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Identificação de descritores de sustentabilidade (DS)

ASPECTOS BÁSICOS DE CENÁRIO:

3.1.7. Critérios de sustentabilidade

3.1.7.3. Identificação de descritores de sustentabilidade (DS)

Os descritores de sustentabilidade representam os princípios de sustentabilidade identificados como essenciais para os agroecossistemas. Assim como os princípios, eles são 15, distribuídos em três campos de sustentabilidade, conforme relacionado na Tabela 6.

Os valores de GUT dos DS são obtidos a partir dos valores dados às funções correspondentes, conforme mostrado na Tabela 1E (Apêndice), sendo utilizados na fórmula de ponderação desenvolvida para o MITEC.

Propõe-se, no MITEC, que os potenciais das tecnologias em afetar a sustentabilidade dos agroecossistemas sejam avaliados por meio de descritores de sustentabilidade nos campos social, ambiental e econômico, conforme o seguinte detalhamento de significados:

Tabela 6 - Campos, descritores e princípios de sustentabilidade*

Campos de Sustentabilidade

Descritores de

Sustentabilidade** Princípios de Sustentabilidade

Social Autonomibilidade Confortabilidade Exeqüibilidade Segurabilidade Sincronibilidade

Autonomia ou menor dependência de fornecedores externos

Conforto ou menor desconforto operacional

Facilidade de compreensão, assimilação e execução Segurança ou menores riscos operacionais ao homem

Sincronia na ocupação de mão-de-obra local

Ambiental Diversibilidade Salubrebilidade Reversibilidade Preservabilidade Conservabilidade

Diversificação, integração e associação de explorações

Salubridade ou menor contaminação ambiental Reversão de efeitos negativos e potencialização dos positivos

Preservação de biodiversidade nativa

Conservação da capacidade produtiva ou de suporte do sítio Econômico Regulabilidade Qualibilidade Agregabilidade Contencibilidade Economibilidade

Diversidade e regularidade de produção e rendas pelo ano

Qualidade, sanidade e valor nutritivo dos produtos Agregação de valores à UP, com menores gastos Contenção de perdas de produtos, insumos e estruturas

Economia, com menores custos unitários de produção

* Proposição pessoal deste autor, no projeto de pesquisa.

** Muitos destes termos são neologismos, criados em função de o idioma Português não conter palavras que comportem adequadamente os significados ora propostos, ou seja, potencial relativo da opção fitotécnica em promover melhor ou pior desempenho, respectivamente, de cada princípio de sustentabilidade.

Tabela 7 - Funções, descritores e campos de sustentabilidade C S Descritores de sustentabilidade Funções de Sustentabilidade

(Contraste entre a Situação Ideal e a Situação Real )

Independência da UP de fornecedores externos Autonomibilidade Confiança nos fornecedores e nos produtos externos

Autoconfiança do agricultor Condição física para o trabalho das pessoas na UP

S Confortabilidade Salubridade do local de trabalho na UP

O Tolerância e satisfação dos trabalhadores da UP e região C Escolaridade formal dos trabalhadores

I Exeqüibilidade Preparo técnico dos trabalhadores A Experiência prática dos trabalhadores

L Prevenção de acidentes de trabalho na UP Segurabilidade Incidência e riscos de acidentes na UP e região

Sistema de proteção e amparo à saúde das pessoas da UP Ocupação de mão-de-obra na UP e região

Sincronibilidade Descanso de pessoal, férias e lazer das pessoas da UP Área média cultivável disponível por familiar na UP

Diversificação de culturas na UP

Diversibilidade Proporção da área da UP sem monocultivos Diversidade da vegetação nativa na UP

A Contaminação ambiental por agroquímicos na UP e região M Salubrebilidade Contaminação das pessoas por agroquímicos na UP e região B Exigência de medidas de proteção ambiental da UP

I Integridade dos mecanismos naturais de reequilíbrio na UP E Reversibilidade Consciência ambientalista das pessoas da UP e região N Recursos financeiros para recuperação ambiental na UP T Integridade dos recursos naturais bióticos na UP e região A Preservabilidade Legislação e projetos de proteção ambiental na região L Ritmo de exploração dos recursos naturais na UP e região

Estado de conservação do solo da UP e região

Conservabilidade Capacidade de retenção de água do solo na UP e região Projetos de apoio conservacionista e produtivo à UP e região Capacidade da UP em atender demandas dos mercados-alvo Regulabilidade Distribuição de entradas de rendas ao longo do ano na UP Diversificação de tipos de produtos da UP

