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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA E CULTURA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA E CULTURA Rua Barão de Jeremoabo, nº147 - CEP: 40170-290 - Campus Universitário Ondina Salvador-BA

Tel.: (71)3283 - 6256 – Site: http://www.ppgll.ufba.br - E-mail: pgletba@ufba.br

PALOMA MOORE NEVES

SDs NUS NA POSIÇÃO DE OBJETO NO PORTUGUÊS

AFRO-BRASILEIRO DE HELVÉCIA

Salvador

2014

(2)

PALOMA MOORE NEVES

SDs NUS NA POSIÇÃO DE OBJETO NO PORTUGUÊS

AFRO-BRASILEIRO DE HELVÉCIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura, da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Letras.

Área de concentração: Variação da Língua Portuguesa e Teoria da Gramática

Orientador: Prof. Dr. Alan Baxter

Salvador

2014

(3)

Sistema de Biblotecas da UFBA

Neves, Paloma Moore.

SDs nus na posição de objeto no português afro-brasileiro de Helvécia / Paloma Moore Neves. - 2015.

139 f.

Orientador: Prof. Dr. Alan Baxter

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Letras, Salvador,2014.

1. Língua portuguesa - Sintagma nominal - Helvécia (BA). 2. Língua portuguesa - Helvécia (BA). 3. Língua portuguesa - Brasil. 4. Língua portuguesa - Gramática gerativa.

5. Sociolinguística. I. Baxter, Alan. II. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Letras. III. Título. CDD - 469.5 CDU - 811.134.2’364 CDU - 392.8

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA E CULTURA

PALOMA MOORE NEVES

SDs NUS NA POSIÇÃO DE OBJETO NO PORTUGUÊS

AFRO-BRASILEIRO DE HELVÉCIA

Banca Examinadora:

______________________________________________________________________ Alan Baxter

Doutor em Linguística, Australian National University Universidade Federal da Bahia (UFBA- orientador)

______________________________________________________________________

Maria Cristina Vieira de Figueiredo Silva Doutora em Linguística, UFBA

Universidade Federal da Bahia (UFBA – Examinadora)

______________________________________________________________________

Norma da Silva Lopes

Doutora em Linguística, UFBA

(5)

Aos meus pais, por tanto terem torcido por mim.

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradecer é reconhecer a impossibilidade de realizar algo eficientemente sem que os outros nos tenham ajudado. É também uma forma educada de admitir quanto dos outros há em nós. E, nesse caso específico, é compreender que um projeto só segue um curso de sucesso quando contamos com o apoio, o conhecimento, a experiência, o amor, a tolerância e a compreensão daqueles que acreditam no nosso potencial.

A Deus, porque Ele é a esperança de que tudo tem uma razão de ser;

Aos meus pais, João Osmário e Mary, por serem a personificação do significado mais sublime que eu conheço do que é gerar e educar alguém;

Aos meus irmãos, Lara, Ava, João e Luma, por deixarem claro que, na torcida da minha vida acadêmica, haverá sempre um quarteto presente;

A Professora Doutora Ilza Ribeiro, por ter sido a responsável por me apresentar e me fazer encantar pela Linguística;

Ao Professor Doutor Alan Baxter, pela seriedade com que conduziu minha dissertação; Ao Professor Doutor Dante Lucchesi, por ter me apresentado o universo do Português Afro-Brasileiro e a importância do contato entre línguas na constituição do mesmo; Aos meus colegas de Mestrado, Camila Mello, Lisana Sampaio, Mailson Lopes e Victor Cavalcanti Mariano, por terem tornado mais confortáveis os meus dias de mestranda; Ao Professor Doutor, Danniel Carvalho, por mostrar-se sempre disponível;

A Ramon Arend Paranhos, pela sincera e constante solicitude e pelas discussões que contribuíram com a realização do presente trabalho;

A Isis Barros, que me incentivou e me instruiu nos primeiros passos a caminho do Mestrado;

A Sinval Medeiros Junior, por ter me fornecido muitas informações pertinentes e esclarecido dúvidas sempre que o procurei (e foram tantas vezes!);

A Thiago Rodrigues, por ter sido o meu orientador das burocracias que envolvem o Mestrado;

A Cristiane Pinto Daltro e Ricardo Luiz dos Santos Júnior pela paciência com que conduziram minhas dúvidas;

(7)

Aos meus professores de Mestrado por terem contribuído com o meu crescimento intelectual;

Às informantes de Helvécia, Delfina, Graziela, Porciana, Rofe e Tereza, pelos dados tão preciosos;

À CAPES, por financiar os meus estudos;

À UFBA, por ser uma respeitável instituição de ensino.

(8)

“A coisa mais perfeita que podemos experimentar é o misterioso. É a fonte de toda arte e de toda

ciência verdadeira.” (Albert Einstein)

“O homem venera o saber que o ultrapassa.” (Do personagem Adrian, do livro

(9)

RESUMO

A presente dissertação investiga o Sintagma Determinante (SD) nu em posição de objeto no Português Afro-Brasileiro de Helvécia, tratando os dados no âmbito da metodologia e teoria variacionista e descrevendo o sistema de determinante tendo como base a abordagem gerativista. Para tanto, as possibilidades de realização de SDs nulos e com determinante da variedade do português dessa comunidade foram sistematizadas e descritas a partir de um corpus com cinco entrevistas de informantes com mais de 80 anos. Através da quantificação de dados nos moldes da Sociolinguística Variacionista, traçou-se o perfil adotado pelas falantes mais idosas dessa comunidade. A análise mostrou que, no Português Afro-Brasileiro de Helvécia, assim como no Português Brasileiro, o uso do Sintagma Determinante singular nu é permitido, sendo mais livre no primeiro, onde o mesmo pode ter uma leitura [+Específica] [+Definida]. As gerações mais antigas de Helvécia teriam adquirido, na segunda metade do século XIX, um sistema de marcação de definitude e referencialidade diferente daquele do Português Brasileiro por conta do contato radical com línguas africanas, o que justificaria o fenômeno da realização de SDs nus definidos e referenciais objetos nessa comunidade. Assumiu-se que os SDs objetos nus se projetam em SD e possuem determinantes nulos, pois essa perspectiva é bem adequada considerando-se a realidade sociolinguística da comunidade onde a situação de aquisição através do contato possibilitou as transferências paramétricas a partir das L1 africanas presentes. Na análise por pesos relativos, foi possível apontar que fatores como: referência cruzada, nomes próprios, nomes contáveis, nomes animados, posses alienáveis, nome singular com leitura de plural e a presença de outro material que marque referencialidade favorecem o uso do determinante zero para esse tipo de leitura. Por fim e tendo em vista o caráter multifuncional dos SDs nessa variedade, mostrou-se essencial considerar a interface entre o nível gramatical e o extra-gramatical para derivar interpretações corretas, possibilitando, assim, a leitura [+Específica] [+Definida].

Palavras-chave: Sintagmas Determinantes; SDs Nus Objetos; Objeto Incorporado; Português Brasileiro; Português Afro-Brasileiro; Gramática Gerativa; Sociolinguística

(10)

ABSTRACT

The present work investigates the null Determiner Phrase (DP) in object position in the Afro-Brazilian Portuguese of Helvécia treating the data according to the labovian methodological and theoretical approach and describing the determiner system based on the generative approach. In order to reach this goal, the null and overt Determiner Phrase usages in the Afro-Brazilian community of Helvécia were systematized and described from a corpus of interviews with five informants aged 80 or up . On a quantifying basis along the lines of Variationist Sociolinguistics, the profile adopted by older speakers of the community was traced. The analysis indicated that in both the Afro-Brazilian Portuguese of Helvécia and in the Brazilian Portuguese the singular null Determiner Phrase is allowed, having wider usages in the first, where it can have the [+Definite], [+Specific] reading. In the second half of the nineteenth century, older generations of Helvécia acquired a different definiteness and referentiality marking system from that of the Brazilian Portuguese due to the radical contact with African languages, which explains the possibility of the defined and referential null DPs in object positions in this community. It was assumed that null DPs in object position are projected in DS and have null determiners. This perspective is quite suitable considering the sociolinguistic reality of the community, where the acquisition through contact allowed parametric transfers from African L1. In analyzing the relative weights, it was possible to point out that factors such as cross-reference, proper names, count nouns, animated names, alienable possessions, singular names with plural readings and the presence of other material to mark referentiality favor the use of the null determiner to this kind of reading. Finally, and in view of the multifunctional character of SDs in this variety, it was fundamental to consider the interface between grammatical and extra-grammatical levels to derive correct interpretations, what makes the [+ Specific] [+ Definite] reading possible.

