• Nenhum resultado encontrado

PROJETO CULTURAL

38 Idem Ibidem p 107.

B ern ard et m o stra a preocupação dos c in e a sta s, n o s a n o s seten ta, em e n tra r no circuito com ercial (consum o de m assa) e a to m a como prolongam ento d a problem ática pela q u al p a ss o u o C inem a Novo nos an o s 50 que, p rim eiram ente, im aginava-se como “in stru m e n to s de conscientização”, que podiam m odificar a posição d a s p esso as d entro d a sociedade. Devido ao fato de não te r tido o alcance esperado, p a ssa -se a co n sid erar que o im p o rtan te era que ta is filmes fossem vistos por quem os aproveitasse.

A pesar de reavivarem e s ta problem ática, de acordo com B ern ard et, os c in e a sta s em q u estão en ten d em que, naq u ele m om ento, en fren tam u m a situ ação nova, diferente d a dos an o s 50 e 60, co nsiderando-se tam b ém que os critérios d a atividade profissional já não são os m esm os. Os c in e a sta s n ão vêem o cinem a com ercial, a p e sa r de este te r co n q u istad o u m razoável público, como u m a opção válida; querem m a n te r-se como críticos e expõem, q u a se de form a co n sen su al, que u m a d a s sa íd a s que facilitaria o co n tato com o grande público e sta ria em o cinem a brasileiro a ss u m ir se u “c a rá te r coletivo”, que é u m a opção política.

A negação, o ra do cinem a com ercial, o ra d a TV, do rádio, e d a s h istó rias-em -q u ad rin h o s (esta ú ltim a p resen te no artigo de Antonio Cândido), revela que o contato d a s g ran d es m a s s a s dos p aíses subdesenvolvidos com este tipo de c u ltu ra é u m dos fatores que co n trib u em p a ra a m an u ten ção d a situ ação de subdesenvolvim ento. Por o u tro lado, o contato com a c u ltu ra d ita eru d ita, reivindicada por Antonio C ândido e que e stá n a base d a s reflexões dos c in e a sta s citados, co n trib u iria p a ra a tran sfo rm ação d e s ta situação.

A posição de C ândido reto m a a s reflexões a d o rn ia n a s sobre a in d ú s tria cu ltu ral. A idéia, por exemplo, de que, p a ra alg u n s intelectuais, a s inform ações veiculadas pela in d ú s tria c u ltu ral são inofensivas, dem ocráticas e produzem benefícios, é criticada por Adorno, que afirm a: “e ss a s inform ações são certam en te pobres ou insignificantes, como prova todo estu d o sociológico sobre algo tão elem en tar como o nível de inform ação política, e os conselhos que

su rg em d a s m anifestações d a in d ú s tria c u ltu ra l são sim ples futilidades, ou a in d a pior; os pad rõ es de com portam ento são desav erg o n h ad am en te co n fo rm istas.”39 É com a intenção de prevenir a form ação de u m a sociedade m assificada, ou seja, com com p o rtam en to s fora da s u a realidade, facilm ente m anipulável, dispondo de u m nível pobre de inform ação política, que Antonio C ândido se p ro n u n c ia e, de c e rta form a, a revista Argum ento to m a e s ta posição.

P ara ilu stra r este aspecto pode-se m o stra r que o tipo de c u ltu ra com o q u al a revista tra b a lh a e s tá m uito m ais p a ra o erudito do que p a ra u m a c u ltu ra m assificada. J á vim os que n ão se c o n stata, n a revista, artigos que tra te m de m ú sic a e televisão, o que n o s leva a p e n s a r que são gêneros tão utilizados pela in d ú s tria c u ltu ra l que não m ereceram ser discu tid o s n a revista. E sta se restringe ao s g ran d es gêneros, a dizer, a s a rte s p lásticas, o teatro , a lite ra tu ra e o cinem a. Poderíam os questionar: assim como a televisão e a m ú sica, o cinem a e a lite ra tu ra tam b ém são gêneros que, m u ita s vezes, são su b m etid o s à s condições d a in d ú s tria cu ltu ral. Porém, é ju s ta m e n te ao s p ro d u to s que não provêem d a c u ltu ra de m a s s a que a Argum ento ab re s u a s portas. C ite-se o artigo de Davi Arrigucci J r . sobre a poética de Pablo N eruda