E Isenção de resíduos patogênicos nos produtos da UP C Qualibilidade Aparência externa dos produtos da UP O Valor nutritivo e conservabilidade dos produtos da UP N Ritmo de depreciação e de desvalorização da UP

Ô Agregabilidade Recursos financeiros para investir em melhoramentos na UP M Gastos com indenizações e medidas reparadoras na UP

I Perdas de produção na UP em nível de campo, colheita e pós C Contencibilidade Desperdícios de recursos e insumos na UP

O Ritmo de depreciação e perda de vida útil de recursos da UP Competitividade dos produtos da UP nos mercados alvo Economibilidade Credibilidade e crédito familiar, na praça

- Descritores de sustentabilidade do campo social:

No campo social, os descritores de sustentabilidade considerados mais relevantes receberam a conceituação que se segue:

Autonomibilidade (potencial de aumentar a autonomia): potencial relativo de cada opção fitotécnica promover ou permitir maior autonomia do agricultor, pela redução do seu grau de dependência em relação a fornecedores externos de crédito-insumos-energia-serviços, pela racionaliza-ção ou melhor uso de recursos próprios da UP.

Confortabilidade (potencial de aumentar o conforto): potencial relativo de cada opção fitotécnica promover ou permitir o aumento do conforto ou a redução do desconforto das pessoas que executam os trabalhos de campo, favorecendo o seu bem-estar e satisfação, durante o seu labor nas condições disponíveis na UP.

Exeqüibilidade (potencial de ser executado facilmente): potencial relativo de cada opção fitotécnica ser facilmente compreendida, assimilada, adaptada, apropriada e executada pelo agricultor, com a sua rápida, plena e segura incorporação ao sistema produtivo, especialmente se ela prestigia ou permite a incorporação da experiência e do saber popular do próprio usuário, observando os anseios típicos locais, com mínima violentação da cultura existente.

Segurabilidade (potencial de aumentar a segurança): potencial relativo de cada opção fitotécnica promover ou permitir maior segurança para a integridade física e saúde dos trabalhadores que atuam na unidade de produção, de modo a reduzir os riscos ao homem (de acidente, doença e invalidez), com mínimos esforços de capacitação e fiscalização, bem como mínimos gastos em seguros, equipamentos e medidas reparadoras (consultas, medicamentos, laboratórios, aparelhos, terapias, hospitais etc.).

Sincronibilidade (potencial de sincronizar a ocupação de mão-de-obra): potencial relativo de cada opção fitotécnica ajustar sua sincronia de demanda de mão-de-obra à disponibilidade existente, quanto à qualidade e à quantidade, de modo a reduzir tanto a ocorrência de crises de subemprego e, ou, desemprego na região, concentrando sua demanda principalmente em épocas quando ela

esteja farta, quanto também reduzir a ocorrência de crises de falta de mão-de- obra, demandando pouca, quando ela é escassa.

- Descritores de sustentabilidade do campo ambiental:

No campo ambiental, os descritores de sustentabilidade considerados mais relevantes, receberam a conceituação que se segue:

Diversibilidade (potencial de facilitar a diversificação e integração de explorações): potencial relativo de cada opção fitotécnica viabilizar, na área, a diversificação e a integração de explorações (culturas de características diversas, espécies nativas e outras atividades) em esquemas de associação (consórcio, rotação, intercalação, sucessão, agrossilvicultura e outras), no sentido de buscar imitar a diversidade natural do ecossistema original. Para isto, deverão também ser considerados, entre outros, os possíveis efeitos trofobióticos (como os induzidos nas plantas, nos insetos e nos patógenos por produtos agroquímicos) e os efeitos alelopáticos (provocados por agentes aleloquímicos de certas espécies vegetais que prejudicam outras). Enfim, deve-se considerar tudo que puder facilitar a diversificação de atividades numa mesma área, reduzindo os riscos ambientais advindos das monoculturas, como: esgotamento de nutrientes de camadas do solo, surgimento de epidemias de fitopatógenos e pragas potenciais e estreitamento das bases genéticas.

Salubrebilidade (potencial de manter a salubridade do ambiente): potencial relativo de cada opção fitotécnica favorecer a cultura, sem contaminar, direta e, ou, indiretamente, o agroecossistema e as cadeias tróficas com produtos potencialmente tóxicos e, ou, patogênicos. Devem ser considerados os riscos de sua acumulação com o tempo, em virtude da maior ou menor necessidade de repetir o seu uso na mesma cultura, ou na mesma área, a cada ciclo.