Palavras-chave: Determiner Phrases; Null DPs in Objetct Position; Brazilian Portuguese; Afro-Brazilian Portuguese; Generative Grammar; Sociolinguistcs

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Informantes individuais: uso de determinante com SD objeto de leitura definida...123 Gráfico 2 – Informantes individuais: uso de determinante com SD objeto de leitura indefinida...126 Gráfico 3 - Informantes individuais: uso de determinante com SD objeto de leitura genérica...128

(12)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Variável dependente, variáveis independentes e exemplos...77 Tabela 2 – Determinantes em SD objetos – distribuição geral por tipo referencial...83 Tabela 3 – Uso do determinante em SDs com leitura definida, conforme o tipo de familiaridade...86 Tabela 4 – Uso do determinante em SDs de leitura definida – efeito do tipo de substantivo no SN...90 Tabela 5 – Uso do determinante em SDs com leitura definida; efeito do traço [±Contável] no SN...92 Tabela 6 – Uso do determinante em SDs com leitura indefinida; efeito do traço [±Contável] no SN...94 Tabela 7 – Uso do determinante em SDs com leitura genérica; efeito do traço [±Contável] no SN...96 Tabela 8 – Uso do determinante em SDs com leitura definida; efeito do traço [±Animacidade] no SN...98 Tabela 9 – Uso do determinante em SDs com leitura indefinida; efeito do traço [±Animacidade] no SN...100 Tabela 10 – Uso do determinante em SDs com leitura genérica; efeito do traço [±Animacidade] no SN...102 Tabela 11 – Uso do determinante em SDs com leitura definida; efeito do tipo de posse no SN...103 Tabela 12 – Uso do determinante em SDs com leitura indefinida; efeito do tipo de posse no SN...104 Tabela 13 – Uso do determinante em SDs com leitura genérica; efeito do tipo de posse no SN...106 Tabela 14 – Uso do determinante em SDs com leitura definida; efeito da noção de número no SN...108 Tabela 15 – Uso do determinante em SDs com leitura indefinida; distribuição de acordo com a noção de número no SN...111 Tabela 16 – Uso do determinante em SDs com leitura genérica; efeito da noção de número no SN...113 Tabela 17 - Efeito sobre os determinantes da presença de outro constituinte que marque referencialidade em SDs com leitura definida...116

(13)

Tabela 18 – Efeito sobre os determinantes da presença de outro constituinte que marque referencialidade em SDs objetos com leitura indefinida...118 Tabela 19 - Efeito sobre os determinantes da presença de outro constituinte que marque referencialidade em SDs objetos com leitura genérica...119 Tabela 20 – Desempenho das informantes individuais: SDs objetos de leitura definida...122 Tabela 21 - Desempenho das informantes individuais: SDs objetos de leitura indefinida...125 Tabela 22– Desempenho das informantes individuais: SDs objetos de leitura genérica...127

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

[±arg] ±A rgumento [±pred] ±Predicativo [±I] ± Identificável

[±M] ± Foco nos Membros Integrantes da Classe [±U] ± Quantificação Universal

[-Pr] ± Não-possibilidade de retomada por pronomes pessoais de mesmo gênero e número do SD A Aspecto CCV Crioulo Caboverdeano COMP Complementizador Ds Determinantes DET Determinante

DET

ø

Determinante Zero

DLP Dados Linguísticos Primários

DPs Determiner Phrases

FF Forma Fonética

FL Forma Lógica

GU Gramática Universal

PABH Português Afro-Brasileiro de Helvécia

PB Português Brasileiro

PE Português Europeu

PM Programa Minimalista

Ns Nomes

NumP Numeral Phrase (Sintagma Numeral)

(15)

SDs Sintagmas Determinantes SNs Sintagmas Nominais ST Sintagma Temporal SV Sintagma Verbal SX Projeção Máxima T Tempo TMA Tempo/Modo/Aspecto

(16)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...17

1 SDs: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 20

1.1 O RECENTE INTERESSE PELOS SDs NUS OBJETOS EM PB...20

1.2 OBJETIVOS E ORGANIZAÇÃO DO CAPÍTULO...20

1.3 CARACTERIZAÇÃO DOS SDs...21

1.3.1 Conceitos fundamentais para o tratamento dos SDs: as contribuições de Lyons, Baxter e Lopes e mais...21

1.3.2 A análise de Longobardi para os SDs nus: uma comparação entre as línguas Românicas e Germânicas...32

1.3.3 O Parâmetro do Mapeamento Nominal de Chierchia...40

1.4 O COMPORTAMENTO DOS SDs NUS NO PB E NOUTRAS LÍNGUAS...43

1.4.1 A análise de Schmitt & Munn sobre o Mapeamento de Chierchia: por que o PB não se enquadra...43

1.4.2 A análise de Saraiva para o PB: SDs nus como objetos incorporados...49

1.4.3 A proposta de Baptista para o CCV: uma comparação com o PB e o PE...57

1.4.4 HV-19 e seu sistema de definitude e referencialidade sob o olhar de Ribeiro65 1.5 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO...70 2 METODOLOGIA...72 2.1 OBJETIVOS DO CAPÍTULO...72 2.2 OS DADOS...72 2.3 QUANTIFICAÇÃO...74 2.4 ANÁLISE DA VARIAÇÃO...80 2.5 ENQUADRAMENTO TEÓRICO...81

3 O SISTEMA DE USO DE DETERMINANTE NO PABH...82

3.1 OBJETIVOS E DESCRIÇÃO DO CAPÍTULO...82

3.2A DISTRIBUIÇÃO GERAL NAS CINCO SUB-CORPORA DE SDs...83

3.3 SDs OBJETOS COM LEITURA DEFINIDA: GRUPOS DE FATORES QUE SÓ DIZEM RESPEITO AOS SDs DEFINIDOS...85

(17)

3.3.1 O efeito da familiaridade do referente do SD com leitura definida...85

3.3.2 O efeito do tipo de substantivo em SDs com leitura definida...89

3.4 GRUPOS DE FATORES CONTEMPLADOS JUNTO AOS CINCO SUB-CORPORA...91

3.4.1. O caráter contável do nome...91

3.4.1.1 Caráter contável do nome com referência definida...92

3.4.1.2 Caráter contável do nome com leitura indefinida...93

3.4.1.3 Caráter contável do nome com leitura genérica...95

3.4.2 Semântica do nome: Animacidade...97

3.4.2.1 Animacidade do nome com leitura definida...97

3.4.2.2 Animacidade do nome com leitura indefinida...99

3.4.2.3 Animacidade do nome com leitura genérica...101

3.4.3 Tipo de Posse...103

3.4.3.1 Tipo de Posse com leitura definida...103

3.4.3.2 Tipo de posse com leitura indefinida...104

3.4.3.3 Tipo de posse com leitura genérica...106

3.4.4 Noção de número no SD...107

3.4.4.1 Noção de número no SD com leitura definida...108

3.4.4.2 Noção de número no SD com leitura indefinida...110

3.4.4.3 Noção de número no SD com leitura genérica...112

3.4.5 Presença de outro material que marque referencialidade...115

3.4.5.1 Presença de outro material que marque referencialidade com leitura definida...115

3.4.5.2 Presença de outro material que marque referencialidade com leitura indefinida...117

3.4.5.3 Presença de outro material que marque referencialidade com leitura genérica...119

3.4.6 Desempenho individual das falantes...121

3.4.6.1 Desempenho individual das falantes com SDs de leitura definida...121

3.4.6.2 Desempenho individual das falantes com SDs de leitura indefinida...124

3.4.6.3 Desempenho individual das falantes com SDs de leitura genérica...126

3.5 OS SDs NUS OBJETOS SINGULARES NO PABH...128

CONCLUSÃO...134

(18)

INTRODUÇÃO

A presente dissertação traz como tema o comportamento dos Sintagmas Determinantes (doravante SDs) nus objetos no Português Afro-Brasileiro de Helvécia (doravante PABH), uma comunidade de descendentes de escravos da antiga Colônia Leopoldina, que ficaram assentados em pequenas roças na região de Helvécia, no extremo sul da Bahia (Baxter & Lucchesi, 2007). A possibilidade de uso de SDs sem determinante na posição de objeto no dialeto de Helvécia foi observada, inicialmente, por Ferreira (1984 (1961)), Baxter (1992, 1998) e Baxter & Lopes (2005, 2009). Em Baxter (1998), Holm (1992) e Mckinney (1975), se menciona o fato de que essa variação existe em outros dialetos brasileiros.

