Os questionamentos apontados no decorrer do capítulo devem ser verificados no terceiro capítulo, onde acontecerá a análise das tendências de usos de SDs nus e com determinante em posição de objeto no PABH.

No capítulo que se segue, apresentar-se-ão os aspectos metodológicos que envolvem a presente dissertação.

2 METODOLOGIA

2.1 OBJETIVOS DO CAPÍTULO

Dentro dos objetivos principais do presente trabalho, que são: caracterizar o uso dos SDs objetos do PABH, mostrando possíveis fatores condicionantes para cada um dos tipos de determinante (priorizando o SD nu) e encontrar uma possível causa para o estabelecimento do uso do DET

ø

singular, foram traçadas, no capítulo anterior, algumas etapas de desenvolvimento metodológico

Delimitaram-se e registraram-se as ideias que nortearão o presente trabalho. Situou-se o leitor quanto à natureza dos SDs, mostrou-se quais elementos e propriedades estão relacionadas à ocorrência de SDs nus nas línguas em geral e, mais especificamente no CCV, no PB e no PE no intuito de adotar posteriormente, durante a análise, uma descrição comparativa, típica do gerativismo, que leve à percepção das semelhanças e diferenças entre essas línguas e o PABH.

O presente capítulo apresentará e caracterizará o corpus, dará uma breve descrição da comunidade de fala escolhida para a seleção do mesmo, bem como irá expor a chave de codificação detalhada e os programas usados para quantificar os dados, já que optou-se não apenas pelo estudo qualitativo dos SDs nus do PABH, como também pelo estudo quantitativo. Por fim, apresentar-se-á o enquadramento teórico.

2.2 OS DADOS

Tendo em vista a proposta de analisar as possibilidades de usos de SDs nus no PABH, foram escolhidas, inicialmente, três entrevistas sociolinguísticas recolhidas em 1994 através do projeto Creole-like traces in Afro-Brazilian rural communities, dirigido pelo Professor Doutor Alan Baxter e patrocinado, entre 1992, 1987 e 1989, pela La

Trobe University Faculty of Humanities Research Committee e, entre 1992 e 1994, pelo Australian Research Council. Atualmente, essas entrevistas fazem parte do acervo de

corpora do Projeto Vertentes22. Depois, mais três entrevistas que foram recolhidas em 1987 foram adicionadas ao trabalho. Uma destas entrevistas pertence a uma falante cuja entrevista de 1994 também havia sido incluída23. Portanto, ao final foram analisadas 5 falantes.

O dialeto de Helvécia, falado nos arredores da vila de Helvécia, no extremo sul da Bahia, foi descoberto pela Professora Carlota Ferreira em 1961 (Ferreira, 1984). Trata-se de uma comunidade de descendentes de ex-escravos das plantações de café da antiga Colônia de Leopoldina que haviam adquirido um modelo divergente do português através de um processo de transmissão linguística irregular, o que é perceptível nas características gramaticais típicas desse dialeto, tais como o uso variável do artigo definido, variação na concordância de gênero, simplificação da morfologia flexional do verbo, entre outros (Baxter 1992; Baxter & Lucchesi 2009),. Os ex- escravos permaneceram nas localidades das antigas roças da Colônia Leopoldina após a abolição da escravatura, e ficaram isolados geograficamente, como comentado por Baxter e Lucchesi (2009). Esses fatores contribuem para a manutenção de traços de uma possível crioulização na região, principalmente na fala dos representantes mais idosos.

A pretérita transmissão irregular incorporando DLP (dados linguísticos primários) de modelos de português L2 é evidente na ausência de certas estruturas gramaticais do PB (Baxter 1992) ou “pelo aumento na frequência de uso das formas não marcadas” (Lucchesi, 2009: 71-72) nessa variedade. As gerações mais antigas de Helvécia teriam adquirido um sistema de marcação de definitude e referencialidade divergente, o que justificaria o fenômeno da realização de SDs nus definidos e referenciais objetos nessa comunidade.