(Argumento, n.2); o ensaio de Gilda de Mello e S ouza sobre u m a

exposição retrospectiva do p in to r Milton D acosta (Argumento, n.2); a en trev ista com o d ram atu rg o G ianfrancesco G uarnieri, a u to r de peças que m arcaram época n a h istó ria do teatro brasileiro (Argumento, n . l ) e o ensaio elogioso sobre a a d ap tação ao cinem a de São Bernardo, obra de G raciliano Ramos. T rata-se de a u to re s e o b ras que já d etin h am reconhecim ento no âm bito c u ltu ra l e de n e n h u m a form a ap resen tav am os infortúnios d a c u ltu ra de m assa. Som e-se a isso o engajam ento, o com prom etim ento e, de c e rta forma, a vinculação aos ideais d a e sq u e rd a política do país.

39 ADORNO, T. W. “A indústria cultural”, in: COHN, Gabriel (org.) Comunicação e indústria cultural. 4. ed. São Paulo: Nacional, 1978. p. 96.

A través do artigo “Bienal de quê? Por quê? Com quem ?”40, de Arnaldo Pedroso d 'H o rta, publicado n a terceira edição, pode-se, inclusive, observar c e rta resistên cia à s o b ras de c a rá te r “m oderno”, que o u sa m a p re se n ta n d o m ovim entos ou fazendo algum tipo de barulho:

“M esm o em s e tra ta n d o d e arte m o d ern a , a s e x p o s iç õ e s d e s s a n a tu r e z a gu ard avam , até h á a lg u m tem p o , o a m b ien te d e c ir c u n sp e c ç ã o ca ra cterístico d o s m u s e u s , e in d is p e n s á v e l à a n á lise visu a l d e o b ra s q u e tin h a m n o o lh o o ele m e n to fu n d a m en ta l. A c ir c u n stâ n c ia d e q u e s e d e stin a v a à v isu a liz a çã o s o s s e g a d a e m ed ita tiv a , por p arte do v isita n te , im p lica v a em d u a s c o isa s: q u e a ob ra d ev ia p erm a n ecer e s tá tic a e ser, e la m esm a , sile n c io sa . C om a h ib rid a çã o q u e a o s p o u c o s foi in v a d in d o e s s e ca m p o , p a s s a m o s a ter o b ra s m ó v eis, tra n sfo rm á v eis c in e tic a m e n te e e m is s o r a s d e ru íd o s, q u e em a lg u n s c a s o s ch eg a m à m a is a g re ssiv a e strid ên cia . D e sa p a r e c e u , com is s o , a p o ssib ilid a d e d e rec o lh im en to p a ra ex a m e de d eterm in a d a p e ç a — e is q u e o esp e c ta d o r e stá , n o m e sm o m o m en to , s e n d o a ta ca d o por lu z e s e b a ru lh o s q u e o a s sa lta m d e to d o s o s la d o s ”41

Com e s ta s palavras, o crítico n ão exprim e n e n h u m a ten tativ a de com preensão ou in terp retação d a s o b ras em questão, a n te s deixa tra n sp a re c e r a idéia de que não a p re se n ta m seq u er u m a form a propícia de apreciação e assim se d istan ciam d a s que se a p re se n ta m c irc u n sc rita s aos clássicos m u s e u s ou em am b ien tes singulares. Isto leva a crer que e s ta s obras, por não se a p re se n ta re m de form a ap ro p riad a p a ra a contem plação, seq u er podem ser co n sid erad as arte,

40 D’HORTA, A. P. Bienal de quê? Por quê? Com quem? Argumento, Rio de Janeiro, n.3, p. 106-117, jan. 1974.