• Nenhum resultado encontrado

Identidade Social

No documento CLUBES DE FUTEBOL" (páginas 61-64)

2. BASE TEÓRICO-EMPÍRICA

2.3. Comportamento do Consumidor

2.3.2. Interações Sociais

2.3.2.2. Identidade Social

Segundo Tajfel apud LANTZ e LOEB (1998), identidade social é a parte do autoconceito de um indivíduo derivado do reconhecimento de sua associação em determinados grupos; e dos valores, significados e emoções compartilhados desta associação.

Em outras palavras, a identidade social de um indivíduo é a sua autoclassificação através de percepções de identificação às categorias sociais por ele escolhidas. Essas categorias sociais (como classe, raça, religião) podem ser criadas por cada um dos indivíduos, e não necessariamente precisam estar de acordo com as categorias pré-existentes e formalmente estabelecidas socialmente.

Em consequência disto UNDERWOOD, BOND e BAER (2001) afirmam que cada indivíduo tem a liberdade de classificar-se em termos de raça, idade, gênero, religião, partido político, time de futebol, ou qualquer outro tipo de associação social organizada. Essa classificação, que pode ou não ser aceita por outros indivíduos socialmente, vem da percepção do indivíduo de compartilhar valores e atitudes com os membros de determinados grupos sociais, resultando em identificação com esse grupo.

Ainda segundo UNDERWOOD, BOND e BAER (2001), a identidade social de um indivíduo afeta suas percepções, cognições e atributos sobre diferentes assuntos e eventos sociais, afetando suas emoções, atitudes e comportamentos. Quanto maior a identificação com um determinado grupo, maior será a determinação de barreiras e aspectos diferenciadores entre membros do grupo e não-membros do grupo. Através dessa categorização, os indivíduos conseguem organizar seu contexto social e estabelecer hierarquias de relacionamento pessoais.

Alguns autores como LANTZ e LOEB (1998) e UNDERWOOD, BOND e BAER (2001) afirmam que um indivíduo pode possuir mais de uma identidade social, e que dependendo das suas características pessoais, e de determinadas circunstâncias sociais, elas podem ser hierarquizadas pelo indivíduo de acordo com a situação experimentada. A medida

que ocorre esse fenômeno, ocorre também a “despersonalização” do indivíduo em prol de sua identidade social.

Despersonalização, segundo LANTZ e LOEB (1998), é o processo de transformação de identidade do indivíduo, ou seja, quando ele deixa de cultuar sua identidade pessoal para adotar uma identidade social mais propícia para uma determinada situação. Turner apud LANTZ e LOEB (1998), explica que quando ocorre a despersonalização em prol de uma identificação com um grupo social, o resultado mais frequente é o surgimento dos fenômenos de coesão de grupo, etnocentrismo e cooperação social. A coesão de grupo é o desejo do indivíduo de que todos os membros do grupo avaliem e apóiem positivamente seus colegas, enquanto o etnocentrismo é o desejo de que os membros do grupo avaliem-se positivamente em relação a outros grupos sociais. Por fim, a cooperação social é o desejo do indivíduo de que os interesses coletivos do grupo sobreponham os interesses pessoais de seus membros.

ELLEMERS, SPEARS e DOOSJE (2002) afirmam que a forma e a intensidade da influência das características e comportamentos de um grupo em um indivíduo pode variar de acordo com as características do próprio membro do grupo, dependendo da percepção que ele possui de si e da sua participação como membro. Além disso, os autores complementam que a forma de identificação e comprometimento a um grupo social depende também de um contexto mais amplo em que, primeiro promova a possibilidade de status e a segurança do indivíduo frente a ameaças de outros grupos; e segundo, promova uma realidade social que facilite ou restrinja tentativas de gerenciar essas possíveis ameaças.

CIAMPA (1997) afirma que a identidade de uma pessoa é um fenômeno social, e não natural; afirmação esta, aceitável pela maioria dos cientistas sociais. Assim sendo, se estabelecermos uma distinção entre o objeto de nossa representação e a sua representação, veremos que ambos se apresentam como fenômenos sociais, conseqüentemente como objetos sem características de permanência, não sendo independentes um do outro. Não podemos isolar de um lado todo um conjunto de elementos – biológicos, psicológicos, sociais, etc. – que podem caracterizar um indivíduo identificando-o, e de outro lado a representação deste indivíduo como uma duplicação mental ou simbólica que expressaria sua identidade. Isso porque há como uma interpenetração destes dois aspectos, de tal forma que a individualidade dada já pressupõe um processo anterior de representação que faz parte do indivíduo representado.

CIAMPA (1997) cita, por exemplo, que antes de nascer, o nascituro já é representado como “filho” de alguém e essa representação prévia já o constitui efetivamente como “filho”,

membro de uma determinada “família”. Posteriormente, essa representação é assimilada pelo indivíduo de tal forma que seu processo interno de representação é incorporado na sua objetividade social como “filho”, membro daquela “família”. É verdade, porém, que não basta a representação prévia. O nascituro, uma vez nascido, constituir-se-á como “filho” na medida em que as relações nas quais esteja envolvido concretamente confirmem essa representação através de comportamentos que reforcem sua conduta como “filho” e assim por diante, mesmo que esses comportamentos ocorram já baseados em pressupostos da identificação da criança como “filho” e dos adultos em questão como “pais”. Desta forma, a identidade do filho, se de um lado é consequência das relações que se dão, de outro – com anterioridade – é uma condição dessas relações. Ou seja, é pressuposta uma identidade que é reposta a cada momento, sob pena desses objetos sociais (filho, pais, família) deixarem de existir objetivamente (embora sobrevivam como organismos físicos) na esfera social.

Dentro do contexto esportivo, autores como Brascombe e Wann, Madrigal, Sutton et al. e Fisher apud ELLEMERS, SPEARS e DOOSJE (2002) afirmam que a identificação do indivíduo (torcedor) com um determinado clube esportivo (time) promove a sua inserção em um grupo social (torcida), e desta forma, é considerada como uma manifestação da teoria de identidade social. Essa identificação é dada pelo comprometimento pessoal e pelo envolvimento emocional que os torcedores mantém com seu clube esportivo, incorporando tanto os aspectos psicológicos, como os comportamentos específicos dessa identificação.

Um exemplo clássico da identificação em esportes é a tendência de apropriação, por parte dos torcedores esportivos, do resultado de campo (partida) como se fossem vitórias ou derrotas pessoais dos próprios indivíduos. Ou mais ainda, no caso da pesquisa de WANN e DOLAN (1994), onde torcedores com alto grau de envolvimento pessoal demonstraram forte tendência de internalizar os fatores responsáveis pela vitória (sucesso) de seu time, através da exaltação a habilidade, esforço e competência; enquanto tentam externalizar os fatores responsáveis pelas derrotas (fracasso), através da transferência da culpa, má atuação da arbitragem, falta de sorte e utilização de “jogo sujo” por parte do adversário.

Um outro exemplo de identificação bastante comum é a compra de artigos esportivos com a marca do clube e também de produtos/serviços dos patrocinadores dos clubes, como forma de expressar o comprometimento do indivíduo com seu objeto de referência (clube), facilitando e aumentando sua identificação frente a outros torcedores do seu próprio clube e diferenciando-se de torcedores de outros clubes esportivos.

No documento CLUBES DE FUTEBOL" (páginas 61-64)

Documentos relacionados