Os principais objetivos do estudo são: i) mostrar a distribuição geral dos determinantes na posição de objeto nessa comunidade dentro da faixa 3 (falantes com mais de 80 anos); ii) observar os fatores que favorecem o uso de cada um dos determinantes, principalmente o uso do determinante zero; iii) mostrar o que possibilitou o estabelecimento do uso de determinante zero singular no PABH.

De acordo com Chierchia (1998), existem três classificações que podem ser atribuídas aos Sintagmas Nominais (doravante SNs): há línguas cujos SNs são mapeados como [+arg, -pred], que é o caso do japonês e do chinês; línguas do tipo [+arg, +pred], que incluem o inglês e a maioria das línguas germânicas; e línguas que apresentam a configuração [-arg, +pred], que seria o caso das línguas românicas.

O PB deveria, portanto, estar enquadrado neste último tipo de configuração. Schmitt & Munn (1999) observaram, no entanto, que, diferentemente do que propõe Chierchia (1998), o PB admite singulares nus na posição de objeto, algo que não é admitido nas línguas [-arg, +pred]. Os exemplos de (1) a (3) ilustram o comportamento diferenciado do PB em relação ao espanhol e ao inglês:

1) *1Solamente compré apartamento en este año porque había dinero a la izquierda. (espanhol)

2) *I just bought apartment this year because there was some money left. (inglês) 3) Eu só comprei apartamento esse ano porque o dinheiro estava sobrando. (PB)

(19)

Para que as sentenças sejam consideradas gramaticais em (1) e (2), a posição do D (determinante) deve estar preenchida. Já em (3), temos uma frase produtiva e aceitável para qualquer falante do PB.

O PABH apresenta a mesma possibilidade de uso visto no exemplo (3), como mostram dados dos inquéritos do Projeto Vertentes da UFBA. Nessa variedade, também são encontrados dados tanto [+Específicos] quanto [+Definidos] (de acordo com as definições de especificidade e definitude propostas por Lyons (1999) e Ribeiro (2010)):

4) se vei' notiça

5) “o sinhô tá ven' diferença, né?” (HV-15).

A configuração do SD, nessas realizações, apresenta-se como mais uma evidência do processo de transmissão linguística irregular, que contribuiu para a formação do português afrobrasileiro (Lucchesi, Baxter e Ribeiro, 2009). Trata-se de um indício de que os dados linguísticos primários (DLP) que atuaram como gatilho para desencadear a estruturação da gramática dos escravos da Colônia de Leopoldina e seus descendentes foram diferentes/especiais no sentido de que deve ter havido algum bilinguismo nas fases iniciais da Colônia Leopoldina (Lucchesi, Baxter e Ribeiro, 2009, p.87-91) devido à forte presença de escravos africanos. Os DLP para a aquisição de L1 (língua materna) conteriam material de L2 (modelo de português divergente aprendido pelos escravos – diferente do português falado pelos não escravos) e material das línguas africanas.

Cabe, portanto, na presente dissertação, descrever o sistema de uso de determinante do PABH e seus condicionantes, no intuito de apontar para uma possível causa no perfil da distribuição, levando-se em consideração que, nessa variedade, objetos nus [+Definidos] também são possíveis

Tendo em vista a afirmação de que o Mapeamento Nominal de Chierchia não se adéqua ao PB, assume-se aqui que ele também não se adéqua ao PABH.

Na literatura atual, existem duas possíveis hipóteses para explicar os SDs nus objetos: i) os SDs nus obejtos são objetos incorporados, como sugere Saraiva (1997) para o PB; ou, ii) os SDs nus na posição de objeto se projetam em SD e possuem determinantes nulos, segundo proposta de Longobardi (1998) para os SDs nus objetos

(20)

das línguas em geral. No presente trabalho, assumir-se-á um desses posicionamentos, observando a distribuição dos SDs nos inquéritos selecionados.

A presente dissertação se organiza da seguinte maneira: no capítulo 1, é feita a fundamentação teórica, que expõe, inicialmente, as informações sobre o que já se sabe sobre SDs nus objetos nas línguas em geral. Em seguida, afunila-se o embasamento teórico ao que concerne ao PB especificamente. O objetivo do capítulo é definir e situar o leitor quanto aos conceitos básicos e o que há na literatura existente sobre SDs.

O capítulo 2 apresenta a metodologia adotada na dissertação. Para tanto, o

corpus, bem como a comunidade de fala escolhida são apresentados e caracterizados. A

chave de codificação detalhada para o levantamento dos dados, e os programas usados para quantificar os dados são expostos em seguida. Finalmente, apresenta-se o enquadramento teórico dentro do modelo da Gramática Gerativa e da Sociolinguística Variacionista.

No capítulo 3, descreve-se o sistema de uso de determinante das mulheres com mais de 80 anos, da faixa 3 do corpus Afro-Brasileiro do Projeto Vertentes e do Corpus do Projeto Traços crioulos em dialetos rurais, a partir da distribuição quantitativa dos determinantes junto a um conjunto de fatores estruturais e semânticos que serão estabelecidos no capítulo 1. A contribuição desses fatores para o uso de cada determinante será avaliada por meio de uma análise por pesos relativos. Por fim, será feita uma discussão mais específica sobre os SDs nus objetos singulares, no intuito de mostrar o que causou o comportamento diferenciado do PABH.

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1 SDs: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 O RECENTE INTERESSE PELOS SDs NUS OBJETOS EM PB

O interesse pelo fenômeno do licenciamento dos SDs nus objetos no PB é recente e ainda há muito a ser abordado acerca do tema. Isso se deve ao fato de os trabalhos de tipologia de línguas, como o de Chierchia (1998), por exemplo, enquadrarem o PB no mesmo grupo das demais línguas românicas quanto ao uso dos SDs. Se esse fosse o caso, realmente não haveria justificativa para os linguistas abordarem o PB particularmente nesse aspecto. Tendo em vista que o PB se comporta de maneira diferenciada das demais línguas românicas no que diz respeito ao licenciamento dos SDs nus objetos, esse fenômeno passou a ser cientificamente relevante. Como essa descoberta é recente, a literatura específica existente sobre o PB não é vasta. Portanto, é preciso verificar o que há de importante na literatura que concerne às línguas em geral dentro desse tema para perceber o que se pode aplicar ao PB e contribuir para o avanço do presente estudo. Também será necessário incluir os trabalhos já publicados, que tratam do PB propriamente dito, pois eles servirão de guia para a formulação de ideias que levarão a um entendimento sobre o funcionamento dos SDs nus objetos no PABH e no PB.

1.2 OBJETIVOS E ORGANIZAÇÃO DO CAPÍTULO

O objetivo principal desse capítulo é traçar um percurso teórico lógico, dentro da literatura linguística moderna, no que concerne ao comportamento dos SDs. Primeiramente, o leitor será situado com informações indispensáveis quanto ao uso dos SDs objetos nas línguas em geral e, em seguida, no PB especificamente. O embasamento teórico que se segue é fundamental para viabilizar o objetivo central dessa dissertação: a avaliação do comportamento diferenciado dos SDs no PB e, principalmente, na variedade de português falada pela comunidade de Helvécia.

