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PROJETO CULTURAL

5 Idem Ibidem p 14.

6 SCHWARZ, R. Criando o romance brasileiro. Argumento, Rio de Janeiro, n.4, p. 19-47, fev. 1974.

7 CÂNDIDO, A. Literatura e subdesenvolvimento. Op. cit. p. 19.

8 GOMES, P. E. S. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. Argumento, Rio de Janeiro, n. 1, p.54-67, out. 1973.

tr a ta r d a h istó ria do cinem a brasileiro n a situ ação de p aís subdesenvolvido.

De m odo geral, o a u to r vai an alisan d o , n a h istó ria do cinem a brasileiro, os m om entos “de a lta e baixa” (produtividade e audiência), m as, principalm ente, o modo como este cin em a lidava com a qu estão de ex p re ssa r o que in teressav a ao “o c u p a n te ” ou o que in teressav a ao “ocupado”. É im p o rtan te d e sta c a r que o crítico n ão ch a m a a p e n a s de “o c u p a n te ” o estrangeiro, m a s tam b ém os que têm p o d er de decisão n a s q u estõ es do país:

“Psicologicamente, ocupado e ocupante não se sentem como tais; de fato, o segundo também é nosso e seria sociologicamente absurdo imaginar a sua expulsão como os franceses foram expulsos da

Argélia. Nossos acontecimentos históricos —

independência, república, revolução de trinta — são querelas de ocupantes nas quais o ocupado não tem vez.”9

Propondo u m d esen ro lar de texto que m o stra, d a m esm a form a que o artigo de Antonio C ândido, u m a evolução, Paulo Emílio tr a ta do meio cinem atográfico brasileiro b asean d o -se n a s fases de m aior expressão e em s e u s intervalos. Como p rim eira fase, Paulo Emílio cita a

Bela época, que corresponde ao início do século XX, m ais precisam ente

a p a rtir de 1908 e que d u ra trê s ou q u atro anos. N esta produção, evidencia, como problem a, a cópia, ou, como d en o m in a o au to r, o “decalque c a n h e stro ” do que se produzia n a E u ro p a ou n a América, o que provocava a falta de brasilidade. T erm inada e s ta fase, o cinem a norte-am ericano to m a co n ta d a cen a e a cinem atografia brasileira só vai voltar a ser u m fenôm eno n o s an o s 40.

Os filmes m u sicais e de c h a n c h a d a ou a com binação de am b o s trarão u m a m u d a n ç a im portante n e s ta fase: “desvinculados do

gosto do o cu p an te e contrário ao in teresse estrangeiro”, traziam a m a rc a do subdesenvolvim ento, c a u sa n d o g rande identificação com o seu público. O a u to r afirm a tam b ém que “a adoção, pela plebe, do m alan d ro , do p ilan tra, do d esocupado d a c h a n c h a d a , su g eria u m a polêm ica de ocupado c o n tra o c u p a n te .”10 Q uando o cinem a se to rn a o a s s u n to n acional m ais sensibilizante, a p a rtir do final d a d écad a de 40, a p re sen ç a do sentim ento socialista fez su rg ir u m novo tipo de cinem a, que exprim ia u m a consciência social corrente n a lite ra tu ra pós- m o d ern ista e que levou a outro acontecim ento global de im p o rtân cia p a ra s u a história: o surgim ento do C inem a Novo.

Assim como a Bela Época, o C inem a Novo teve vida c u rta , porém por motivo diferente, pois sofreu im posições políticas in tern as. Mas, m esm o a p e sa r de não atingir n e n h u m novo público potencial de o cupados, tendo a p e n a s atingido u m público jovem de origem o cu p an te, m a s que se sen tiam re p re se n ta n te s dos in te re sse s dos ocupados, o C inem a Novo, segundo o au to r, refletiu e criou u m a im agem d a m aioria do povo brasileiro e fazia p arte de u m a corrente que se exprim iu igualm ente atrav és d a m úsica, do teatro , d a s ciências sociais e d a lite ra tu ra .

Depois do C inem a Novo, n a p assag em dos an o s 60 p a ra os se te n ta , ap arece a in d a u m novo su rto , de m en o r expressão em relação à Bela Época, à c h a n c h a d a e ao C inem a Novo, que se au to d en o m in o u de C inem a do Lixo, com d u ração de ap ro x im ad am en te trê s anos. E ste fazia oposição frontal ao cinem anovism o, vivia n a clan d estin id ad e devido à c e n s u ra e p ro p u n h a u m an arq u ism o sem q u alq u er rigor. Nas palav ras do a u to r, “tran sfo rm a a plebe em ralé, o ocupado em lixo”, m a s vinculou-se à s preocupações b rasileiras do período. Todavia, foi o seto r do cu m en tal que, com intenções c u ltu ra is e d idáticas, re a ss u m iu a função que o gênero d ese m p e n h a ra an terio rm en te. E sses filmes, p a ra

Paulo Emílio, “d o cu m en tam a nobreza in trín se c a do ocupado e a s u a com petência”.11

Ao concluir, o a u to r tr a ta do cinem a “a tu a l” e diz que os m elhores q u ad ro s a in d a derivam do cinem anovism o e de s u a s adjacências, ou m esm o dos p recu rso res im ediatos. Em relação ao público, afirm a que o cinem a n acional não tem m ais u m d estin atário certo; os próprios in telectu ais voltam -se p a ra o estrangeiro, o que indica u m dos cam in h o s de rein stalação n a ótica do o cu p an te.

Pode-se, a p a rtir daqui, observar a p ertin ên cia d a s categorias de an álise d a lite ra tu ra u tilizad as por Antonio C ândido em “L iteratu ra e subdesenvolvim ento”, a p ro p riad as p a ra se tr a ta r do cinem a nacional. A “fase de consciência a m e n a do a tra so ” caberia tam bém p a ra a fase do cinem a c h a m a d a de “Bela É poca”, ou seja, p a ra o início do século, e n q u an to que a “fase d a consciência catastró fica do a tra so ”, que corresponde à lite ra tu ra a p a rtir dos an o s 30, a ju sta ria -se à fase do C inem a Novo, m ais precisam ente a p a rtir do final d a d écad a de 40. A penas q u an d o se referem ã situ ação “a tu a l” de s u a s áreas, os críticos se d istanciam : e n q u an to o prim eiro d e m o n stra u m certo otim ism o, inserindo, inclusive, a produção “a tu a l” n a “consciência dilacerad a do a tra s o ”, que im plica n a existência de u m escritor com m u ita consciência d a situ ação em que vive, o segundo, que detêm u m público m aior do que a lite ra tu ra , a p o n ta p a ra a passividade do co njunto de p esso as que o aprecia. O bserva-se que tal correspondência, n a s o u tra s fases, ocorre devido ao fato de os dois a u to re s colocarem como lin h a co n d u to ra de se u s e stu d o s a q u estão d a relação en tre desenvolvidos e subdesenvolvidos, d o m in an tes e dom inados, influentes e influenciados, o c u p a n te s e ocupados, d an d o ênfase ao m om ento cu ltu ra l e à form a pela q u al a s produções se voltaram p a ra s e u s p aíses (em term os de B rasil e de América Latina), ex p ressan d o a situ ação de subdesenvolvim ento e a valorização de s u a identidade.

Neste sentido ain d a, os au to res, atrav és do que ap re se n ta m como su p eração d a situ ação de subdesenvolvim ento ou m atu rid ad e n a