Levando-se em consideração, portanto, que o dialeto apresenta uma importância quanto à identificação de processos de variação e mudança no português do Brasil (Baxter, 1992 a e b; Baxter & Lucchesi, 1993; Lucchesi & Baxter, 1995; Lucchesi, Baxter & Ribeiro 2009; Megenney, 1993), dentre os quais se encontra o uso mais livre dos SDs nus objetos, e que esses processos podem ser mais nitidamente visualizados na fala dos mais velhos, foram escolhidas três entrevistas labovianas, das três mulheres

22

Para saber mais sobe o projeto, acesse: www.vertentes.ufba.br

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Como inicialmente não notei que a informante era a mesma, codifiquei os dados da mesma com um novo código (D). Ao notar que era a mesma pessoa, codifiquei os dados dela novamente com o código que havia usado anteriormente (C). Por esse motivo, não existe uma informante D. As informantes são, portanto: A, B, C, E e F.

mais idosas no corpus recolhido em janeiro de 1994: HV-1924 (uma senhora de 103 anos), HV-15 (uma senhora de 80 anos) e HV-13 (uma senhora de 85 anos). Além disto, como foi comentado anteriormente nessa mesma seção foram incluídas três entrevistas realizadas em 1987 (que pertencem ao acervo de corpora do Projeto Traços crioulos em

dialetos rurais) de mais três mulheres idosas: Tereza25 (uma senhora de 83 anos), Roffe (uma senhora de 89 anos) e Porciana (que é a mesma HV-19 e que tinha, na época desta entrevista, 96 anos).

2.3 QUANTIFICAÇÃO

Foram identificados e levantados todos os SDs objetos não pronominais nos cinco inquéritos escolhidos. Ao total, foram 961 dados, entre SDs nus e plenos, com referência definida, indefinida e genérica.

Com base em observações preliminares que apontaram o uso potencialmente variável de DET ZERO, artigo definido, demonstrativo, e artigo indefinido junto aos objetos, formulou-se uma lista de hipóteses de trabalho sobre fatores morfossintáticos e semânticos que poderiam orientar o uso dos determinantes em contextos de referência definida, referência indefinida e referência genérica. Preparou-se uma chave de codificação para classificar cada determinante em termos dos potenciais fatores condicionantes. Para as finalidades da quantificação das ocorrências em cada um dos três contextos referenciais, os determinantes são tratados como variantes de uma variável dependente, e os grupos de fatores potencialmente condicionantes são tratados como variáveis independentes. As hipóteses sobre os referidos fatores orientadores foram baseadas em conceitos propostos por Lyons (1999), Ribeiro (2010) e Baxter e Lopes (2009), resenhados no capítulo 1. A seguir, elencar-se-ão os grupos de fatores contemplados.

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HV-19, HV-15 e HV-13 são os códigos utilizados no Projeto Vertentes para identificar as falantes Porciana, Delfina e Graziela respectivamente. No presente trabalho, usar-se-ão as referências ‘Informante C, B e A” para identificá-las.

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Tereza será identificada como ‘Informante E’ na presente dissertação, e Roffe, receberá a identificação ‘Informante F’.

Variável dependente: Tipo de determinante - (Definido, Indefinido, Zero, Demonstrativo): essa variável constitui a variável principal do estudo.

Variáveis independentes:

1) Configuração sintática do objeto 26 – (Objeto, Configuração de Foco, Complemento de Verbo Existencial): essa variável foi proposta no intuito de verificar se as configurações menos comuns no PB (Configuração de Foco e Complemento de Verbo Existencial) também o são em PABH e, principalmente, se essas construções menos comuns (des)favorecem o uso do determinante zero.

2) Referencialidade do SN – (Genérico, Referencial): de acordo com a proposta de Schmitt e Munn (1999), os SDs nus objetos em PB recebem categoricamente a leitura genérica. Essa variável verificará se essa proposta também é viável no caso do PABH.

3) Tipo de substantivo – (Nome Comum, Nome Próprio, Forma de Tratamento): tendo em vista que Lyons (1999) e Longobardi (1998) associam as propriedades de uso de nomes próprios nus ao uso de SDs nus objetos, propõe-se a avaliar essas formações, verificando a distribuição dos tipos de nomes com os diferentes tipos de determinantes, principalmente o determinante zero.