Dessa forma, ver-se-ão, a partir de Lyons (1999), os conceitos principais que nortearão a análise que será feita no terceiro capítulo. Também será vista a proposta do

(22)

Parâmetro do Mapeamento Nominal de Chierchia (1998), um trabalho de grande importância de tipologia de línguas dentro do tema do SD. Verificar-se-á que o PB não se enquadra em nenhuma das possibilidades classificatórias que esse autor apresentou. O estudo de Munn & Schmitt (1999) mostrará os motivos e os exemplos dessa inadequação. Numa tentativa de explicar o fenômeno, Saraiva (1997) propôs, como será visto, que SDs nus objetos no PB são objetos incorporados. Uma proposta diferente será apresentada através de Longobardi (1998), com a afirmação de que os SDs nus podem se projetar em SD e possuir determinantes nulos. Além disso, verificar-se-á o comportamento similar entre o CCV e o PB quanto a esse fenômeno no estudo de Baptista (2007). Por fim, apresentar-se-á uma análise inicial sobre os dados de HV-19 dentro do tema: definitude sob o olhar de Ribeiro (2010).

O capítulo é organizado da seguinte maneira: primeiramente, apresentar-se-ão os trabalhos que contribuíram de forma mais abrangente para a caracterização dos SDs como um todo (conceitos fundamentais, definições relevantes, traços semânticos e sintáticos inerentes aos mesmos, possibilidades de usos nas línguas românicas e germânicas, dentre outros). O livro de Lyons (1999), o estudo de Longobardi (1998) e o trabalho de Chierchia (1998), que possuem esse perfil mais geral, aparecerão nessa ordem no presente estudo. Em seguida, serão apresentadas algumas discussões mais específicas, que focaram no fenômeno dos SDs nus objetos propriamente ditos em PB e em outras línguas. Na segunda parte desse capítulo, serão apresentados, respectivamente, os estudos de Munn & Schmitt (1999), Saraiva (1997), Baptista (2007) e Ribeiro (2010).

1.3 CARACTERIZAÇÃO DOS SDs

1.3.1 Conceitos fundamentais para o tratamento dos SDs: as contribuições de Lyons, Baxter e Lopes e mais

O trabalho de Lyons (1999) apresenta conceitos fundamentais para o assunto central dessa dissertação. Por se tratar de um trabalho extenso e completo acerca do tema definitude, as noções e os exemplos no que diz respeito à referencialidade,

(23)

familiaridade, especificidade, genericidade (concepções que parecem estar fortemente atreladas ao uso dos SDs) aparecem de forma clara e objetiva. Portanto, entendeu-se que seria essencial adotá-lo como texto base para definir tais conceitos.

Desde já, salienta-se que, por questão de espaço e objetivos, não caberá o questionamento de tais definições.

É característico das línguas humanas possuírem nomes que podem ocupar tanto a posição de sujeito como a de objeto. Esses elementos são conhecidos como sintagmas nominais (SNs) e podem possuir, como acontece em muitas línguas, um elemento que marca a definitude ou indefinitude do seu núcleo, como aponta Lyons (p.1). O elemento de marcação pode ser um artigo (como no inglês: the , a) ou um afixo (como no árabe: al- , -n). No PB, à primeira vista, a marcação de (in)definitude ocorre através do uso dos artigos: o, a, os, as (definidos) e um, uma, uns umas (indefinidos). No entanto, a indefinitude também pode ser marcada pelo elemento zero, como em: Comprei carros.2 Há, ainda, outros elementos que podem marcar a (in)definitude no PB e em outras línguas, como quantificadores (muito, alguns, poucos, muitas, várias, etc.), pronomes possessivos (meu(s), minha(s), nosso(s), etc.), numerais (dois, cinco, quarenta, etc.), pronomes demonstrativos (esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s)),entre outros. Esses marcadores de (in)definitude são conhecidos como sintagmas determinantes (SDs), o objeto de estudo que nos propusemos a avaliar nesse trabalho.

Limitar-se-á, por hora, à discussão aos SDs definidos simples (como em: the car – o carro) e dos indefinidos simples (como em: a car – um carro), pois eles são os elementos-chave para o entendimento do conceito de familiaridade.

Apesar de “the car” (o carro) refererir-se, a princípio, a um carro em particular, como em: I brought the car to my house this morning (Eu trouxe o carro para a minha casa nessa manhã), há situações em que “a car” (um carro) também pode ser um determinado carro e não um carro qualquer para o falante, como em: I bought a car two

days ago (Eu comprei um carro dois dias atrás). A diferença entre elas, segundo Lyons

(p.2) é que, na primeira opção, o carro do qual se fala é de conhecimento também do ouvinte. Surge, então, (p.3) a chamada hipótese da familiaridade, apresentada por Chistophersen (1939), mas é o mais recente trabalho de Hawkins (1978) que serve de base para o texto de Lyons. De acordo com a hipótese da familiaridade, a definitude está relacionada ao (re)conhecimento do ouvinte em relação ao referente de que o

2

Tendo em vista que o presente trabalho trata, especificamente, dos sintagmas nominais que aparecem na posição de objeto, a maioria dos exemplos será dada com elementos que ocupem essa posição.

(24)

falante trata nos diversos contextos. Para tornar o conceito de familiaridade mais claro, Lyons (p.3), ilustra com exemplos de usos situacionais, anafóricos, associativos, dentre outros, do “the”(o/a/os/as). Por questão de simplificação, serão dados exemplos do PB:

1) Arrume o armário antes que eu coloque as minhas roupas nele. 2) Veja a cozinha como é pequena.

3) Vi o sol se pôr ontem.

4) Conheci um homem estranho ontem. O homem usava um paletó laranja. 5) Peguei um táxi no meio da Avenida Brasil. O motorista era meio doido. 6) A mulher, que Pedro disse que atendeu, é professora.

Nos exemplos 1 e 2, tem-se o uso situacional do artigo definido, pois, segundo Lyons (p. 4) o falante e o ouvinte estão numa situação física, que permite que eles saibam qual é o referente. A sentença 3 caracteriza o que Lyons (p.4) chama de familiaridade por conhecimento geral, pois ambos o falante e o ouvinte sabem que “sol” é uma entidade única no planeta. A sentença 4, por sua vez, caracteriza o tipo de familiaridade que Lyons (p.4) chama de anafórica, pois, no contexto linguístico, o referente já havia sido mencionado. A sentença 5 representa a familiaridade por uso

associativo ou referência cruzada, pois o ouvinte, de acordo com o que propõe Lyons

(p.4), prevê que haja um “motorista”, já que o “táxi” foi mencionado anteriormente. A sentença 6 é o que Lyons (p. 5) chama de uso catafórico; o referente recebe uma explicação posterior, que o torna familiar para o ouvinte.

Lyons (p. 5) comenta que muitos linguistas preferem perceber definitude como sendo uma questão de identificabilidade (o uso do “the” (o/a/os/as) faz o ouvinte acreditar que é capaz de identificar sobre o quê se está falando). No entanto, há situações de usos do “the” em que não é possível identificar o referente. O mesmo ocorre em PB, como é possível observar através do exemplo 7:

7) Gostaria de conhecer o médico de plantão hoje.