Reversibilidade (potencial de reverter efeitos negativos e potencializar efeitos positivos): potencial relativo de cada opção fitotécnica ajudar na reversão dos efeitos negativos inevitáveis e, ou, na intensificação dos efeitos positivos, advindos das intervenções antrópicas no ambiente. Deve ser considerada a preservação dos mecanismos de homeostase do ecossistema (homeostase é entendida como a capacidade natural de auto-regulação, neutralização,

reequilíbrio ou recomposição), bem como a preservação de suas características dinâmicas, como resiliência (velocidade de reação do mecanismo homeostático) e elasticidade (amplitude máxima tolerada de desequilíbrio, sem que haja ruptura definitiva do mecanismo homeostático). Exemplos de agentes naturais de homeostase que podem ser afetados pelas tecnologias: matéria orgânica do solo (teor, tipo, estado e ciclo); banco de propágulos vegetais do solo (quantidade, diversidade, vitalidade e ciclo); mananciais aqüíferos (volume, pureza, riqueza e ciclo); flora e fauna nativas (quantidade, diversidade, vitalidade e ciclo); e microbiota do solo (quantidade, diversidade, atividade e ciclo).

Preservabilidade (potencial de preservação da biodiversidade): potencial relativo de cada opção fitotécnica melhorar e, ou, preservar diretamente a biodiversidade natural do ecossistema, e, ou, favorecer a atividade agrícola com o mínimo de perdas diretas (por supressão, desagregação, eliminação, depredação ou desestruturação) de componentes bióticos nativos do ecossistema, visando a sua máxima conservação e os mínimos impactos negativos, diretos, a curto prazo, sobre a flora e fauna terrestre e aquática e a microbiota do solo”.

Conservabilidade (potencial de conservar a capacidade de suporte do sítio): potencial relativo de cada opção fitotécnica em melhorar e, ou, conservar a capacidade produtiva ou de suporte da área cultivada e seu entorno, especialmente nos aspectos físicos e químicos do solo, por favorecer a conservação do solo, a reciclagem e o manejo de nutrientes e matéria orgânica, minimizando perdas nos ciclos biogeoquímicos. Deve-se, inclusive, considerar sua capacidade de preservar o volume e perenidade dos aqüíferos superficiais e subterrâneos.

- Descritores de sustentabilidade do campo econômico

No campo econômico, os descritores de sustentabilidade considerados mais relevantes receberam a conceituação que se segue:

Regulabilidade (potencial de promover a regularidade de produção): potencial relativo de cada opção fitotécnica promover ou permitir a regularidade (constância ou estabilidade) da produção e da oferta de um produto ao longo do ano, por favorecer a sistematização de colheitas, nos volumes ajustados a

demandas conhecidas, possibilitando a conquista da estabilidade de atendimento das necessidades da clientela e do mercado, favorecendo a distribuição das entradas de rendas na UP durante o ano.

Qualibilidade (potencial de favorecer a qualidade, sanidade e valor nutritivo do produto): potencial relativo de cada opção fitotécnica promover ou permitir o ajustamento da qualidade (tipo, padrão e, ou, classificação) da produção, das características estéticas comerciais (cor, forma, diâmetro e dimensões), da sanidade (química, física e biológica), da conservabilidade e do valor nutritivo do produto às exigências típicas da demanda da clientela.

Agregabilidade (potencial de agregação de valor à unidade de produção): potencial relativo de cada opção fitotécnica, promover ou permitir a agregação de qualidades técnicas, operacionais, estruturais, sociais e, ou, estéticas à unidade de produção, com mínimos gastos, pelo beneficiamento do sítio, principalmente se isso pode favorecer o aumento do seu valor venal e, ou, patrimonial.

Contencibilidade (potencial de ajudar na contenção de perdas): potencial relativo de cada opção fitotécnica promover ou permitir a contenção do ritmo de perdas, por meio de reduções significativas nos níveis médios de desperdício de produção comercial e, ou, de insumos, nos processos de manejo de produtos no campo, na colheita e em pós-colheita, bem como ajudar no aumento da vida útil de máquinas e equipamentos e da vida produtiva de culturas e criações.

Economibilidade (potencial de reduzir o custo unitário de produção): potencial relativo de cada opção fitotécnica - promover ou permitir, direta e, ou, indiretamente, a minimização do custo unitário médio de produção, com produtos dentro da qualidade exigida pela demanda, favorecendo tanto o ajustamento desse custo à realidade comercial da competição de mercado e ao poder aquisitivo médio dos consumidores quanto sua competitividade, viabilizando a expansão do universo de clientes.