4) Presença do traço [+contável] no nome – (+Contável, -Contável): se, diferentemente do que propôs Chierchia (1998), o PB admite SDs singulares contáveis nus objetos (como defendem Schmmit e Munn (1999)), é preciso verificar se o mesmo ocorre no PABH.

5) Noção de número no SD – (Singular, Plural, Singular com leitura plural, Possibilidade de Plural): ao passo que Chierchia (1998) assume que o substantivo contável sem artigo deve denotar massa, Baptista (2007) demonstra que, no CCV, substantivos contáveis com determinante zero são vistos como entidades individuais. Baxter e Lopes (2009), observando essa discussão,

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Inicialmente, previu-se esse grupo de fatores, mas, devido ao fato de a maior parte dos dados pertencer ao fator ‘Objeto’ e haver poucos dados dos outros dois fatores, houve muitas lacunas na distribuição e a inclusão do grupo não se mostrou operacional na análise quantitativa.

propõem a inclusão dessa variável no seu estudo, contrastando a noção de número com a noção de massa. Incluiu-se a variável noção de número no SD no presente trabalho, seguindo Baxter & Lopes (2009), no intuito de verificar se a marcação de plural é refletida no uso dos diferentes usos de determinante.

6) Definitude e especificidade do SD - ([+Def;+Esp], [+Def;-Esp], [-Def,+Esp], [- Def; -Esp]): visa verificar se é possível encontrar SDs nus objetos com leitura [+Def; + Esp], diferentemente do que propõe Schmmit & Munn (1999), e também verificar quais são os contextos de Definitude e Especificidade que (des)favorecem cada um dos tipos de determinante contemplados.

7) Familiaridade - (Situacional, Conhecimento Geral, Anafórico, Catafórico, Referência Cruzada): De acordo com Lyons (1999), a definitude está diretamente atrelada à familiaridade, tratando-se do modo como o ouvinte identifica o objeto no contexto de fala. É importante verificar, portanto, a distribuição do modo de identificação pelo ouvinte e se essa variável favorece o uso do determinante zero.

8) Tipo de Posse - (Inalienável, Alienável): tendo em vista que Lyons (199) demonstra a diferença entre posse alienável e inalienável definindo a segunda como um tipo de posse que não pode ser cedida ou desfeita, pretende-se, ao incluir essa variável, verificar se esse tipo de posse favorece o uso do determinante zero e também se pode levar uma leitura [+Definida] mesmo quando da ausência de determinante.

9) Animacidade – (Animado, Inanimado): Lyons (1999) propõe que há uma relação entre definitude e animacidade. É necessário verificar se isso se aplica aos dados do PABH. Além disso, Baptista (2007) aponta que, no CCV, há uma relação entre ausência do artigo definido e animacidade, definitude e flexão de plural, um aspecto importante de se verificar também no PABH.

10) Presença de outro constituinte que marque referencialidade – (Nenhum outro modificador, Oração Relativa, Adjetivo pré-nominal, Adjetivo pós-

nominal, Sintagma Preposicional, Possessivo, Advérbio Locativo, Aposto): As línguas crioulas tendem a ser econômicas e, como apontam Baxter & Lopes (2009), Lucchesi (1993) demonstrou que, no CCV, o uso do artigo definido é desfavorecido se existe outro elemento para marcar referencialidade. A fim de verificar se o mesmo acontece no PABH e ainda se o determinante zero é (des)favorecido quando da presença de outro constituinte que marque referencialidade, incluiu-se essa variável no presente estudo, seguindo Baxter & Lopes (2009).

A Tabela 1 apresenta a variável dependente, as variáveis independentes e os exemplos :

Tabela 1 – Variável dependente, variáveis independentes e exemplos

Variável dependente

Tipo de determinante

Fatores Código Exemplo

Definido D INF (A): vei' a notiça, meu sinhô

Indefinido I INF (C): dá uma xícara de café com leite.

Zero Z INF (A): Tem jacaré [mermo].

Demonstrativo M INF (A): chega tempo de ir pegá esse dinhêro

Variáveis independentes

1 Configuração sintática do objeto

Fatores Código Exemplo

Objeto localizado à direita do verbo

O INF (1B): Votô de novamente. Foi fazê a casa.

Objeto em configuração de foco

F INF (A): somente uma irmã que eu tenho.