Os demonstrativos são, na maior parte dos casos, considerados definidos, pois, mesmo que haja mais de um elemento do mesmo tipo em um contexto situacional, é possível, através de um gesto, tornar o ouvinte ciente de qual elemento o falante

(25)

propriamente trata. Na situação de fala: Passe-me aquele livro, por exemplo, pode haver, como aponta Lyons (p. 17-18), mais de um livro e, um gesto de apontar o objeto ao qual o falante se refere pode estar acompanhando a sentença, tornando-o familiar para o ouvinte. Graças à natureza dêitica3 dos demonstrativos é possível fazer a diferenciação entre os mesmos. O traço dêitico dos demonstrativos é como um guia para o ouvinte saber qual é o referente da emissão. Assim, o traço [+ Demonstrativo], segundo Lyons (p.21), está diretamente relacionado ao traço [+Definido] nas línguas em geral. No PB, no entanto, nem sempre isso se aplica, o que é possível notar em sentenças formadas nas variedades mais populares, como no exemplo:

8) Quando eu quero pescar, eu pego esse pessoal todo que eu conheço das

redondezas e vou.

Ainda assim, os demonstrativos estão associados de forma mais acentuada à identificabilidade do que os artigos definidos de acordo com Lyons e é importante verificar, nos dados do PABH, quais são as leituras possíveis para o demonstrativo.

No presente trabalho e seguindo Lyons, relacionar-se-á definitude à familiaridade.

Já quando o tema é indefinitude, Lyons (p. 33) questiona se seria uma questão da presença de certos determinantes indefinidos num sintagma nominal ou, simplesmente, uma questão de ausência do determinante definido. O artigo “a” do inglês (um/uma/uns/umas) aparentemente apresenta o traço [-Definido]. Alguns outros determinantes como “three” (três) e “many” (muitos/muitas), embora sejam inicialmente caracterizados como indefinidos, não codificam o traço [-Definido], até porque eles podem co-ocorrer com determinantes definidos. Eles são, portanto, neutros no que diz respeito à (in)definitude. No caso dos plurais e nomes de massa, a ausência fonológica do determinante é resolvida pela hipótese de que há uma variante “zero” do artigo indefinido. Mas a realidade do inglês parece demonstrar claramente que é a ausência de um determinante definido que torna um sintagma nominal indefinido.

3

A propriedade dêitica relaciona as coisas sobre as quais se fala no contexto espaço-temporal e, particularmente, nos diferentes contextos como aquele entre o momento e local da emissão e outros momentos e lugares; ou aquele entre o falante, o ouvinte e outros (LYONS, p. 18)

(26)

Lyons (p.36-37) aponta, ainda, que existem algumas expressões cardinais que mostram uma forte preferência pela indefinitude, como “several” (muitos/muitas) ou incompatibilidade com definitude, como “enough” ( suficiente/s).

O autor (p.40) sugere a possibilidade de nenhum determinante receber a especificação [-Definido] e de a indefinitude dizer respeito à ausência de um determinante [+Definido]. Apesar de parecer bastante razoável, não cabe a análise de tal hipótese no presente trabalho. Assumir-se-á, para o PB, que os demonstrativos e os definidos são preferencialemente [+Defindos], que há determinantes que podem ser neutros, mostrar uma forte preferência pela indefinitude ou ser incompatíveis com definitude.

Os numerais, por exemplo, são neutros quanto à definitude no PB. Os exemplos abaixo mostram, respectivamente, exemplos de uso de determinantes numerais marcados como [+Definido] e [-Definido] respectivamente:

9) Tenho dois olhos, uma boca e um nariz. (a familiaridade, nesse caso, será do tipo Conhecimento Geral, pois todos sabem que todo e qualquer ser humano possui sempre dois olhos, uma boca e um nariz)

10) Comprei duas canetas baratíssimas. (aqui o determinante é marcado como [-Definido] e, portanto, não recebe classificação quanto à familiaridade)

Os determinantes que recebem o nome de quantificadores demonstram uma forte tendência para a marcação [-Definido] no PB, pois tendem a expressar uma ideia aproximada ou relativa de quantidade, sem compromisso com a exatidão, como é possível conferir nos exemplos de 11 a 13:

11) Comprei alguns quiabos na feira. 12) Gastei muitas maçãs para fazer a torta. 13) Tenho poucos parentes.

No PB, assim como no inglês, os indefinidos simples estão sempre acompanhando objetos que aparecem pela primeira vez nas situações de fala e são incompatíveis com o traço [+Definido], devem ser marcados, portanto como [-Definido]. Os objetos com determinantes indefinidos podem se tornar familiares para o

(27)

ouvinte, no caso de aparecerem novamente no contexto, através da anáfora. Nesse caso, aparecem acompanhados de um determinante [+Definido]. Os exemplos abaixo mostram as duas opções respectivamente:

14) Levarei uns salgadinhos para a festa.

15) Comprei um carro lindo ontem. Na minha casa, todos adoraram o carro.

A previsão inicial para o determinante zero (

ø

), em PB4, é que ele também marca o seu objeto como [-Def], como demonstrado nos exemplos abaixo:

16) Vendo

ø

canetas na feira de Maceió. 17) Compro

ø

carro usado.5

Quanto aos pronomes possessivos, Lyons (p.24) comenta que eles apresentam um comportamento diferente nas diversas línguas. O autor demonstra a diferença de comportamento dos possessivos do inglês e do irlandês em relação aos do italiano e do grego. A diferença entre as línguas está na posição estrutural ocupada pelo possessivo. Nas duas primeiras línguas, os possessivos aparecem no mesmo lugar dos artigos e determinantes definidos e nas duas últimas, eles aparecem na posição adjetival ou em outras posições. O PB se comporta como as duas primeiras línguas nesse aspecto. Os possessivos não são associados com o traço [+ Definido] tanto quanto os demonstrativos. Em exemplos como: Vou visitar meu primo hoje, o “primo” pode ser qualquer um dos primos que o falante possui e o ouvinte não é capaz de saber a que primo ele se refere só através do determinante. Já no exemplo: Abracei minha mãe no

aeroporto, o objeto é marcado como [+Definido], pois é sabido que as pessoas só

possuem uma mãe. No entanto, não é o uso do possessivo que marca a definitude do objeto e sim o contexto no qual ele está inserido. Portanto, é através da análise do contexto que se verifica se os possessivos, bem como os numerais, são definidos ou indefinidos.

O tema dos determinantes possessivos requer um pouco mais de atenção no presente trabalho, pois há dois tipos de posse: as alienáveis e as inalienáveis. Posses

4

(28)

inalienáveis são aquelas que não podem ser cedidas, dispensadas ou desfeitas, como pode ser verificado nos exemplos abaixo:

18) Eu amo meu pai. 19) Eu quebrei meu braço.

Por outro lado, as posses alienáveis podem, a qualquer momento, deixar de pertencer àquele dono e passar a ser posse de outro. Na sentença abaixo, vê-se um exemplo desse tipo de uso:

20) Eu curto minha casa.

Da mesma forma que é perceptível a importância da definição do conceito de definitude, no presente trabalho, uma atenção especial deve ser dada também ao conceito de especificidade. As definições relacionadas à especificidade também foram retiradas de Lyons (p. 165). Segundo o autor, a diferença entre sentenças como: I

bought a car (Eu comprei um carro) e Pass me a book (Passe-me um livro) está no fato

de que, o “carro” é “um carro particular” e o “livro” pode ser “um livro qualquer”, sendo, portanto, arbitrário nesse contexto. A noção de especificidade está diretamente relacionada à condição do falante de identificar o referente; se o falante particulariza e identifica o referente em tal sentença, então, o SN é classificado como [ + Específico], caso contrário, o SN é [- Específico]. Note que, quando se trata de especificidade, a identificação do SN pelo ouvinte não é levada em consideração. A noção de definitude, como foi visto anteriormente, é a que leva em consideração a identificação do referente por parte do ouvinte. Na sentença: Eu comprei um carro, o ouvinte não sabe qual foi o “carro” comprado pelo falante. O SN “um carro” é classificado, portanto, como [-Definido], embora seja [+Específico]. Já no exemplo: Eu comprei o carro verde por 25

mil reais, o ouvinte sabe a que “carro” o falante se refere. O SN “o carro verde” deve

ser classificado tanto como [+Definido], quanto como [+Específico]. Dessa forma, os objetos podem ser classificados da seguinte maneira: [+Específico] [-Definido]; [+Específico] [+Definido]; e [-Específico] [-Definido]. As sentenças abaixo ilustram, respectivamente, tais opções:

(29)

21) Encontrei uma velha que vende doces na minha cidade e ela me deu essas

cocadas.

