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Identificação e anonimato das fontes

No documento Elementos de jornalismo impresso (páginas 66-69)

1.6 Fontes de informação

1.6.1 Identificação e anonimato das fontes

A fonte tem direito a ser correctamente referenciada. Quais são, então, as normas de referencia às fontes?

Antes de mais, o Código Deontológico dos Jornalistas Portu- gueses impõe, no seu artigo 6, que "o jornalista deve usar como critério fundamental a identificação das fontes."Portanto, as fon- tes usadas pelo jornalista devem ser identificadas. Esta regra fun- damental tem uma consequência: as informações que a fonte for- nece ao jornalista devem ser remetidas para essa mesma fonte. O leitor não pode ficar com dúvidas sobre quem disse o quê, quem viu o quê, quem ouviu o quê, quem observou o quê ou quem escreveu o quê. A informação que provém do jornalista deve destrinçar-se dos dados das fontes de informação. Isto é espe- cialmente verdadeiro quando se trata da manifestação de opiniões por parte de uma fonte. O mesmo artigo 6 do Código Deontoló- gico prescreve, inclusivamente, que "as opiniões devem sempre ser atribuídas".

Existem excepções à identificação das fontes? É claro que sim:

1. A identidade de uma fonte confidencial não deve revelar-se, nem mesmo em juízo, a menos que a fonte tenha tentado en- ganar ou intoxicar deliberadamente o jornalista. Esta regra é prescrita pelo Código Deontológico, no artigo 6: O jorna-

lista não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confi- denciais de informação, nem desrespeitar os compromissos assumidos, excepto se o tentarem usar para canalizar in- formações falsas.

2. Os factos comprovados, especialmente aqueles que são pú- blicos, caem no domínio público ou têm registo público (auto de polícia, registos no Diário da República, etc.), não necessitam obrigatoriamente de ser remetidos para a fonte. Também não é necessário referir sempre quem alertou o jor- nalista para esses factos, se existir alguém nessa condição.

A identificação das fontes fica, nestes casos, ao critério do jornalista, que deve recorrer ao seu bom-senso.

A não identificação de uma fonte deve merecer o acordo das chefias e/ou da Direcção do periódico. Em casos problemáticos, o anonimato das fontes e a disponibilização pública das infor- mações que essas fontes fornecem devem merecer, igualmente, a concordância da assessoria jurídica do jornal ou revista.

Existem vários níveis de identificação das fontes, de acordo com os compromissos assumidos pelo jornalista:

1. On the record (atribuição directa, para publicação) - A fonte é identificada e tudo o que ela profere pode ser objecto de enunciação jornalística. É a regra comum e aquela que deve ser usada quando a fonte não pede confidencialidade. 2. On Background/not for attribution (atribuição com re-

serva) - A fonte não é totalmente identificada, embora se-

jam dadas algumas pistas superficiais sobre os meios em que ela se movimenta (exemplo: "fonte próxima do presi- dente da República", "um vereador", "um dos participantes na reunião", etc.). As informações que uma fonte on back-

ground fornece podem ser objecto de enunciação jornalís- tica.

3. On deep background (atribuição com reserva total) - Não só a fonte não é identificada como também não pode ser re- ferido o meio em que ela se movimenta, embora as informa- ções fornecidas pela fonte possam ser difundidas. (exem- plos: "fonte bem colocada", "fonte bem informada", "fonte autorizada", etc.). Também é possível usar outras soluções enunciativas (exemplos: "sabe-se", "segundo julgamos sa- ber", etc.). Uma outra forma de atribuição com reserva total é citar sem identificar qualquer fonte, directa ou indirecta- mente (exemplo: "A taxa de IVA aplicada aos bens essen- ciais vai ser reduzida pelo Governo, mas ainda não estão definidos os novos valores").

4. Off the record (confidência total) - A fonte não pode ser identificada e a informação que ela fornece não pode ser divulgada. Contudo, esta informação auxilia, frequente- mente, o trabalho do jornalista. Quando é solicitado a man- ter o off the record, o jornalista pode tentar obter, junto de outra fonte, a confirmação ou desmentido da informação original. Quando a informação originalmente obtida em off

the record é, posteriormente, confirmada por outra fonte,

on the record, on background ou on deep background, essa informação pode ser difundida.

Esta categorização, proposta por Mencher (1979) e secun- dada, por exemplo, por Fernando Cascais (2001: 31-32) e Ber- nier (1992), não merece o acordo, entre outros, do jornalista do

Expressoe professor universitário Ricardo Jorge Pinto. Para este académico e experiente jornalista político, off the record (ou sim- plesmente off ) é toda a informação que o jornalista pode usar mas sem mencionar a fonte. As categorias de informação on back-

ground (background information) e on deep background (deep

background information) referir-se-iam ambas a informação que o jornalista não pode utilizar mas que o pode auxiliar. Ricardo Pinto dá, inclusivamente, o exemplo da fonte "garganta funda"que durante o caso Watergate terá dito aos jornalistas Woodward e Bernstein que determinada informação era on deep background, querendo com isto não apenas garantir o anonimato para ela pró- pria mas também a não utilização da informação.8

Como regras gerais para mencionar fontes de informação pro- tegidas pelo anonimato podem explicitar-se as seguintes:

1. Identificar as fontes o mais claramente possível. A regra on

background é preferível à regra on deep background; 2. Explicar sempre por que é que a fonte quer manter o anoni-

mato, de forma que seja claramente justificável para o lei- tor;

3. Tentar confirmar as informações de uma fonte anónima junto de outras fontes, mesmo que seja necessário manter todas elas no anonimato.

Há ainda outras regras a respeitar sobre fontes de informação em geral:

1. Para aumentar o grau de certeza do enunciado, um jornalista deve procurar contactar várias fontes a propósito da mesma informação, nomeadamente quando o assunto é problemá- tico;

2. Quando a informação põe em causa alguém ou alguma ins- tituição, deve obrigatoriamente ouvir-se esse alguém ou essa instituição;

3. O jornalista deve evitar a difusão de informação quando funciona simultaneamente como jornalista e fonte interes- sada. Eticamente, é mais correcto pedir a um companheiro para fazer o trabalho.

1.6.2 Algumas regras para lidar com fontes de in-

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