22) Encontrei nosso médico no cinema.

23) Pesco muitos peixes nesse rio, mas não tenho coragem de comer nenhum.

Dentro do tema que está sendo avaliado, outra observação importante diz respeito ao tipo de substantivo, que pode ser comum ou próprio. Os nomes próprios, a título de simplificação, são limitados por Lyons (p. 21) àqueles que não possuem conteúdo semântico-descritivo diferentemente dos nomes comuns. Os nomes comuns podem ser descritos com características semânticas que o colocam no conjunto dos elementos que podem ser denominados de uma forma tal. Por exemplo, todo elemento que seja um animal de quatro patas, que late e é considerado o melhor amigo do homem, recebe a denominação cachorro em PB. Em outras palavras, se um elemento apresenta os traços semânticos: [+Animado]6, [+Quadrúpede], [+Que Late], [+Melhor amigo do homem], ele se enquadra no grupo do nome comum cachorro. Com os nomes próprios, isso é totalmente impensável. Um ponto de vista comum sobre os nomes próprios é que eles são absolutamente únicos. Surge, então, no trabalho de Lyons (p. 21-22), a questão de como diferenciar os nomes próprios dos nomes inerentemente únicos como “sun”, do inglês (sol). Uma das diferenças é gramatical; enquanto “sun” se comporta como nome comum (possui traços semânticos que o definem) e leva artigo ou algum determinante definido, nomes próprios como “John” não são acompanhados de determinantes e são sintagmas nominais completos. No PB, no entanto, a questão do artigo ou determinante não se aplica da mesma forma, pois é possível encontrar tanto nomes próprios acompanhados de determinantes quanto nomes próprios nus. Uma pergunta interessante na discussão de Lyons sobre os nomes próprios é se eles teriam o traço [+ Definido] e se sim, onde? Tendo em vista a possibilidade da ausência do determinante nos nomes próprios, conclui-se que o traço [+Definido] (caso exista) teria que aparecer no nome. Para Lyons, no entanto, a melhor explicação seria que o traço [+Definido] aparece sempre no mesmo elemento, ou seja, no determinante (pois, segundo o autor, é aí que ele aparece nos nomes comuns). Pode-se pensar na possibilidade de os nomes próprios possuírem determinantes foneticamente nulos (que carregariam o traço de definitude) ou de esse traço não aparecer nos nomes próprios.

6

(30)

Lyons (1995c) acredita que os nomes próprios em inglês são indefinidos. Assumiu-se, na presente dissertação que, em PB, os nomes próprios são preferencialmente [+Definidos], aparecendo ou não acompanhados do artigo definido. Tendo em vista a possibilidade da existência de um determinante foneticamente nulo nos nomes próprios e sabendo que essa questão pode estar relacionada e ser útil na explicação da possibilidade de uso dos SDs nus objetos em PB e no PABH, fica clara a importância de diferenciarmos os objetos quanto ao tipo de nome.

A definição de genericidade foi outra contribuição de Lyons para o presente trabalho. Segundo o autor (p. 179), “sintagmas nominais genéricos são aqueles cujas referências são feitas para toda uma classe, ou, talvez de forma mais precisa, que são usadas para expressar generalizações sobre uma classe como um todo – a classe em questão sendo aquela que consiste em todas as entidades que satisfazem a descrição inerente no nome ou nominal”. Lyons (p. 181) exemplifica com as seguintes sentenças:

I admire an intellectual when he speaks out (eu admiro um intelectual quando fala ) / I admire the intellectual when he speaks out (eu admiro o intelectual quando fala )/ I admire intellectuals when they speak out (eu admiro intelectuais quando falam) / I admire the intellectuals when they speak out (eu admiro os intelectuais quando falam).

Lyons afirma que, apesar de o inglês apresentar uma gama de possibilidades de uso de sintagmas nominais genéricos, os definidos plurais, em geral, não estão disponíveis para o uso genérico, como pode ser notado na última sentença dos exemplos dados. No PB, as possibilidades de uso de genéricos também são muitas, incluindo, além das do inglês, o SD nu singular, como é possível constatar nos exemplos que se seguem: Sempre amei

macaco/ Sempre amei macacos/ Sempre amei os macacos. Em oposição aos nomes genéricos, temos os nomes referenciais, que geralmente são acompanhados de um

determinante definido ou demonstrativo, como em: Comprei o livro no shopping /

Encontrei aquele cachorro no parque. Os nomes referenciais são categoricamente

[+Específicos] e, algumas vezes [+Definidos] (como no segundo exemplo). A variável que diz respeito à referencialidade do SD é indispensável no presente trabalho já que é preciso verificar se SDs nus objetos são categoricamente genéricos, como sugerem Schmitt & Munn (1999), o que não parece ser verdade para o PABH.

Tendo em vista que Lyons (p.213) aponta a relação entre o traço [+Animado] e o traço [+Definido], incluiu-se a animacidade como essencial para a presente análise. Recebem a classificação de [+Animados] os objetos que são seres vivos, como homens,

(31)

mulheres, crianças e animais. Os demais são classificados como [-Animados]. Lyons

(p. 213-214) propõe uma hierarquia de animacidade, baseando-se nos trabalhos de Silverstein (1976), Comrie (1981a) e Croft (1990): 1) pronomes de primeira e de segunda pessoas; 2) pronomes de terceira pessoas; 3) nomes próprios; 4) nomes comuns com referências humanas; 5) nomes animados, não humanos; 6) nomes inanimados. O conceito de hierarquia de animacidade, por ser subjetivo e flexível, apresenta, segundo Lyons (p. 214), alguns problemas. Um deles é o fato de não ser óbvio o que faz nomes próprios estarem mais acima na hierarquia do que nomes comuns com referências humanas. Apesar dos problemas, Lyons (p. 215) afirma que a noção de hierarquia de animacidade é importante para expressar algumas generalizações reais entre as línguas, como o fato de que referentes definidos estão mais evidentes na mente humana do que os indefinidos, pois, por definição, são familiares. Não cabe avaliar a validade dessa hierarquia e nem aprofundar a pesquisa quanto ao traço da animacidade nesse estudo, apenas classificar os objetos como [±Animados].

Embora as colocações de Lyons sobre o aspecto número terem sido de pouca contribuição para o presente trabalho e, apesar de o foco aqui ser nos SDs nus singulares objetos, decidiu-se levar em consideração a noção de número no SD dentro das seguintes possibilidades : Singulares, Plurais, Singulares com leitura de plural, e

Singulares com possibilidade de plural, como é possível visualizar, respectivamente,

nos exemplos abaixo:

24) Comprei o apartamento na planta. 25) Comprei uns carros usados. 26) Compro carro usado e revendo. 27) Ela vive tomando remédio.

Um aspecto que deve ser igualmente relevante é a caracterização dos SDs objetos como contáveis ou não-contáveis. É importante avaliar a distribuição das tendências do PABH para perceber se os SDs nus objetos são preferencialmente usados com nomes contáveis (que podem ser separados por unidades, isto é, atomizados), ou

não-contáveis, também conhecidos como nomes de massa. Os exemplos 28 e 29

(32)

28) Vi galinhas ciscando. 29) Doei sangue hoje.

Para facilitar a visualização das tendências do PABH, julgou-se pertinente considerar a configuração sintática do objeto, com as opções: Foco (objetos que são deslocados para o início da sentença), Existenciais (para objetos que complementam o verbo “ter” no sentido de existir) e Objeto (para todos os objetos que não se enquadram nas duas primeiras categorias). Seguem, abaixo, exemplos dos três tipos de objetos:

30) Laranja, eu chupo quase todo dia. 31) Tem um rio perto de minha casa. 32) Encontrei água no rio.

A partir da leitura de Lyons (1999), foram reunidos os traços linguísticos que podem possibilitar, interferir ou modificar os diversos usos de SDs no PB e, possivelmente, no PABH. A análise desses traços trarão pistas para explicar o uso dos SDs nus objetos no PB e no PABH.

No estudo de Baxter e Lopes (2009), em que os autores tratam do uso do artigo definido na comunidade de Helvécia do ponto de vista da Sociolinguística, um dos aspectos levados em consideração foi a presença de outro constituinte capaz de induzir

a referência definida.

Apesar de o presente estudo tratar dos SDs nus na posição de objeto e não do uso do artigo definido exclusivamente, achou-se pertinente considerar esse aspecto para verificar a possibilidade de usos referenciais sem o uso do artigo definido e de outros determinantes.

Assim, como no trabalho de Baxter e Lopes (p. 325), os fatores que serão considerados são: nenhum outro modificador, oração relativa, adjetivo pré-nominal,

adjetivo pós-nominal, sintagma preposicional, possessivo, e advérbio locativo. Além

desses, incluiu-se o fator aposto. Os exemplos a seguir ilustram respectivamente, essas possibilidades:

34) Vi o menino correndo depressa. 35) Vendi a casa que eu morava.

(33)

36) Comprei a mesma farinha. 37) Comprei a farinha mais fina. 38) Eu tomei carreira de vaca. 39) Abracei o pai de Fabrício. 40) Adotei esse cachorro aí.

41) Encontrei a menina, filha de Maria, no mercado.

1.3.2 A análise de Longobardi para os SDs nus: uma comparação entre as línguas Românicas e Germânicas

Tendo definido os conceitos básicos e formado a chave de codificação (que será disponibilizada de maneira detalhada no próximo capítulo) com as variáveis baseadas nos conceitos fundamentais do trabalho de Lyons (1999), entrar-se-á na discussão sobre o estudo de Longobardi (1994, 1998), que trata dos nomes nus, comparando o seu comportamento nas línguas Românicas e Germânicas, do ponto de vista das suas diferenças sintáticas e semânticas, levando em consideração suas propriedades morfossintáticas.

Longobardi (p.2) aponta para duas propostas na literatura no que diz respeito à atribuição para a posição de determinantes. A primeira é aquela que localiza os SDs dentro dos SNs, mais precisamente na sua posição de SPEC: [SN SD[N’ N]]. A segunda proposta, que, segundo ele, surgiu a partir de uma intuição da parte de Zabolcsi (1983, 1984 e trabalhos subsequentes) e que está registrada no trabalho de ABNEY (1986, 1987), sugere que as construções nominais, como um todo, coincidem com SD e SNs são complementos do núcleo D: [SD [D’ D SN]].

O autor (p.3) argumenta que se for considerado que, em uma língua, o movimento pode acontecer de dentro do SN para uma posição dentro do SD (de SPEC para SPEC ou de N° para a de D°), deve-se descartar a primeira hipótese já que, dentro da proposta minimalista, o movimento não pode ser feito para nenhuma posição que não seja c-comando.

Longobardi adota, assim, a segunda proposta como a mais adequada e, para justificar ainda mais sua escolha, dá exemplos do Inglês, Norueguês, Escandinavo e Romeno. Nos exemplos do Inglês: A very strange man (Um homem muito estranho) e

(34)

How strange a man (Quão estranho o homem), Longobardi afirma que, se o par for

relacionado transformacionalmente, o movimento de SPEC do SN para o SPEC de SD pode ser atestado. Usando os exemplos de Taraldsen (1990), Longobardi (p.3) mostra uma estrutura dos SNs germânicos (do Norueguês mais especificamente) em que o sujeito assimetricamente c-comanda o objeto: Hans bøker om sintaks (His books about syntax / Seu livro sobre sintaxe) e outro exemplo em que o nome aparece no início e o sujeito também c-comanda o objeto assimetricamente: Bøkene hans om syntaks (Book-s-the his about syntax / Livro-s-os dele sobre sintaxe). Segundo Longobardi (p.4), Taraldsen (1990) defende que há aí uma subida de N, corroborando com a análise dos nominais noruegueses como SDs. Longobardi (p. 4) afirma que a análise adotada por Taraldsen (1990) pode se estender para a língua escandinava: en book (a book / um livro)/ Boken (Book-the / livro-o). Uma abordagem similar também se mostrou adequada, de acordo com Longobardi (p.4), para explicar o uso dos artigos definidos sufixais do Romeno nos estudos de Grosu (1988) e Drobovie-Sorin (1987).

O autor (p.4) aponta para o fato de ainda não estar claro se a segunda proposta também serve para as línguas românicas, mas, apesar disso, assume que ela também seja adequada para essas línguas.

O próximo passo do trabalho de Longobardi é analisar algumas propriedades semânticas e distribucionais dos Ns e dos Ds. O autor toma o italiano como base para fazer sua análise e chega à conclusão de que: “uma ‘expressão nominal’ é um argumento somente se for introduzida por uma posição lexicalmente preenchida.” (p. 6). (tradução minha)

Quanto aos SDs nus, o autor pontua que esses podem ocorrer na Estrutura Superficial (doravante Estrutura-S) do italiano somente sob as seguintes condições: “a) São restritos aos plurais e nomes de massa como muitos outros determinantes; b) estão sujeitos ao requerimento de governança lexical como qualquer outro núcleo não-preenchido; c) recebem uma interpretação indefinida correspondendo a um quantificador existencial não-específico para número e que assume o escopo mais restrito possível.” (p. 11-12) (tradução minha). Os exemplos que se seguem ilustram sentenças gramaticais do italiano que mostram as condições acima citadas sendo atendidas Bevo sempre vino (I always drink wine / Eu sempre bebo vinho) Mangio

patate (I eat/am eating potatoes / Eu como/estou comendo batatas) (p.6-7). Para

(35)

sentenças agramaticais como: *Ho incontrato grande amico di Maria ieri (I met great friend of Maria yesterday /Eu encontrei grande amiga de Maria ontem). Essa sentença só se tornaria gramatical, caso os determinantes un(a) ou il(the) estivesse presente antes do objeto direto, atendendo ao que foi dito anteriormente sobre as ‘expressões nominais’. No PB, no entanto, a condição “a)” não se aplica, pois, SDs nus objetos singulares, como em: Vejo cachorro fazendo suas necessidades no passeio todos os dias

/ Aluguei apartamento na Graça, são muito comuns.

Assumir essas condições específicas para a ocorrência de SDs nus na Estrutura-S leva o autor a revisar a condição da ocorrência de uma expressão nominal no italiano: “uma ‘expressão nominal’ é um argumento somente se for introduzida por uma categoria D”. (p.15) (tradução minha)

Assumindo que a posição D transforma uma expressão nominal em argumento, uma questão acerca do uso dos nomes próprios em italiano é imediatamente levantada (p. 16): como é possível que os nomes próprios ocorram livremente em italiano na função de argumento sem o uso do determinante? Como é sabido, nomes próprios não designam massa, plural e nem possuem uma interpretação indefinida. Além disso, eles podem ocorrer numa posição lexicalmente não-governada. A sugestão do autor para resolver tal problema é assumir que, nas línguas românicas, nos casos em que os nomes próprios não vêm acompanhados de determinantes (há línguas em que é possível tanto que eles sejam acompanhados de determinantes como venham “nus”, como é o caso do PB), a posição deve ser preenchida por meio da subida do nome próprio (p.18).

O movimento de N para D é confirmado na análise sobre os nomes próprios e, tendo em vista que a segunda proposta para a estrutura dos SDs nus se mostra adequada, Longobardi (p. 24) reafirma, como apontado anteriormente por Stoweel (1989), que SDs podem ser argumentos e SNs, não.

Tendo feito a distinção entre SNs e SDs, o autor tenta explicar o licenciamento de tais categorias de acordo com Chomsky (1986a), que se apoiou na proposta de Rothestein (1983). Longobardi (p.24-25) afirma que, segundo Chomsky, projeções máximas tanto podem ser licenciadas como argumentos ou predicados. Na maioria dos casos, SDs são argumentos e, em algumas situações, podem ser predicados (construções de cópula ou small-clauses). SNs não podem assumir função de argumento (só se forem complementos de uma posição D).

(36)

Para defender a ideia de que uma expressão nominal só é argumento quando precedida por uma categoria D, Longobardi recorre a exemplos de usos da língua inglesa. Ao comparar o inglês e o italiano, o autor (p. 30) percebe que o primeiro, com propriedades radicalmente diferentes desse último, admite e requer a ocorrência de determinantes nus na Estrutura-S. Em inglês é possível encontrar sentenças como: I

don’t like dogs of this type (Eu não gosto de cães desse tipo). Em italiano, um

determinante seria obrigatório antes do objeto direto para que a sentença fosse considerada gramatical. Assim, o autor desiste de levar adiante a ideia da generalização da interpretação existencial default para os Ds nus, que sugere que a leitura existencial para os Ds nus é atribuída automaticamente pelo sistema linguístico. O autor deixa sem explicação a ausência de governança lexical em inglês e o aparente comportamento excepcional dos adjetivos substantivados da língua que admite sentenças como: The

rich are becoming even richer (os ricos estão ficando ainda mais ricos), mas não Ø Rich are becoming even richer (Ricos estão ficando ainda mais ricos) (p.29).

O passo seguinte do trabalho do autor é tentar encontrar uma resposta teórica para algumas questões levantadas pelo padrão dos nomes e dos determinantes nas línguas românicas e germânicas como um todo. O autor (p.30) aponta, inicialmente, para o fato de que, nas línguas românicas e germânicas, nomes singulares contáveis não ocorrem na posição de argumento, a não ser que sejam singulares com interpretação de plural ou nome de massa, como em: I ate beaver (significando: I ate “beaver meat”/ Eu comi carne de castor) (p.31). Longobardi (p. 35) faz uma generalização para os nomes comuns, pronomes e nomes próprios entre as línguas. Os primeiros, argumenta ele, devem sempre ser usados para se referirem a tipos, e podem, assim, prover uma variedade de determinantes (lexicais ou evidentes) entendidos como operadores; os segundos não podem ser submetidos a essa interpretação; e os últimos não precisam, mas podem levar essa interpretação em casos marcados. Em outras palavras, se temos como exemplo: Eu comprei um carro, o objeto direto carro pertence a um grupo, cujos elementos possuem características similares e podem ser diferenciados, quantificados, definidos ou especificados a partir do acréscimo de determinantes na sentença (um, o, aquele, esse, etc.). Os pronomes não se referem a tipos, pois, a fórmula: Pronome x, tal

que x pertence à classe de Y não pode ser verdadeira. Já os nomes próprios podem ser

interpretados como tipos em exemplos como: Conheci várias Marias. Os pronomes, segundo o autor, são gerados em D e nunca ocorrem na posição N; os nomes próprios,

(37)

por sua vez, em algumas línguas como no italiano, ocorrem em D na Estrutura-S; já os nomes comuns, mesmo em línguas como o italiano, normalmente não sobem para a posição D. Longobardi resume suas postulações da seguinte maneira: “Um nome, para se referir a tipo, deve ser o núcleo da projeção N na Estrutura-S”. (p. 35-36) (tradução minha)

Após analisar alguns exemplos do inglês, Longobardi propõe, finalmente, uma generalização para a subida do nome: “em línguas e construções em que o nome sobe do núcleo para uma posição D e substitui o artigo, apenas os nomes próprios podem subir; em línguas e construções em que a subida adjunge o nome ao artigo, os nomes comuns também podem subir para D. (p.40) (tradução minha)

Longobardi propõe, então, um parâmetro para distinguir as línguas românicas e germânicas, tomando como base o italiano e o inglês: “N sobe para D (por substituição) na sintaxe do italiano, mas não na do inglês”. (p.41) (tradução minha)

O autor aponta para a possibilidade de o italiano não possuir subida de nomes na Forma Lógica (FL) de maneira alguma, mas a descarta, argumentando que o “Earliness

Principle”7 proposto por Pesetsky (1989) parece mais adequado para dar as diretrizes à formulação de uma condição geral para a tipologia geral das línguas (crosslinguistics): “A interpretação existencial default é atribuída aos SDs o quanto antes (na Estrutura-S ou na FL, dependendo do parâmetro de movimento) e não pode ser mudada no curso da derivação” (p. 43) Da mesma forma, argumenta Longobardi, a condição de que um núcleo vazio precisa ser lexicalmente governado é checada o quanto antes no que diz respeito aos Ds.

A discussão para se chegar a uma teoria paramétrica para os genéricos em inglês e nas línguas românicas é o próximo passo de Longobardi. Para fazer os testes que levem a um resultado paramétrico eficiente, o autor sugere que se leve em consideração dados dos adjetivos substantivados do inglês, que pedem um artigo definido mesmo na interpretação genérica plural: I visit the poor every year (Eu visito os pobres todo ano). A conclusão do autor é que “para uma leitura genérica, um artigo deve ser introduzido apenas para prevenir que a posição D fique vazia na FL” (p.45), se adequando as postulações anteriormente feitas pelo mesmo autor sobre a interpretação default e sobre núcleos vazios que devem ser lexicalmente governados.

7

O “Earliness Principle”, como explicado numa nota de rodapé em Longobardi (p. 44), sugere que “o status de ± WH é atribuído a CPs incorporados o quanto antes (estrutura-S ou Forma Lógica, dependendo do parâmetro do movimento) e não pode ser trocado no curso da derivação

(38)

Sobre os SDs genéricos, Longobardi (p. 48) argumenta que são casos em que a subida do N para o D ocorre na FL, se assemelhando à questão dos nomes próprios singulares nessa mesma língua. Podemos perceber essa similaridade se analisarmos os exemplos: I drink pure water/ I drink [water [pure e]] (Eu bebo pura água) e I met old

Mary/ I met [Mary [old e]] (Eu encontrei velha Maria). Na língua inglesa a FL parece

ser o nível mais relevante para a interpretação de Ds e Ns (p.48).

As análises sintáticas do autor levam-no a assumir (p. 50) que, semanticamente falando, as interpretações fornecidas pelos nomes que aparecem na posição N referem-se a conceitos universais (tipos) e as interpretações atribuídas aos nomes que aparecem na posição D referem-se à designação particular de todo o SD, tanto diretamente (ao atribuir referência a um único indivíduo) quanto indiretamente (ao hospedaro operador de uma estrutura denotacional).

Após afirmar que, em italiano, um artigo que introduz nomes próprios simples deve ser sempre expletivo8, Longobardi traz novamente a questão de que, na língua inglesa, o uso do artigo definido com plurais, nomes de massa e nomes próprios singulares não é admitido. É exatamente nesses casos que, em línguas como o italiano, o uso expletivo do artigo ocorre. O autor reforça o fato de que artigos expletivos só ocorrem com genéricos singulares que não representam nome de massa e adjetivos substantivados genéricos. O autor propõe, então, a seguinte generalização para o inglês: “artigos expletivos são licenciados apenas como último recurso” (p. 56). No entanto, ele deixa claro que dificilmente essa generalização pode ser aplicada às línguas românicas. O autor mostra exemplos do alemão que apontam para a diferença no licenciamento do artigo expletivo entre esse último e o inglês, pois, no alemão, é possível encontrar sentenças como: Der Hans ist angekommen (O Hans já chegou) (p.57). No inglês, a mesma sentença é agramatical: *The Hans has arrived, sendo sua correspondente gramatical Hans has arrived. . Parece que as restrições nos usos dos artigos em inglês e não em outras línguas germânicas e românicas se devem a fatores morfológicos próprios da língua, pois, como aponta Longobardi, a Gramática Universal (GU) traz como um de seus princípios que “a realização fonética da posição D é licenciada apenas se expressar conteúdo semântico ou traços gramaticais, ou como último recurso”(p.58). A mais forte evidência para promover o suporte morfológico para o uso do artigo expletivo, segundo Longobardi (p.61), está no estudo de Ebert (1970) sobre o frísio (língua falada na ilha

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Referências

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